Omar Sy - Café com Filme

Cinema, política e memória: entrevista com a diretora Maria Augusta Ramos

A realidade é uma grande fonte de matéria-prima para a arte. É com essa premissa que a diretora de cinema Maria Augusta Ramos justifica sua preferência pelos documentários, gênero que ela vem aplicando em suas produções desde o início da carreira.

A diretora, que em seus trabalhos opta por mostrar diferentes olhares sobre o cotidiano, é reconhecida pelos longas "Brasília, Um Dia em Fevereiro", "Justiça" e, mais recentemente, por “Futuro Junho”, documentário que retrata o atual momento socioeconômico e político brasileiro por meio do olhar de quatro personas. Em seus trabalhos, opta por mergulhar no universo dos personagens, mas sempre de uma forma muito espontânea, em geral sem entrevistas e sem interferir nos fatos.

Para ela, essa é uma forma não apenas de retratar, mas de ajudar a compreender e desconstruir momentos, cenários e contextos, como o atual momento político brasileiro. Depois de “Futuro Junho”, a diretora agora trabalha em um novo filme documental sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que deve ser concluído no mês de agosto. 

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Inspirada por diretores da ficção como o japonês Ozu e o francês Robert Bresson, mas fortemente influenciada pelo documentarista holandês Johan van der Keuken, ela vem se aprimorando na produção, roteirização e direção deste gênero que já se consolidou como um dos mais importantes na história do cinema brasileiro.

O Café com Filme conversou com a cineasta sobre seu trabalho em “Futuro Junho”, sobre a capacidade de construção da memória nacional oferecida pelo cinema documental e sobre esse diálogo entre a produção cinematográfica e o contexto político, social e econômico de um país. Confira a entrevista completa!

Café com Filme: Conte um pouco sobre Futuro Junho. Como se desenvolveu a ideia deste documentário?

Foi um filme que surgiu aos poucos. Depois da crise de 2008 eu fiquei muito interessada pelo mercado financeiro e pela influência deste mercado sobre a sociedade, nas relações de trabalho e nas relações de poder, nessas políticas neoliberais. Passei a ler bastante sobre isso e decidi fazer um documentário aqui no Brasil. E escolhi a cidade de São Paulo porque é o grande centro financeiro do Brasil. Não poderia ser em outra cidade. E porque eu sempre tive vontade de retratar São Paulo. Não sou de São Paulo, mas conheço um pouco a cidade e ela me instiga muito, com toda essa característica de ser uma cidade que não para, que está 24 horas em movimento. Aí juntei as duas coisas, o desejo de falar de São Paulo e o desejo de falar dessa questão econômica através de indivíduos, de como isso afeta a vida dos indivíduos. 

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Escolhi quatro personagens, cada um deles representa um segmento da economia, para refletir sobre esse momento histórico, político e econômico, onde existe um crescimento grande, mas também uma grande insatisfação em relação a várias políticas adotadas.

É um momento em que se questiona esse modelo, onde os personagens expressam um desejo de mudança, um desejo de que as coisas caminhem de uma outra forma. No caso das manifestações de 2013 e 2014, você tem um desejo expresso nas ruas por educação e saúde de qualidade e isso também fica muito claro no filme. O filme trata dessas experiências humanas na cidade de São Paulo e dos grandes desafios e contradições que estão inerentes não só no capitalismo, mas na sociedade de maneira geral.

 CF: Nessa mesma linha é o seu próximo trabalho, um documentário sobre o processo de impeachment, certo? Como está o andamento e o que você pode nos adiantar sobre este trabalho?

Esse foi um filme que eu fiz tomando uma decisão muito às pressas, porque tudo aconteceu muito rapidamente. Então eu estou em Brasília acompanhando esse processo e provavelmente o filme termina quando o processo também concluir, que deve ser no final de agosto. Até lá eu vou acompanhar o andamento, já tenho acompanhado a Câmara, o senado, e também quando a presidenta estava no Planalto, e tudo o que está acontecendo também um pouco em torno dessas instituições. 

