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Crítica do filme Tinnitus | Drama angustiante com zumbido irritante

Tinnitus: zumbido constante no ouvido. Esta é uma definição rasa de uma condição que afeta a audição de milhões de pessoas, mas que, até o momento, não tem uma cura.  Se você nunca ouviu falar em Tinnitus, há grandes chances que você nunca tenha tido o desprazer de sofrer com este tipo de situação incomoda. Sorte a sua!

Contudo, este não é o caso de Marina Lenk, protagonista de “Tinnitus”. Ela é uma experiente atleta de saltos ornamentais e que, num certo dia, despencou da plataforma ao ter uma crise súbita de Tinnitus. Afastada do esporte, ela agora trabalha num aquário e tenta lidar com sua condição no dia a dia, mas será que há uma forma de se amenizar esse zumbido insuportável?

Com a ajuda de seu marido, que trabalha como médico na área, bem como ao participar de um grupo de pessoas com a mesma condição, Marina tenta achar um novo rumo em sua vida, ao mesmo tempo que ressente sua mudança súbita de carreira e amarga uma inimizade com a antiga colega de saltos ornamentais.

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Apesar de tratar de um terror psicológico pessoal, “Tinnitus” não é guiado para este lado do horror. Temos aqui um filme bem dramático, com alguns trechos misteriosos e talvez uma conclusão mais ousada, porém grande parte do filme foca em nos manter na cabeça de Marina, numa experiência angustiante e, por vezes, em um rumo entediante.

Tinnitus vale a pena?

Apesar da proposta bem fundamentada e da qualidade técnica na execução, “Tinnitus” é um filme que tropeça em seu próprio roteiro ao tentar englobar os vários dramas da protagonista. Muitas cenas de reflexão pessoal da personagem impressionam pela mescla entre o abstrato com uma arte criativa e a experiência terrível do zumbido, mas a falta de um fio condutor mais coerente deixa o filme confuso e maçante.

Ruído na trama

A sétima arte dá palco para todo tipo de gênero, ideia e experiência, mas é inevitável que obras mais provocativas tenham um desafio: convencer a plateia de que a ideia proposta é relevante. Este é justamente o caso de “Tinnitus”, um filme com um tema pertinente e pouco explorado, abordado de uma perspectiva já comum: um drama psicológico atravessado por várias frentes.

Nesse sentido, o erro é tentar abraçar o mundo. É compreensível que a construção de uma personagem mais humana com várias questões para lidar em sua vida traga muitos desdobramentos, mas como se já não bastasse os problemas psicológicos, o roteiro forçar as situações de inimizade e com pouco contexto deixa a narrativa bagunçada.

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Apesar da trama divagar, vale os elogios para o elenco extremamente competente que entrega atuações corajosas e coreografias muito realistas. Ouso dizer que o filme só se sustenta realmente por conta das boas interpretações. Curiosamente, o roteiro tenta usar diálogos um pouco artificiais, mas as atrizes conseguem compensar esse desentrosamento.

Uma experiência desconfortável

Todavia, tirando isso, ainda há questões delicadas: como abordar uma condição como Tinnitus? E qual a melhor forma de demonstrar a angústia vivenciada por Marina? Oras, se estamos falando de uma obra audiovisual, o recurso sonoro acaba sendo a via perfeita para sugestionar a experiência terrível de conviver com um zumbido no ouvido o dia todo.

Uma tática excelente para a construção narrativa, mas péssima para o espectador que passa mais de uma hora frente à tela sentindo nos ouvidos um incomodo sem fim. Certamente, é uma proposta ousada, já que os idealizadores do projeto sabiam da dificuldade em abusar desse tipo de recurso. Não deu outra, o filme é cansativo e irritante.

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Assim, se por um lado, há grandes acertos nos delírios decorrentes do Tinnitus, com cenas artísticas realmente impactantes, temos um volume excessivo de cenas reflexivas e embaladas por essa sinfonia de zumbidos incessantes. Mesmo não sendo um filme extremamente longo, o resultado é exaustivo para o espectador.

