Lista | Os filmes mais subversivos de Outubro

Ó grande Outubro da classe operária!
Erguem-se enfim os que viveram tanto tempo
Vergados ao jugo! Ó soldados, que haveis
Finalmente apontado as armas para o alvo certo!
Os que cultivaram a terra na Primavera
Não o faziam para si próprios. O Verão
Mais os vergou. A colheita ainda
Foi para os celeiros dos senhores. Mas o Outubro
Viu já o pão nas mãos certas!

Antes de ser rosa, o Outubro era VERMELHO. Apesar de ter começado em Fevereiro de 1917, foi em Outubro do mesmo ano que a A Grande Revolução Socialista Soviética pos fim ao domínio do tsar na Rússia, quebrando a hierarquia social exploradora vigente. Operários, soldados e camponeses, guiados pelos bolcheviques, tomaram o poder e deram início ao Estado dos Sovietes.

A Revolução de Outubro de fato abriu as portas para o período de recuperação graças a estrutura democrática garantida por  Vladimir Lenin. Entretanto a morte do líder bolchevique levou muito dos ideais revolucionários para a mesma cova e apesar de roper um ciclo histórico de abuso, tentando introduzir um processo mais igualitário, o Outubro Vermelho de 1917 não conseguiu concretizer o sonho utópico comunista, sendo que no final, quanto mais as coisas mudaram, mais elas continuaram iguais, apenas com novos chefes, iguais aos chefes antigos...

Para relembrar os subversivos da primeira revolução comunista marxista do século XX preparamos uma breve lista com alguns filmes vermelhos para corromper a mente da nossa juventude.

Crítica do filme Zumbilândia: Atire Duas Vezes | Morreu, mas passa bem

Retornando dos mortos tal qual os zumbis do título, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” é a continuação que ninguém esperava mas que é muito bem vinda. Desnecessário dizer que o filme é excelente, já que seu elenco conta com a cativante vencedora do Oscar Emma Stone ❤.

Zumbilândia” estreou em 2009, uma década em que zumbis ocupavam um espaço considerável na cultura pop. Então, depois de dez anos certamente os cadáveres já puderam se decompor e finalmente descansar, certo? Claro que não!

Quem assistiu o primeiro filme deve lembrar que Bill Murray era o único personagem que interpretava ele mesmo. Em “Atire Duas Vezes”, a justificativa do querido ator sobre a razão dos estúdios continuarem fazendo sequências de filmes antigos é muito simples: drogas custam dinheiro.

Regra #32: Aproveite as pequenas coisas da vida

Um dos maiores charmes de Zumbilândia é a utilização da metalinguagem e a ousadia em fazer piadas nas horas mais inapropriadas. Não por acaso, o diretor Ruben Fleischer assinou a direção do controverso “Venom”, e os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick foram os responsáveis pelo roteiro de “Deadpool”. Certamente eles trabalham com o que gostam, mas a eficiência de todos esses filmes pode ser resumida em pontos como baixo orçamento e quebra de expectativas.

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“Zumbilândia”, de 2009, era pautado nas regras de como sobreviver em um apocalipse zumbi. Desenvolvidas pelo protagonista e narrador Columbus (Jesse Einsenberg), as regras exemplificam as cenas que viriam a acontecer, tudo com um tom bastante descontraído.  A princípio, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” segue o mesmo caminho, mantendo-se bastante fiel ao original apenas para quebrar as próprias regras.

A desajustada família composta por Columbus (Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) decidem se estabelecer em um novo lar, então começam a morar na Casa Branca. Por um breve período, a vida doméstica e pacata parece satisfazê-los, mas a tentativa de encaixar as mulheres em papéis tradicionais, a filha que precisa de proteção constante e a leal esposa, faz com que elas fujam do ninho.

Para expandir um pouco o universo da terra de zumbis, temos algumas adições peculiares. Desde o princípio os personagens são claramente estereotipados, mas em “Atire Duas Vezes” fica explícito. O melhor exemplo é Madison (Zoey Deutch), uma garota que parece ser retirada das comédias escrachadas do começo do século, com piadas recorrentes que envolvem a sua inteligência limitada.

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Regra é coisa pra frouxo

Há algumas surpresas a respeito dos zumbis, que agora são classificados em tipos: alguns muito lentos e burros, outros inexplicavelmente inteligentes e também alguns vorazes e praticamente indestrutíveis. É preciso notar também que boa parte do enredo se baseia na história e cultura estadunidense, o que pode parecer meio sem graça para quem não conhece ou não se importa com esse tipo de coisa.

Tallahassee, sendo um grande fã de Elvis Presley, tenta transmitir essa paixão à Little Rock. Ambos sonham em conhecer Graceland, a famosa mansão em que Elvis morou, e lá os nossos heróis conhecem Nevada (Rosario Dawson), tão apaixonada pelo Rei do Rock que decidiu cuidar pessoalmente do museu. Basicamente apenas um par romântico para Tallahassee, ela faz drinks, dá tiros e sabe dirigir loucamente enquanto atropela zumbis.

Outra adição hilária são os personagens espelhados em Tallahassee e Columbus, Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch), respectivamente. É curioso que quase todos os outros sobreviventes do apocalipse são absurdamente burros e despreparados, quebrando propositalmente os conceitos do primeiro filme apenas pela diversão. O roteiro é repleto de falhas, mas isso não importa nem um pouco, é tudo pelo bem dos fãs e gostosas risadas.

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“Atire Duas Vezes” tem uma duração ideal, uma boa direção, um elenco competente e piadas com o timing certo. Os efeitos de gore estão incríveis, apostando mais nos efeitos práticos e usando o digital como complemento. Certamente uma década de Walking Dead colaborou muito para essa evolução.

