Crítica do filme Django Livre | Aquele western que você vai querer assistir com seu pai

Pra não perder a piada do título, este filme é livre das correntes de “meu Deus, tenho que fazer um mega blockbuster e fazer muito dinheiro”, o que é irônico, uma vez que estamos falando de nada menos que um filme de Quentin Tarantino. Mas irei explicar o porquê dessa introdução depois.

Saindo da sala de cinema de Django (o D é mudo) já escuto a primeira conversa do pessoal sentado ao lado: “E aí cara, gostou do filme?”, e o outro responde: “Cara... é Tarantino!”. Sim, o nome do diretor tem peso, e já sabemos disso. Temos certeza que faremos valer a pena aqueles R$6,00 gastos na sessão das 19h30 de quarta-feira.

Sim, o filme é muito bom, sendo o mais simples e objetivo o possível. Tudo que um fã de Tarantino gosta está lá, nos seus mínimos detalhes, como a própria marca registrada do diretor.

A violência instantânea manchada por muitos litros de sangue (dessa vez passa, é um western, ok?!); as jogadas de câmeras permeadas pelos efeitos sonoros clichês; a trilha sonora escolhida a dedo, misturando Ennio Morricone, hip hop e música castelhana; as longas cenas de diálogo entre os personagens; Samuel L. Jackson... tudo dentro do pacote. (Quase tudo)

Mas, "Django Livre" não entrou no top top dos melhores do diretor na minha listinha. O que faltou? Nada. O maior erro do filme, e chamar de erro pode até ser muito exagerado, é ser longo de mais. Tarantino filmou sem correntes nenhuma, sem peso. Foi filmando, filmando, filmando... e terminou com a versão comercial com 2h45 de duração.

Ele não tem pressa. Conta a história do escravo negro e seu fiel amigo (ex-nazista) caçador de recompensas ao passar de um trote de cavalo. Django conquista a liberdade, ganha um parceiro e vai resgatar sua bela mulher de ninguém menos que Leo DiCaprio (sim, ele também está lá, e está fenomenal). Dentro disso tudo, um filme de quase 3 horas acaba sendo grande de mais.

Pode parecer uma crítica meio boba, mas eu senti falta dos bons e velhos capítulos, o único detalhe que não entrou dessa vez. A divisão dos filmes em capítulos sempre deu uma certa “cadência” para as histórias de Tarantino, tornando cada um uma obra de arte cinematográfica. Dessa vez não tivemos isso, e confesso que me perdi algumas vezes no final, achando que iria terminar em diversas partes. Mas não, tinha sempre alguém mais para morrer.

Críticas à parte, o bang bang sulista de Tarantino cumpriu seu papel, e quem é fã do seu trabalho, de Western, de Samuel L. Jackson, de filme bom, tem que assistir! Pode não ser o melhor, mas... cara, é Tarantino!

Crítica do filme A Viagem | Tudo está conectado, mas nem tudo se conecta

O cinema nos levou a muitas jornadas nos últimos tempos. Tivemos “As Aventuras de Pi”, “O Hobbit” e, por último, “A Viagem”. Venho hoje contar como foi minha experiência com essa mais recente, uma obra que leva o espectador em uma viagem através do tempo para conhecer como a história da humanidade é conectada.

Eu estaria mentindo se relatasse que o mais recente longa dos Wachowski não me deixou curioso e ansioso para descobrir o que tanto havia neste universo mágico. Também, não posso negar que depois de longas três horas de projeção e uma verdadeira confusão de fatos, o filme me deixou sem respostas e muito pensativo.

Roteiro ambicioso, mas com conexões complicadas

Se você ainda não conferiu o filme, vale uma breve explicação. Em “A Viagem”, você é levado a presenciar uma série de acontecimentos com personagens aleatórios que vivem em diferentes épocas. Não se trata de um longa que leva uma história até um ponto e a conecta com a próxima. Também não é um filme montado com uma ordem cronológica bem definida.

A ideia do filme em abordar diferentes histórias em épocas passadas, presente e futuras não é ruim. Todavia, o que percebi é que na tentativa de abraçar tudo, o roteiro do filme acaba não comportando cada capitulo do todo com riqueza de detalhes – algo que gera uma confusão depois de uma hora e tanto de projeção.

