Stan Lee - Café com Filme

Crítica Sete Homens e Um Destino | Sai o épico, entra a representatividade

“Eu procuro justiça, mas aceito vingança”

O Sete Homens e Um Destino original, de 1960, é provavelmente um dos maiores nomes do gênero western produzidos até hoje. Seu enredo foi baseado no clássico japonês Os Sete Samurais, do lendário diretor Akira Kurosawa, que por sua vez, também bebia na fonte dos filmes de faroeste ocidentais, mais precisamente dos longas de John Ford.

Nesse emaranhado criativo ganhamos ao longo dos anos algumas refilmagens, continuações e releituras da obra original, tendo como destaque, por exemplo, a animação Vida de Insetos, da Pixar (isso mesmo, você não leu errado).

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De volta ao velho oeste

Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven) de 2016 utiliza sem pudor a premissa básica da história e assume o caráter de um remake completo. Um vilarejo no velho oeste americano sofre nas mãos de um magnata do ouro, o qual usa toda a violência de seus capangas (e até mesmo de homens da lei) para controlar as minas de ouro da região, deixando a desolada cidadela a mercê de suas vontades. Para confrontar a situação, os habitantes locais, que não possuem aptidão nenhuma para lutar, decidem contratar alguns forasteiros para os protegerem.

É nessa hora que entram os heróis em cena. Os sete escolhidos formam um grupo de homens habilidosos – e atores de renome – para combater os vilões, cada um com uma característica diferente. O filme reúne o brilhantismo do oscarizado Denzel Washington, o senhor das estrelas Chris Pratt, o cult Ethan Hawke, e o atual rei do crime da série do Demolidor, Vincent D'Onofrio. Completam o time os atores Byung-hun Lee (sul-coreano), Manuel Garcia-Rulfo (mexicano) e Martin Sensmeier (nativo norte-americano).

A união de astros de etnias diferentes é um êxito da refilmagem. Um negro assume a liderança de um grupo composto por diferentes rostos, entre eles um oriental e um índio. A escolha pela diversificação racial passa muito além de uma opção comercial ou marqueteira. A pluralidade aqui está diretamente atrelada à qualidade do filme, sendo o que ele oferece de melhor.

O diretor Antoine Fuqua dá um tiro certeiro no comando de seus atores. Outros acertos do diretor são: fotografia digna de um western, com planos abertos e que sabem utilizar a luz natural, mesmo que sejam inflamadas por lentes de correção pós-produção; o encaixe da trilha sonora típica, empolgando nas cenas de ação ou criando suspense quando necessária; um storytelling honesto que não tem acanho ou vergonha de seguir os mesmos passos de seu antecessor, mas que procura saídas mais objetivas para adequar o produto em seu tempo.

Muito tiro, pouca ousadia

Em questões técnicas, mesmo contando com a ótima fotografia de Mauro Fiore ou com a trilha sonora precisa de James Horner e Simon Franglen, ele não possui nenhuma passagem marcante ou de impacto que ficará gravado por anos em sua memória. Um contraste direto é com a própria múscia. Impossível não lembrar do tema do original de 60 e seu instrumental exorbitante. (pan pan pan pan, pan pan pan pan pan ♫)

A versão moderna deixa o épico de lado e vai atrás do cinema politicamente correto, mesmo com o alívio cômico de alguns do bando de protagonistas. Saem os bandidos mexicanos do passado e entra o americano imperialista, que explora seu próprio povo. Não obstante, a criação de elementos genéricos, os quais se tornaram vícios de blockbusters atuais, se tornam presentes.

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O nêmesis escolhido é um retrato claro. O bandido feito por Peter Sarsgaard chega a ser tão dispensável quanto os chistes de sua personagem. Já os “mocinhos”, que são a maioria foras-da-lei em busca de redenção ou um punhado de dólares, até apresentam uma certa profundidade, como o atirador que tem medo de atirar “Goodnight Robicheaux”, papel de Ethan Hawk, ou o cavaleiro solitário com cicatrizes do passado em busca de justiça, Sam Chisolm, interpretado por Denzel Washington – papéis os quais ficam aquém da caricatura de Charles Bronson, por exemplo, pistoleiro da versão clássica.

Saudosismo à parte, se por um lado o novo Sete Homens e Um Destino não é um filme de impacto que será lembrado daqui 50 anos, ele é um remake que merece atenção por representar sua geração, na qual um branco pode ser antagonista e um negro pode ser herói.  