Por não se levar a sério e deixar isso claro desde os primeiros minutos, a experiência descontraída para quem ainda é fã de zumbis (Walking Dead ainda existe?) e quer um entretenimento leve é garantida. Por mais que seja uma sequência totalmente desnecessária, vale a pena contribuir para os produtores comprarem mais drogas. Não saia do cinema antes dos créditos finais, pois as gargalhadas são garantidas.

Crítica do filme A Luz no Fim do Mundo | Um Apocalipse para Refletir

Não é preciso ser um gênio para perceber que a cada dia que passa chegamos mais próximos do fim da humanidade como conhecemos e vivemos hoje. Em tempos em que a ganância de grandes corporações e a ignorância das pessoas têm combatido a ciência, podemos ter noção de como nossas ações podem resultar, eventualmente, em catástrofes globais ou em pandemias que podem dizimar toda uma população.

Esses são temas já comuns na indústria de Hollywood, mas muitos buscam exaltar mais o lado dos desastres, principalmente com incríveis efeitos visuais para impressionar a plateia com as tantas hipóteses de um eventual apocalipse. Todavia, vez ou outra, temos a chances de ver algumas ideias que saem do lugar-comum, sendo que “A Luz no Fim do Mundo” se encaixa justamente nessa categoria.

Em vez de partir de explicações sobre o passado ou tentar reproduzir o fim do mundo, o filme escrito, dirigido e protagonizado por Casey Affleck larga mão do tradicional para ir no lado mais reflexivo de situações extremas. Nesta história, acompanhamos um pai (Casei Affleck) e sua filha adolescente, Rag (Anna Pniowsky) buscando formas de sobreviver em um mundo devastado por uma pandemia.

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E este poderia ser apenas um filme de ação com toques de sentimentalismo, mas o que vemos são indagações mais profundas, numa obra que acaba pendendo muito mais para um drama com pitadas de suspense. Assim, em vez de entregar absolutamente todas as respostas, “A Luz no Fim do Mundo” visa propor mais questões sobre como nos portaríamos quando temos que lutar pela sobrevivência de um filho.

Sem pressa no fim do mundo

O que fazer para passar o tempo quando o mundo está à beira de um colapso? Como manter a sanidade em um ambiente hostil? Quais sentimentos afloram para quem não tem nada a perder? E quais habilidades desenvolvemos quando temos tudo a perder? Essas podem parecer questões aleatórias, mas que são pertinentes se fossemos imaginar um cenário similar ao proposto nesta trama.

Ao que parece, Casey Affleck quis justamente colocar esses pequenos detalhes como o fundamento para o desenvolvimento do filme, algo que pode afastar o público mais tradicional já na primeira cena. O pontapé inicial é tudo que o espectador precisa para entender o cerne do filme, então se você não gosta de diálogos longos, pausados e sem trilha sonora, talvez você já pode ter noção que este não é o filme mais apropriado para você.

E esta poderia ser apenas uma cena perdida para dar suporte ao filme, porém, dado todos os argumentos introduzidos na trama e as situações de extrema cautela, o que temos é uma ampliação desse desenvolvimento pausado. O que é muito legal nessa abordagem é que a obra não entrega tudo de mão beijada, sendo que vamos compreendendo os detalhes do passado em pequenos detalhes e flashbacks.

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Apesar do começo vagaroso e do ritmo lento (que parece ser ainda mais arrastado dado a duração total de duas horas de projeção), é válido ressaltar que isso não elimina o clímax do filme, tampouco impede a colocação de cenas mais tensas no meio da película. Muito pelo contrário, se você realmente prestar atenção aos detalhes, o filme consegue te captar pelas nuances do inesperado, afinal ficamos observando tudo nos cenários.

Apreciando o declínio da humanidade

Longe de ser um apocalipse devastador, o caos proposto em “A Luz no Fim do Mundo” é muito mais “pé no chão”, o que ainda garante que o público fique curioso para entender os detalhes do que aconteceu, mas que evita que o filme tenha que inventar situações mirabolantes. Assim, o que temos são paisagens tomadas pelos efeitos do tempo e da natureza, que toma de volta o espaço.

A produção é caprichada nesse sentido, já que a composição visual e a fotografia são elementos cruciais para criar um ambiente mais convincente. Interessante também que com a história proposta, o filme consegue abordar diferentes cenários do fim do mundo, o que deixa a gente mais vislumbrado, bem como permite rumos inusitados na trama.

Falando nisso, crucial para o andamento da história são as atuações de Casey Affleck, que aqui continua sendo ele mesmo — numa pegada bem calma à la “Manchester à Beira Mar” — e da pequena Anna Pniowsky, que nos encanta a cada instante com sua personalidade fantástica. É claro que essa dinâmica entre os dois seria importantíssima, então o filme acerta em cheio ao ter dois artistas tão talentosos.

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É claro que apesar de ter seu brilhantismo, os cinéfilos de plantão talvez associem muito do que há em “A Luz no Fim do Mundo” com o universo de “A Estrada”. Todavia, ao que me parece, as únicas coincidências são o fim do mundo e a relação paternal, pois do contrário são histórias e rumos bem distintos — cada um na sua pegada e com seus respectivos méritos.

No fim do dia, “A Luz no Fim do Mundo” é um ótimo filme para quem gosta de apreciar nosso lado mais humano, mas talvez não a melhor opção para os fanáticos por ficções sobre apocalipses. De qualquer forma, não duvido nada que o longa tenha algumas indicações nas principais premiações, pois é muito bem executado.

