Omar Sy - Café com Filme

Risco Imediato | Trailer legendado e sinopse

Um jovem casal de americanos, Tom (James Franco) e Anna Reed (Kate Hudson), se endivida gravemente ao renovar a casa da família de Anna, em Londres. Com os sonhos de ter sua própria casa e começar uma família indo pelo ralo, eles descobrem que o inquilino do apartamento abaixo está morto e deixou uma mala com uma fortuna.

Apesar de inicialmente hesitantes, Tom e Anna decidem que o plano é simples: tudo que eles precisam fazer é pegar o dinheiro e usar apenas o que é necessário para tirá-los da dívida. Mas quando começam a gastar e não conseguem parar, eles tornam-se o alvo do real dono da grana – e é aí que coisas muito ruins começam a acontecer com pessoas boas.

Crítica do filme Grandes Olhos | Tim Burton mostra seu novo lado artístico

Hoje (28/01), estreia em alguns cinemas do Brasil o mais novo filme dirigido por Tim Burton. E, para alegria geral da nação, seu mais recente projeto é diferente de tudo que conhecíamos do diretor — a começar pelo elenco que deixa de ser o mesmo de sempre.

Grandes Olhos” narra como o pintor Walter Keane (Christoph Waltz) conseguiu alcançar o sucesso revolucionando a comercialização da arte com suas pinturas. Não só isso, o filme mostra como este homem criou uma das fraudes mais impressionantes de todos os tempos.

Conforme você já deve ter visto na sinopse oficial, todas as obras que ele dizia ser de sua autoria eram, na verdade, pintadas por sua esposa: Margaret Keane (Amy Adams). O longa-metragem conta como foi o desenrolar dessa história, desde a união do casal até o momento em que a mentira se tornou insuportável.

Um novo Tim Burton

A primeira coisa a ser enaltecida aqui é a questão da produção como um todo do filme, algo que sempre caracterizou o diretor. Sabe aquele Tim Burton sombrio e cheio de características bem marcantes? Então, esqueça o que você conhece do cineasta, pois ele conseguiu se reinventar com este título.

Esta obra mostra algo totalmente oposto ao que conhecemos, a começar pelos cenários, que deixam o mistério de lado e passam a ser bem perceptíveis. O filme todo é muito mais claro, cheio de brilho, com cenas que transparecem o humor e favorecem o desenrolar do roteiro sem precisar de um toque de suspense.

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O jogo de câmeras do diretor ficou mais fácil natural, com lances que favorecem os diálogos. Dessa forma, o filme passa a ser muito mais natural, deixando o lúdico tomar conta. Também pudera, um filme sobre arte e um grande caso de fraude não ficaria nada legal no antigo estilo do diretor.

O roteiro do filme é de Scott Alexander e Larry Karaszewski. Esses dois já trabalharam juntos diversas vezes e parecem se acertar perfeitamente aqui, mostrando um bom desenrolar da história. Há furos bem nítidos (que não vem ao caso comentar), mas dá para ignorá-los facilmente. A trilha sonora também chama atenção, inclusive com as canções originais, que ganham destaque na voz de Lana del Rey.

Pouco convincente, mas com boas atuações

A história de “Grandes Olhos” é intrigante, tanto que muita gente pode nem acreditar que as coisas foram bem desse jeito — e não duvide que tenha um bocado de invenções aqui para deixar a história ainda mais absurda, afinal, isto é Hollywood. Entretanto, o próprio diretor alega que quase tudo ali é verdadeiro, o que torna o filme ainda mais legal.

Justamente por ter algumas situações bem exageradas, é que o filme pode irritar aos mais críticos. A personagem principal parece até estúpida em vários momentos, o que não nos deixa acreditar que uma pessoa chegue a determinadas atitudes e situações conforme vemos na película.

Apesar de tentar forçar a barra, o filme se mantém interessante durante todo o tempo, com algumas reviravoltas que deixam a trama curiosa. Contudo, o que realmente garante o interesse da plateia é o elenco que se mostra capacitado e disposto a passar a história de forma inteligente e atraente.

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Christoph Waltz pode parece que está forçando um pouco na atuação, mas, a meu ver, o cara é demais em quase tudo que faz. Há algumas cenas em que ele domina a atenção do espectador facilmente, como é o caso do julgamento no tribunal. Sério, esse cara é muito bom ator e consegue ser muito engraçado, só pode ser que algumas pessoas cansem dos trejeitos.

Quanto à belíssima Amy Adams também devo deixar aqui meus elogios, pois ela também mostra novamente seu talento, sendo que qualquer problema com sua personagem se deve muito mais ao roteiro do que à capacidade da atriz. Infelizmente, o elenco de apoio não é dos melhores, principalmente a filha da pintora já em fase mais crescida.