Crítica do filme Café Society | Saboroso, mas um tanto morno

Se o novo filme de Woody Allen fosse um café, talvez ele pudesse ser avaliado como um grão proveniente de um bom produtor, com uma boa torra, de sabor encorpado e com notas de intensidade, porém nem de longe a melhor saca desta safra. Prepare seu cafezinho e vem comigo pra saber porque achamos isso!

Café Society” foi bastante esperado pelos românticos de plantão e pelos fãs incondicionais deste diretor que já se tornou um dos ~clássicos contemporâneos.

Com um casting bastante inovador para um romance do cineasta, o longa-metragem se passa na década de 30 e faz referência à época de ouro de Hollywood e da indústria cinematográfica, durante um tempo em que os círculos sociais das celebridades famosas pelos filmes eram celebradíssimos. Nessa época, a alta sociedade que se formou a partir disso e os novos ricos que se reuniam para beber e curtir ficou conhecia como Café Society.

Três cubos de açúcar

A trama do longa-metragem gira em torno do jovem nova-iorquino do Bronx Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg), que vive em uma família de trabalhadores e se muda para Hollywood, em Los Angeles, para buscar novos rumos e crescimento pessoal.

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Na cidade das estrelas, ele é orientado a procurar pelo tio, Phil Stern (Steve Carrel), um conhecido agente de grandes celebridades locais. Acontece que Phil é extremamente ocupado e não dá muita atenção ao sobrinho e pede que uma secretária acompanhe o novo californiano a conhecer os encantos de Los Angeles.

Certamente, o ingênuo Bobby se encanta com muito mais do que com a cidade. O que chama a sua atenção é Veronica (Vonnie), papel de Kristen Stewart. Inteligente, decidida e livre das alienações típicas das meninas de Hollywood, ela vira a cabeça de Bobby de cabeça pra baixo, dando início a uma série de encontros e desencontros que trazem a clara assinatura de Woody Allen – que, além da direção, é responsável pelo roteiro.

Qualquer café é melhor com um bom papo

O plot de “Café Society” não tem nada de grandioso ou mirabolante, mas é certeiro e vai direto ao ponto, como vários outros longas do diretor. Com o pretexto de contar a história de Bobby, Vonnie e Phil, o filme na verdade retrata toda uma época e todo um contexto em que a alta sociedade passa a se organizar em torno do cinema.

É um verdadeiro retrato do universo das fofocas e maracutaias hollywoodianas. 

Assim, é no talento para transformar o plano de fundo e no questionamento da superficialidade de toda uma geração que se concentra Woody Allen neste filme. E o grande tempero para isso são os diálogos, nos quais o diretor e roteirista é um grande mestre.

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Sem incríveis reviravoltas – já que o narrador conduz o público, que é onisciente e sabe o tempo todo o que está acontecendo, diferente dos protagonistas –, o filme consegue nos manter curiosos, intrigados e interessados durante todo o tempo, com diálogos extremamente divertidos e com aquela pitada de humor ácido clássica do diretor.

Encorpado e bem apresentado

Mas nem só de texto se faz “Café Society”. Além de um bom roteiro e dos diálogos bem-feitos, os personagens são, na sua maioria, bem construídos e consistentes. E não apenas os protagonistas. A produção traz atores coadjuvantes muito bons em personagens interessantes, com suas próprias histórias paralelas, mas sempre relacionadas ao centro da narrativa.

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Assim, o filme é muito bem dirigido, com todo o esmero típico de um diretor consagrado como Woody Allen. Para tanto, alguns fatores contribuem demais com o andamento da trama. A narração, marca registrada do diretor, está presente em “Café Society”, assim como uma primorosa e certeira trilha sonora.

Assinadas majoritariamente por Vince Giordano – que já marcou presença em produções aclamadas como o longa Carol e as séries Boardwalk Empire e Mildred Pierce, todas histórias da mesma época – as canções dão o tom da trajetória percorrida pelos protagonistas e ajuda a marcar a linha do tempo do filme.

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Destaque também para a caracterização dos personagens e para o figurino. Além dos cenários montados com cuidado, das locações belíssimas e da fotografia superbonita, os trajes são adequados e lindos, com toda a atenção necessária a detalhes como os acessórios.

Curiosidade: você sabia que o Woody Allen na verdade se chama Allan Stewart Königsberg?

Por falar em cuidados e preciosismo, vale mencionar o quão bem construída é a estrutura narrativa, que segue um padrão diferente, com entradas de tomadas que quebram a linha do tempo, circulando entre memórias, tempos futuros e cenas que “explicam” detalhes sobre a trama de uma forma descontraída e que descontínua muito interessante, que reserva algumas surpresas.