Crítica do Filme Projeto Gemini | Um maluco em pedaços

Sob a batuta de Ang Lee, diretor oscarizado de O Segredo de Brokeback Mountain, estrelado pelo multipremiado Will Smith, e sob os cuidados do mega-produtor arrasa-quarteirão e manjador mor dos paranaue, Jerry Bruckheimer , Projeto Gemini parece destinado ao sucesso... Certo?

Apostando em efeitos especiais de alta qualidade e uma nova tecnologia de cinematografia de altíssima definição, o filme entrega o que promete, mas não coloca nenhum adereço na embalagem. O roteiro raso (e um tanto datado) e a direção receosa de Ang Lee não exploram todo o potencial da película, que mesmo assim ainda agrada sem fazer muito esforço.

Com o perdão da brincadeira, em um mar de filmes clones sem qualquer inovação real, qualquer vestígio de criatividade deve ser celebrado e em Projeto Gemini existe muita criatividade por trás das câmeras, infelizmente nem todas essas ideias aparecem na frente das lentes, o que reduz toda a produção a mais um filme de ação. Sem qualquer demérito ao gênero, fica a ressalva de que, mesmo sendo um bom filme de ação, Projeto Gemini não alcança todo seu potencial.

Um maluco no encalço

Rodando por Hollywood desde 1997, a trama de Projeto Gemini parecia muito mais interessante na época em que foi concebida pelo roteirista Darren Lemke do que agora, mais de vinte anos e algumas revisões depois. Como era de se esperar de uma obra que foi reescrita por diferentes mãos, incluindo David Benioff (de Game of Thrones), o produto final sofre de uma esquizofrenia narrativa que afeta em muito o desenvolvimento da história.

Em Projeto Gemini acompanhamos Henry Brogan (Will Smith) um operativo de elite de uma agência de inteligência governamental. O problema é que a idade chega para todo mundo e Henry, um cinquentão, já não conta com os mesmos reflexos da sua juventude. Ciente de suas limitações, ele resolve entrar com o pedido de aposentadoria (antes que a reforma da previdência coloque ele na linha de tiro).

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Infelizmente, o trabalho de Henry não conta com muitos direitos trabalhistas e um de seus ex-comandantes, Clay Verris (Clive Owen) não aceita muito bem a ideia de ter uma “ponta solta” como Brogan andando por ai sabendo o que ele sabe sobre o submundo da espionagem internacional, desencadeando assim uma série de tentativas de eliminar essa ameaça.

Agora, com um assassino de elite em seu encalço, Brogan, acompanhado de Danny Zakarweski (Mary Elizabeth Winstead), uma agente infiltrada, ele sai fugindo mundo afora acionando seus velhos contatos e antigos amigos de profissão.  A coisa fica ainda mais confusa quando Brogan descobre que a pessoa que está em seu encalço é, na verdade, seu clone.

Apesar de apresentar conceitos interessantes, tudo parece desprovido de personalidade, derivativo.  Na década de noventa poderia ter sido muito mais original vermos a história de um assassino veterano sendo caçado/traído pelo seu empregador/governo/parceiro. Atualmente, mesmo com a adição da reviravolta do oponente ser uma versão mais jovem de si, pouco se acrescenta ao extenso elenco de produções do gênero.

Uma pena, haja vista o potencial do elenco, direção e tecnologia por trás de Projeto Gemini. O talento de Ang Lee certamente poderia explorar o alcance dramático de Will Smith levando o que seria um mais um filme de ação em um título mais denso, cativante e até mesmo introspectivo.

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Olho no lance

Poderíamos falar por horas a fio do feito tecnológico por trás de Projeto Gemini.  Apostando em um salto tecnológico, o diretor Ang Lee, que já havia flertado com o cinema de altíssima definição com A Longa Caminhada de Billy Lynn — rodado em 4K e 3D com uma taxa altíssima de quadros por segundo — entrega um filme com efeitos filmados a impressionantes 120fps (no que foi batizado de 3D+).

Essa técnica deixa toda a experiência cinematográfica muito mais fluída, além de oferecer uma sensação de profundidade mais nítida aos efeitos 3D. Se esta tecnologia é, o não é, o futuro da fotografia no cinema ainda vamos ver, mas Projeto Gemini certamente se beneficia desse trunfo.

Além disso, também merece destaque o rejuvenescimento digital de Will Smith. O construto, totalmente virtual, é impressionante e só apresenta defeitos quando superexposto. Em outras palavras, se você pretende ver Projeto Gemini faça isso em uma sala que suporte o 3D+.

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Big Willie Style

Ang Lee não acrescenta os efeitos e tecnologia apenas pela extravagância técnica. O diretor explora o sistema, experimentando novas possibilidades e estilos possibilitados pela ferramenta. Com um personagem protagonista totalmente digital criado a partir da captura de movimentos, o diretor consegue colocar o ator frente a frente com sua contraparte rejuvenescida de maneira muito convincente.

A ressalva quanto à direção de Ang Lee é justamente por conta do que ele nos apresenta como possibilidade, mas não engaja o suficiente dentro do filme. Tecnicamente, o diretor comanda o filme de maneira inteligente, mas não explora seu maior recurso, Will Smith e o resto do elenco.  Mary Elizabeth Winstead tem um grande momento no filme, mas é pouco utilizada dentro da trama, enquanto Clive Owen entrega uma atuação descompromissada e extremamente caricata. Por sua vez, Will Smith age no piloto automático, entregando uma atuação consistente, mas pouco elaborada.