Além disso, ao misturar as histórias de forma aleatória, “A Viagem” deixa o espectador muito perdido, pois muitas vezes demora para que uma das linhas seja retomada e é fácil se perder em meio a tantas informações.

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Na tentativa de criar uma ligação entre os acontecimentos e dar o tom de continuidade, o longa-metragem aproveita os mesmos atores para que o público também reconheça essa conexão através do tempo. Assim, para que os personagens fiquem convincentes, o filme abusa a todo momento da maquiagem.

A ideia é boa, mas a execução nem tanto. Resultado? Muitas vezes, você pode se pegar olhando para a falta de capricho nas maquiagens. Felizmente, os figurinos são de qualidade, de modo que não é possível encontrar um personagem fora de época.

A arte é a base de Cloud Atlas

Apesar da confusão no roteiro e das maquiagens pouco convincentes, “A Viagem” é um filme que impressiona pelos visuais. A fotografia ambiciosa deixa o público interessado em conhecer o que há de místico por trás de cada cenário. A ambientação futurista é muito boa, bem como os acontecimentos no passado conseguem levar o espectador em uma jornada inusitada.

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A trilha sonora do filme é simplesmente emocionante. O tema principal que leva o mesmo nome do título do longa é incrivelmente bem trabalhada. As demais composições também são coerentes com a história e deixam o filme completo.

Se você prestar muita atenção, no fim do filme, você dificilmente vai encontrar uma moral ou uma conexão em tudo, mas isso não é ruim. “A Viagem”, apesar de tudo, é uma bela obra de arte que tem diversas lições a ensinar. Para mim, a principal é de que o humano não tem fé em si próprio, que sempre vamos acabar nos estragando e que é preciso de um pouco mais de amor para fazermos esta viagem juntos.

Crítica O Homem da Máfia | Picuinhas da máfia resolvidas por alguém com colhões!

A julgar pelo nome, e também pela sinopse, temos a impressão de que “O Homem da Máfia” é mais um filme que ganha destaque apenas pelo ator principal. De fato, Brad Pitt tem grande peso no elenco, porém ele não é o principal em boa parte da película e, na verdade, parece que sua participação reduzida faz bem ao resultado final da obra.

Ainda que Brad Pitt seja o homem dos colhões e resolva qualquer parada com seu olhar matador e suas atuações fenomenais, ele não é o grande trunfo do filme. Deixar o grande astro um pouco de lado para construir uma história focada em outros personagens faz este filme ser diferente de tantos outros.

A ideia do roteirista, Andrew Dominik, de dar atenção às picuinhas da máfia é válida, principalmente porque o filme trata de grupos de criminosos modernos que não têm chefes específicos e sofrem com traições.

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O modo ímpar de construção de “O Homem da Máfia” é um aspecto que me conquistou. Na película, longas cenas recheadas de detalhes que parecem não ser relevantes para o enredo deixam o filme mais completo e divertido.

Muitas situações não são regadas a chuvas de balas ou explosões, mas ainda servem para deixar a história mais recheada, momentos, por exemplo, em que vemos um drogado sofrendo para conseguir ficar acordado e dialogar com outro criminoso ou em que vemos um grande matador desabafando sobre sua vida amorosa.

É interessante que o filme consegue prender a atenção até mesmo com suas cores apagadas – que mais parecem efeitos do Instagram. Boa parte da película é construída em ambientes escuros, em dias nublados e em cenários vazios. A utilização desse recurso parece ajudar a dar o tom de seriedade ao filme e o devido respeito à máfia.

Os diálogos sempre ligados e as explicações jogadas uma em seguida da outra também são importantes, pois, apesar de não ter um roteiro muito complexo, “O Homem da Máfia” conta com uma série de personagens e situações que podem confundir o público, portanto não deixar pontas soltas e procurar focar na trama é deveras interessante.

