Crítica do filme Cavalo de Guerra | A história do cavalo Joey fará você chorar!

Não sei se você notou, mas Steven Spielberg estava há algum tempo sem dirigir um longa-metragem. O último trabalho do cineasta foi Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, filme que não teve muita originalidade, mas que foi bem aceito. Agora, três anos depois, Spielberg retorna sua carreira com tudo, lançando dois filmes quase que simultaneamente.

As Aventuras de Tintim e Cavalo de Guerra são os novos títulos que estream neste mês nos cinemas de todo Brasil. Esse último chegou às salas na última sexta e posso dizer com toda certeza que é um filme que honra a carreira do diretor. Cavalo de Guerra não tem nada de sensacional quanto à história, porém, é um longa que faz qualquer um chorar.

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Cavalo de Guerra conta a história da dura separação entre o cavalo Joey e seu dono Albert Narracott. Os dois tiveram a relação cortada por conta do início da guerra, época em que um oficial comprou o cavalo dos Narracot - a família Narracot estava passando por dificuldades financeiras, o que forçou o pai de Albert a vender o equino.

A partir desse momento, a história foca no cavalo Joey passando pela guerra, mudando de dono a todo instante e sofrendo muito para aguentar todo o fardo que lhe entregam. Aliás, uma das coisas mais tristes, e talvez apelativas, do filme é justamente ver o cavalo sofrendo para aguentar as tarefas pesadas.

Mas aqui há uma dualidade de emoções, pois ao mesmo tempo em que vemos Joey encurralado em determinadas situações, percebemos que Spielberg permite ao público relaxar com belíssimas cenas em que o equino é bem tratado. Claro, essas últimas são minoria, porque o filme é um drama, em que a angústia e a tristeza devem cativar mais a plateia.

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Os belos e coloridos cenários, no início da película e posteriormente na França, passam a sensação de que Spielberg quis retratar um mundo perfeito, algo mais próximo do que vemos nas animações da Disney. Contudo, vemos também a preocupação do diretor em retratar muito bem o ambiente da guerra, deixando o filme com um tom forte de angústia.

Para contracenar com as belíssimas imagens, o filme traz uma trilha sonora emocionante, tudo para levar o público a derramar rios de lágrimas. As músicas são muito parecidas, mas não dão a sensação de que os sons estão se repetindo, exceto pelo tema principal que é tocado mais de uma vez.

Enfim, Cavalo de Guerra mexeu muito comigo e emociona a maioria dos espectadores. O filme não é a maior obra prima de Spielberg, mas ao menos é um longa que consegue cativar toda a família com uma história simples e belíssimas cenas. Recomendo o filme para todos que gostam de dramas ou para quem deseja ver um filme de guerra de um aspecto diferente.

Crítica do filme Gigantes de Aço | Robôs mais convincentes que humanos

A história de "Gigantes de Aço" se passa num futuro próximo, repleto de robôs lutadores, consoles de próxima geração (aparece até propaganda do Xbox 720) e máquinas mais avançadas. Apesar de ser notável a ambientação futurista, o filme não ousa apelar para veículos voadores ou tecnologias mirabolantes – ponto positivo para o diretor e o roteirista.

Nesse futuro não muito distante, vemos Wolverine Hugh Jackman no papel do pugilista decadente Charlie Kenton. O lutador viu sua carreira acabada quando robôs assumiram o esporte que ele praticava. Mas, para não abandonar sua vida, Charlie acaba se tornando um promotor de lutas, conseguindo robôs para lutar em campeonatos falidos.

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Não bastasse as condições em que vive, Charlie é atormentado por seu passado, o que inclui problemas com outros pugilistas e o reencontro com o filho, Max (interpretado por Dakota Goyo), que abandonou há anos. Apesar de relutante, o ex-lutador acaba ficando com o filho e montando uma equipe para arrasar nas batalhas de robôs.

No começo, eles usam um robô de alto valor, adquirido com uma grana que Charlie obteve ao negociar a custódia do filho com a tia de Max. Sem sucesso logo no primeiro combate, os dois acabam indo para o lixo procurar um novo robô. Por um acaso do destino, Max encontra Atom, um robô de treino que porventura acaba sendo o grande destaque do filme.

Durante essa história bem simples e clichê, vemos diversos robôs de alta qualidade gráfica lutando e arrasando nos efeitos especiais. Nesse quesito, Gigantes de Aço impressiona e deixa o público de queixo caído. Atom, apesar de simples, impressiona com a capacidade de dançar e ser um robô capaz de aguentar muita porrada – característica notável em poucos minutos e que praticamente revela o que acontecerá no fim do filme.

