Critica do filme Shazam! | Uma palavra pode mudar tudo

Shazam é o filme mais Marvel da DC e isso é muito bom. O que pode soar como ofensa para fãs mais ardorosos, ou como saudoso aceno às origens do herói — que até meados dos anos 70 era conhecido como Capitão Marvel — é apenas a constatação de que o filme conhece o seu protagonista e ajusta o seu tom de acordo, seguindo o exemplo do que a Marvel vem fazendo com muito sucesso nos cinemas.

Sem entrar na infindável discussão sobre os porquês dos insucessos da DC no cinema, basta dizer que impor um meta-conceito em todos os personagens não funciona, e no caso específico de Shazam, seria totalmente contrário à essência do herói. Mérito aqui para o trio David F. Sandberg, Henry Gayden e Darren Lemke que entenderam o personagem e entregaram uma aventura bem adaptada.

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Sandberg explora ao máximo o humor juvenil próprio dos quadrinhos da Era de Ouro, navegando com sucesso entre a ingenuidade e a petulância. O roteiro da dupla Gayden e Lemke tem seus problemas, mas é coerente tanto como história de origem em mais um capítulo do inconsistente DCEU (universo cinematográfico estendido da DC Comics) ou como uma aventura “oitentista” digna da Sessão da Tarde.

Com uma apresentação dinâmica, o filme apresenta contornos mais claros para a nova face da DC nos cinemas. Seguindo o exemplo de Aquaman, Shazam!, não tem medo de tirar sarro de si mesmo e de todo o universo DC, entregando assim não apenas um filme de herói, mas também outros elementos que dão mais substância. Os roteiristas e o diretor não tentam forçar sua visão sobre o personagem, pelo contrário eles se adaptam ao personagem.

Me chame pelo meu nome 

Quem nunca pensou em ser um super-herói, com poderes espetaculares e habilidades fantásticas. Bem, Billy Batson (Asher Angel) não tem muito tempo para esse tipo de fantasia, o problemático garoto de 14 anos tem apenas uma coisa em mente, encontrar a sua mãe. Depois de se separar dela quando criança, Billy passou a viver em uma série de lares adotivos — sempre fugindo para tentar encontrar sua mãe perdida. Agora, a caminho do seu sétimo lar consecutivo, sob o teto da família Vázquez — um simpático casal com outras cinco crianças adotadas — Billy não parece nada sensibilizado e já planeja sua fuga da casa.

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No entanto, antes de partir, Billy mostra seu valor ao defender um de seus irmãos adotivos de uma dupla de valentões, mas as coisas não saem muito bem e o garoto é obrigado a fugir dos dois e é aqui que tudo fica mais interessante. Enquanto fugia dos brigões, o garoto é magicamente transportado para a Rocha da Eternidade, o reduto mágico do milenar Mago Shazam, que há muito busca por um campeão capaz de portar o seu poder e seguir lutando contra o mal.

Assim, quando Billy pronuncia a palavra mágica — o nome Shazam — ele é transformado no Campeão da Humanidade, um ser imbuído com a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mércurio. Com seus novos superpoderes, Billy vai atrás de seu irmão adotivo Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer) — um fã de super-heróis que certamente saberá lidar com a situação.

Em tempo a dupla começa a compreender quais são os poderes de Billy e como usá-los, mas antes que os dois consigam entender o que está acontecendo, um terrível vilão aparece para destruir Shazam e trazer o caos para o mundo. Trata-se do Dr. Thaddeus Sivana (Mark Strong), um homem que na juventude foi preterido pelo Mago Shazam, que não viu nele a capacidade para o bem, como a que reside no coração de Billy.

Rancoroso, o Dr. Silvana conseguiu localizar o esconderijo do mago e lá ele libertou os “Sete Inimigos Mortais da Humanidade”, sete terríveis demônios que foram aprisionados pelo Mago Shazam em sete estátuas de pedra, um castigo que deveria durar para toda a eternidade, mas que graças à artimanha do Dr. Silvana foram liberadas e agora alimentam a sua sede por poder.

Aproveitando bem diferentes elementos das origens do Capitão, sejam da versão original lá de 1939 ou da releitura dos Novos 52 (linha editorial da DC que recontou a origem de vários personagens), Gayden e Lemke escrevem sobre a essência de Shazam, enquanto Sandberg a descreve e Zachary Levi a materializa na tela.