O clímax nos 45 do segundo tempo é fruto dessa construção narrativa cumulativa, que culmina sim em medidas exacerbantes, mas a que custo? Aqui fica aquela velha dúvida: os fins justificam os meios? Eu realmente tenho minhas dúvidas, pois mesmo sendo um filme poderoso, ele acaba sendo um ponto muito fora da curva e é difícil apreciar algo tão diferente.  Moral da história: se você gosta de um filme provocativo, “Tinnitus” pode ser uma experiência curiosa, mas esteja ciente que pode ser uma sessão longa e pouco conclusiva.

Crítica do filme Elementos | Bonita animação para aquecer o coração

Brinquedos, insetos, monstros, peixes, heróis, carros, ratos, robôs e até o interior do nosso cérebro. Estes são alguns dos temas inusitados que a Pixar já usou para nos contar histórias e nos emocionar. São tantas ideias, que a gente fica pensando: ainda tem como surpreender?

A resposta está em “Elementos”, animação que chega aos cinemas neste dia 22 de junho e nos mostra um mundo onde Fogo, Água, Terra e Ar têm formas humanoides a partir de partículas dos elementos. Eles convivem em uma suposta harmonia na Cidade Elemento, onde cada qual tem seu papel ou, ao menos, tenta encontrar seu lugar nesse mundo doido.

Aqui acompanhamos a história de Faísca (personagem feita de Fogo), uma jovem apaixonada por sua família, que trabalha na Loja do Fogo junto com seu pai. Ela tem um temperamento um pouco explosivo, o qual talvez afete seu destino num momento decisivo: a transição da juventude para a fase adulta.

elementos01 388bcFonte: Divulgação/Walt Disney Studios

Do outro lado da trama, conhecemos Gota (personagem feito de Água), um jovem simpático, empático e extrovertido, que ama fazer tempestade em copo d’água e se emociona com qualquer coisa. Com esse jeito fluido, ele vai provar que água mole em pedra dura tanto bate até que fura e vai mexer com a química de Faísca — provando que os opostos se atraem.

Elementos vale a pena?

Elementar, meu caro amigo! “Elementos” é um filme bem-humorado com cenas divertidas e momentos emocionantes que nos fazem refletir sobre nossas personalidades. Como de costume, ele traz uma lição de moral sobre nossas decisões para a vida — e que pode fazer os mais emocionados encherem os olhos de água. Uma boa pedida para crianças e adultos!

Os ventos da mudança

A Pixar teve uma recente onda de marés baixas, com obras que deixaram o público a ver navios, mas são águas passadas, porque “Elementos” diverte até a última gota! Um filme bem construído em história e na parte criativa. Então, pode ter certeza de que onde há fumaça, há fogo! Esta é uma animação para aquecer o coração!

A trama combina as características dos elementos com traços de personalidades humanas, sugerindo que pessoas mais esquentadas são de fogo e outras mais tranquilas são de água. Da mesma forma, o filme lida com a questão das emoções, o que implica na dificuldade de chorar para quem é muito quente.

elementos03 b9287Fonte: Divulgação/Walt Disney Studios

A obra questiona nossos papéis na sociedade, bem como os rumos que tomamos em nossas vidas. Afinal, é difícil seguir as vontades próprias, pois é fácil se sentir como um peixe fora d’água ou, pior, nas situações mais adversas, o fogo pode pegar! E é nessa intersecção química e de personalidade que podemos apreciar uma história talvez até clichê, mas empolgante!

Florescerá uma nova aventura!

Temos aqui um longa-metragem recheado de novas ideias, com gráficos fantásticos (e uma direção de arte caprichada para entregar um mundo que enche os olhos de fascínio) e tudo isso sem deixar de lado questões importantes sobre as leis da física. Pois é, pode parecer bobo falar disso, mas a verdade é que um filme que lida com elementos precisa ter muita coerência!