Grandes Olhos” é um filme que foge do habitual, então pode ser que ele cause estranhamento para muita gente, principalmente aos fãs do cineasta. Se você gosta de pintura, curte um bom diálogo sobre crítica artística e quer dar umas risadas, este filme pode ser uma boa pedida. Esperamos que Tim Burton aparece com mais coisas do gênero.

Crítica do filme Busca Implacável 3 | Peleia da braba

Busca: ato de procurar por algo ou alguém; Implacável: algo impossível de acalmar, atenuar ou aliviar; Três: numeral que indica a sequencia do número dois. Destrinchando o nome do filme encontramos o teor de seu conteúdo: uma pessoa está em uma procura frenética por algo ou alguém, sem possibilidade de descanso, pela terceira vez.

E não é que é isso mesmo! Essa foi a sinopse mais incrível que vi nos últimos tempos. O próprio título contém toda a história em apena TRÊS PA-LA-VRA-S!!! É sério, um conselho de amigo, não vá esperando mais que isso. Você já sabe o final.

Parece exagero? Não é.  Acompanhe a sinopse oficial:

“O ex-agente do governo norte-americano Bryan Mills (Liam Neeson) tenta tornar-se um homem família, mas vê tudo ruir quando Lenore (Famke Janssen) é assassinada. Acusado de ter cometido o crime, ele entra na mira da polícia de Los Angeles. Desolado e caçado, ele tenta encontrar os verdadeiros culpados e proteger a única coisa que lhe resta: a filha Kim (Maggie Grace).”

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Liam Neeson é o cara da ação. Um verdadeiro macho alfa que resolve tudo na base da pancadaria sem limites, sem derramar uma gota de suor... e  sem sangrar também. O ator vem fazendo vários filmes deste estilo (Caçada Mortal e Sem Escalas, por exemplo) que já estão virando um retrato do seu cotidiano. Acordar, matar uns caras, escovar os dentes, socar umas barrigas, tomar um café da manhã, chutar uns traseiros... e por aí vai.

Com um roteiro previsível e linear, Busca Implacável 3, é o que esperamos de um filme de Liam Neeson. Ação com uma dose exagerada de exagero! Sem dúvida temos aquela cena clássica (que eu nunca entendi como funcionaria com as leis da física da vida real) de um carro rolando montanha a baixo e explodindo no final! Claro, claro, o protagonista sai ileso, e matando os capangas que o empurraram para fora da estrada.

Ou seja, o filme é extremamente condinzente com o que se propõe. Todas as destruições e massacres são muito bem encaixados no roteiro e fazem sentindo com o desenrolar da trama. 

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Um ponto interessante é apresentada a cronologia da trilogia. A primeira cena, por exemplo, mostra Bryan comprando um presente para filha, que faz uma referencia clara ao começo do primeiro filme e nos mostra o quanto o tempo passou.

Nas duas primeiras sequencias Bryan vai em busca de resgatar a sua família, que está viva e precisa da sua ajuda. Porém nesse filme, o herói se apresenta com um carater mais melancólico, frio e calculista, afinal de contas ele quer encontrar quem matou a sua esposa ao mesmo tempo que foge da polícia, que acredita que o responsavel pela morte dela é o próprio Bryan.

Eis mais um quesito novo na série: dois inimigos. Primeiro a polícia, comprindo seu dever de manter a lei e a ordem. E segundo um inimigo desconhecido, que são as pessoas que mataram sua esposa. Isso faz com que a trama ganhe um pouco mais de dinamismo na hora das perseguições e apresente algumas reviravoltas significativas. 

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No fim das contas o filme não é muito excitnate, porque antes de terminar já sabemos o seu desfecho. E apesar dos novos elementos adicionados à série, Busca Implacável 3 não nos leva de fato a um novo lugar, mas apenas a um ambiente já conhecido retratado com uma atmosfera diferente.

Crítica do filme A Teoria de Tudo | Buracos Negros (ou a Falta de Humanidade)

Na definição de gênio, quando consultado um oráculo ou um google, podemos encontrar respostas das mais variadas qualidades. Porém, é curioso, e unânime (façam a pesquisa) que a criatividade é uma característica que faz a base de qualquer pensamento que seja designado a um gênio. E o que nos mantém criativos, falaram por aí, está relacionado a uma completa ignorância e falta de habilidade de se adequar ao que está posto.

Aristóteles, aquele filósofo que dispensa parágrafos de apresentação, foi condenado a tomar veneno por conta que seus pensamentos eram considerados aliciadores da juventude. Ao saber de sua pena, o filósofo retornou a sua cela, pegou um papel e uma pena e começou, incansavelmente a tentar encontrar uma formula para calcular a área de Constantinopla (Cujo formato era de um polígono).