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Ao fundo, notamos a preocupação em usar uma trilha sonora empolgante para dar ânimo ao filme. Nas faixas de áudio, há grande presença de Eminem, músicas eletrônicas e outros sons de rap. Aqui também vale um destaque, pois a sonoridade do filme ficou muito interessante, apesar de que algumas cenas deixam claro que o diretor quis transformar Max em Justin Bieber de 11 anos.

O problema do filme, no entanto, está nos humanos, que não conseguem acompanhar o ritmo futurista e ficam presos a idiotices. Charlie, por exemplo, é um cara babaca, todo machão e que adora fingir não dar bola para ninguém. Ou seja, ele é o personagem perfeito (leia manjado) para dar o clima de emoção quando o filme chega ao ponto em que tudo virou uma bagunça e o cara tem de ceder ao lado humano para demonstrar um pouco de amor.

Max agrada durante boa parte do filme, mas a ideia de fazer o garoto se parecer demais com Charlie fica muito forçada. Os demais personagens humanos também não ganham muito destaque, apesar de que Bailey (Evangeline Lilly de Lost) até consegue agradar um pouco – e não digo apenas porque ela é bonita e graciosa, mas porque sua atuação é razoável.

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Enfim, "Gigantes de Aço" pode não ser um filme fantástico, porém é muito bem feito, deixando pouco a desejar. Quanto aos robôs, o filme arrasa a trilogia porcaria dos Transformers, pois não exagera nos efeitos de explosões, mas consegue causar mais ansiedade e emoção durante as batalhas. Assim, se você está lendo essa crítica enquanto o filme está nos cinemas, recomendo que o veja nas telonas, pois vale muito a pena.

Crítica do filme O Ritual | Uma boa película de exorcismo

O gênero exorcismo ganha um ou outro título aleatoriamente. Parte deles não passa de mais do mesmo. Outros conseguem se destacar por pequenos detalhes ou por apelar por grandes atores – e "O Ritual" se encaixa nessas duas características.

O protagonista é Michael Kovak, interpretado pelo desconhecido Colin O'Donoghue, um rapaz que trabalhava numa funerária e que por pressão familiar decide seguir o caminho do celibato. A história avança quatro anos, mostrando a dúvida que o possível padre tem entre continuar como homem de Deus ou se tornar um homem qualquer com uma vida comum.

Logo, Kovak se vê em um curso de exorcismo, em que conhece Angeline (Alice Braga), jornalista que participa das aulas para tentar revelar um pouco mais sobre os misteriosos rituais. Depois de pouco tempo, Michael é indicado a partir para um curso especial com um padre chamado Lucas Trevant – ninguém menos que Anthony Hopkins.

Michael é um homem recheado de dúvidas, que vai duvidar ainda mais do exorcismo, de Deus e do diabo conforme vai presenciando os eventos junto ao padre Lucas. Aos poucos notamos que a O’Donoghue não tem experiência nem como padre, muito menos como ator. Claro, parte disso se deve a inexperiência do ator e parte a presença de outros grandes nomes na película — que se sobressaem constantemente e deixam Colin no chinelo. O ator, no entanto, não deixa transparecer amadorismo, mas com certeza não foi um grande acerto.

Quanto ao restante do corpo de elenco, não há como reclamar. Alice Braga, Hopkins, Rutger Hauer e outros ajudam o filme a se manter firme. Todos inseridos numa boa trama deixam o resultado ainda mais interessante, visto que os atores precisam apenas fazer o que sabem de melhor. Aliás, no que diz respeito à história (que é baseada em fatos reais), não há do que reclamar, pois ela não é parada e consegue provocar alguns sustos.

Um detalhe que diferencia O Ritual de outros do gênero é a caminhada no chão. O filme não apela para muitas cenas de cabeças girando, camas flutuando ou coisas do tipo. Muito pelo contrário, a história foca mais no diabo influenciando a mente do padre Kovak e de outros personagens.

Enfim, "O Ritual" consegue fugir de muitos clichês, aproveitando alguns elementos para provocar medo e se sustentando ao conseguir estabelecer um laço interessante entre a realidade (devido o “baseado em fatos reais”) e a ficção. Recomendado para todos que gostam de terror e que pretendem ver algo novo no “gênero exorcismo”.

Crítica do filme Sem Limites | A vantagem de ser muito inteligente

A história de "Sem Limites" foca num tema muito interessante: a possibilidade de usar 100% do cérebro. Só por explorar um assunto desejado por todos os humanos, o filme já ganha certa credibilidade. Claro, se o diretor não soubesse dar um foco apropriado à ideia, de nada adiantaria falar do melhor tema do mundo, mas não é o caso aqui, pois o diretor Neil Burger soube desenvolver uma boa história em cima do assunto.