Afinal, como uma garota que está constantemente em chamas pode passear por aí? Oras, se não fosse uma vestimenta apropriada, Faísca poderia mesmo ser fogo na roupa! No entanto, trata-se de um mundo feito de metal e vidro, em que o fogo até pode interferir quando muito atiçado, mas que em situações corriqueiras não será afetado pelas altas temperaturas.

elementos02 a0f24Fonte: Divulgação/Walt Disney Studios

Por outro lado, há várias cenas engraçadas que Faísca precisa tomar cuidado com suas labaredas para não incendiar o mundo. E são os detalhes mais básicos como a forma de organização da Cidade Elemento até a interação entre personagens que claramente não podem se relacionar que também contribui para um filme bem divertido.

Toda essa trama cheia de reviravoltas é permeada por uma trilha sonora que manda brasa de verdade! E, claro, a dublagem brasileira está perfeita! Enfim, “Elementos” é uma animação diferente de quase tudo que já se viu no cinema, sendo uma boa pedida para ver na telona na companhia do seu amor ou mesmo junto com a família!

Crítica A Mansão da Meia-Noite | As Lendas do Terror numa história clássica

A Mansão da Meia-Noite” é dirigido por Pete Walker, cineasta talvez pouco conhecido para a maioria do público, mas que teve alguns títulos relevantes no gênero, como: “Casa do Pecado Mortal”, “Demência Sinistra” e “Loucura Sangrenta”. Já o roteiro aqui fica por conta de Michael Armstrong, que talvez tenha tido o ápice de sua carreira justamente nesta obra.

O ponto é que a ideia de “A Mansão da Meia-Noite” não surgiu de nenhum deles, mas dos produtores que queriam um filme com os maiores ícones de terror. Assim, Walker e Armstrong ficaram responsáveis em pensar na história, desde que o resultado fosse bom e atendesse esse quesito de ter um elenco expressivo do gênero.

Assim, é importante já alertar que o roteiro aqui não é algo original. Para poupar tempo, eles compraram os direitos da peça teatral “Seven Keys to Baldpate” (lá de 1913), podendo assim usar a história de base e adaptar da forma que achassem melhor. O roteiro então pega elementos-chave de um conto clássico, mas inova de diversas formas.

amansaodameianoite01 319ecFonte: Divulgação/MGM

Em “A Mansão da Meia-Noite”, acompanhamos Kenneth Magee (Desi Arnaz Jr.) em uma aposta: escrever um livro em apenas 24 horas valendo o prêmio de 20 mil dólares. Para tanto, ele vai para a mansão Bllyddpaetwr, local abandonado há 40 anos e ideal para a inspiração. No entanto, a noite que era para ser tranquila pode ser turbulenta com visitas inesperadas.

A Mansão da Meia-Noite vale a pena?

Se você gosta de um bom filme de terror, com aquele ar de antiguidade, cenas que abusam dos jogos de luz e sombras, personagens mais caricatos, trilha sonora caprichada, história cheia de reviravoltas e uma pitada de comédia, devo dizer que “A Mansão da Meia-Noite” é um filme que você não pode perder a chance de adicionar à sua biblioteca de filmes já assistidos.

Verdadeiros ícones do Terror

Importante ressaltar que cada geração é marcada por grandes ícones do cinema, alguns ficam conhecidos por suas performances extraordinárias em determinados gêneros. Este é o caso de Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine, que, por sinal, compõem o mega elenco de “A Mansão da Meia-Noite”.

Curiosamente, nenhum dos astros deste quarteto lendário é o protagonista desta obra. Quer dizer, eles podem até não ter papéis de longa duração em cena, mas o personagem principal do filme simplesmente fica apagado cada vez que um deles se pronuncia. Não que o roteiro não dê voz para Arnaz, porém é fato que sua atuação é pífia perante os demais gênios. A simples aparição de Vincent Price com um tom sombrio já deixa qualquer um arrepiado.

amansaodameianoite02 56129Fonte: Divulgação/London-Cannon Films

Pode ser que um pouco dessa impressão que temos do quarteto seja justamente pela longa carreira e suas presenças reforçadas propositalmente no roteiro, mas é inegável que eles são marcantes e sabem muito bem contracenar. É até engraçado, porque eles realmente parecem estar num encontro de amigos (aliás, reunião essa única na história do cinema).