Quando analisado isoladamente, cada aspecto do filme “Café Society” consegue ser altamente premiável. No conjunto, no entanto, o filme é interessante, distrai e flui bem, mas não traz nada de muito diferente ou extraordinário: é mais uma história de amor ou de amores, com um pano de fundo legal. Mas claro, um prato cheio (ou uma xícara cheia – tu-dum-tssss) se você é um romântico de carteirinha ou se é fã de retratos de época, e também se aprecia um filme bem construído tecnicamente.

"Cidade de Deus" está entre os 100 melhores filmes do século XXI

Às vésperas de completar 14 anos, “Cidade de Deus” de Fernando Meirelles e Katia Lund, foi considerado um dos 100 melhores filmes do século XXI segundo a TV norte americana BBC.  A lista, preparada pela emissora, contou com avaliações de 177 críticos de cinema do mundo todo, que colocaram o longa brasileiro na 38º posição do ranking.

À frente de grandes obras de Hollywood como “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e “Inteligência Artificial” de Steven Spielberg, o filme “Cidade de Deus” é o único que representa o cinema brasileiro na lista. 

Os três primeiros lugares ficaram com “Cidade dos Sonhos” de David Lynch, “Amor à Flor da Pele” de Wong Kar-wai e “Sangue Negro” de Paul Thomas Anderson, respectivamente.  Já o diretor inglês Christopher Nolan entra no ranking com três obras: “Amnésia”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e “A Origem”.  

Desse modo, a seleção da BBC tem a intenção de evidenciar os clássicos atuais e que poderiam estar à altura dos consagrados clássicos do século passado. Por sua vez rebatem o pensamento de que o cinema estaria morrendo com os serviços de vídeo on demand e TV a cabo.  

Em 2015, o longa “Cidade de Deus” ficou em oitavo lugar como melhor filme nacional segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema.  Também foi indicado ao Globo de Ouro, BAFTA e concorreu a quatro categorias no Oscar 2004, além de ter recebido menção honrosa no Festival de Toronto. 

Confira a lista completa da BBC

1. Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001)

2. Amor À Flor Da Pele (Wong Kar-wai, 2000)

3. Sangue Negro (Paul Thomas Anderson, 2007)

4. A Viagem de Chihiro (Hayao Miyazaki, 2001)

5. Boyhood (Richard Linklater, 2014)

6. Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (Michel Gondry, 2004)

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7. A Árvore da Vida (Terrence Malick, 2011)

8. Yi Yi (Edward Yang, 2000)

9. A Separação (Asghar Farhadi, 2011)

10. Onde os Fracos Não Têm Vez (Joel and Ethan Coen, 2007)

11. Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum (Joel and Ethan Coen, 2013)

12. Zodíaco (David Fincher, 2007)

13. Filhos da Esperança (Alfonso Cuarón, 2006)

14. O Ato de Matar (Joshua Oppenheimer, 2012)

15. 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (Cristian Mungiu, 2007)

16. Holy Motors (Leos Carax, 2012)

17. O Labirinto do Fauno (Guillermo Del Toro, 2006)

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18. A Fita Branca (Michael Haneke, 2009)

19. Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller, 2015)

20. Synecdoche, New York (Charlie Kaufman, 2008)

21. O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson, 2014)

22. Encontros e Desencontros (Sofia Coppola, 2003)

23. Caché (Michael Haneke, 2005)

24. O Mestre (Paul Thomas Anderson, 2012)

25. Amnésia (Christopher Nolan, 2000)

26. A Última Noite (Spike Lee, 2002)

27. A Rede Social (David Fincher, 2010)

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28. Fale com ela (Pedro Almodóvar, 2002)

29. WALL-E (Andrew Stanton, 2008)

30. Oldboy: Dias de Vingança (Park Chan-wook, 2003)

31. Margaret (Kenneth Lonergan, 2011)

32. A Vida dos Outros (Florian Henckel von Donnersmarck, 2006)

33. Batman: O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan, 2008)

34. O filho de Saul (Laszlo Nemes, 2015)

35. O Tigre e o Dragão (Ang Lee, 2000)

36. Timbuktu (Abderrahmane Sissako, 2014)

37. Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (Apichatpong Weerasethakul, 2010)

38. Cidade de Deus (Fernando Meirelles and Kátia Lund, 2002)

39.O Novo Mundo (Terrence Malick, 2005)

40. O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005)

41. Divertida Mente (Pete Docter, 2015)

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42. Amour (Michael Haneke, 2012)

43. Melancolia (Lars von Trier, 2011)

44. 12 Anos de Escravidão (Steve McQueen, 2013)

