Crítica do filme Homem-Aranha: Longe de Casa | Curtindo férias frustradas

"Homem-Aranha: Longe de Casa" é a conclusão da Saga Infinita e o que começou com o primeiro "Homem de Ferro", finalmente, se encerra. Pelo menos até a próxima fase, que promete ser ainda mais grandiosa que a anterior. Peter Parker (Tom Holland) e seus amigos estão em férias pela Europa, mas eles não vão conseguir descansar.

Peter terá que desvendar o mistério de criaturas que causam desastres naturais e destruições pelo continente, enquanto lida com a perda de seu grande mentor Tony Stark (Robert Downey Jr.). Ele contará com a ajuda de uma nova figura heróica apelidada pelos jornais de “Mysterio”, também conhecido como Quentin Beck (Jake Gyllenhaal).

Apresentando-se como um misterioso guerreiro de uma dimensão paralela muito parecida com a “nossa”, responsável por batalhar contra os Elementais, um grupo de monstros horríveis baseados nos quatro elementos. Beck conta que seu mundo foi dizimado por essas criaturas, mas foi capaz de escapar até outra dimensão a tempo de prevenir a catástrofe novamente. Vale mencionar que Jake Gyllenhaal eleva um personagem que usa um aquário na cabeça a um novo patamar, incrivelmente carismático e divertido com todas as suas particularidades.

homemaranhalongedecasa1 5db12

Nick Fury (Samuel L. Jackson) acredita na história do misterioso e simpático herói e resolve ajudar, visto que a Terra pode estar em grande perigo e tentar prevenir o fim do mundo faz parte do seu dia a dia. Para tal empreitada, ele convoca nosso garoto aracnídeo, que prefere passear com seus amigos na Europa do que salvar o mundo. Mas a SHIELD tem métodos bem eficazes de persuasão e Peter acaba aceitando a missão, indignado por nenhum outro Vingador estar disponível.

Seu amigo da vizinhança

Aliás, tudo isso se passa após os eventos de “Vingadores: Ultimato”. Ou seja, metade da população foi apagada e restaurada cinco anos depois, evento carinhosamente chamado de “Blip”, então universos paralelos parecem plausíveis após essa loucura toda. A primeira cena já vai cativar seu coração, servindo como homenagem para aqueles que já se foram e dando o tom humorístico esperado para um filme do Homem Aranha. As consequências do “Blip” são explicadas logo de cara, de forma descontraída mas sem parecerem bobas.

homemaranhalongedecasa2 55343

Quando “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” foi lançado, comentou-se bastante sobre como o filme não era tão influenciado por outros filmes do gênero "heróis", mas principalmente de longas no estilo do diretor John Hughes, como “Clube dos Cinco” e “Curtindo a Vida Adoidado”. Distanciando-se das versões anteriores (principalmente a de Andrew Garfield), Peter era apenas um garoto tentando conciliar uma vida normal, indo para escola, morando com sua Tia May (Marisa Tomei) e talvez salvando a vizinhança com seus poderes de Aranha. Provavelmente a maior qualidade do diretor Jon Watts ainda seja seu trabalho com o elenco jovem e com o clima despojado de uma comédia adolescente.

Agora, depois de ir para o espaço, entrar para os Vingadores, enfrentar vilões com poderes imensos, sem contar os cinco anos que se passaram, é difícil voltar a uma vida pé no chão sem se preocupar com as futuras ameaças, principalmente sendo praticamente forçado a se tornar “o novo Homem de Ferro”.

Spiderman, Spiderman, does whatever a spider can

Eu tive que pensar durante um tempo e apesar de ter gostado MUITO do filme, alguns pontos me pareceram bem fracos ou forçados demais. Em “De Volta ao Lar” a direção de Jon Watts não parecia muito confiante nas cenas de ação, apesar de todo o excelente trabalho de Tom Holland, mas em “Longe de Casa” tudo parece mais ambicioso e bem encaixado, exceto se comparado ao “Aranhaverso”, uma comparação quase inevitável, apesar das mídias distintas. Apesar disso os efeitos visuais estão excelentes, e as cenas de ação evoluíram muito.

O que me incomodou realmente foram algumas soluções do roteiro propostas por Chris McKenna e Erik Sommers. Algumas são convenientes demais para serem críveis, mesmo se considerarmos o universo fantástico em que o longa se insere. Sem dar spoilers fica difícil explanar, mas um exemplo é após uma batalha especialmente difícil, Beck e Parker vão até um bar para beber.

Eles simplesmente tiram a máscara e conversam sobre “assuntos heróicos”, enquanto as pessoas ao seu redor não prestam a menor atenção a eles. O desenvolvimento da cena pode justificar a situação, mas é apenas uma das situações de que tudo é conveniente demais, assim como a utilização da tecnologia em momentos cruciais da trama.

Nos dias de hoje, as pessoas acreditam em qualquer coisa

Peter só quer curtir suas férias na Europa com seu amigo Ned (Jacob Batalon) e planeja se declarar para MJ (Zendaya), mas as circunstâncias forçam ele a ser muito mais Homem Aranha do que Peter Parker. Estando em um estado de negação e luto, ele torna-se suscetível a qualquer um que queira se aproveitar dessa vulnerabilidade emocional, um dos pontos chaves da trama. Enfim, prepare-se para grandes surpresas e desconfie de tudo.

homemaranhalongedecasa3 fea06

“Longe de Casa” é um filme sobre legados e o peso de nossas ações. Apesar de apresentar uma história mais contida e pessoal, a sensação de que o longa serve como mais uma peça no enorme quebra-cabeça do Universo Marvel é inevitável. Não que isso seja algo ruim, já que ainda podemos ver Peter Parker em uma excursão escolar pela Europa junto com seus amigos, se apaixonando, talvez indo para a faculdade?

Porém, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e depois de ver as duas cenas pós-créditos o futuro é tão incerto que independente do rumo da próxima fase Marvel, estaremos lá. Você vai acreditar em tudo o que eu disse ou vai conferir com os próprios olhos?