Vale pontuar que “A Mansão da Meia-Noite” é um filme que teve distribuição limitada no Brasil. Assim, é normal que ele seja desconhecido, já que apenas alguns poucos privilegiados que viveram os tempos de Intercine na Rede Globo — e ligavam no 0800 para votar nos filmes favoritos — ou que conseguiram uma cópia em DVD puderam apreciar esta pérola com as lendas do terror.

Mistérios da Meia-Noite

Por mais despretensioso que seja o roteiro de “A Mansão da Meia-Noite”, ele consegue dar reviravoltas e deixar espaço para à imaginação. São poucos personagens, cenários limitados e diálogos bem pontuais, mas nada disso limita o potencial da história. Mesmo com uma história já conhecida de base, é inegável que Armstrong traz novidades ao desenrolar dos fatos.

Curiosamente, mesmo sendo uma trama pautada no suspense constante e com boas cenas de terror montadas minuciosamente, o script flerta com um tom engraçadinho, algo que se dá tanto pelas conversas propostas quanto pela presença de Desi Arnaz Jr., que pode não ser um expoente do terror ou da comédia, mas que serve bem para o humor da película.

amansaodameianoite03 c1db4Fonte: Divulgação/MGM

Dessa forma, “A Mansão da Meia-Noite” não é um filme pesado no terror, mas sim uma obra de mistério com um pouco de cada coisa. O horror está muito mais nas nuances das visitas e nas penumbras do casarão que dá nome à película. Contudo, mesmo sendo uma colcha de retalhos, o filme funciona muito bem, divertindo e deixando o público curioso.

Fato é: esse é um daqueles filmes no estilo detetive, em que tentamos descobrir quais são os mistérios, mas que pode acabar com questões em aberto. Aliás, vale apontar: o famoso “Os 7 Suspeitos” (obra inspirada no jogo Clue) saiu depois de “A Mansão da Meia-Noite”. De qualquer forma, no cinema, muita coisa é adaptada, então a inventividade está nos detalhes.

Crítica do filme Desejo Proibido | Tão excitante quanto entediante

Na maioria das minhas críticas, eu gosto de trazer considerações detalhistas sobre os diversos aspectos da obra, indo desde a parte técnica até a própria trama. Contudo, “Desejo Proibido” simplesmente não têm material suficiente para uma discussão aprofundada. Trata-se de um filme raso que tenta se alongar com a desculpa de ser provocativo e sensual.

Ele é caprichado em questões técnicas, que vai desde a ambientação detalhista, trilha sonora original empolgante e, principalmente, uma execução afinada, recheada de cenas próximas, takes em câmera lenta, desfoques sutis e imagens refratadas. Apesar de tudo isso, a história é vazia. O resultado não poderia ser outro: parece um longo comercial de perfume!

Na trama, acompanhamos o romance inesperado de Max (Simone Susinna) e Olga (Magdalena Boczarska). Eles são de mundos conflitantes: ela é uma importante juíza e ele é um turista que está de passagem pela cidade. O que começa com uma troca de olhares acaba virando um romance, mas há um problema: ele é a testemunha em um caso que ela é a juíza. Como se já não bastasse, a coisa fica mais dramática, pois Max tem um passado com a filha de Olga.

desejoproibido01 ddb2fFonte: Divulgação/Paris Filmes

Os grandes dramas de “Desejo Proibido” são esses pequenos conflitos, incluindo os atritos na relação de Max e seu amigo que está passando pelo julgamento. O engraçado é que nada dessa história importa, porque o filme trata tudo de forma tão superficial, que ficamos apenas observando pequenas cenas de discussões intermediadas por longas cenas de sexo.

Desejo Proibido vale a pena?