45. Azul É a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013)

46. Cópia Fiel (Abbas Kiarostami, 2010)

47. Leviathan (Andrey Zvyagintsev, 2014)

48. Brooklyn (John Crowley, 2015)

49. Adeus à Linguagem (Jean-Luc Godard, 2014)

50. Nie Yinniang (Hou Hsiao-hsien, 2015)

51. A Origem (Christopher Nolan, 2010)

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52. Mal dos Trópicos (Apichatpong Weerasethakul, 2004)

53. Moulin Rouge (Baz Luhrmann, 2001)

54. Era uma Vez na Anatólia (Nuri Bilge Ceylan, 2011)

55. Ida (Pawel Pawlikowski, 2013)

56. A Harmonia Werckmeister (Bela Tarr, director; Ágnes Hranitzky, co-director, 2000)

57. A Hora Mais Escura (Kathryn Bigelow, 2012)

58. Moolaadé (Ousmane Sembène, 2004)

59. Marcas da Violência (David Cronenberg, 2005)

60. Síndromes e um Século (Apichatpong Weerasethakul, 2006)

61. Sob a Pele (Jonathan Glazer, 2013)

62. Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009)

63. O Cavalo de Turin (Bela Tarr and Ágnes Hranitzky, 2011)

64. A Grande Beleza (Paolo Sorrentino, 2013)

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65. Aquário (Andrea Arnold, 2009)

66. Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera (Kim Ki-duk, 2003)

67. Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow, 2008)

68. Os Excêntricos Tenenbaums (Wes Anderson, 2001)

69. Carol (Todd Haynes, 2015)

70. Histórias que Contamos (Sarah Polley, 2012)

71. Tabu (Miguel Gomes, 2012)

72. Amantes Eternos (Jim Jarmusch, 2013)

73. Antes do Pôr do Sol (Richard Linklater, 2004)

74. Spring Breakers: Garotas Perigosas (Harmony Korine, 2012)

75. Vício Inerente (Paul Thomas Anderson, 2014)

76. Dogville (Lars von Trier, 2003)

77. O Escafandro e a Borboleta (Julian Schnabel, 2007)

78. O Lobo de Wall Street (Martin Scorsese, 2013)

79. Quase famosos (Cameron Crowe, 2000)

80. The Return (Andrey Zvyagintsev, 2003)

81. Shame (Steve McQueen, 2011)

82. Um Homem Sério (Joel and Ethan Coen, 2009)

83. A.I. – Inteligência Artificial (Steven Spielberg, 2001)

84. Ela (Spike Jonze, 2013)

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85. O Profeta (Jacques Audiard, 2009)

86. Longe do Paraíso (Todd Haynes, 2002)

87. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Jean-Pierre Jeunet, 2001)

88. Spotlight: Segredos Revelados (Tom McCarthy, 2015)

89. La mujer sin cabeza (Lucrecia Martel, 2008)

90. O Pianista (Roman Polanski, 2002)

91. O Segredo dos Seus Olhos (Juan Jose Campanella, 2009)

92. O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (Andrew Dominik, 2007)

93. Ratatouille (Brad Bird, 2007)

94. Deixa Ela Entrar (Tomas Alfredson, 2008)

95. Moonrise Kingdom (Wes Anderson, 2012)

96. Procurando Nemo (Andrew Stanton, 2003)

97. Minha Terra África (Claire Denis, 2009)

98. Dez (Abbas Kiarostami, 2002)

99. The Gleaners and I (Agnès Varda, 2000)

100. Carlos (Olivier Assayas, 2010)

100. Réquiem para um Sonho (Darren Aronofsky, 2000)

100. Toni Erdmann (Maren Ade, 2016)

Demônio de Neon | Trailer legendado e sinopse

Jesse (Elle Fannng) é uma jovem de 18 anos que acaba de chegar a Los Angeles. Dona de uma beleza natural impressionante, ela tenta a sorte como modelo profissional. Após tirar algumas fotos mórbidas para um jovem fotógrafo, é contratada por uma conceituada agência de modelos. Bastante ingênua, ela passa a lidar com o ego sempre inflado das demais modelos e também com a maquiadora Ruby (Jena Malone), que possui intenções ocultas com a jovem.

Crítica do filme Procurando Dory | Uma jornada pra não esquecer

Um ano depois de embarcar numa aventura inesquecível e revirar o oceano atrás do peixinho Nemo, os personagens mais queridos do fundo do mar estão de volta para mais um desafio. Dessa vez, com outro objetivo: o de ajudar a Dory a reencontrar sua família, da qual ela finalmente começa a lembrar.