Crítica do filme Annabelle 3: De Volta Para Casa | Bem-vindo ao Túnel do Terror

Parece que foi ontem que vimos “A Freira” nos cinemas, mas já faz quase um ano que tivemos essa ingrata surpresa no universo de “Invocação do Mal” — e isso sem contar “A Maldição da Chorona”, que decepcionou de forma brutal neste ano. Felizmente, para os fãs da saga, e infelizmente, para os acompanhantes que odeiam esses filmes demoníacos, a Warner Bros. traz agora mais um capítulo da franquia para os cinemas brasileiros.

O terceiro capítulo do spin-off “Annabelle” vem para dar mais substância à boneca satânica e também a este universo de terror como um todo. Todavia, até o momento, os idealizadores das filmes — principalmente o Mago do terror, James Wan — não têm feito questão de ligar as pontas entre as obras, algo que parece ser uma tática para garantir que as pessoas vejam os títulos de forma independente.

O fio condutor da saga é o casal Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga), que, para quem não sabe, são investigadores paranormais (ou demonologistas) do mundo real. Esse pingo de veracidade é talvez o principal chamariz da franquia, sendo algo que deve deixar a galera mais curiosa para ver “Annabelle 3: De Volta Para Casa”, que tem potencial para explorar novas maldições.

A gente já sabia que os protagonistas da série haviam trancado Annabelle na sala de artefatos para evitar mais danos. O filme recapitula tal informação (e traz novidades) já nos primeiros minutos, mas logo a história vai por um caminho bem distinto. O enredo gira em torno da filha dos Warren, Judy (Mckenna Grace), que tem seu aniversário amaldiçoada quando a boneca é liberta, o que desperta outros espíritos aprisionados na sala.

annabelle301 60c45

Com uma pegada mais teen e até pitadas de comédia, o filme arrisca pisar em novos solos. A ideia é sustentada principalmente pelas protagonistas joviais, que incluem tanto a pequena Judy, de apenas 10 anos, quanto suas babás, Mary Ellen (Madison Iseman) e Daniela (Katie Sarife). Já adianto que, apesar de não ser o mais assustador da série, o novo filme da Annabelle ficou deveras convincente e deve ser uma ótima pedida para os fãs do terror em geral.

Boneca com crise de identidade

A história de “Annabelle 3: De Volta Para Casa” tem um desenvolvimento mais raso, principalmente por não ir além do cenário já conhecido da Casa dos Warren, mas também por apostar em personagens que, além de não serem cativantes, tentam dar um tom cômico para uma série que deveria ser puro terror. Existe certa relevância nessa aposta, contudo o público cativo da saga pode estranhar — e com razão.

Além dessa mudança de tom, o filme também peca por não ter um foco. Em partes, é compreensível a tática de Gary Dauberman e James Wan para expandir o universo para as próximas etapas, mas isso deixa esse episódio mais superficial do que os anteriores. É uma artimanha que deixa o filme menos assustador? Não, porém um roteiro com mais substância tem o poder de fazer a história fluir melhor, uma vez que aqui temos um rodeio em poucos fatos.

Para não ser injusto, é válido ressaltar que a simplicidade do enredo vem a calhar para o desenvolvimento do ambiente e para matar a curiosidade da galera que queria conhecer as maldições na salinha secreta dos Warren. É uma representação real? Oras, assim como a própria Annabelle tem sua versão para o cinema, você pode ter certeza que várias relíquias do filme são enfeitadas para a telona.

annabelle302 7c03c

De qualquer forma, mesmo com um bocado de invenção, não dá para negar que os gênios por trás da história de “Annabelle 3: De Volta Para Casa” souberam explorar bem esses tantos objetos amaldiçoados. Por conta dessa abordagem, você deve estar ciente de dois aspectos: este não é um filme exclusivo da boneca, o que desvia um pouco do foco, mas ele é um filme que consegue surpreender de várias formas, então acaba sendo inovador.

Então, apesar dessa crise de identidade e certa enrolação no enredo, o filme ganha a gente pelos tantos personagens que aparecem na telona. Se a própria Annabelle não dá medo mais em algumas pessoas, é possível que os demais personagens desse “Túnel do Terror” possam surpreender de alguma forma. Também é importante ressaltar que tal passo era necessário para permitir a expansão do universo de sustos da Warner, então ponto pra produção!

Terror nos mínimos detalhes

Bom, tirando essa questão do enredo embananado, o novo capítulo de Annabelle se destaca em dois aspectos: atuações muito boas e um capricho incrível na produção. Sobre o elenco, é importante frisar que as atrizes que tomam as rédeas do script não devem ser culpadas pela história rasa, uma vez que elas desempenham seus papéis de forma surpreendente.

annabelle303 96741

Já é comum na franquia a presença de mulheres em papéis principais, mas tal escolha faz ainda mais sentido nesse título, principalmente por dar vez para uma personagem (a filha dos Warren), que pode dar sequência à série num futuro próximo. As jovens Madison Iseman e Katie Sarife cumprem bem seus papéis, mas eu acho que é Mckenna Grace que se destaca ao encarar o terror ainda mais de perto.

Todavia, mesmo com boas atrizes, as personagens superficiais não convencem. Assim, os fãs da série devem pirar muito mais ao rever o casal Warren no começo do filme. Por serem a alma deste universo, eles deixam a gente cheios de esperança (até por serem atores ainda mais experientes), mas é claro que não faria sentido manter eles como protagonistas numa história de apresentação das relíquias.

Os aspectos que mais impressionam em “Annabelle 3: De Volta Para Casa” são o visual e o tratamento sonoro. Primeiro, temos uma composição de cenas impecável, algo já perceptível na sequência na névoa. Depois, todo o ambiente assustador da casa mostra o esmero do time, que precisou trabalhar nos detalhes para manter o medo escondido no escuro, algo possível graças à precisão na parte da iluminação.

Merece destaque também os efeitos visuais e a maquiagem, algo fundamental para evitar que criaturas demoníacas pareçam pessoas pintadas para cosplay (deslizes que podem estragar um filme). Felizmente, a ação precisa nos efeitos visuais para criar tais  seres — que se deslocam nas sombras, interferem nos eletrônicos e tomam formas inimagináveis — foi muito bem-sucedida!

annabelle304 6c66c

Ainda que não sejam conjuntas na produção, imagem e som são casados na exibição, ainda mais num filme de terror, que depende quase que exclusivamente disso para manter o clima de tensão ou para surpreender. Novamente, a equipe da Atomic Monster se mostra ímpar, ao trabalhar nas faixas de áudio para manter o público sempre alerta. E, uma ótima coisa, é que o filme não abusa dos jump scares.