Parece que dois Will Smith não são suficientes para carregar um filme inteiro

O alcance dramático de Will, que já lhe rendeu duas indicações ao Oscar poderia explorar até mesmo uma faceta existencialista dentro do filme, vereda que acrescentaria muito mais consistência ao título, que se contenta em entregar releituras de filmes de ação dos anos 90. Projeto Gemini tem boas cenas de ação — com destaque para a sequencia nas ruas de Cartagena e o "bike-fu" de Will Smith — e para expremer todo o suco é melhor assistir em uma grande tela com o sistema 3D+

Lista | As melhores turminhas do barulho

Dia 12 de outubro é o dia da criança, pelo menos por aqui na Terra Brasilis, talkey. Aproveitando o vácuo comercial até o Natal, a indústria de brinquedos resolveu formar o seu próprio feriado pra vender bugiganga, mas chega desse papo comunista ai, nada de doutrinar as pessoas com esse discurso desagregador, afinal, a criançada não está nem ai pra isso, quer mais é saber daquele presentão bonito pra fazer inveja no coleguinha e encher a paciência do irmãozinho.

Pra entrar de cabeça nessa “data tão especial”, cheia de inocência e esperança, o Café com Filme preparou uma lista de aventuras radicais com altas confusões, só pra essa turminha do barulho poder aproveitar a data de montão. Tem a galerinha que curte esportes, brincadeiras, assassinato, luta antifacista, culto pagão e outras coisas gostosas típicas da infância...

Crítica do filme Ad Astra - Rumo às Estrelas | Uma longa jornada pessoal

Há um certo encanto nos filmes que é difícil de descrever, uma atmosfera hipnotizante que nos mantêm vidrados por horas contemplando existências fictícias. Boa parte desse encanto provêm de excelentes atores e atrizes que tanto amamos, como Brad Pitt.

Como protagonista dessa aventura espacial, a escolha desse magnífico ator é bastante acertada, pois os adjetivos e elogios servem tanto para ele quanto para “Ad Astra – Rumo às Estrelas". É fácil notar que tudo que estamos presenciando é a partir do ponto de vista do protagonista, desde seus pensamentos e avaliações psicológicas até momentos de extrema tensão em que ele se mantém plácido e extremamente eficaz na resolução dos problemas, tanto físicos quanto filosóficos.

James Gray assina a direção e co-escreveu o roteiro com Ethan Gross em um longa que assim como a performance de Brad Pitt, é bastante controlado e contemplativo, ainda que possua boas doses de adrenalina e desespero em momentos chave. Há uma familiaridade em “Ad Astra”, obviamente devido a todos os filmes sobre exploração espacial, mas também há uma certa particularidade que torna o filme um misto de realidade e ficção, uma espécie de sonho lúcido de um futuro próximo que talvez nunca aconteça.

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A sequência inicial já impressiona bastante. Após um terrível acidente que passa a ser conhecido como “O Surto”, o major Roy McBride (Brad Pitt) recebe a notícia de que a sobrevivência de nosso planeta está ameaçada graças a uma misteriosa onda de energia que viaja através do espaço.

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Isso pode ter relação com o sumiço de seu pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), um astronauta dedicado a encontrar vida inteligente fora da Terra. Agora sua missão é viajar em direção ao espaço profundo e solucionar esse mistério, com segredos que podem ameaçar a existência humana.

A trama se passa em “um futuro próximo”, deixando propositalmente em aberto os eventos que o filme retrata. Apesar de ter um os pés bem firmes no chão e ser incomodamente semelhante a nossa realidade, “Ad Astra” possui muitas liberdades poéticas nas questões científicas.

Isso já foi abordado por diversos cientistas em sites sobre o tema, então não compensa comentarmos a respeito. Basta dizer que é tudo bastante convincente, sem os exageros que a ficção científica normalmente se utiliza, simplesmente pelo desenvolvimento da história e o que ela significa. Em “Ad Astra” o que importa é a jornada e não o destino.

Pai, por que me abandonaste?

Praticamente o filme todo é ancorado por Roy. É um personagem cativante, misterioso e totalmente controlado. Além de ser filho de um astronauta admirado como um herói por todos, ele é conhecido por sua capacidade inexplicável de manter-se calmo em situações de extrema tensão, algo que se mantêm ao longo do filme, ou quase isso.

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Ao prestar atenção nos diálogos internos, descobrimos que essa armadura de frieza são resultado do projeto espacial que seu pai iniciou quando Roy ainda era criança e como a dedicação ao trabalho atrapalhou sua vida pessoal. Por fora, ele é calmo, responsável e simpático, mas internamente ele não consegue se relacionar com outras pessoas e vive apenas fugindo de seus conflitos internos e isso tudo transparece na película em detalhes sutis, mas que entregam exatamente o que o protagonista está passando.

Infelizmente, por ser tão focado em Roy, “Ad Astra” nunca explora os outros personagens devidamente. Eve (Liv Tyler), a esposa de Roy, tem no máximo duas falas no filme todo, apesar de ser tão importante para o protagonista. Helen Lantos (Ruth Negga), personagem que lidera a colônia em Marte serve apenas como um facilitador de eventos para Roy, ainda que sua relação com o protagonista seja no mínimo conflitante. A sensação é de que cada um dos personagens pudesse protagonizar um filme a partir de seu ponto de vista, tamanha sua complexidade e subutilização.

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Pode-se dizer que filmes sobre exploração espacial não são novidade, por isso mesmo que “Ad Astra“ chama atenção. Já é tudo familiar, ainda que com suas características próprias e de certa forma, um ângulo diferente. A expectativa sobre o que pode acontecer é tão subvertida que acaba surpreendendo pelo óbvio. Mas a verdade é a que a mensagem que o filme passa é tão impactante que é difícil ficar impassível como Roy. Vale a pena embarcar nessa jornada, tanto pela inspiração quanto pelo entretenimento.

Crítica do filme Coringa | Vilão, herói ou vítima?