Tão sensual quanto sacal, o filme “Desejo Proibido” parece não ter um propósito claro e se alonga muito além do que há para contar de fato. Mesmo com uma boa qualidade técnica, o resultado é um monte de cenas longas e sensuais, mas que mais dão sono do que despertam o interesse do público. Talvez, seja o filme ideal para quem gosta de ir namorar no cinema, mas enquanto obra cinematográfica, é um longa-metragem fraquíssimo!

50 Tons de Tédio

É importante enfatizar que, apesar de ter nomes relativamente conhecidos no elenco, a obra polonesa simplesmente não aproveita suas estrelas. Os protagonistas foram claramente escolhidos apenas pelo fator apelativo, já que passam metade do filme se roupas. E eles fazem isso por longas duas horas.

desejoproibido02 34d5eFonte: Divulgação/Paris Filmes

Quero enfatizar que não há qualquer problema em explorar o erotismo, mas quando o filme resolve se vender como um drama com pitadas de romance, esperamos mais do que apenas as cenas de sexo. Essas cenas de drama simplesmente não existem. Felizmente, há alguma química forçada entre o casal protagonista, mas isso não ajuda em nada para fins de trama.

Basicamente, o que temos em boa parte do filme é o ator Simone Susinna fazendo olhares sensuais e exibindo seus músculos durante toda a película. Até parece que a produção quis aproveitar a fama do galã para divulgar a imagem dele e trazer os fãs para ver o rapaz na telona.

Desejo Proibido” chega a esbarrar no limiar entre o sensual e a galhofa, quando temos mais caretas do que resultados convincentes. E aí é que a coisa fica mais parecida com um comercial de perfume, em que não há substância, mas apenas um grande vazio de troca de olhares com uma trilha sonora chamativa.

Aliás, a trilha sonora é talvez o ponto alto de “Desejo Proibido”. Uma pena que não se trata de um CD, pois o resultado até que seria agradável. Então, fica o reforço: se você aprecia seu dinheiro e tempo, eu recomendo que você pule essa experiência no cinema. Caso a curiosidade desperte, você realmente não vai perder nada em aguardar a disponibilidade em algum streaming.

Crítica do filme A Primeira Comunhão | Lenda urbana promissora, mas ainda clichê

Você já viu essa história antes: uma pequena cidade, jovens desavisados, um desvio de rumo e uma maldição sem explicação. Está pronta a receita para um filme de terror, que pode até mudar de idioma e região, mas que, no fundo, vai beber da mesma fonte de outros tantos títulos consagrados.

Sim, “A Primeira Comunhão” aborda mais uma lenda urbana, que, neste caso, se passa na década de 1980 em um munícipio na província de Tarragona, na Espanha. Trata-se de uma história aos moldes tradicionais, em que o mito é passado de boca em boca, mas que, aos poucos, acaba se provando verdadeiro pelos protagonistas.

Curiosidade: segundo o diretor do filme Víctor García, em entrevista ao site RTVE, há de fato uma lenda urbana parecida com a do filme na região da Galícia ou de Granada.  A lenda fala do fantasma de uma menina que desapareceu no dia de sua primeira comunhão, sendo este o pontapé para o roteiro do longa-metragem.

aprimeiracomunhao01 76478Fonte: Divulgação/Paris Filmes

No filme, acompanhamos Sara (Carla Campra), que acaba de chegar à região e, na tentativa de se entrosar, vai curtir a noite com outros adolescentes em uma discoteca. Na volta para casa, eles se deparam com o vulto de uma menina. Na tentativa de achar a garota, Sara encontra uma boneca abandonada. E aí é que os problemas começam.

A Primeira Comunhão vale a pena?

A Primeira Comunhão” usa uma lenda urbana com potencial, mas o roteiro divaga com tantas perspectivas e não esclarece bem os detalhes da maldição. Mesmo com a produção redondinha e o elenco competente, o filme peca ao prometer muito e entregar poucos sustos. Apesar de alguns clichês, ainda vale o ingresso. 