Enfim, uma história mais envolvente poderia deixar o enredo mais crível, mas a produção consegue convencer pelo visual e deve dar espaço para o futuro da franquia. Como fã deste universo, eu acho que “Annabelle 3” não é o mais assustador da série (nem mesmo dentro dos spin-off), mas ele tem seus méritos e deve sim ser uma ótima pedida pra galera que adora filmes de susto.

Crítica do filme Beatriz | A fantasia da submissão

Do livro para a vida real, o romance brasileiro e português “Beatriz” de Alberto Graça ultrapassa as fronteiras da ficção e embarca em uma aventura dramática pela sedução e as fragilidades do amor. Com um ritmo confuso e atuações intensas, o diretor provoca o espectador ao levantar o questionamento: o que você faria por amor?

Para a protagonista Beatriz (Marjorie Estiano), musa inspiradora do escritor e seu atual namorado Marcelo (Sérgio Guizé), ela chegaria à beira de um abismo emocional e ficcional para viver a sua história de amor. 

Após receber a visita de Luis Ibarra (Xavier Estévez), renomado editor de livros, Marcelo começa a desenvolver o seus segundo romance inspirado em seu namoro. Instigada pela história, Beatriz divide a sua vida de advogada com a personagem literária criada por seu namorado. Nesta duplicidade, a protagonista começa a vivenciar os mais diferentes desejos carnais e comprometedores.

Porém, à medida que Beatriz busca alimentar a criatividade de seu namorado a relação entre os dois são colocados a prova e tornado-se cada vez mais perigosa e abusiva.

Entre paixão e dor

Em busca de trazer uma linguagem poética ao longa, o diretor Alberto Graça (O Dia da Caça) conta a história de Beatriz em duas perspectiva diferentes: a visão da própria protagonista e a visão de Marcelo, que é representada de forma teatral no filme. Nessa mistura de linguagens, Graça trabalha os principais elementos que vivem em torno da temática da paixão e sofrimento: possessão, ciúmes, sedução e desejos. 

O uso de poemas escritos em diferentes momentos, a inserção de cenas teatrais e discursos vívidos faz com que o filme transite do drama para suspense psicológico. Com um roteiro belíssimo sobre as fragilidades que existem em torno do ato de amar, Graça invoca uma reflexão sobre relacionamentos e o que podemos fazer para manter ele vivo. 

BEATRIZ3 0c3ab

Contudo, a preocupação por mostrar a submissão feminina reforça a ideia de fantasia sexual e apaga a principal tese em volta do romance: a masculinidade tóxica presente na relação de Beatriz e Marcelo. Além de que para ambientar a vida dupla de Beatriz, o longa se perde na subjetividade e torna confusa a construção narrativa, o que dificulta na fundamentação das ações que ocorrem com a protagonista, que sempre está no papel de docilidade. 

Um filme que questiona a moralidade dos relacionamentos e coloca em cheque o que definimos e realizamos pela paixão. Com um roteiro elegante, mas sem querer pautar assuntos relevantes, o espectador é levado ao abismo que existe entre a paixão e a dor. 

Crítica do filme MIB: Homens de Preto – Internacional | Não seja neuralizado

“Homens de Preto” de 1997 deve seu sucesso a inesperada química entre os atores Will Smith e Tommy Lee Jones, juntamente de um conceito interessante inspirado livremente nos quadrinhos de Lowell Cunningham. A ideia de uma agência secreta protegendo a Terra de alienígenas é simples e eficaz, além de ser pautada em diversas teorias da conspiração que retroalimentam os filmes e tornam qualquer evento estranho envolvendo celebridades ou cultura pop potencialmente uma cena em que Homens de Preto vão pedir para você olhar para um dispositivo e apagar sua mente.

As sequências de 2002 e 2012 não agradaram tanto quanto o original, ainda que Homens de Preto 3 tenha seus momentos graças a dupla Will Smith e Josh Brolin, interpretando uma versão mais jovem do personagem de Tommy Lee Jones. Em "MIB: Homens de Preto – Internacional", uma tentativa de recomeçar a franquia expandindo o universo para além dos Estados Unidos, utiliza a mesma fórmula básica com dois novos agentes, H (Chris Hemsworth) e M (Tessa Thompson), trabalhando na agência de Londres.

Tudo começa com a pequena Molly (Thompson) encontrando um alien e deixando ele escapar dos Homens de Preto. Sua família conseguiu ser “neuralizada”, mas Molly conseguiu manter as lembranças do encontro com o pequeno et. Intrigada pelo acontecimento, ela dedica sua vida a encontrar e descobrir quem são os agentes e finalmente tornar-se uma recruta.

Com muita dedicação, esforço e sorte, Molly é recrutada pela Agente O (Emma Thompson) para um período de testes, sendo enviada para a agência de Londres. Porém, seu treinamento praticamente não é mostrado e quase sempre ela parece preparada para o que a situação pede, como saber exatamente como uma arma funciona e nunca errar um tiro. Apesar de ser mais uma escolha do diretor do que uma falha propriamente, boa parte da graça de Homens de Preto é aprender com os erros dos agentes, mas não é nada de grave, apenas uma escolha para pular diretamente para a ação.

mibinternacional1 a30ed

A zoeira fica por conta de H, um agente experiente que faz tudo do seu jeito, raramente seguindo as regras e que é praticamente um herói na agência após enfrentar um misterioso alienígena chamado ”A Colméia”. Após esse evento, algo mudou em H, o filme vai te lembrar constantemente disso, e agora ele é uma espécie de playboy que tem muita moral com o chefe da divisão de Londres, o agente Grande T (Liam Neeson).

Difícil saber o quanto vem do roteiro ou simplesmente improviso dos atores mas certamente o carisma de Thompson e Hemsworth são o que carregam o filme. Todas as cenas são divertidas sem parecerem forçadas, claramente os dois estão bastante confortáveis nos papéis, quase que agindo naturalmente e não interpretando.