No próximo ano, o personagem Coringa completa 80 anos, sendo não apenas o maior vilão das histórias do Batman, mas também um dos mais importantes da DC Comics. Apesar desse longo tempo de figuração nos quadrinhos, filmes, séries, desenhos animados e games, o detentor do sorriso mais marcante das HQs nunca teve uma origem bem definida.

Já tivemos várias versões convincentes — algumas até aclamadas pelos fãs —, mas a verdade é que, tirando algumas características icônicas, não há sequer um nome definido para a pessoa por trás da maquiagem. Assim, diferente de Bruce Wayne que tem sempre a mesma história retratada nas diferentes mídias, o Palhaço segue sendo um personagem misterioso.

Foi assim que Todd Phillips e Scott Silver optaram por criar uma versão inédita do comediante. No filme “Coringa”, acompanhamos não apenas uma história inédita no cinema, mas também cheia de novidades para os fãs dos quadrinhos. A trama trata das desventuras de Arthur Fleck (que sequer existe nos gibis), um homem desprezado na já conhecida Gotham.

Assim, é perfeitamente normal haver polêmicas do porquê da existência de um filme que não usa o material de base já consagrado para adaptações cinematográficas, bem como dos motivos que levaram a Warner (nem temos referências significativas à DC Comics durante a projeção) a liberar a produção de um longa-metragem sobre um vilão.

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Alguns poderia alegar que o motivo é a moda, ainda mais após o sucesso de “Venom”, mas o que digo é que “Coringa” não é necessariamente um filme sobre quadrinhos, vilões e estopins para o surgimento de heróis. Estamos numa época em que é preciso reinventar o cinema, o que a Warner parece ter visto de antemão e, assim, optou por ir na contramão da concorrente.

De louco, todo mundo tem um pouco

Se você pensa em ver um filme com o carimbo DC Comics, nos moldes de Esquadrão Suicida ou mesmo na pegada de qualquer Batman, você pode parar por aí. O filme “Coringa” está mais para um drama do que para um filme que tenta se encaixar em uma adaptação de quadrinhos. E essa nova ideia de reinventar gêneros cinematográficos é primordial para levar novidades a um público já cansado da mesmice.

Além disso, é muito importante constatar algo de antemão: a existência de um vilão sem seu rival. Não é de todo errado pensar que o Joker não existiria sem o Batman, ainda mais que — em sua essência — ele nasceu na HQ do Homem-Morcego, mas o filme “Coringa” vem para provar que o personagem existe sem seu arquinimigo, podendo ser o protagonista de sua própria história. Afinal, apesar de ser um vilão, também estamos falando de um ser humano.

Óbvio que, da mesma forma em que há uma genialidade aqui, essa tomada de decisão tem um lado que vai contra a popularidade: a insatisfação de fãs presos às “reais” origens do Joker. É claro que essa mudança de abordagem com um tom muito mais dramático e realista tira toda a referência a um filme do gênero, mas aqui entra a velha história de que não é possível agradar gregos e troianos.

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Conservadores poderiam alegar que não se deve contar histórias sobre criminosos (e há polêmicas sobre uma possível incitação à violência aqui), mas o script do “Coringa” vai justamente na questão primordial do debate: como surgem os vilões? Assim, além de ter seu mérito por trazer um personagem icônico às telonas, o filme de Todd Philips se destaca pela ousadia em fomentar algo raro num título do gênero.

Oras, se esta é uma história de origem, é até necessário que possamos entender o processo de transformação do personagem. E eis aqui o trunfo do filme, que opta por não jogar seguro e fugir do óbvio, afinal seria fácil adaptar um conto conhecido das HQs. Então, sem dúvidas podemos classificar a obra como audaz por propor uma explicação mais humana — e menos fantasiosa.

Os vilões que criamos

Genial em sua concepção, a ideia central pode, por outro lado, ser um tanto repetitiva ou talvez até alongada para quem busca um filme mais com a cara do Coringa e menos com a cara de Arthur Fleck. Particularmente, eu mesmo achei que as coisas poderiam ter sido um tanto aceleradas ou mesmo mais unificadas para evitar a repetição de uma mesma mensagem.

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Contudo, ao mesmo tempo em que vale a crítica a tal aspecto, eu acho justíssimo ter divagações ou até repetições de determinados momentos para que a gente possa apenas desfrutar do talento exuberante de Joaquin Phoenix. Eis aqui o homem que fez tudo isso possível, afinal somente um ator muito gabaritado poderia suscitar as nuances mais sutis de um ser humano tão complexo.

E eu digo ser humano, pois o “Coringa” não é um filme que tem o personagem apenas como um apoio para determinadas cenas. O filme é totalmente focado no protagonista, de modo que não há uma sequência que se sustente sem a presença do ator. Phoenix está aqui para dar dramaticidade nos momentos mais tensos, fazer o Joker resplandecer com danças e ações performáticas e externar sua mensagem nos momentos mais intensos.

Falando em espetáculo, resta enaltecer três pilares que dão sustentação para toda a obra: fotografia, direção e trilha sonora. Primeiro que este é provavelmente o primeiro retrato mais ousado de Gotham durante o período diurno. Por não precisar focar no Batman, o filme não necessita criar situações que obriguem a execução no período noturno.

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Segundo, temos uma direção surpreendente de Todd Philips (que muita gente só conhece de “Se Beber, Não Case!”). A versatilidade do cineasta para sair de uma pegada muito cômica para encarar uma obra muito dramática surpreende, principalmente pela sua visão intimista e também pelo olhar preciso da grande Gotham. E, terceiro, que trilha é essa? A composição de Hildur Guðnadóttir (das séries “Trapped” e “Chernobyl”) é o complemento perfeito para extrair esse novo Coringa!