Mesmo com alguns diálogos expositivos atrasando o fluxo da narrativa, o filme flui com certa rapidez, muito por conta do dinamismo de Sandberg, que apesar de não inovar se aproveita muito bem de diferentes estilos para costurar o filme de maneira eficiente. As cenas de luta parecem saídas diretamente de Homem de Aço, enquanto os momentos mais cômicos são inspirados em clássicos oitentistas como Quero Ser Grande.

Família Shazam!

A Família Shazam era o nome do grupo de super-heróis associados ao Campeão da Humanidade, mas aqui eu uso o termo para me referir ao trio de atores que comanda o filme. Zachary Levi, Asher Angel e Jack Dylan Grazer dão um show a parte, a química entre os três é essencial para que o filme funcione e os três entregam ótimas performances.

Além do talento por trás das câmeras, o filme também acertou em cheio no elenco. Apesar de não ter gostado muito da indicação de Zachary Levi para o papel, fui obrigado a rever minha posição depois de assistir a sua atuação. Levi possui um carisma peculiar que encaixa muito bem com a estranheza de Shazam. Além disso, a parceria com Asher Angel e Jack Dylan Grazer parece extremamente natural entregando um trabalho coletivo muito interessante.

O mesmo vale para o resto do elenco. Mark Strong não foge muito da sua zona de conforto e mesmo assim constrói uma personificação sombria do Dr. Silvana. Enquanto isso, a “família” adotiva de Billy, Faithe Herman, Jovan Armand, Ian Chen e Grace Fulton esbanjam carisma.

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O mais Marvel da DC

Shazam acerta o tom e mostra que ainda há muita vida no DCEU. A direção de David F. Sandberg é ágil e inteligente, mesmo sem ser especialmente inventiva. O roteiro da dupla Henry Gayden e Darren Lemke é competente em expor a essência de Billy Batson e sua família estendida, mas falha em apresentar todos os elementos que fazem de Shazam, não apenas um personagem carismático, mas um dos mais poderosos do universo DC (capaz de fazer frente ao Super-Homem). 

Shazam! pode não ser memorável, mas apresenta o que o DCEU precisa; um herói

O elenco é sem sombra de dúvida o ponto alto do filme. Como alguém que não gostou muito da nomeação de Zachary Levi para o papel de Shazam - a versão adulta e superpoderosa de Billy Batson - me sinto obrigado a reiterar o trabalho do ator. Levi é engraçado na medida certa, e a sinergia com Jack Dylan Grazer (que encarna Freddy Freeman) é excepcional, entregando as melhores cenas do filme.

Shazam! agrada sem fazer muita força. O filme acerta o tom para chamar famílias que não conhecem o personagem, e recheia a história com pequenas supresas para os fãs mais ardorosos - por sinal, existem duas cenas pós-creditos, sugerindo inclusive uma continuação com um dos vilões mais insólitos de toda a DC Comics. No melhor estilo Sessão da tare, Shazam chega para redefinir o DCEU e quem sabe restabelecer um universo cinematográfico que parecia extinto.  

Os Mortos Não Morrem | Trailer legendado e sinopse

Em uma cidadezinha pacata, uma série de crimes começam a chamar a atenção dos policiais Cliff (Bill Murray) e Ronald (Adam Driver). Depois de investigarem, descobrem que os seus piores medos se tornaram reais: o local está sendo tomado por zumbis, que voltaram para executar as atividades que faziam diariamente quando vivos.

Crítica do filme Horácio | Loucura bandida

O que pode acontecer em um dia? Você se esconder do juiz que declarou a sua prisão ao mesmo tempo que você mantém a sua filha trancada no quarto? Ou você se apaixonar por alguém misterioso que só viu pela internet? Hm, melhor. Dar um golpe em um contrabandista de 80 anos! 

Tudo isso aconteceu em um dia no filme brasileiro “Horácio” de Mathias Mangin, que conta a história de Horácio (José Celso Martinez Corrêa), um contrabandista excêntrico de 80 anos que resolve se esconder em seu apartamento no bairro Bixiga, região tradicional de São Paulo, enquanto mantém Petula (Maria Luísa Mendonça), sua filha de 40 anos,  presa num quarto.

Quem o ajuda, é Milton (Marcelo Drummond), seu fiel capanga, que está apaixonado por uma loira misteriosa. Neste mesmo tempo, Faraó (Ricardo Bittencourt), um apostador atrapalhado, e Nádia (Sylvia Prado), uma prostituta que perdeu a guarda do filho,  armam contra Horácio.