O clima de conspiração mundial e espionagem lembra muito os filmes do James Bond. As coreografias das lutas e sequências de ação são ótimas e as novas espécies de alienígenas são utilizadas com todo seu potencial. O design dos ets são interessantes e criativos, ainda que eu sinta falta de mais efeitos práticos e menos computação gráfica. Ao contrários dos vilões esquisitos e marcantes dos filme anteriores, agora os antagonistas são dois gêmeos (Laurent e Larry Nicolas Bourgeois, dançarinos conhecidos como Les Twins) que praticamente não falam e só ficam ali sendo lindos (porque suas formas verdadeiras são duas nebulosas bem espetaculares), dançando e moldando materiais em armas letais.

mibinternacional3 81c4c

Outro exemplo é o pequeno alien de uma raça baseada em peças de xadrez, Pawny (dublado por Kumail Nanjian). Colocado ali para ser um apelo para as crianças e um alívio cômico desnecessário, foi a única coisa que me incomodou de verdade no longa, desde seu design até sua presença nas cenas. Vale mencionar também todo o trabalho na divulgação e localização do filme, inserindo personalidades de diversos países como se fossem extraterrestres. No nosso caso, temos Sérgio Mallandro e suas loucuras em um das cenas no filme, além de dois comerciais que você pode assistir aqui.

Seguindo a mesma fórmula dos anteriores, a história deixa um pouco a desejar. Algumas cenas parecem arrastadas enquanto outras terminam abruptamente, principalmente o final que é bastante acelerado. A relação entre H e seu mentor Alto T é explorada de forma bastante superficial e é difícil dar uma importância ou sentido emocional quando nada é mostrado, apenas mencionado.

mibinternacional2 f726f

MIB Internacional pode não ser perfeito, mas não precisa. O roteiro tem falhas, alguns personagens não têm seus arcos finalizados e o final talvez seja apressado demais. Entretanto, é um ótimo filme para apenas assistir e divertir-se sem muita pretensão, exatamente como os originais. Pautado totalmente no carisma e química de Tessa Thompson e Chris Hemsworth, é uma ótima sequência da franquia especialmente para as novas gerações, com potencial para boas continuações e spin-offs, quem sabe com um pouco mais de ousadia e originalidade, mas com certeza vale a ida ao cinema.

Crítica do filme X-Men: Fênix Negra | Tomara que dessa vez não renasça

Finalmente a saga dos mutantes na Fox chegou ao seu derradeiro fim. Os fãs já não estavam esperando muito, com o filho que ninguém quer “Novos Mutantes” sendo adiado novamente, “X-Men: Fênix Negra” pode ser considerado a despedida até que a Marvel nos maravilhe com os mutantes voltando para casa. Tentando evitar os erros dos filmes anteriores, há apenas uma história central extremamente simplificada que envolve Jean Grey (Sophie Turner) tendo seus poderes amplificados além dos limites aceitáveis e as consequências desse evento.

É claro que a história parece familiar, pois é a mesma de “X-Men: O Confronto Final” de 2006. Simon Kinberg, roteirista do “Confronto Final”, agora tenta novamente como diretor e roteirista em “Fênix Negra”. Infelizmente mesmo depois de tanto tempo, o roteiro parece não ser o seu forte. O filme se arrasta de uma trama a outra, sem graça nenhuma, dificultando a resposta “pra que esse filme foi feito de novo?”

Obviamente, o foco da história é Jean e todos os outros personagens são meramente ilustrativos. Talvez já fosse esperado, mas Wolverine (Hugh Jackman) não aparece para evitar um romance bizarro, e essa é uma escolha sábia. Mas não há um só personagem marcante que possa tirar o brilho da Fênix ruiva. Um dos pontos mais positivos dos filmes anteriores é a consagrada “cena do Mercúrio (Evan Peters)”, onde o personagem desacelera o tempo e faz seu show, mas nem isso Kinberg entregou.

Mas justiça seja feita, Sophie Turner coloca todo seu talento no papel e eleva a qualidade a um patamar aceitável para uma personagem com diálogos rasos e motivação fraca. Também é preciso enaltecer o papel do Professor Xavier (James McAvoy), sempre visto como um herói mas agora pisando em áreas cada vez mais cinzentas da moralidade.

Todos os outros estão ali apenas para preencher espaço na tela e ter uma variação na demonstração de poderes. Fera (Nicholas Hoult), Mística (Jennifer Lawrence), Ciclope (Tye Sheridan) e Magneto (Michael Fassbender) parecem estar apenas cumprindo o contrato e torcendo para que o filme acabe.

xmenfenixnegra2 a1d2f

Noturno (Kodi Smit-McPhee) e Tempestade (Alexandra Shipp) são dois personagens legais inteiramente desperdiçados, ainda que seus atores tenham se esforçado, o tempo de tela não é o suficiente para fazer jus a suas presenças. Outro desperdício enorme é Jessica Chastain interpretando a vilã mais sem graça que poderia ter sido escolhida para a Saga da Fênix Negra.

“Fênix Negra” peca pela falta de ousadia e imaginação. O primeiro ato promete uma jornada interligada entre dois personagens com potencial para uma história riquíssima, uma mulher percebendo os abusos cometidos contra ela e um homem vendo as consequências dos erros que cometeu com as melhores intenções.

Contudo, as ideias apresentadas são bastante forçadas. Uma das personagens principais diz que Charles Xavier deveria mudar o nome para X-Women, já que as mulheres estão sempre fazendo o trabalho pesado. Por mais louvável que possa parecer, a temática dos abusos cometidos por Xavier em prol de um bem maior são abordadas de forma superficial demais.

Na metade do filme todas essas questões são abandonadas e por ser a conclusão de uma sequência enorme de filmes, provavelmente você nem se lembre do que aconteceu nos anteriores. Infelizmente Simon Kinberg parece ter esquecido também, mas é razoável deixar pra lá e tentar focar apenas no filme mais recente, afinal de contas a linha do tempo dos filmes não tem o menor compromisso em ser seguida.  

xmenfenixnegra3 eac21

É um filme bem fácil de ser esquecido, por sinal. Não há nenhuma trilha marcante (apesar do excelente trabalho de Hans Zimmer), nenhuma sequência de ação digna de nota, nem uma pequena dose de humor. Não chega a ser desagradável, apenas sem graça, mesmo com todo o esforço para tornar os efeitos visuais impressionantes. O único aspecto que merece ser mencionado são as cores aplicadas magistralmente, lembrando muito uma história em quadrinhos, trabalho muito bem executado pelo cinematógrafo Mauro Fiore.