E olha, para ser sincero, eu passei boas horas refletindo e escrevendo esse texto, tentando ponderar prós e contras, vendo as diferentes perspectivas, que o próprio filme propõe. Contudo, não há uma conclusão simples, assim como deveria ser em qualquer obra engenhosa. Se “Coringa” nos consegue fazer pensar em tópicos como criminalidade, vilões, heróis, sociedade, política, cotidiano e afins, eu acho que ele alcança seu resultado com maestria.

Na minha opinião, o filme “Coringa” é uma obra genial justamente por ser despretensioso ao tratar de um personagem de quadrinhos, mas por ser incisivo em suas mensagens intrínsecas quanto ao nosso lado mais humano. Talvez, para alguns o tom seja até glamourizado, porém eu acho que o recado vem de forma precisa para que tantos possam enxergar a desgraça.

Crítica do filme Predadores Assassinos | Eles vão te caçar até você cansar!

Não é preciso ser um cinéfilo para perceber que há um mar de filmes (e oportunidades de fazer dinheiro fácil) com criaturas marinhas aproveitando situações oportunas para encher suas respectivas panças ou simplesmente para caçar por diversão. Na verdade, essa onda de filmes com predadores selvagens começou há algumas décadas e teve grandes títulos como “Tubarão” que marcaram época.

Todavia, as marés nem sempre foram favoráveis para outros monstros considerados reis do mundo animal: os crocodilos. Há alguns exemplos de filmes protagonizados por répteis famintos, mas esses são exceções e não muito famosos. Assim, “Predadores Assassinos” chega para tentar conquistar seu lugar em águas internacionais e fazer uma moral com um público que já está cansado dos Sharknados.

Curiosamente, a distribuidora do filme até tenta esconder essa informação na sinopse oficial, mas o cartaz e o próprio trailer não omitem tal detalhe, o que na verdade vem a calhar para chamar a atenção da garotada que adora um bom filme de caçadores ferozes da natureza. Contudo, a tática de esconder ao máximo essa surpresa é um tanto óbvio: garantir o máximo de ineditismo para o público.

Uma coisa interessante foi a forma como o roteiro foi montado, aproveitando para criar uma trama coerente e para unir dois tipos de filme em um só. Tudo começa quando um furacão atinge a Flórida e Haley (Kaya Scodelario) ignora as ordens das autoridades e vai procurar seu pai desaparecido (Barry Pepper). Assim, os dois ficam presos na inundação e logo descobrem que a chuva é o menor dos problemas.

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Essa ideia de misturar desastre natural e criaturas sinistras num mesmo local pode parecer um tanto forçada, mas “Predadores Assassinos” tem suas táticas para nos convencer e o faz de forma inteligente para prender nossa atenção — e, depois de um tempo, isso nem importa, porque o negócio é ver a bicharada fazendo a festa. Para quem não quer muitos detalhes adicionais, vale dizer que este é um filme completo de monstrão e certamente a história envolta em sustos vai fisgar você!

À toa na Lagoa

Essencialmente, a sinopse acima resume bem toda a trama da película, de modo que os poucos minutos de introdução são apenas uma contextualização para o miolo do longa-metragem, que realmente foca na dinâmica entre caça e caçador. Assim, analisando do ponto de vista de roteiro, o filme “Predadores Assassinos” realmente não tem muito o que contar, já que a ideia é entreter pelo susto e não pela história.

A parte interessante desse processo de “encher linguiça” é que o filme realmente faz uma ponte legal entre os dois gêneros propostos (desastre e predadores). Para quem é fã de filmes nesses estilos, certamente a união das duas ideias vai parecer coerente e permitirá, ao menos, desfrutar de boas cenas em meio aos fortes ventos e à inundação que se mostra incessante a cada instante.

Agora, é importante frisar que está tudo bem criar uma história com um mínimo de argumentos para chegar num clímax que anime a plateia. O problema é que o script dos irmãos Rasmussem dá rodeios desnecessários (e mesmo espichando, o filme ainda fica curto) e constrói personagens de forma forçada para tentar convencer o público do porquê da dupla protagonista estar submersa nesta situação um tanto inusitada.

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Ok, eventualmente, alguns argumentos vão servir para desenvolver os protagonistas, mas não temos nada de genial no roteiro. Para falar a verdade, o uso de flashbacks e toda a trama familiar acaba sendo irritante mesmo, pois o público não quer saber disso e nem tem tempo para se afeiçoar aos dois, uma vez que não estamos tratando de personagens famosos.

Nadando de braços aberto no terror

Bom, se por um lado “Predadores Assassinos” se afoga aos poucos em bobeiras na história, por outro ângulo temos uma composição de terror bem diversificada e até inovadora em alguns pontos. Dada a prisão do script num mesmo lugar, o script tem algumas cenas bem ousadas, tanto do ponto de vista técnico quanto da premissa de criar sustos em momentos oportunos.

Além do timing preciso nas aparições dos monstros, o filme conta com uma montagem inteligente, que abusa da fotografia permeada por penumbras, bem como de lugares que ficam ocultos ao espectador. Tudo isso cria um clima de tensão constante, que parece nunca terminar, criando um grande clímax do meio do filme até o final.

Vale mencionar que as cenas mais assustadoras não abusam da técnica de jump scare, mas se valem da construção das situações inusitadas, que fazem com que tenhamos uma perspectiva bem ampla de tudo que está acontecendo. Uma coisa bacana é que o roteiro dá conta de trazer algumas explicações científicas, que permitem à plateia ter noção de para quais locais devem manter seus olhos fixos.