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O que poderia ser uma grande história de crime, violência e suspense policial se torna uma comédia trágica sobre as fragilidades e loucuras do ser humano.  Um senhor que não superou o luto da sua esposa, uma moça que se opunha frontalmente contra o seu pai torna-se uma bandida, o surgimento de história de um amor que é considerado tabu. Uma moça que fará de tudo para ter o seu filho de novo. E o piores dos males que envolve o homem: o vício.

A Loucura na narrativa

Entre uma narrativa arquitrama e uma minitrama, Mathis Mangin trabalha com cinco histórias diferentes, de forma episódica, a fim de mostrar as fraquezas e transformações que cada personagem teve ao decorrer de um dia. Este modo não tão corriqueiros nos filmes de comédia, torna o conteúdo uma aventura misteriosa.

Longe do moralismo, o longa se preocupa em explorar as cargas de valores e as diferentes situações de vida, de forma que confunda o espectador e o faça pensar: “Tem algo estranho aí”. Essa estranheza não se restringe somente aos diálogos, mas na forma que eles são produzidos

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Novamente afastado do convencional, o diretor Mangig realiza vários cortes rápidos e sem continuidade no decorrer do filme, o que causa estranheza para quem assiste. Uma estratégia que torna rica a forma que a história ganha até o seu final.

Nesta união de drama comédia, o longa garante momentos de descontração e de risada, ao mesmo tempo que provoca o espectador a entender os anseios e transformações do ser humano. E, claro, a responsabilidade de decidir o que aconteceu no próximo dia fica para o público.

Alguém Especial | Trailer legendado e sinopse

A aspirante a jornalista Jenny (Gina Rodriguez) acabou de conquistar o emprego de seus sonhos em uma famosa revista de música e está pronta para se mudar para São Francisco. O problema é que em vez de apostar em um relacionamento à distância, seu namorado (Lakeith Stanfield) decide terminar tudo. Para curar o coração partido, Jenny convoca suas amigas Erin (DeWanda Wise) e Blair (Brittany Snow) para uma última noite de aventuras em Nova York. Da roteirista e diretora Jennifer Kaytin Robinson (criadora da série Sweet/Vicious da MTV), ALGUÉM ESPECIAL é uma história sensível e divertida sobre amizade, amor e os ritos de passagem para a vida adulta.

Vidas Duplas | Trailer legendado e sinopse

Alain é um bem-sucedido editor parisiense com dificuldade em se adaptar à revolução digital. Ele tem grandes dúvidas sobre o novo manuscrito de Léonard, um de seus autores de longa data, que lançará um trabalho de autoficção, reciclando seu caso de amor com uma celebridade. Selena, a esposa de Alain, famosa atriz de teatro, é de opinião contrária e elogia a publicação.

Crítica do filme Happy Hour | Dá espaço ao teu desejo

É muito bom ver debates sobre assuntos sérios que conseguem fugir de abordagens já esgotadas. Importante pontuar aqui que debate sério não necessariamente indica uma pauta de relevância social ou que visa uma crítica aprofundada, mas pode ser apenas a discussão de coisas triviais como as dúvidas comuns do coração, que, por sinal, afetam uma parcela gigantesca do público que vai ao cinema. Afinal quem nunca amou, né?

Eis o caso do filme “Happy Hour”, uma produção brasileira-argentina que traz à tona a questão de uniões que são transformadas pela proposição de um relacionamento aberto. Este poderia ser um título dramático, que leva o debate ao extremo, mas os roteiristas optaram por uma abordagem mais light, com direito a um tom de comédia, que garante reflexões, sem perder as chances de arrancar boas risadas.

Temos aqui um protagonista inusitado: Horácio (Pablo Echarri) é um argentino que mora no Brasil há 15 anos, trabalha como professor e tem sua vida virada de ponta-cabeça após deter um bandido num acidente. Como se a vida já não fosse bagunçada o suficiente, ele decide embarcar numa onda de sinceridade, quando percebe que tem desejo por outras mulheres, propondo uma mudança no relacionamento com Vera (Letícia Sabatella).

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O que essa história de heroísmo tem a ver com o romance? Talvez não muito, mas a gente está falando de um filme sobre seres humanos, então nem sempre é possível ter um amor de Hollywood – e um pouco de contexto não vai mal. Felizmente, “Happy Hour - Verdades e Consequências” explica os pormenores e vai além ao construir uma dinâmica legal sobre um assunto tão complexo, bem como faz tudo isso de forma engraçada e empolgante.