Perdido no emaranhado da trama

A Primeira Comunhão” é um filme que tem boas ideias, o problema mesmo é que ele se perde um pouco para chegar no que importa. O roteiro até tenta guardar surpresas, porém ele também quer ser apelativo já na primeira cena – e já se entrega no começo.

Isto não é exclusivo desta obra (o recente “Oferenda ao Demônio” é parecido neste ponto), sendo um recurso para provar que o perigo é real e a maldição é recorrente. Assim, Víctor García mostra ousadia e que o filme tem um tom sanguinolento.

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Apesar do primeiro choque, “A Primeira Comunhão” não é tão apelativo no decorrer da trama. A introdução de personagens é vagarosa, até porque há muitos personagens secundários, que agregarão em mais cenas de tensão e eventuais sustos.

O drama contado da perspectiva de Sara é convincente, mas há tantos caminhos e personagens que fazem parte da história, que demoramos a ter maiores explicações sobre a aparição na estrada e o verdadeiro terror por trás da lenda urbana.

O pior é que sem conseguir resolver tudo, o filme usa elementos pouco habituais para complementar a história da maldição e aí falta clareza nos detalhes. Parte dessa ideia talvez seja para deixar pontas para uma continuação, porém é inegável que ele poderia se sustentar de forma mais concreta para o melhor entendimento.

Ambientação assustadora

Apesar de tropeços na trama, é inegável que o diretor de “A Primeira Comunhão” fez a lição de caso quando o assunto é construção de clima tenso. Com uma paleta de cores mais sombria, ambientes pouco iluminados, uma floresta densa, a névoa intensa e os cenários da década de 1980, somos jogados em uma vila propícia para assombrações.

O resultado não poderia ser outro. Após as divagações iniciais, o longa-metragem se aproveita de alucinações, delírios e acontecimentos inusitados para ampliar cada vez mais o mistério em torno da boneca e da aparição inexplicada. Com isso, é inevitável ficar imerso nos cenários permeados por penumbras.

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Assim, o filme se aproveita tanto da imaginação fértil dos personagens quanto da atenção constante do público para tentar criar as cenas de sustos. O problema é que, como muitas obras do gênero, ele não consegue fugir dos clichês com espelhos, câmeras girando e vultos rápidos.

Como as cenas são um pouco alongadas, quando temos o ápice das cenas, infelizmente não temos o fator surpresa, já que não se trata mais de um susto repentino, mas sim de uma cena que já estávamos esperando. Vale apontar ainda que a trama bebe da fonte de outros filmes muito conhecidos (como “O Chamado”, “A Hora do Pesadelo” e “Annabelle”). Isto não diminui o filme do ponto inspiracional, mas certamente, em alguns pontos, falta ineditismo e temos similaridades em excesso.

Assim, “A Primeira Comunhão” é um filme bem construído, com boas atuações, trilha sonora compatível e história promissora. Há sim os vários tropeços já enumerados, mas o resultado ainda é positivo, com um fator surpresa que vale a pena. Uma boa pedida para os fãs do gênero e que ainda não conhecem muitos filmes de terror espanhóis.

Crítica do filme Oferenda ao Demônio | Terror ousado, mas um pouco pausado

Não é de hoje que o gênero de terror sobrenatural está permeado de roteiros clichês. Quando o assunto é mais voltado aos casos religiosos, a coisa fica ainda mais sem criatividade, sempre focando em possessões, variando apenas os demônios e as respectivas soluções — que, em geral, são sessões de exorcismos com algumas modificações. É sempre mais do mesmo.

Ainda que muitas obras tragam contextos diferentes, tudo gira em torno do cristianismo, mais precisamente do catolicismo. Isto vem desde antes de “O Exorcista”, mas, de lá para cá, estas abordagens ganharam popularidade devido ao público massivo, que tanto conhece a religião no mundo real quanto em suas adaptações na telona.