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E, no fim do dia, o filme “Predadores Assassinos” sabe brincar com o perigo, trazendo muitas cenas bem montadas (com bons efeitos visuais e uma trilha sonora no capricho) e faz isso sem economizar no banho de sangue. Um filme que cumpre bem os principais requisitos para se encaixar na categoria “filme de bichão faminto” e que certamente vai ser um prato cheio para ver na telona!

Critica do filme Rambo: Até o Fim | Toque de Silêncio

Inspirado no romance "First Blood", de 1972, escrito por David Morrell, Rambo: Programado para Matar se transformou em um dos filmes mais icônicos da carreira de Sylvester Stallone. Na pele do ex-soldado boina verde da Guerra do Vietnã, John Rambo, o ator cravou seu lugar no hall da fama de brucutus do cinema.

Agora, em sua quinta entrada, Rambo: Até o Fim surge como um canto do cisne, para os nostalgistas de ação oitentista, e para o próprio Stallone que resiste deixar de lado esta faceta da sua carreira. Como fã da franquia e do Stallone digo que este é um dos filmes mais desnecessários da sua carreira, fazendo um desserviço ao personagem e ao trabalho do ator/roteirista que se debate para encontrar o seu novo lugar no cinema atual. Entre muitos erros e algumas boas cenas de ação, Rambo: Até o Fim não encontra equilíbrio na sua história e na ação, perdendo a oportunidade de garantir um final digno a saga de John Rambo.

Programado para matar

A história de Rambo sempre foi marcada pela forma como o soldado, que lutou pela liberdade longe de cada, nunca a encontrou dentro de seu próprio lar, ou de si. Desde o início do filme — em um prólogo totalmente dispensável — fica claro a tentativa de humanizar o personagem, apesar da sua inata habilidade de matar e impor dor aos seus adversários.

Dessa vez encontramos um pacato John Rambo tentando conciliar uma vida pacífica, no rancho da família, com as várias cicatrizes físicas e emocionais do seu passado sangrento. O relacionamento do veterano com Maria e Gabrielle parece genuíno o suficiente para mover a trama, mas não é devidamente desenvolvido pelo roteiro, que não explora o cenário mais interessante dessa dinâmica, aquele no qual a família oferece suporte ao portador de transtorno de estresse pós-traumático.

Como era de se esperar, a paz do rancho logo é quebrada quando Gabrielle vai para o México em busca de seu pai — que abandonou a família quando a garota ainda era criança. Do outro lado da fronteira, na terra sem lei recheada de hombres ruins como alardeia Donald Trump, a menina acaba caindo nas mãos dos irmãos Martinez, líderes de um cartel envolvido no tráfico de mulheres.

Cabe a Rambo se embrenhar na selva de pedra dos cortiços mexicanos em busca de Gabrielle e logo e descobre que por aquelas bandas, as coisas são bem diferentes do que no sudeste asiático. Mais coisas dão errado, a ótima Paz Vega desponta em um papel inútil, as coisas pioram de vez e chegamos ao terceiro ato que concentra basicamente toda a ação e violência do filme. Um final morno e pouco inspirado fecha a película deixando a franquia com um retrogosto meio amargo.

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Perdido em ação

Possivelmente um dos títulos mais contidos da série, Rambo: Até o Fim, tenta dar um fim digno ao personagem, mas comete muitos erros ao longo de todo o filme. A verdade é que a quarta edição já havia dado um fim honrado a franquia e aqui já começamos errado, partindo o princípio que a volta para casa não era o suficiente para o soldado cansado de guerra.
A introdução do componente familiar, Maria e Gabrielle, poderia ser muito interessante, mas o seu desenvolvimento é mais um erro. Mal trabalhado, o drama familiar acaba quebrando o ritmo do filme, que se divide em um dramalhão mexicano (literalmente no caso) e pura pancadaria.

Apesar de facilmente desprezado como uma mera série de filmes de ação, a história original de Rambo foi capaz de camuflar alegorias antibélicas dentro da sua narrativa. As contradições da Guerra do Vietnã são expostas nas duas primeiras iterações da franquia, enquanto a terceira parte aborda a resistência talibã da Guerra Afegã-Soviética — bem como os pretextos anticomunistas estadunidenses da Guerra Fria. O quarto, e mais violento filme da série, ainda consegue trazer um pouco de luz (mesmo que apenas como pretexto para que Rambo saia do seu autoexílio) à crise humanitária provocada pelos conflitos no Mianmar/Birmânia. No entanto, desta vez não há nada realmente inteligênte para ser dito e tudo se resume a uma boa e velha história de vingança bruta.

Enquanto o roteiro de Matthew Cirulnick e do próprio Sylvester Stallone é pouco inspirado, a direção de Adrian Grunberg é inconsistente. O diretor até trabalha bem nas sequências de ação, mas não tem o menor tato para os momentos mais calmos do filme, contribuindo assim para falta de ritmo do filme, que só ganha momento no final, quando estoura a pancadaria — e aqui fica os parabéns para Grunberg que realmente entrega momentos interessantes, pena que o mesmo não se estenda para o resto da película.

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Honras Fúnebres

Sem as devidas honras fúnebres, próprias de um enterro militar, Rambo: Até o Fim termina uma saga que, assim como seu ator principal, parece presa a uma época que ficou para trás. Diferente do que fez em Creed, Stallone tenta moldar o mundo ao seu redor em vez de se simplesmente entender que seu papel agora é outro. Se em Creed o ator veterano entende que seu personagem já não é mais a estrela, mas um coadjuvante de marca maior, em Rambo ele tenta recuperar o holofote, algo que apenas joga luz as suas limitações.