 “Um filme tem que ser capaz de retratar a realidade na sua complexidade, e não de uma maneira unidimensional”

 Essa decisão também veio de uma necessidade de falar disso que está acontecendo e retratar esse momento muito crítico, de uma crise profunda no sistema político brasileiro, não só no econômico. Eu não tinha como não me envolver, não querer falar disso, inclusive de vários pontos de vista. Eu acho que um filme tem que ser capaz de retratar a realidade na sua complexidade, e não de uma maneira unidimensional. E eu acho que a realidade é complexa, certamente nesse momento atual, onde você tem uma narrativa que tem que ser desconstruída e repensada, então isso tem que ser feito de uma maneira muito cautelosa e com muito respeito pela ética e pela verdade, eu acho que esse compromisso com a verdade sempre foi um elemento importante nos meus filmes. E acho que o que eu venho tentando fazer é isso: essa desconstrução e tentando compreender esse momento.

CF: O gênero de documentário vem sendo seu principal foco. O que atrai seu olhar para este gênero?

Porque a realidade me instiga muito. Eu não uso entrevistas, meus filmes são na verdade construídos a partir de observações da realidade. Cada filme tem “X” personagens e no decorrer dele você vai descobrindo esses personagens e a relação que esses personagens tem com o entorno, a família, a sociedade... Me interessa muito a interação, a relação desse indivíduo com o outro, com o pai, com o chefe, ou com a justiça. Como esse discurso, como essa relação se concretiza através de gestos e discursos e como isso é característico da sociedade brasileira.

"Muitas pessoas me perguntam quando eu vou fazer uma ficção. Mas os meus filmes têm uma construção em que a matéria prima é a realidade."

“Futuro Junho” mesmo é todo baseado nessas interações, um com o outro e consigo mesmo, seus desejos, frustrações, insatisfações, como ele externaliza isso no decorrer do filme, na medida em que ele conversa com outros. 

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Muitas pessoas me perguntam quando eu vou fazer uma ficção. Mas os meus filmes têm uma construção em que a matéria prima é a realidade. Em “Futuro Junho”, à medida que você vai vendo o filme, você vai se encantando com os personagens, com a autenticidade deles, ao mesmo tempo em que o que você está vendo é uma representação da realidade. Um filme nunca vai ser a realidade, é sempre uma realidade mediada pelas minhas escolhas como cineasta. Pode ser que um dia eu faça uma ficção, mas por enquanto meu projeto é outro, pois sou muito instigada pela realidade.

CF: Cinema e política vêm andando juntos na história da arte brasileira. Você acha que o documentário permite um estreitamento ainda maior entre ambos?

Eu acho que todo cinema, todo filme é um filme político, mesmo aquele que não se pretende político. Os filmes refletem valores e posicionamentos do diretor, mesmo aqueles que se propõem ao entretenimento, são filmes políticos que defendem valores. Acredito muito nisso. Mesmo aqueles que não diretamente falam e tratam de política, como é o caso do meu atual filme ou mesmo do “Futuro Junho”, são filmes políticos.

“Todo filme é um filme político, mesmo aquele que não se pretende político”

Mas por outro lado há uma diferença entre se propor a fazer documentários que defendem uma tese, que a gente poderia chamar de panfletários, e propor filmes que retratam a complexidade de uma realidade, propondo ao expectador ver uma realidade de várias perspectivas diferentes, que é uma outra abordagem. É com esta que eu me identifico mais, porque não é uma panfletagem, e sim leva a uma reflexão sobre essa complexidade da sociedade.

 CF: O cinema brasileiro vem ganhando mais projeção nos últimos anos e alcançando um reconhecimento junto ao circuito internacional que talvez não atinja ainda em território nacional. Você concorda com isso? E qual o papel do cinema documental neste cenário, em sua opinião?