Em Sem Limites, conhecemos Eddie Morra (Bradley Cooper), um escritor que está sem criatividade e perdido na vida. Ele tem uma última chance de salvar sua carreira, mas o desânimo parece ser maior. Tudo, no entanto, muda quando ele encontra o ex-cunhado, que oferece uma nova droga capaz de ativar o funcionamento completo do cérebro. O “traficante” dá a primeira pílula para Eddie experimentar, porém, logo avisa que cada uma custa 800 dólares.

Eddie hesita por um momento, mas depois de um tempo, vê que não tem nada a perder, ainda mais que está na pior e a droga pode ajudar a resolver parte dos problemas. Ao usar pela primeira vez, vemos uma mudança radical. O filme ganha mais contraste, cores vivas e vemos o escritor tornando-se um gênio (como a droga realmente prometia), produzindo boa parte de seu livro em poucas horas – esse efeito é repetido posteriormente e é um diferencial da película.

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Para quem gosta apenas de aproveitar o filme, nada de muito falho é apresentado. Todavia, quem prefere implicar com os mínimos detalhes, pode começar a ver alguns furos no roteiro logo após as primeiras vezes em que Eddie usa a droga. Não vem ao caso comentar o que exatamente existe de errado, até porque, para mim os pequenos detalhes não atrapalharam em nada o resultado final do filme.

Depois de alguns acontecimentos inusitados, Eddie acaba conseguindo a droga gratuitamente e em grande quantia. Contudo, ele não pensou (mesmo com o cérebro funcionando 100%) que a droga poderia trazer efeitos colaterais. Aos poucos, vemos excelentes sequências de imagens, em que Morra viaja por ruas infinitas, em alta velocidade – mostrando que a mente do rapaz está rodando a mil (tais cenas são usadas mais de uma vez e são bem legais).

A vida de Eddie muda cada vez mais de rumo e ele decide partir para o mercado de ações (atitude sábia, afinal, mesmo o ser humano mais inteligente do mundo buscaria mais dinheiro). Ele então conhece ninguém menos que Carl Van Loon (Robert De Niro), homem poderoso do ramo, que chama Morra para ajudar nos negócios.

A atuação de De Niro é bem limitada, mas não porque o ator não tenha capacidade, porém, porque o papel dele é pouco utilizado. Por outro lado, Bradley Cooper se supera, ainda mais que estamos acostumados com o Cooper de "Se Beber, Não Case". Outros personagens não são muito importantes na história, ainda mais que são apenas pequenos sujeitos que entram no enredo para tentar complicar (ou ajudar) a vida do escritor.

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Com trilha sonora muito bem produzida, Sem Limites ganha ainda mais destaque. Eu gostei muito da película, ainda mais que é o tipo do filme que entretém sem tentar desafiar a inteligência do público (não que isso seja sempre bom, mas nesse filme foi interessante manter um nível de raciocínio simples). De modo algum considero o longa como um cult (como alguns ousaram cogitar pela web), contudo, indico o filme a todos.

Crítica do filme Homens em Fúria | Os mistérios de um prisioneiro louco

Quando falamos de um filme com Robert De Niro e Edward Norton no elenco, fica difícil imaginar um resultado fraco – afinal, um já ganhou estatueta e outro foi indicado. E não nos enganamos ao julgar esse longa apenas pelos atores, pois a película consegue surpreender em diversos aspectos.

Em Homens em Fúrias temos Edward Norton no papel de um detento, que utiliza o apelido Stone (por sinal, esse é o nome do filme original). De Niro é o agente da condicional Jack que interage com Stone para averiguar se o sujeito está em condições de ser liberado. Entra na trama ainda Milla Juvovich, a qual interpreta Lucetta, a mulher de Stone.

Stone está tentando sair da prisão antes do tempo previsto, pois teve bom comportamento é já cumpriu quase todo o tempo que lhe foi determinado. Jack está quase se aposentando, mas assume Stone como o último caso de sua carreira. Lucetta entra na história para ajudar Stone. Ela mantém contato com o agente da condicional, fazendo o que pode (acho que dá para entender o que ela faz, né?) para convencer o oficial de que Stone merece sair da prisão.

Aqui vale um parêntese para elogiar as ótimas atuações dos três protagonistas. Norton interpreta muito bem o detento, tanto que não é possível saber qual é o plano dele durante o filme. Ele fala sério, mas ao mesmo tempo parece ser louco. Aos poucos começa a divagar sobre alguns assuntos, de modo que o espectador não sabe quais ideias passam na cabeça de Stone.