Um de seus discípulos foi ao encontro do mestre para dar o último adeus, porém ao chegar próximo da cela e ver o empenho de Aristóteles para tentar aprender aquele área, o discípulo questiona enfurecido: “Porque mestre você desperdiça seus últimos momentos tentando aprender área?” O mestre, como é comum aos mestres, responde calmamente: “Estou tentando aprender essa área porque é meu desejo aprender uma área.”

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Entenderam crianças? O que me fez lembrar dessa passagem, foi a cena em que o gênio dos buracos negros e tema central do filme, Stephen Hawking, é surpreendido com a notícia de sua doença degenerativa, esclerose lateral amiotrófica, e que devido a isso ele terá apenas dois anos de vida.

Nesse momento ele se reclusa em seu quarto e fica por lá por algum tempo, até que sua namorada na época, Jane Wilde (e autora do livro que deu origem ao filme), resolve entrar no quarto a qualquer custo e saber porque Hawking estava desaparecido. Ao entrar no quarto, o físico estava estudando um livro para aprender estratégias de xadrez, nesse momento Jane pergunta: “Porque você está fazendo isso?”, Hawking responde: “Tenho somente dois anos de vida.”

O filme é uma adaptação do livro da ex-esposa de Stephen Hawking, Jane Wild, intitulado “Viajando para o infinito: Minha vida com Stephen”, com roteiro de Anthony McCarten, um cara ainda não muito famoso aqui no Brasil, e conta a biografia de Hawking pelo ângulo de visão de Jane e da relação dos dois juntos. Portanto, o filme não é de fato uma biografia, mas o relato de um período, talvez o mais importante, da vida de Stephen.

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Eu não li o livro que inspirou o filme, mas o roteiro adaptado é surpreendente. Todos os acontecimentos são muito bem descritos e aprofundados de uma maneira silenciosa e imperceptível, de modo que você é levado para o fundo de um abismo (ou para um buraco negro) sem que perceba que já está extremamente imerso na narrativa. Como o filme se passa por um período relativamente longo na contagem cronológica, muitos pulos temporais são feitos, porém nada é perdido. Sem dúvida que muita coisa é deixada de lado, mas tudo que é apresentado durante a história é aproveitado pelo espectador, sem deixar lacunas entre os acontecimentos.

Eis outro ponto que gostaria de falar. O roteiro não foca quase nada nas teorias de Hawking ou em seu desenvolvimento intelectual e até mesmo no seu caminho ao estrelato. Quem quer saber sobre essas coisas leia seus livros, ou revistas de fofoca. O filme se volta a descrever um Stephen Hawking humano, que precisa lidar com um mundo a sua volta para conseguir viver e para atrapalhar ele desenvolve uma doença degenerativa e mortal. Um roteiro pronto. A vida imitando o vídeo.

Incrívelmente belo. É assim que eu descrevo as cenas do filme. O diretor, James Marsh (Agente C – Dupla identidade), o diretor de fotografia, Benoît Delhomme (O Menino do Pijama Listrado) e a diretora de elenco, Nina Gold (Os Miseráveis), fizeram um trabalho primoroso na construção de cada uma da cena. Aqui darei destaque a uma só que me surpreendeu com a simplicidade e com a beleza que é retratada.

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Stephen e Jane começam a conversar sobre uma das teorias de Hawking, que afirma que se os planetas estão se distanciando cada vez mais, portanto se voltássemos o tempo, chegaríamos a um momento em que todos os planetas e galáxias estariam juntos em uma única unidade.

Nisso Jane começa a fazer comparativos ao tempo que os dois tem juntos e quanto isso não importa, porque a cada novo minuto era só eles voltarem o relógio por mais dois minutos e assim seriam eternos um para o outro. Enquanto ela descreve esse “retorno no tempo”, ela dá a mão para ele começa a girar em sentido anti-horário enquanto a câmara acompanha. Bem... descrevendo assim não parece grandes coisas, mas assim que vocês virem essa cena, por favor comentem sobre. Eu achei fabuloso.

De verdade eu nem queria falar sobre isso, porque ela fala por si só e todo mundo que eu conversei concordou, e todos os site de crítica concordaram e todos os prêmios mais importantes do mundo também deram seu aval. A atuação é impecável. Não só pelo casting que acertou em cheio na hora de chamar os atores (que são absurdamente iguais a Hawking e Jane), mas pelo grau de dificuldade que é retratar uma pessoa real e ainda colocar a sua própria personalidade em cima da personagem.