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Quanto à ação, podemos dizer que o filme de Andrew Dominik é bem equilibrado. Apesar de não exagerar na violência, o longa-metragem não deixa a desejar quando resolve mostrar os executores da máfia em ação. O principal assassinato, em câmera lenta, é simplesmente sensacional! Qualquer um fica boquiaberto e satisfeito com a execução da cena.

Enfim, “O Homem da Máfia” é um filme que conta com elenco bem preparado e competente, acompanhado de efeitos compatíveis e uma trilha sonora adequada. Tudo isso fica ainda melhor quando vemos que o roteiro, apesar de simples, tem algo a mostrar sobre as situações gerais, às vezes ilusórias, do povo e da economia dos Estados Unidos.

Crítica Looper: Assassinos do Futuro | Ousadia em uma ficção de qualidade

A viagem no tempo ainda não foi inventada, mas daqui a 30 anos terá sido. Joe é um assassino especializado que deve executar bandidos que são enviados pela máfia do futuro. Sim, Joe é um Looper. Pois é, a vida era boa, mas um belo dia resolveram mandar o Joe do futuro para o Joe do passado matar.

É claro que o jovem não teve colhões para fazer isso. Agora, o Joe do futuro (interpretado por Bruce Willis) resolveu matar o chefão da máfia que estragou sua vida. Não vem ao caso explorar mais detalhes da história, mas só com esta breve sinopse você pode ter ideia da maluquice e genialidade que são inseridas em um mesmo enredo.

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Desde o dia em que legendei o trailer deste filme fiquei na expectativa para descobrir o que Rian Johnson, um diretor não-tão-famoso, aprontaria com Joseph Gordon-Levitt. Hoje, posso dizer que os dois fizeram uma grande parceria e conseguiram transpor para as telonas um filmão de ficção. Um longa-metragem quase tão bom quanto A Origem ou outros de alto nível.

"Looper: Assassinos do Futuro" consegue reunir ineditismo, ousadia, muita ação e efeitos especiais em uma mesma película. Não há problema algum em você saber que o roteirista não tenta explicar muito a questão da viagem no tempo. Aliás, é até bom que isso fique claro, pois um dos pontos fortes deste longa é evitar a confusão com explicações mirabolantes.

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De modo geral, devo dizer que a maior parte do elenco do filme faz bonito na atuação. Os personagens parecem dialogar perfeitamente e a ilusão de futuro é bem definida com alguns pequenos detalhes que você descobrirá na projeção.

Claro, o destaque especial fica para Joseph Gordon-Levitt que manda muito bem na hora do drama e da ação. Falando nesses dois, preciso ser direto e avisar que a maquiagem de Gordon-Levitt não está um primor. Não que você vá achar horrível, mas dá para notar que ficou um pouco forçada. Bom, sobre Willis, acho que nem é preciso tecer comentários.

As duas horas de história passam voando com cenas bem diversificadas. Há pequenos detalhes que poderiam ser modificados para evitar a repetição de cenários, mas isso não deixa o filme chato ou cansativo. A trilha sonora e os efeitos de áudio colaboram muito para criar uma atmosfera convincente.

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Se você não faz questão alguma de pensar, "Looper: Assassinos do Futuro" não vai ser tão interessante, pois ele deixa mais dúvidas do que conclusões. Detalhe: essas questões que ficam em aberto não são pontas soltas para uma continuação, mas sim ideias diferentes que surgem na cabeça de cada espectador. Para mim, Looper: Assassinos do Futuro está entre os melhores do ano. Se puder, confira na telona!

Crítica do filme Shame | O vício sexual abordado com ousadia

Sabe aquele tipo de filme aclamado pela crítica que ninguém sabe o porquê do sucesso? Então, "Shame" é um desses longas que consegue impactar de forma dúbia. É um filme que alguns vão amar, outros vão odiar.

Na trama, Michael Fassbender (que interpretou o Magneto em X-Men Primeira Classe) faz o papel de Brandon, um homem charmoso de trinta e tantos anos que busca obter prazer sexual de todas as formas. Ele tenta conciliar a vida profissional, o vício sexual e o convívio com Sissy, a irmã mais nova que invadiu a vida e o apartamento de Brandon.