O diálogo sincero – e inconclusivo – do amor

O amor é talvez o sentimento mais complexo e talvez por isso ele seja tão recorrente em filmes. Com essa busca insaciável por respostas, autores já bolaram todo tipo de argumentos para tentar resolver enigmas dos relacionamentos, mas, no fundo, a gente sabe que sendo algo tão pessoal, o amor não se apresenta como um tema com respostas prontas, por isso tudo sempre é um experimento na telona.

A abordagem da pauta em “Happy Hour” usa como ponto de partida a comodidade de um relacionamento duradouro. A desconstrução do lugar comum se dá com a tomada de decisão de um dos lados para o início de um debate que, por ventura, pode acabar em um relacionamento aberto. Todavia, uma simples linha no roteiro é o pontapé inicial para desdobramentos sem fim na cabeça dos personagens.

A partir disso, o script discute questões sobre (in)fidelidade, as dinâmicas de relações com termos amplos (e tradicionais), bem como os limites entre amor e desejo. Tais divagações ocorrem tanto entre quatro paredes quanto em cenas externas que visam mostrar as (re)ações dos envolvidos nesse novo diálogo. De forma paralela, temos os coadjuvantes com opiniões, exemplos e cenas que complementam as lacunas do tema.

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Apesar da intenção em mostrar dois lados, a condução é mais voltada ao Horácio, que não apenas traz o tema para debate, como também vivencia esse lado aventureiro. É bom ver a sagacidade do roteiro em nunca entregar o ouro, então mesmo que tudo pareça claro, é difícil tomar conclusões precipitadas. No fim, alguns podem achar um tanto vago, mas eu vejo que “Happy Hour” não tem resolução simples, tal qual o amor.

Importante mencionar que o sucesso do filme está diretamente ligado à ótima escolha dos atores, que mostram uma química incrível e permitem uma excelente dinâmica graças também a esse mix intercultural. Pablo Echarri é um ator engraçadíssimo e que parece nem precisar se esforçar muito para roubar a cena. Da mesma forma, a querida Letícia Sabatella não fica por menos e acrescenta o drama necessário ao tema.

Macacos me mordam, que filme engraçado!

Agora, tão importante quanto um roteiro inteligente para debater o assunto principal, é a presença de cabeças pensantes para criar uma ambientação propícia para as situações inusitadas do romance. E eis o trunfo de “Happy Hour - Verdades e Consequências”, que mescla as turbulências do relacionamento na confusão do dia a dia, que conta com trivialidades, mas também com surpresas que deixam o filme muito divertido.

Primeiro, a gente tem um personagem bem propício para esse alívio da temática. Horácio é um argentino, que chama a atenção não necessariamente por ser um galã nos moldes americanos (não desmerecendo o ator, que tem boa presença em cena), mas por ser um homem estereotipado, ainda mais para o público brasileiro, que já tem certas considerações aos hermanos.

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Ele não é bem um cara mulherengo, mas o filme tenta forçar a característica de forma inerente, até para dar a deixa ao tema principal. Acredito que a dosagem é na medida, garantindo recursos para a trama e ainda adicionando cenas divertidas ao script. Da mesma forma, a fixação do personagem pelo tema do relacionamento aberto cria confusões nos diálogos com sua esposa, que busca sempre desviar do assunto.

Além da narrativa principal, o filme consegue trazer um alívio cômico ímpar ao abusar de recursos narrativos alheios aos protagonistas. A adição de cenas intermediárias (com direito a reportagens televisivas sem pé nem cabeça) aos problemas dos personagens garantem ótimas risadas. E o cenário do Rio de Janeiro, cheio de turistas e atrações famosas ainda permite insistir em piadas sem deixar o ritmo cansativo.

Legal ver que o filme abraça um punhado de pequenas histórias de forma dinâmica. Louvor da direção de Eduardo Albergaria, que tem aqui seu primeiro longa-metragem para cinema e que acerta ao conseguir abraçar reações opostas em uma mesma cena. Da mesma forma, ele se destaca por ter um claro posicionamento de câmera em situações inusitadas, sejam elas constrangedoras ou engraçadas.

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O roteiro de quatro mãos também consegue pontuar muito bem todos os temas, sem deixar o ritmo cair. Seja você um fã de comédias ou romances, certamente “Happy Hour - Verdades e Consequências” se mostra uma excelente pedida pra ver no cinema, bem como uma ótima oportunidade para mostrarmos apoio aos filmes nacionais – e com um toque argentino, claro. Bom também pra ter novas visões do amor.