Eddie Redmayne (Stephen Hawking), que está abocanhando todos os prêmios possível de melhor ator, faz você sentir o que o físico está demonstrando naquele momento e mexendo o menor número de músculos possível, e ainda sem falar absolutamente nada. É possível? Ele tornou possível.

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A Teoria de Tudo não é somente a descrição da vida humana de um ser de outro planeta (afinal, é isso que os gênios são). Mas é também um tipo de lição de humanidade, um tipo de cura pra doença do mundo, pra falta de ser humano. Atenção, amor, perseverença, paixão e uma dose fodida de não adaptação constroem um mundo melhor. Valeu, Falou.

Selma - Uma Luta pela Igualdade | Trailer legendado e sinopse

Um sonho pode mudar o mundo, pelo menos era o que pensava Martin Luther King. Em "Selma", acompanhamos uma crônica de King durante sua campanha eleitoral por direitos iguais durante as eleições em uma marcha épica de Selma até Montgomery, no Alabama em 1965.

Crítica do filme Whiplash | A perfeição deixa calos

Não é incomum encontrar, na História, casos de gênios de diversos que eram uma mistura de solidão e arrogância — talvez sendo a segunda exatamente a soma da genialidade obsessiva com a falta de trato para o social. Nomes como o do pintor holandês Vincent Van Gogh e o do físico alemão Albert Einstein figuram como alguns dos mais conhecidos cujos donos se encaixavam no perfil descrito acima.

Em “Whiplash - Em Busca da Perfeição”, o que se vê é o jovem baterista de jazz Andrew Neiman (Miles Teller) com grande potencial sendo lapidado por Terence Fletcher (J.K. Simmons), um professor truculento e abusivo que usa de violência psicológica (e até física) para extrair o melhor de seus alunos. O rapaz guarda em si a obsessão, a solidão e a arrogância dos gênios, mas precisa equilibrar as forças dentro de si para se dedicar na busca pelo sonho de se tornar memorável como os grandes músicos do gênero, além de lidar com o mestre nada convencional.

Partindo dessa relação, o filme escrito e dirigido por Damien Chazelle (“Toque de Mestre”) cria relações tensas e faz um excelente trabalho ao mostrar o quanto o ódio e o orgulho às vezes podem ser um combustível potente para criar grandes artistas.

Em busca do tempo perfeito

Logo de início fica claro o quanto alcançar o propósito de ser uma lenda tomaria tempo e energia da vida de um jovem estudande de música de 19 anos, o que aprofunda ainda mais a solidão de um rapaz sem amigos e que resolve dispensar a sua namorada, então a única pessoa além de seu pai a lhe demonstrar algum tipo de afeto. A presença disso na trama é trabalhada de um jeito interessante, reafirmando o quanto o garoto estava disposto a deixar de lado qualquer possibilidade de distração no caminho a se tornar uma lenda.

Whiplash

Isso também serve para revelar a personalidade de Neiman: egoísta, arrogante, solitário e talentoso. A impressão que fica é que ele poderia carregar mais o último adjetivo e deixar os três primeiros de lado, mas não é o que acontece e as consequências disso beiram a tragédia em certa altura do longa.

Nesse meio tempo, o professor Fletcher se mostra como um mentor também na obsessão e arrogância de seus alunos — uma cena de preconceito e abuso moral basicamente apresenta o personagem de Simmons para o público. E o cartão de visita se repete diversas vezes, arrancando inclusive lágrimas do protagonista e algumas preocupações de seus pais.

Regado com jazz

O filme todo é regado com jazz, ou seja, é um prato cheio para os amantes deste ritmo afroamericano. A presença das músicas não como trilha sonora, mas como parte do filme em si, ajuda a tornar ainda mais proveitosa a experiência auditiva da película — sem dúvida, um de seus principais pontos positivos.

As atuações de Miles Teller (“Divergente”) e J.K. Simmons (“Homem-Aranha”) conseguem dar uma força incrível a tudo que acontece em “Whiplash”. O primeiro encarna bem o pupilo que se sujeita à loucura do mestre, até mesmo adquirindo um pouco dela para si, enquanto o segundo se transforma em um louco que não economiza em esbanjar impropérios machistas e homofóbicos diante das câmeras.

Por fim, a direção impecável de Chazelle, com algumas cenas que lembram Daren Aronofski em “Requiem Por Um Sonho”, focando algumas tomadas em detalhes de instrumentos, partituras e movimentos das mãos segurando baquetas, não deixa por menos e também merece aplausos. O desfecho do roteiro também vem temperado de surpresa, terminando sem muitas conclusões objetivas sobre a história, mas do melhor jeito possível para o momento alcançado pela trama.