Assim, quando vemos o trailer de um filme como “Oferenda ao Demônio”, a primeira coisa que desperta é a curiosidade, pois temos aqui um raro exemplar de longa-metragem focado no judaísmo. Não que isso torne a trama extremamente diferente, mas ao menos temos novos ares com rituais que fogem do "Pai Nosso que estais no céu..." tradicional.

oferendaaodemonio03 506a3Fonte: Divulgação/Millennium Media

Na trama, acompanhamos Arthur (Nick Blood) e Claire (Emily Wiseman) durante os meses finais de gravidez, época em que eles decidem visitar o pai de Arthur, Saul (Allan Corduner), para fazer as pazes antes de a criança nascer. Contudo, não se trata de uma simples visita, já que Saul é dono de uma funerária e o ambiente nem sempre é o mais receptivo.

Nestas circunstâncias, Arthur retoma seu posto de ajudante na funerária por alguns dias, mas ele acaba tendo um incidente com um dos cadáveres, o que pode ser a razão para o começo de uma série de problemas. Logo, o casal vai descobrir que um mal antigo habita o perímetro e que um demônio ancião fará de tudo para destruí-los.

Oferenda ao Demônio vale a pena?

Oferenda ao Demônio” apresenta algum nível de ineditismo na abordagem religiosa, de modo que entretém pelo fator novidade com bons momentos de terror. A trama é lenta em alguns momentos e, de vez em quando, se apoia em clichês. Apesar disso, vale o ingresso, principalmente pela ousadia no roteiro.

Produção competente num terror diferente

Quando eu penso na construção de um filme, eu gosto de pensar nas diferentes etapas que compõe o resultado final, já que produção e trama nem sempre estão de mãos dadas. É bem comum um filme ter história inventiva, mas com uma execução bem aquém do esperado — e o contrário também é recorrente no gênero de terror.

No caso de “Oferenda ao Demônio”, temos uma produção bem redondinha. Primeiro, vemos o capricho na fotografia e nos cenários, o que inclui resulta em uma ambientação propícia para os sustos. Parte disso se deve à trama, afinal uma funerária é um local que tem uma conexão bem evidente com o mundo dos mortos.

oferendaaodemonio02 bf850Fonte: Divulgação/Millennium Media

Além disso, vemos um esmero em questões técnicas, como é o caso dos figurinos coerentes, bem como dos efeitos visuais, fundamentais para as tantas cenas com objetos voando, pessoas possuídas e, claro, principalmente para a composição dos personagens assustadores, que sem dúvida alguma recebem atenção especial pelo ineditismo.

Ainda em questão de produção, temos uma trilha sonora bem pontual, nada de sons muitos clichês (como instrumentos de cordas com sons distorcidos que são tão recorrentes em obras do gênero), porém há o uso de composições mais controladas, mas que mantém o tom de suspense por tempos prolongados.

Falta ritmo, mas há ousadia

Como eu já disse, a história de “Oferenda ao Demônio” tem sua pitada de novidade, principalmente por trazer rituais do judaísmo e um inimigo incomum. O filme começa muito bem, com contextualização e cenas que já induzem ao que podemos esperar para o meio da trama, porém, após o pontapé inicial, o ritmo do filme cai consideravelmente.

O que temos em boa parte do roteiro são eventuais cenas de terror, em meio a um drama amplo sobre questões familiares. O filme demora a engatar no confronto com as entidades malignas, o que acaba recaindo num peso desproporcional sobre o elenco, que não tem muito o que fazer, se não desenvolver diálogos fracos e que dificilmente mantêm nossa atenção.

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Boa parte do problema na história se deve também aos protagonistas, que, como de praxe, são pouco inteligentes e suscetíveis ao vacilo. Felizmente, a obra não tenta compensar o ritmo truncado com tantas cenas repetitivas e evita o uso excessivo de jump scare, o que já garante bons pontos para um filme mais honesto.

No fim das contas, “Oferenda ao Demônio” é um projeto com boas ideias, mas que acaba como um filme mediano por conta dos pontos supracitados. Felizmente, os fins justificam os meios, de modo que o encerramento vale a pena. Não que seja uma conclusão de tirar os cabelos, porém o ápice foge do óbvio e salva o que poderia ser um enorme clichê.