Mas é tudo muito frustrante. Após uma cena incrível no espaço logo no início do filme, parece que o orçamento foi cortado e tiveram que improvisar.  Os cenários variam entre casas suburbanas, um hotel e trens. Apesar de nunca ser chamado por esse nome mas o contexto deixa claro, Genosha, o país cuja população é inteiramente composta por mutantes, o único lugar que poderia ser realmente interessante e que os fãs mais fiéis esperavam ver parece um banhado numa comunidade hippie baixo astral.

Por coincidência, ou não, além de ser um remake sem sentido de um filme da mesma franquia, “Fênix Negra” é muito parecido com “Capitã Marvel”, desde uma heroína que absorve energia cósmica e é perseguida por alienígenas que mudam de aparência, até o subtexto da mulher que é manipulada psicologicamente para suprimir suas emoções para neutralizar seu poder.

xmenfenixnegra1 c924f

Difícil dizer que “Fênix Negra” é o ápice de 19 anos de filmes dos X-Men. É bastante anticlimático e talvez não deixe ninguém com saudade, já que a despedida foi bastante morna. Apenas mais um filme mediano sobre pessoas com poderes estranhos, uma história repetida, atores desinteressados e muitas oportunidades boas perdidas.

Critica do filme Godzilla II: Rei dos Monstros | Daikaiju Battle Royale!

Pode ser difícil de acreditar, mas Godzilla II: Rei dos Monstros é sobre monstros gigantes lutando contra o icônico kaiju nipônico. Digo isso para não decepcionar os desavisados que buscam nesse filme um thriller político ou quem sabe um drama familiar; algo que, por mais insólito que pareça, já foi abordado em edições anteriores da franquia Godzilla.

Desta vez o foco é outro e é bem claro: pancadaria colossal. Seguindo os ganchos das produções anteriores do MonsterVerse (o universo expandido de monstros gigantes), mais precisamente Godzilla (2014) e Kong: Ilha da Caveira (2017), o filme não perde tempo com o fator humano da história e mira exclusivamente nos gigantes que quebram o pau e algumas cidades do início ao fim.

Michael Dougherty parece entender um pouco melhor a dinâmica de Godzilla, apesar de carecer do refinamento técnico para fazer tudo funcionar. Os protagonistas de Godzilla II: Rei dos Monstros são os Titãs (como são chamadas às criaturas gigantes) e justamente por isso o filme se sustenta mesmo sem uma história sólida. Apesar das várias limitações, o filme entrega exatamente o que os fãs querem, monstros gigantes caindo na porrada.

Rei morto, rei posto

A parada começa quente conforme retornamos para São Francisco de 2014 quando o lagartão radioativo emergiu dos abissais oceânicos para “salvar” a humanidade de dois Muto (Massive Unidentified Terrestrial Organism). No meio do caos deixado pelo embate entre Godzilla e as criaturas, está à família da paleobióloga Emma Russell e do antrozoólogo Mark Russell, e sua filha Madison, conforme descobrem que seu outro filho morreu no meio da destruição.

Anos se passam e descobrimos que Emma trabalha para a organização da cripto-zoólogica Monarch, a mesma dos filmes anteriores, que rastreia e estuda os Titãs. Ela e sua filha estão acompanhando o despertar de uma larva gigante apelidada de Mothra e graças a um dispositivo criado por Emma — capaz de emitir freqüências bioacusticas — ela consegue acalmar a criatura. Mas antes mesmo de a equipe de cientistas poder comemorar o sucesso do aparelho, uma organização de eco-terroristas — liderados por Alan Jonah — invade a instalação seqüestrando Emma e Madison, além de levar a “Orca”, nome dado ao aparelho que controla os Titãs.

godzillaii01 f5b77

Em uma corrida para descobrir os planos de Jonah, os veteranos da Monarch, o Dr. Ishiro Serizawa e Vivienne Graham, vão atrás Mark para rastrear sua ex-mulher e filha, além de encontrar a Orca. Em tempo o grupo descobre que o eco-terrorista planeja libertar o maior Titã já encontrado, o Monstro Zero, também conhecido como Ghidorah.

A trama, que até guarda alguns elementos interessantes, é extremamente mal explorada e na verdade não tem propósito algum. O drama familiar é raso e o meta-enredo do MonsterVerse tem mais destaque em pequenos recortes ao longo dos créditos finais do que durante todo o filme, entretanto, tudo isso não faz diferença alguma.

Mesmo com um roteiro fraco o filme se apóia em quatro pilares muito sólidos, Godzilla, Ghidorah, Mothra e Rodan. As quatro criaturas dominam o filme e cada urro colossal vale mais do que mil linhas de diálogo expositivo que tentam explicar o funcionamento zoológico dos monstros.

godzillaii02 0f6b3

Digo isso sem qualquer demérito ao elenco, que traz alguns ótimos nomes como Vera Farmiga, Ken Watanabe e Millie Bobby Brown, além da participação de Charles Dance. Salvo por alguns raros momentos, com destaque especial para Farmiga e Watanabe, os atores não tem espaço (ou material) para trabalharem seus personagens.

O mesmo pode ser dito dos quesitos técnicos, apesar de contar com efeitos especiais exuberantes, e combates sensacionais, o estilo de Michael Dougherty nunca explora todo o potencial das criaturas. Com uma fotografia muito escura, e uma câmera muita agitada, os gigantes não tem toda a sua glória representada na tela.

Daikaiju

Godzilla II: Rei dos Monstros acerta ao apostar nos monstros em vez de dar muito espaço aos elementos humanos da história. Entretanto, falta muita substância para o filme e para a franquia como um todo. Kong: Ilha da Caveira parece ter acertado mais, no entanto com o universo de criaturas crescendo a cada filme será necessário encontrar um equilíbrio maior entre a pancadaria titânica e a história por trás de tudo isso.

Godzilla II é um divertido aquecimento para o tão aguardado embate entre o lagarto radioativo e o gorila colossal

Por melhor que seja ver Godzilla disparar rajadas de energia contra um dragão de três cabeças seria ainda mais interessante se o restante das duas horas de filme tivessem algum conteúdo. Como a próxima iteração do MonsterVerse já está agendada para 2020, com o aguardado duelo entro Godzilla e King Kong, resta saber se a série está guardando o melhor para o final.