Eu acho que o documentário brasileiro certamente tem tido uma importância nos últimos anos, ao mesmo tempo em que eu acredito que os filmes de ficção também começam a tomar mais espaço. Temos uma geração de novos cineastas que têm um trabalho muito criativo e eu acho que isso também está acontecendo com a ficção. Talvez o documentário tenha durante muito tempo preenchido esse espaço que agora acho que a ficção tem começado a preencher também. 

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O cinema brasileiro tem muito a dizer e o fato que hoje ainda há algumas políticas de incentivo através de programas como os da Ancine [Agência Nacional do Cinema] também beneficiou que jovens diretores pudessem vir a fazer filmes. 

"Talvez o documentário tenha durante muito tempo preenchido esse espaço que agora acho que a ficção tem começado a preencher também"

 O que estamos vendo hoje é um produto desse investimento, então espero que  isso continue acontecendo. Principalmente em documentário, que exista um apoio do estado, porque os filmes são feitos justamente pra se pensar como nação, são fundamentais para pensar pelo olhar da arte o momento histórico, qualquer evento histórico, qualquer personalidade histórica. Ou seja, é uma questão de memória nacional, então é muito importante que a gente continue tendo incentivos neste sentido.

É como o caso deste documentário sobre o processo de impeachment. Eu não sou a única diretora que está acompanhando esse processo. Outros diretores, como a Petra Costa [“Elena”, “Dom Quixote de Bethelehem”], também estão fazendo filmes sobre isso, e é muito importante que tenhamos vários, com múltiplos olhares sobre esse processo que é tão complexo.

Veja o trailer de "Futuro Junho" e acompanhe as novidades do Café com Filme, pois em breve teremos também a crítica do documentário por aqui!

Rei Arthur: A Lenda da Espada | Novo trailer legendado e sinopse

Arthur (Charlie Hunnam) é um jovem das ruas que controla os becos de Londonium e desconhece sua predestinação até o momento em que entra em contato pela primeira vez com a Excalibur. Desafiado pela espada, ele precisa tomar difíceis decisões, enfrentar seus demônios e aprender a dominar o poder que possui para conseguir, enfim, unir seu povo e partir para a luta contra o tirano Vortigern, que destruiu sua família.

Sully: O Herói do Rio Hudson | Novo trailer legendado e sinopse

Do diretor vencedor do Oscar Clint Eastwood (“Sniper Americano”, “Menina de Ouro”) chega o drama da Warner Bros. Pictures, "Sully: O Herói do Rio Hudson", estrelado pelo vencedor do Oscar Tom Hanks (“Ponte dos Espiões”, “Forrest Gump - O Contador de Histórias”) no papel do Capitão Chesley “Sully” Sullenberger.

Em 15 de janeiro de 2009, o mundo testemunhou o “Milagre no Hudson”, quando o Capitão “Sully” planou com seu avião danificado até cair nas águas geladas do Rio Hudson, salvando as vidas dos 155 passageiros a bordo. Contudo, apesar de Sully ser saudado pelo público e pela mídia por seu feito sem precedentes na história da aviação, inicia-se uma investigação que ameaça sua reputação e sua carreira.

"Sully: O Herói do Rio Hudson" também é estrelado por Aaron Eckhart (“Invasão à Casa Branca”, “Batman – O Cavaleiro das Trevas”) no papel do copiloto de Sully, Jeff Skiles e a indicada ao Oscar Laura Linney (“A Família Savage”, “Kinsey – Vamos Falar de Sexo”, da série de TV “The Big C”) no papel da esposa de Sully, Lorraine Sullenberger.

Entrevista: Dan Albuk e Dan Pissarenko falam sobre o curta “Persona”

Semana passada, após conferir com acesso antecipado o curta-metragem “Persona”, a gente publicou um artigo especial dando um parecer geral da obra e pontuando vários acertos da produção.

O projeto brasileiro de responsabilidade do diretor Dan Albuk e do produtor Dan Pissarenko chegou com boas ideias para mostrar que o cinema brasileiro pode apresentar criatividade ao explorar um gênero pouco habitual e, assim, até se destacar no cenário internacional.