Acredito que ainda havia material para novas edições da franquia. Seguindo a ideia de Creed, poderíamos ter visto Rambo como um mentor — replicando o papel do Cel. Trautman forjando uma nova legião de heróis. Se alvo é apenas a nostalgia por que não apresentar as origens do personagem, uma espécie de prologo mostrando o treinamento de Rambo e sua incursão no Vietnã.

É hora de deixar, o fiel, soldado ferido morrer. Rambo: Até o Fim não é o melhor fim para a saga, mas deve encerrar a jornada do veterano.

Mas da maneira que Rambo: Até o Fim trata o personagem é melhor deixar ele de lado e dar um merecido descanço ao soldado. Rambo IV já fez um trabalho digno colocando um ponto final na saga, apesar do roteiro mínimo e excesso de violência. Todavia, com Rambo: Até o Fim esse ponto é transformado em vírgula em uma sentença desconexa que não acrescenta em nada a elegia do herói.

Os fãs mais ardorosos certamente apreciarão o retorno do personagem, mesmo que em uma película tão medíocre. Dito isso, fica o alerta, pois praticamente toda a ação é restrita aos 30 minutos finais do filme, enqaunto o resto tenta equilibrar um dramalhão familiar no meio de um amontoado de estereótipos reacionários.

Crítica do filme Hebe Camargo – A Estrela do Brasil | Contra a censura!

Uma das mais famosas ex-apresentadoras do SBT, foi com certeza, Hebe Maria Monteiro de Camargo Ravagnani, que faleceu aos 83 anos, em 2012. Chegando aos cinemas nesse período politicamente sombrio em que vivemos, ”Hebe Camargo – A Estrela do Brasil” não é apenas mais uma biografia que conta a história de superação de uma brasileira.

O longa aborda um viés diferente, limitando-se a citar a infância da apresentadora em apenas uma frase, justificando sua predileção por aqueles que estavam passando dificuldade no Brasil dos anos 80. Aliás, muitas cenas pontuais servem apenas para detalhar algum aspecto da personalidade de Hebe, sendo pouco relevantes no contexto geral do filme. A regra de “mostre, não conte” é levada a risca, o que torna o ritmo do longa desgastante.

Dirigido por Maurício Farias e com roteiro de Carolina Kotscho,  “Hebe Camargo – A Estrela do Brasil” mostra a transição da ditadura para a democracia na década de 1980, com um recorte da vida da apresentadora durante seus programas nas emissoras Band e SBT.

Gracinha

Sem receios, o filme já começa num tom desafiador aos censores da ditadura, mostrando que Hebe não se acovardou e sempre falou o que pensava, mesmo sendo ameaçada constantemente. A famosa frase que está presente até mesmo no trailer “A Hebe não é de direita, a Hebe não é de esquerda. A Hebe é direta” resume totalmente o longa.

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Outro aspecto bastante valorizado é a Hebe que lutava a favor das minorias, defendendo ativamente os direitos e o respeito a comunidade LGBT, exigindo a participação de travestis e da icônica participação da modelo transexual Roberta Close, interpretada pela atriz (também trans) Renata Bastos.

O afeto que Hebe tem com seu amigo e cabeleireiro Carlucho (Ivo Müller), uma vítima da AIDS em um período em que a desinformação era predominante, também é abordado de forma pontual. A impressão é que o roteiro foi construído com diversos retalhos da vida de Hebe para que o espectador construa uma colcha da forma que preferir.

A Grande Família

Talvez as cenas da vida particular de Hebe sejam as que chamem mais atenção do público. A responsável por interpretar Hebe é Andrea Beltrão, e não é exagero dizer que ela encarna de corpo e alma o papel. Longe dos holofotes, Hebe sofria com as agressões, ciúme desproporcional e machismo de seu segundo marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricco). Justificando suas atitudes com “eu faço isso porque te amo e não sei viver sem você”, adiciona o homem abusivo no bingo de coisas atuais que o filme busca retratar.

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Sua relação com o filho e o sobrinho também são abordadas. Seu amor por Marcelo (Caio Horowicz) é palpável, filho único fruto da relação com o primeiro marido, Décio Capuano (Gabriel Braga Nunes), apenas mais um pai ausente. E o sobrinho Claudio Pessutti (Danton Mello), sempre incentivando a tia Hebe a não se rebaixar e sonhar alto.

Outro aspecto pouco conhecido pelo público é o quanto Hebe bebia. Em quase todas as cenas fora do programa ela está bebendo ou pedindo uma bebida, inclusive sofrendo consequências como perda de memória devido a embriaguez.

Vale ressaltar que Andrea Beltrão fez um excelente trabalho ao personificar Hebe, emprestando seu talento para apresentar uma pessoa, sem tentar imitar seus trejeitos. Sempre extravagante, extrovertida e muito animada, sua caracterização é um dos pontos altos do longa. Inevitável notar o patrocínio das jóias Vivara, necessárias para retratar a riqueza de Hebe com fidelidade.

A gente volta já, já

Longe de ser um filme perfeito, seu discurso e temas pontuais são o que tornam “Hebe Camargo – A Estrela do Brasil” relevante nos dias de hoje. O espectador é transportado a um tempo passado, talvez tão bem reconstruído e interpretado que se sobrepõem ao momento atual.

Entretanto, o ritmo é lento, sem um desenvolvimento digno da personalidade e personagem retratada.  Sobretudo no segundo ato, lembra mais um seriado do que um longa, que por sinal acontecerá em Janeiro de 2020, na Globo, como um desdobramento desse filme.

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De qualquer maneira, vale a pena conferir a história de uma mulher que teve coragem de fazer seu trabalho da forma que quis, derrubando diversas barreiras e tornando-se uma personalidade que será sempre lembrada com carinho por todos os telespectadores que acompanharam seus programas.