Crítica do filme Brightburn - Filho das Trevas | O capeta em forma de guri

O que aconteceria se o Superman fosse maligno? Desconsiderando “O Homem de Aço” em que o herói mais poderoso da DC não salva ninguém, destrói a cidade e ainda mata o inimigo, Clark Kent foi criado por pais adotivos amorosos que ensinaram o pequeno kryptoniano a ser uma pessoa decente e justa, independente do quão poderoso seja.

A ideia de inverter esse papel já foi explorada diversas vezes, principalmente nos quadrinhos, mas em uma época saturada por filmes de heróis (ainda bem!) é interessante assistir algo que ousa explorar ideias subversivas. Mas ”Brightburn - Filho das Trevas” não é explicitamente um filme da DC/Warner sobre heróis, ainda que a referência seja descarada.

O longa é repleto de ideias e abraça o estilo Splatter com força e certamente os fãs do gênero vão ter surpresas “agradáveis” durante o filme. Porém, a sensação é de que o roteiro força situações apenas pelas demonstrações gráficas exageradas e ignora durante muito tempo as situações em que o protagonista se encontra apenas para que o sangue continue a correr.

Igual, mas nem tanto

Na pequena cidade de Brightburn, Kansas, um jovem casal (Elizabeth Banks e David Denman) tentam sem sucesso ter um filho. Durante uma linda noite eles ouvem uma explosão perto de sua fazenda e resolvem investigar, encontrando os destroços de algo que parece uma nave espacial com um bebê aparentemente normal dentro, algo que eles identificam como um presente divino.

Os anos se passam enquanto vemos o crescimento de Brandon Breyer (Jackson A. Dunn) como uma criança normal e feliz, até chegar aos 12 anos. Com a puberdade, ele descobre que pode arremessar um cortador de grama sem muito esforço e que nada é capaz de feri-lo, entre outros poderes maneiros que ele utiliza apenas para matar quem faz algo que desagrade-o.

Brightburn2 f3992

Apesar do nome aparecer bastante na divulgação do filme, James Gunn é apenas o produtor. Brian e Mark Gunn, seu irmão e primo, respectivamente, são responsáveis pelo roteiro, enquanto David Yarovesky assina a direção. Para mim, o roteiro é o ponto fraco de “Brightburn”, apenas uma sequência de cenas gore alternadas entre o cotidiano da família Breyer.

Brandon é um garoto muito inteligente, um tanto retraído e alvo de bullying dos colegas, mas não há uma cena após ele adquirir os poderes em que ele busque vingança, meio frustrante em uma história sobre alguém corrompido pelo poder. Além disso, não fica muito claro o limite de seus poderes, sendo capaz de voar ou ficar praticamente invisível quando necessário, mas sendo visto facilmente em outros momentos.

Tentando ser bom a sua maneira

Isso tudo é facilmente relevado, mas uma falha gravíssima é o comportamento dos personagens. Em uma cena, Brandon age como uma criança normal (ou finge muito bem, o que faz menos sentido ainda), para na seguinte tocar o terror e causar o caos sem remorso algum. Mas o pior são os pais, que sabem da natureza misteriosa do filho e seus poderes, e preferem deixar tudo de lado para fingir que está tudo bem.

brightburn3 265ee

Derrapadas do roteiro a parte, é preciso enaltecer a performance do jovem Jackson A. Dunn, que carrega o filme e aparece em praticamente todas as cenas. A história exige mudanças de uma criança normal para um psicopata matador e Dunn está a altura do desafio. Ele não exagera na parte mais sombria de Brandon e não busca ser apenas mais um garoto esquisito, dando um ar bastante perturbador ao personagem, com sorrisos nas horas erradas e uma frieza nas situações mais pesadas. Dunn transmite a sensação de que Brandon acredita que não está fazendo nada de errado, apenas sendo quem ele é realmente, o que torna tudo muito assustador em uma análise mais fria.

Por outro lado, Elizabeth Banks usa toda sua experiência para encarnar o papel de uma mãe que não quer ver o quanto seu filho é perigoso. Apesar do esforço, ela apenas nega continuamente todos os problemas e consequências das ações do filho até ser tarde demais, servindo mais como um artefato para a história andar do que uma personagem completa.

Brightburn4 5d223

A direção de David Yarovesky é o que faz “Brightburn” voar. Abraçando os pontos característicos do terror, como personagens atrás de cortinas, sussurros sombrios, luzes piscando e clichês desse tipo misturados com a iconografia dos filmes clássicos de super heróis, como vistas aéreas, capas esvoaçantes e destruições exageradas, Yarovesky cria uma mistura interessante com elementos tão saturados pela indústria. O diretor de fotografia Michael Dallatorre também colaborou imensamente com a película, apostando sem medo no uso da cor vermelha destacada com o tom sombrio do resto do filme, além de todo o sangue e a estranhíssima e amedrontadora máscara do “uniforme” de Brandon.

No geral, Brightburn entrega o esperado e surpreende positivamente, especialmente se você está esperando ver muito sangue, órgãos expostos e cenas de matança explícitas, finalizando com um inusitado “universo expandido” para os fãs mais atentos. Vale lembrar que de forma alguma é um filme leve ou descontraído, nem um pouco aconselhável para pessoas impressionáveis.

Crítica do filme John Wick 3: Parabellum | Dedo no... gatilho e gritaria!

Quem diria que o “despretensioso” De Volta ao Jogo (John Wick) se tornaria uma das melhores franquias de ação do cinema. Quando o filme despontou em 2014, pouco se esperava do título, apesar de contar com nomes de peso como Keanu Reaves, Willem Dafoe, Ian McShane e John Leguizamo. Entretanto, quando as pessoas perceberam a beleza oculta no trabalho de Chad Stahelski o filme foi rapidamente elevado ao status de “clássico contemporâneo”.

Não estamos falando de uma obra-prima com um roteiro elaborado, na verdade a história beira a irrelevância, o charme e a arte do filme residem especialmente no toque de Chad Stahelski. O dublê veterano e cineasta iniciante, constrói cenas de ação com uma fluidez singular, duma dança sincronizada na qual todos sabem suas marcações e coreografias, entregando um resultado final um hipnotizante balé de violência.