De Niro não tem um papel muito marcante, mas ao menos não faz feio e mostra que a participação nesse filme é para quebrar a sequência de longas que vinha fazendo. Milla Juvovich ganha muito destaque na película, mostrando algo que raramente vemos em outros filmes dela, ou seja, boa atuação e nudez (não podia faltar, afinal, está na moda).

Durante a história, fica claro que o filme vem mais para confundir do que esclarecer os pormenores. Stone começa a falar sobre religião, meditar sobre a eternidade e até se comportar de forma esquisita – ou seja, ele é um grande mistério. Jack fica cada vez mais confuso, duvidando sobre o que acredita, fugindo do casamento e quase surtando com as atitudes de Stone e de Lucetta.

E o melhor está justamente nisso. O filme tem uma conclusão bem diferente do que muitos imaginam. Para alguns pode ser genial (assim como foi para mim), para outros pode ser ruim, pois o longa deixa muitas coisas desatadas. Outro grande destaque, notável durante toda a película, é a trilha sonora. Músicas de peso (para aumentar a tensão e causar um sentimento de dúvida no público) sempre tocando ao fundo e barulhos incômodos são os diferenciais.

Para concluir, não posso deixar de comentar sobre os focos em objetos distintos. Durante o filme, vemos que o diretor gosta de dar ênfase aos mínimos detalhes. Cenas em que um inseto é focado, que a lua entra em questão ou até mesmo quando duas situações são combinadas, tornam o filme bem interessante. No geral, o filme me agradou muito, deixando pouco a desejar. Recomendo a todos que gostem de ver algo que fuja do clichê.

Crítica do filme Melancolia | Lars von Trier é ousado e transpõe sentimentos

Melancolia é o tipo do filme que revela o final logo no começo, mas que, apesar disso, consegue prender a atenção do espectador com o desenrolar da história. A história basicamente aborda a mudança de comportamento de duas irmãs quando um planeta chamado Melancolia se aproxima da Terra.

A introdução do filme é grandiosa, no melhor estilo von Trier, ou seja, com música clássica, cenas em câmera lenta e visões que fazem o espectador refletir sobre o que aquilo realmente representa para o restante da trama.

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E logo no início o público já faz ideia do que vai acontecer no final. Isso mostra que o diretor tem ousadia e prefere desenvolver o longa baseado em cenas sólidas que farão o todo ganhar sentido. Depois das cenas iniciais, o espectador se depara com a primeira parte do filme, focada na personagem Justine (muito bem interpretada por Kirsten Dunst).

Metade do filme então se concentra no casamento de Justine e na profunda depressão dela. Nessa sequência, no entanto, o público passa por certa divisão de sentimentos, chegando a passar por momentos de angústia, raiva, alegria (com algumas cenas engraçadas protagonizadas pelo pai da noiva) e até um certo menosprezo - por parte da mãe da noiva.

Nota-se nessa primeira parte que Lars von Trier fez questão de mostrar a complexidade de Justine, que ela desenvolve, aparentemente, com a aproximação do planeta Melancolia. Ao mesmo tempo, fica claro que um pedaço da sequência é dedicada às reações da família. E, sem dúvida alguma, tudo que é apresentado nessa metade do longa é necessário para que a película ganhe um sentido.

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Deixando Justine de lado, o longa concentra-se na irmã da noiva, Claire (interpretada por Charlotte Gainsbourg). Nessa sequência o foco deixa de ser a confusão de sentimentos e passa a ser o medo do ser humano perante acontecimentos astronômicos.

A película então é dominada por cenas que mostram o planeta Melancolia se aproximando, mas sem deixar de lado a depressão de Justine - moça que algumas vezes leva o público masculino à loucura, com cenas em que a atriz mostra todo o potencial do seu corpo escultural.

E é na segunda metade do filme que revemos algumas cenas do começo modificadas. Aqui, é possível interpretar que talvez o início do longa seja uma composição de visões de Justine, as quais revelaram à personagem o que aconteceria quando o planeta Melancolia se aproximasse da Terra.

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Durante toda a película, o longa é movimentado por uma trilha sonora espetacular. Apesar de se concentrar em um conjunto limitado de músicas, o público fica apreensivo com os sons, os quais seguem o ritmo das imagens e são muito mais notáveis nas cenas em que o planeta Melancolia (ou acontecimentos relacionados à ele) está em foco.

Com certeza Melancolia é uma obra de arte de Lars von Trier. De certa forma, considero o longa semelhante ao maravilhoso Árvore da Vida, visto que em ambos vemos a raça humana diante de situações em que ela é impotente, apesar de que os focos são completamente diferentes. Para mim, Melancolia consegue ser um dos melhores filmes do ano, principalmente por não ter medo de finalizar de forma magnífica, cena que esperei toda minha vida para visualizar nos cinemas.