Tanto é verdade que, no último sábado, após exibição no Festival 72 Horas do Rio de Janeiro, o título de suspense levou quatro prêmios: Melhor Fotografia, Melhor Uso Inovador de Objetos Criativos, Melhor Ficção e Melhor Filme.

Com a receptividade positiva aqui no site e levando em conta o sucesso no Festival, fomos atrás das mentes criativas que idealizaram esta obra. Hoje, trazemos até você um pouco mais sobre o processo de produção e as ideias por trás do projeto.

Confira agora uma entrevista exclusiva com Dan Albuk e Dan Pissarenko sobre “Persona”.

Café com Filme: Você tem alguma formação na área ou mergulhou de cabeça no ramo apenas por hobby?

Dan Albuk

Estou me formando agora em cinema, mas já venho trabalhando há bastante tempo com audiovisual, literatura e com arte em geral.

Dan Pissarenko

Sempre fui apaixonado por cinema e sempre soube que era o caminho que queria tomar. A área de produção veio até mim de forma natural, por ser uma pessoa muito agitada, a correria do set de filmagem me seduziu.

CF: Como surgiu seu interesse pela produção cinematográfica?

Albuk

Desde pequeno! Eu sempre fui completamente louco por cinema e sempre quis fazer parte daquele mundo que eu via nas telas, mas os cursos de cinema aqui no Brasil eram extremamente caros e completamente inacessíveis pra mim na época, então fui para o caminho da literatura, lancei um livro e escrevi mais três.

No livro não tem orçamento (risos)! Mas depois as coisas melhoraram e surgiram oportunidades, então comecei a cursar cinema, principalmente pelos contatos e laços, do que pelo diploma em si.

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Rollo, Viviane Dias e Dan Albuk

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Gosto muito de empreendedorismo e vi na produção a parte mais empreendedora dentro do cinema. Como venho de uma família de publicitários, acabei tendo facilidades desde a adolescência em questões de produto, técnicas de vendas, orçamentos e coisas relacionadas à área.

CF: Percebemos pelo curta Persona que você opta por uma abordagem diferenciada. Qual sua visão sobre o cinema nacional? Como você pretende inovar e se destacar no meio?

Albuk

Olha, eu acho que o cinema nacional atual está batendo muito na mesma tecla.  Filmes semelhantes, com temáticas semelhantes e praticamente do mesmo gênero são vistos repetidamente no circuito, tipo pão de forma.
São raros os filmes brasileiros de suspense, terror, fantasia e ficção que chegam às telas e são vistos pelo grande público. Em parte pelas distribuidoras, que muitas vezes não querem arriscar uma bilheteria fraca e principalmente pela cultura do cinema aqui no Brasil

Está nascendo uma nova geração de cineastas que estão indo com força na contramão, produzindo filmes com ousadia e criatividade e abordando gêneros "esquecidos" aqui no Brasil. Para se destacar creio que é preciso sair da zona de conforto do mercado e contar histórias novas, criativas e de qualidade, que possam bater de frente com as de lá de fora que consumimos tanto nos finais de semana nas salas de cinema. 

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Dan Albuk, Santiago Felipe e Rollo - Foto: Pablo Diego

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Persona é ficção e poesia, acredito que o cinema brasileiro anda tendo muito material sobre a realidade em que vive, o que é muito importante, mas acho que existe um grande mercado para filmes mais lúdicos, especialmente para os amantes de fantasia, terror e ficção científica.

CF: Como foi o desafio de produzir o curta-metragem Persona em apenas 72 horas?

Albuk

Foi uma doideira! Praticamente três dias sem dormir, sem comer direito e trabalhando sem parar até, literalmente, os últimos minutos. A nossa principal arma foi a equipe do filme, que era super afiada, dedicada e com uma energia muito boa. O que um pensava o outro já concluía e executava. Taí a importância de trabalhar com amigos profissionais e pessoas que você confia, tudo sai mais rápido e melhor.