A união dessa habilidade de Chad Stahelski e o carisma inato de Keanu Reeves formaram uma simbiose que elevou a franquia John Wick de um mero filme de ação e uma experiência totalmente diferente. Agora, em John Wick 3: Parabellum, Chad Stahelski se junta ao roteirista dos títulos anteriores, Derek Kolstad, para entregar um filme mais equilibrado e não menos volátil, oferecendo mais um ótimo capítulo na já celebrada saga do assassino John Wick.

Paz através da força

Começado exatamente do ponto onde paramos em John Wick: Um Novo Dia Para Matar, a nova iteração da franquia é ainda mais violenta, mais elaborada e mais envolvente. Com o Baba Yaga tentando se manter vivo enquanto todos os assassinos do mundo estão atrás da recompensa de 14 milhões de dólares pela sua cabeça, o filme já começa em um ritmo acelerado.

Com poucos minutos antes de ser oficialmente “excomungado” da sociedade dos assassinos, John Wick precisa agir rápido para conseguir se equipar, sobreviver e encontrar uma forma de reparar seu relacionamento com a “Alta Cúpula” que rege os assassinos. Nessa jornada em busca de redenção temos alguns vislumbres do meta-enredo da franquia, descobrindo novos detalhes sobre o funcionamento da Alta Cúpula e de seus membros.

Esse empenho em aprofundar a mitologia da franquia é louvável, mesmo que não funcionem em determinados momentos. O filme apresenta novos detalhes da vida de John e do universo dos assassinos, mas não responde diretamente nenhuma questão dos filmes anteriores e apenas aguça ainda mais a curiosidade dos fãs, o que pode ser bom, mas de forma alguma pode esmaecer o ritmo do filme em prol de desnecessários diálogos expositivos.

johnwick302 1aa5d

Resumidamente, o charme da franquia John Wick é justamente a ação. O importante é ver como esse agente da morte altamente treinado e obstinado navega por diferentes cenários repletos de adversários. Diferente de outras produções na qual a cena é construída a partir dos diálogos, em John Wick é a ação que dita o rumo da história. Como em um filme mudo, Keanu Reeves e o resto do elenco entregam atuações precisas que funcionam justamente por encontrarem uma forma de se expressar em meio ao caos que se desenrola ao redor.

Tiro, porrada e bomba

Se você ainda tinha alguma dúvida, o grande destaque do filme são as sequências de ação. Com coreografias elaboradas as cenas de luta são criativas e muito bem desenvolvidas. Infelizmente, por começar em um nível tão elevado, tudo parece mais “cansado” conforme nos aproximamos do final.

O clímax do filme não consegue superar os 30 minutos iniciais, muito por conta do ritmo alucinante  do começo da película. Todavia, ainda temos um embate épico no qual Keanu Reeves encara o célebre Mark Dacascos — figurinha carimbada dos filmes de pancadaria dos anos 90, incluindo os excelentes Combate: As Lágrimas do Guerreiro e O Pacto dos Lobos.

johnwick301 a115c

Por sinal, o elenco ainda conta com os retornos do excelente Ian McShane e do imponente Laurence Fishburme. Além disso, também temos a presença marcante de Halle Berry (e seus cachorros) além das ótimas surpresas de Anjelica Huston, Jerome Flynn (o Bronn, de Game of Thrones) e Asia Kate Dillon (do seriado Billions).

Parabellum mantém o ótimo nível das produções anteriores e abre novos caminhos para a franquia John Wick

Mesmo sem querer entregar muitos detalhes da trama, que já não é muito extensa, sou obrigado a revelar que o final deixa assegurada a continuação da franquia. Resta ainda saber se a saga do Baba Yaga continuará nos cinemas ou na televisão, haja vista a confirmação da produção do show The Continental, o hotel que serve de santuário para os assassinos.

Crítica do filme Pokémon: Detetive Pikachu | Aventura leve e divertida

Por diversas gerações, Pokémon vem conquistando fãs com seu universo repleto de criaturas  fantásticas e incontáveis aventuras. Quando foi anunciado que o primeiro filme live-action de Pokémon seria uma adaptação de “Detetive Pikachu”, um spin-off pouco conhecido da série principal de jogos, muitos fãs ficaram com um pé atrás.

Deixando de lado personagens já consagradas como Ash, Misty e Brock ou até mesmo os protagonistas dos jogos de Gameboy como Red para focar em um dos bichinhos de bolso mais queridos e populares pode parecer um erro a primeira vista, mas claramente foi bastante planejado e o resultado é “super efetivo”.

“Pokémon: Detetive Pikachu” transborda charme e utiliza suas raízes para pavimentar um caminho novo em termos de expansão da enorme marca que a Nintendo, e agora Warner, tem em mãos. Pautado na nostalgia dos fãs antigos mas sem esquecer as crianças de agora, o resultado é um filme familiar com diversos aspectos positivos para todos os que fãs que esperaram até agora para ter um filme live-action.

Esse meu jeito de viver, ninguém nunca foi igual

Detetive Pikachu está procurando seu parceiro perdido, Harry Goodman.  Sem querer, encontra seu filho Tim (Justice Smith) e acabam juntando forças para explorar Ryme City, uma cidade futurista onde os Pokémons não batalham e não ficam confinados em pokébolas, fazendo parte da sociedade e coexistindo com os humanos.

detetivepikachu1 88695

Suas investigações levam até o submundo onde batalhas clandestinas e experimentos de um laboratório acontecem e durante a investigação acabam conhecendo uma pretensa jornalista chamada Lucy (Kathryn Newton) e seu Psyduck constantemente estressado.

Não é necessário ser fã dos jogos ou um Xeroque Rolmes para ver que a trama não é necessariamente misteriosa ou genial. É preciso lembrar que o público alvo são as crianças, então todos os diálogos são expositivos e o ritmo é acelerado. A maior parte do elenco de apoio é esquecível, como a doutora Ann Laurent (interpretada por Rita Ora, que também contribuiu com a trilha sonora), mas todos os 60 Pokémons que dão as caras são marcantes.

Eu escolho você!

Apostando em um humor seco, no limite para uma classificação abaixo de 18 anos, e com uma leve inspiração nos filmes de detetives clássicos, o diretor Rob Letterman juntamente de sua equipe de criação conseguiram a proeza de construir um mundo onde Pokémons realmente parecem criaturas de verdade, mas quem insuflou vida ao longa é Ryan Reynolds.