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É interessante que o enredo do filme não se desenvolve com rapidez. Quem começa a ver esperando grandes acontecimentos, acaba sofrendo uma decepção. O filme é parado e as situações se desenvolvem em ritmo lento, o que é muito bom, pois cria dúvidas e expectativas.

Logo nas primeiras cenas, dá para ver que o diretor e roteirista, Steve McQueen, não tem vergonha alguma em abordar a sexualidade de forma natural. Aliás, o filme consegue misturar de forma natural os atos constrangedores e os momentos comuns do cotidiano, deixando claro que este não é um simples personagem de uma ficção.

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Outro diferencial de Shame está na fotografia. A escolha de cenários fez toda a diferença neste projeto. Em muitas cenas, Nova Iorque dá o tom perfeito para desenvolver as situações diárias; em outras, vemos ambientes reservados que são perfeitos para explorar a sexualidade. Os atores conseguem aproveitar os cenários e se expressar de forma natural.

Para juntar a trama, as cenas, os ambientes e os personagens, a trilha sonora faz um belo papel. Claro, por se tratar de um drama profundo, quase todas as músicas são orquestradas e próprias para cada momento. Determinadas cenas aproveitam os barulhos da grande cidade para deixar o espectador pensando sobre as perversões de Brandon.

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Sinceramente, gostei muito do filme e fiquei surpreso. Apesar de focar muito na natureza humana, o longa consegue mexer com a mente de quem está assistindo, provocando reações, sugerindo ideias bizarras e comovendo quando necessário. Uma grande obra de arte que merece ser vista pelo menos uma vez. "Shame" é ousado, triste, empolgante, curioso e impactante!

Crítica do filme Curitiba Zero Grau | Quatro grandes histórias e um belo cenário

Quando fiquei sabendo do filme, não acreditava que o resultado seria impressionante, mas fui ao cinema confiante de que esta seria uma grande chance de apreciar os artistas e a imagem de Curitiba na telona. Posso dizer que fiquei surpreso ao visualizar um longa-metragem de tamanha profundidade.

Curitiba Zero Grau é um filme audacioso que mostra o talento da gente do Paraná. A primeira surpresa está no enredo que consegue prender o espectador. São quase duas horas de filme, mas o mergulho na história é tão grande que não dá para ver o tempo passar. No filme, vemos quatro dramas de personagens curitibanos, cada qual com suas peculiaridades.

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Essas pessoas acabam se envolvendo de certa forma umas com as outras e, para ampliar esse laço entre eles, o diretor cria uma narração intercalada, ou seja, um conta o caso do outro. O sistema de montagem lembra um pouco o que vemos em “Crash - No Limite”, mas claro que o longa curitibano demonstra ser mais humilde.

Para eu, que sou curitibano, poder visualizar um retrato fiel da cidade no cinema foi fantástico. O diretor Eloi Pires Ferreira e os roteiristas Altenir Silva e Erico Beduschi conseguiram abordar diversos pedaços da capital e mostraram como o povo daqui, apesar de ter seus defeitos, pode ajudar o próximo. Se você é daqui, vale conferir se seu bairro não faz parte do filme.

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É interessante que o diretor não apelou para os cenários já conhecidos, mostrando que Curitiba tem muito mais do que os famosos parques e praças já conhecidos por grande parte dos brasileiros. A ideia de criar um filme no inverno vem a calhar, entretanto, devo ressaltar que o principal aqui não é o fator frio, mas mostrar que o curitibano não é tão gelado como a cidade.

Apesar de tantos pontos positivos, devo dizer que esta não é uma película impecável. Talvez por conta do baixo orçamento ou da limitação de aparelhagem, existem alguns pequenos detalhes que podem desagradar aos espectadores que estão acostumados com a perfeição hollywoodiana. Contudo, devo ressaltar que isto não abala a grandeza do filme, pois a história ofusca os pequenos defeitinhos.

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A trilha sonora também é utilizada de forma adequada, aumentando o drama quando preciso e empolgando a plateia nos momentos mais tensos. Curitiba Zero Grau é uma bela crítica social para mostrar ao curitibano que há gente de valor aqui, todavia, é também uma singela obra de arte que vale a pena apreciar nos cinemas.