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Dan Albuk, Talita Mendes, Santiago Felipe e Rollo - Foto: Pablo Diego

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Foi como eu esperava que seria. A equipe se conhece de projetos anteriores então já trabalhamos de forma muito afinada, por mais que tenha sido muito cansativo e acelerado o ritmo de trabalho, já sabíamos que seria assim para poder entregar um material de qualidade no tempo devido.

CF: Sobre a produção de Persona. Como se deu o entrosamento da equipe? Vocês têm uma produtora? Os envolvidos também já possuem experiência com a produção de mídia audiovisual?

Albuk

Todo mundo já trabalha junto tem um tempo. O primeiro curta — “Do Pó ao Aço” — que fizemos e ainda está em fase de finalização, que gravamos ano passado, uniu muito algumas pessoas da equipe, então ela já estava praticamente pronta desde o começo. Aí convidamos mais algumas pessoas interessadas e com vontade de trabalhar e fechamos a equipe.

Praticamente 90% da equipe já tinha bastante experiência com trabalhos anteriores, então tudo correu relativamente bem durante a produção do curta. Eu e Dan Pissarenko estamos no processo de abertura de uma produtora, que provavelmente deve sair do papel nesta metade do ano!

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Pissarenko

Mais da metade da equipe está reunida desde o primeiro projeto "Do Pó ao Aço", então não somos apenas colegas de trabalho, mas também amigos. Quando nos reunimos para o Persona já sabíamos como era o trabalho de cada um, a equipe toda trabalhou em sinergia. Quanto à produtora, eu e meu sócio Dan Albuk, já estamos providenciando. Acredito que até o final do ano já estaremos produzindo através dela.

CF: A receptividade de Persona parece ser muito positiva. Você pretende investir mais neste gênero?

Albuk

Claro! Não só nesse, como também em fantasia e ficção. O cinema brasileiro é muito carente de conteúdo nessa levada, praticamente não se vê. Ficamos muito felizes com a repercussão de "Persona", tanto por parte da galera que foi assistir quanto dos jurados, que elegeram nosso curta como melhor filme do festival, dentre outros prêmios.

CF: Você tem outros projetos em andamento? Quais são seus planos para os próximos anos?

Albuk

Já estou trabalhando em roteiro para um longa, que é nosso objetivo principal, claro. Em paralelo estamos fechando parcerias e correndo por fora com trabalhos para publicidade e programas. Tenho outros roteiros escritos para curtas-metragem e outras inúmeras ideias para outras coisas, o próximo passo é organizar para fazer a maioria sair do papel.

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Ainda esse ano o curta metragem "Do Pó ao Aço" fica pronto para concorrer os festivais de 2017 e começamos a nos preparar para o nosso primeiro longa-metragem, que ainda estamos refinando o argumento. Também nesse meio tempo estamos pensando em possíveis produtos para a web.

CF: Como você enxerga a produção de filmes independentes no Brasil?

Albuk

Tem muita gente produzindo atualmente por conta da facilidade que temos hoje em dia e o acesso a aparelhos que com um clique já estão gravando. E isso é muito legal, pois dá a chance dos interessados se expressarem e mostrarem o trabalho.

Mas muitos ainda estão com aquela ideia ultrapassada de "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", isso não funciona quando você quer jogar de igual pra igual com as produções pelo mundo a fora. Tem que ter um preparo antes, uma pré-produção, uma organização para o trabalho fluir de forma legal para todo mundo da equipe.

O que eu acho que falta é parceria, dos cineastas em si. Cinema é equipe. Um filme não se faz com uma pessoa só. O pessoal passa mais tempo tentando ver quem é melhor e competindo de forma não saudável do que tentando subir junto. Ma,s como falei, acho que tem uma nova geração do cinema que está prestes a estourar. Uma galera boa, de cabeça boa e ideias novas e criativas está chegando com o pé na porta.