A inusitada escolha de deixar Ryan Reynolds dublar o Pikachu é bastante acertada, ainda que pareça controversa. Ao interpretar Deadpool, Reynolds deixou marcado seu jeito idiota de ser, algo que combinou totalmente com o personagem, mas que possivelmente não seja a primeira coisa que passe na cabeça do público quando o assunto é dublar o fofo rato elétrico.

detetivepikachu2 9e5bc

Porém, Reynolds está bem confortável no papel com piadas que apenas sugerem temas adultos. como não usar cuecas por não ser modesto ou usar drogas, mas obviamente nada explícito. Entretanto, a dublagem nacional, por mais profissional que seja e sem presença de youtubers, peca um pouco ao entregar o mesmo nível de graça esperado da versão original.

Vale mencionar também o competente trabalho de Justice Smith, servindo tanto como fio condutor para esse maravilhoso mundo repleto de criaturas peculiares quanto herói relutante em assumir seu papel na história, superando seus traumas e medos. É uma pena que Kathryn Newton não receba a mesma atenção, acabando em segundo plano mesmo que seu papel seja tão relevante quanto o de Smith.

Temos que pegar?

Pessoalmente, nunca gostei dessas versões feitas por fãs de “Pokémons realistas” e a primeira reação que eu tive ao ver o trailer de Detetive Pikachu foi bem negativa. Entretanto, resolvi dar uma segunda chance e assistir com o coração aberto. Bem, os efeitos visuais e construção dos personagens são bastante meticulosos, sobretudo com o protagonista amarelo e seu chapéu de detetive.

O filme é recheado de cenas de ação e lindas paisagens urbanas e rurais, em alguns momentos apenas para demonstrar a capacidade gráfica do estúdio. Em determinada situação, ocorre uma paisagem surreal digna do filme “A Origem”  , enquanto que em uma cena mais calma vemos Bulbassauros passeando por um rio tão bonito que parece saído diretamente do Studio Ghibli.

detetivepikachu3 c6da9

Por mais que não seja um filme revolucionário, cumpre bem ao que se propõe. Dando o temeroso primeiro passo de um live-action desse porte, com uma base de fãs tão consolidada e anos de história na franquia, Pokémon: Detetive Pikachu é bastante satisfatório. Há diversas referências aos filmes e jogos do passado, e os fãs mais atentos vão querer procurar reconhecer todos os monstrinhos que estão na tela a cada nova aparição, enquanto que aqueles que não fazem ideia do que é um Pokémon vão rir e se emocionar, talvez uma porta de entrada para continuar o maravilhoso póke-universo.

Para quem não aguentar ver no cinema, o próprio Ryan Reynolds divulgou o filme completo, basta clicar para assistir.

Crítica do filme Hellboy | Como comer o pão que ele amassou

Com todos os defeitos e acertos da duologia dirigida por Guillermo del Toro, "Hellboy" paira na memória dos fãs dos quadrinhos alternativos de Mike Mignola por seu estilo único e visual marcante. Por essa razão, fica fácil presumir que essa nova versão é sem graça. Embora isso seja verdade, a comparação nem é necessária para constatar que o filme individualmente já é um terror, no sentido pejorativo da palavra.

A cena inicial já serve como um aviso da abominação que seguirá. O filme busca respaldo na “inédita” história do Rei Arthur e a Távola Redonda, enfrentando Nimue, a Rainha de Sangue (Milla Jovovich), uma poderosa bruxa que espalhou a peste na Inglaterra. A solução encontrada foi decapitar e desmembrar a moça, separando suas partes por toda a Europa, com uma narração explicando que um dia ela voltará para se vingar dos humanos.

Dessa vez, a encarnação do garoto infernal fica por conta de David Harbour, que conquistou diversos fãs com a série Stranger Things. Ele foi criado por seu pai adotivo Trevor (Ian McShane) e treinado dentro do Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal para combater ameaças sobrenaturais diversas. Para impedir Nimue, Hellboy precisa se aliar a jovem vidente Alice (Sasha Lane) e ao estranho major Ben Daimio (Daniel Dae Kim), enquanto suprime sua natureza demoníaca. 

hellboy20191 9b575

Sem coerência alguma, o diretor Neil Marshall parece não ter controle algum sobre o que acontece na tela. Todas as tentativas de humor são falhas, parece aquele seu tio que tenta ser engraçado e as pessoas só dão risada por pena.  Infelizmente o mesmo acontece com as cenas de ação. Em determinada situação (uma ótima contribuição de um roteiro fraco), Hellboy precisa enfrentar um trio de gigantes que se alimentam de carne humana, os efeitos são tão toscos que parecem retirados de uma cutscene de um jogo antigo, infelizmente essa qualidade se mantêm durante o longa.  

Apesar dos problemas em suas produções, Del Toro pelo menos tinha uma impecável concepção de personagens, com uma mescla incrível de efeitos práticos e computação gráfica. Nesse remake, temos apenas demonstrações gratuitas de sangue, vômito, baba e coisas nojentas, com personagens esquecíveis e motivações bobas. Ao inserir esses elementos gráficos é de se esperar que a película seja voltada para um público mais maduro, mas na verdade é só uma história infantil mesmo. 

hellboy201902 4e441hellboy20192 a9c7d

Nem mesmo os renomados atores conseguem salvar o longa. Todo o carisma de David Harbour está soterrado embaixo da maquiagem e do roteiro fraco. Ian McShane, possui pouquíssimas falas mas consegue doar uma porcentagem de seu charme em um filme perdido, exceto quando precisa se manifestar através da médium Alice, que manifesta os mortos a partir de sua boca, como se fosse um fantasma feito de entranhas.

Todo a mitologia criada por Mike Mignola está presente na sua forma mais pálida, a maior parte dos conceitos do universo místico de Hellboy são apenas apresentados em diálogos superficiais. Definitivamente esse é um filme que não deveria existir, talvez fosse mais aceitável utilizar todas essas ideias em uma série, já que outro problema é que apesar de ter apenas duas horas ele parece interminável.

Buscando um gancho para uma continuação, o filme finaliza com uma cena pós crédito que mostra um personagem popular, mas que se tudo der certo (para nós) nunca chegará a ser produzida.