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Rollo e Viviane Dias - foto: Pablo Diego

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Muita gente associa filmes independentes ou cinema de guerrilha como algo amador ou improvisado, o que é errado. Cada vez mais estamos tendo filmes de qualidade com baixíssimos orçamentos e isso mostra que o mais importante é ter um orçamento realista, uma pré-produção bem organizada e a vontade de fazer acontecer.

CF: Quais são as principais dicas que você pode dar para quem está começando nesta área?

Albuk

Creio que não tem muito o que falar a não ser: corra atrás. É o princípio básico de qualquer profissão ou basicamente qualquer coisa que você faça. Se você não correr atrás, não vai dar certo. Não vai cair um roteiro no seu colo como mágica ou uma produção legal para trabalhar se não tiver movimento e iniciativa própria.

Para dar certo, você tem que abdicar de algumas coisas, tem que focar de verdade, sem corpo mole, sem desistir, independente dos problemas mais cabeludos que com certeza vão surgir. Ainda mais na arte em geral, que é um ramo muito, muito difícil e requer um esforço enorme para ser notado.

Muita gente vê o cinema de forma muito romântica, principalmente a galera que está começando agora e, cá entre nós, não é. É trabalhar pra cacete, é produzir, desproduzir, é limpar o set, ver figurino, é comer pão com manteiga de almoço, passar o roteiro com atores, pegar silver tape no meio da madrugada, não dormir direito e por aí vai. Cinema é trabalho em equipe, é juntar pessoas que você confia e se sente bem e dar a cara a tapa. E principalmente, levantar quando cair. Sempre.

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Igor Zuppo, Léo Dias, Santiago Felipe e Viviane Dias - Foto: Pablo Diego

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Eu diria que três qualidades são essenciais para ser um produtor. Ser proativo é uma delas. O produtor não pode esperar o problema acontecer, ele tem que estar preparado pra tudo, prever lá na frente as possíveis dificuldades e sempre correr atrás. Ser responsável, pois é no produtor onde toda a equipe confia o rumo e todas as decisões pertinentes ao filme. E, por fim, ser organizado, porque cada filme é um produto composto por inúmeras partes que não podem se perder, tanto para o entendimento do produtor quanto da equipe.

Dan Albuk é diretor e roteirista de “Persona”, enquanto que Dan Pissarenko é produtor executivo da obra. O curta-metragem será exibido em outros eventos e festivais, mas futuramente deve ser postado na web.

Deixamos aqui nosso muito obrigado a Albuk e Pissarenko pelo tempo e atenção. E, claro, não podemos encerrar este texto sem dar os devidos parabéns pela coragem, persistência e ótimo trabalho realizado!

Crítica Independence Day 2 | Conveniências salvam o mundo, mas não o filme

Nós sempre soubemos que eles voltariam, diz a sinopse de “Independence Day: O Ressurgimento”. Contudo, a verdade é que a gente não sabia e nem fazia ideia que a Fox ia retomar este universo com 20 anos de atraso.

E como seria possível dar continuidade aos acontecimentos de “Independence Day”? Na verdade, depois do sucesso dos humanos no primeiro filme, os roteiristas tinham liberdade total para levar a história para qualquer rumo. E foi o que eles fizeram.

Nesta sequência, usando a tecnologia alienígena recuperada, as nações da Terra têm colaborado em um programa de defesa imenso para proteger o planeta. Com instalações na Lua e vários aparatos protegendo a atmosfera, os humanos vivem com medo de que os aliens possam voltar.

Todavia, nada vai poder nos preparar para a força avançada e sem precedentes dos alienígenas, que resolveram se vingar depois do desfeche do longa-metragem que nos apresentou este universo. Aí, é claro que o destino do mundo ficará sob a responsabilidade de alguns valentes homens e mulheres, incluindo atores como o belo Liam Hemsworth, que chega para dar vigor ao novo filme.

Muita ação, pouca preocupação

O filme começa bem, com visual arrojado e amedrontador. Os aliens chegam para destruir tudo, ainda que a aniquilação não seja desenfreada. Para dar um tom perigoso, o filme se apoia nas cenas de ação. Algumas são provenientes dos ataques extraterrestres, mas várias são protagonizadas pelos humanos.

Essas primeiras cenas aproveitam os recursos tridimensionais e enchem a tela de efeitos especiais. O show de truques visuais é o trunfo desde o começo de “Independence Day: O Ressurgimento”, só que não há como sustentar duas horas de filme apenas com naves intergaláticas, tiros com armas de alta potência, manobras impossíveis em veículos irados e alienígenas extremamente feios.

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O roteiro não perde tempo e logo faz a ponte com o antecessor, com o resgate de velhos conhecidos – ainda que faça a besteira de dar uma desculpa muito ruim para não trazer o personagem de Will Smith de volta – e a apresentação de novos personagens.

O resgate de nomes do primeiro filme é uma boa tática para vender ingressos e, incrivelmente, muitos até desempenham papéis relevantes. Todavia, para protagonizar as sequências de perseguições aéreas era preciso introduzir novos pilotos, já que os velhinhos do primeiro filme não dariam conta. Aí conhecemos Jake Morrison (Liam Hemsworth) e Dylan Hiller (Jessie Usher).

Artifícios visuais denotam o poderio dos aliens, mas o buraco negro no roteiro suga toda a grandeza das ameaças

Eles são os principais, mas a trama vai além e apresenta outros que estão ali apenas para preencher cotas ou fazer piadinhas. Neste grande bolo de personagens, muitos são irrelevantes, já que a história não consegue dar atenção a todos (e nem tem como, pois falta argumento para muitos personagens).

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É curioso que o filme não dá espaço para a plateia se importar com os novos personagens, pois já sabe, antes mesmo de entrar na sala de cinema, que ninguém vai se machucar. Isso é bem bizarro, na verdade, uma vez que temos a maior ameaça alienígena de todos os tempos, que, no fundo, não representa perigo algum.

A invasão que virou piada

No fim das contas, o pior é perceber que “Independence Day: O Ressurgimento” só funciona graças a uma série de conveniências. Tirando uma ou duas cenas que oferecem algum perigo, o título não faz a miníma questão de apresentar a ameaça real.

Ainda que os humanos sejam frágeis, você não vai ver muita gente angustiada ou preocupada com o fim do mundo. Pior, o filme prefere apostar num alívio cômico à la Marvel para arrancar risadas em momentos que deveriam ser preocupantes.

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Chega a ser triste que, “depois de redefinir o gênero de filmes de desastres” (algo exclamado pela Fox), os idealizadores desta sequência resolveram chutar o pau da barraca. Pode ser uma aposta coerente pensando na questão da bilheteria, mas a pegada mais cômica tira o mérito do filme que poderia receber bons olhares diante de uma ousadia mais incisiva nos desastres e na ficção.

É uma nave intergalática? São ETs perigosos? Não, é uma piada espacial mesmo!

Tudo é tão premeditado. Há ainda as questões de incoerências, bem ressaltadas quando vemos inimigos de proporções absurdas perdendo qualquer relevância ao focar em idiotices. Só que todas as promessas acabam se desvanecendo quando o ataque deixa de ser uma prioridade e fatos de pouca relevância se tornam prioridade.

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É aquela velha história de virar o jogo nos acréscimos do segundo tempo. “Independence Day: O Ressurgimento” é bem assim, um filme bom de ação e efeitos especiais, mas pautado em conveniências e pouco interessante do ponto de vista de ficção e drama.

Meu Rei | Trailer legendado e sinopse

Depois de um grave ferimento no joelho, Marie Antoinette Jézéquel, conhecida como Tony, se muda para o sudoeste da França para realizar um longo tratamento capaz de ajudá-la a caminhar normalmente. Mas esta não é a sua maior dor: ela ainda amarga um relacionamento infeliz com Georgio Milevski, um homem violento e possessivo com quem tem um filho. Aos poucos Tony consegue se recompor e aprende a se defender de seu marido.