A animação "Procurando Dory", dirigida por Andrew Stanton e Angus MacLane, esclarece as origens e a trajetória da peixinha mais esquecida dos sete mares. Como será que ela foi parar junto ao Nemo e ao Marlin? E onde foi que ela aprendeu a falar baleiês?

Com uma composição que não deve nada às demais produções de altíssima qualidade da Disney Pixar, "Procurando Dory" é uma combinação certeira de roteiro caprichado, boa direção, fotografia e imagens impecáveis e uma trilha sonora muito bem executada.

"Oi, eu sou a Dory!"

Os personagens extremamente cativantes - e já muito queridos por conta do sucesso que foi "Procurando Nemo" - são um dos grandes acertos do filme (e da própria Pixar, diga-se de passagem). Dory segue sendo tão carismática como sempre, mas ganha mais consistência, com espaço para ser melhor desenvolvida.

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Mais do que uma peixinha esquecida, a protagonista é apresentada com toda sua coragem, criatividade e bom humor, além da fofura, é claro.

Mais até do que "Procurando Nemo", que é bastante focado na procura insana pelo peixinho-palhaço, "Procurando Dory" é sobre encontros, desencontros e reencontros, mas é principalmente sobre Dory procurando por ela mesma. Não se trata dos amigos procurando Dory, que desapareceu. Mas ela em busca de sua própria história e de seu passado, quando sai tentando localizar a família.

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Nessa jornada, Dory conta com a ajuda de novos e divertidos personagens, como é o caso do polvo de sete tentáculos, Hank, que se torna tão essencial à história quanto os próprios Nemo e Marlin. Também são incluídos animais cheios de personalidade, como a desastrada tubarão-baleia Destiny, a pouco confiante baleia branca Bailey e os leões marinhos donos do pedaço, Fluke e Rudder.

Como era de se esperar, nenhum personagem entra na brincadeira sem uma explicação e uma função na busca de Dory. Todo mundo ajuda de uma forma, mostrando que ninguém chega a lugar algum sem amigos.

Continue a nadar, continue a nadar!

As aventuras de Dory e seus amigos não seriam as mesmas sem as inesquecíveis canções que compoem a trilha sonora da animação - algumas delas na voz da própria protagonista. Até mesmo o grudento "Continue a nadar, continue a nadar" que marcou a Dory durante a jornada em busca de Nemo é retomado na continuação, fazendo muito sentido dentro da história e marcando momentos divertidos, como antes.

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As canções ganham ainda mais importância nesta animação, pois são aqui muito mais do que trilha sonora. Elas fazem parte da história de Dory e se transformam em uma ferramenta de memorização, o que tem tudo a ver com a personagem e torna o filme ainda mais atrativo para o público infantil, principalmente.

Além disso, tanto as músicas originais quanto as comerciais foram super bem selecionadas e embalam os personagens por momentos incríveis no fundo do mar. Ponto para o Thomas Newman, que assina a trilha da animação. Também ninguém nunca duvidou do potencial do cara que já foi indicado ao Oscar por isso nada menos do que 11 vezes. O norte-americano já é velho conhecido da Pixar, uma vez que assinou a trilha do próprio “Procurando Nemo” e do fofíssimo “Wall-E”.

Ih, esqueci o que mais eu ia dizer

Mentira, não esqueci, mas vou falar em baleiês:

Leeeegal, veeejam eeeessseee fiiilme!

Não entenderam? Eu traduzo! Aproveite as férias e vá ver esse filme! E o principal motivo é que “Procurando Dory” mantém uma característica que é marca registrada da Pixar: a de fazer animações adultas disfarçadas de atrações infantis, mas que no fim se revelam muito mais do que filminho de criança. São roteiros engenhosos, personagens complexos que vão além da superficialidade que marca muitos filmes em desenho animado.

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Para tanto, brinca-se muito com o humor. São situações engraçadas, diálogos inteligentes e divertidos, mas quase se apela para piadas bobas e infantilizantes. Outro recurso fundamental são os estímulos visuais. O colorido do fundo do mar torna o filme bonito, mas também se trabalha com as sombras e a escuridão para marcar os momentos mais assustadores.

A dublagem em portugês também é sensacional, já que nacionaliza algumas referências que não seriam tão interessantes se mantidas no idioma original. E, gente, meus cumprimentos a quem teve a ideia de incluir a Marília Gabriela na brincadeira!

Em resumo, mais um acerto da Disney Pixar e mais um filme para ser visto por pessoas de todas as idades. Não marque bobeira, veja no cinema com todo mundo que você puder levar junto. E não esquece de comentar aqui o que achou do filme!

Em tempo, mais um curta de arrasar

Antes de encerrar, não poderia deixar de falar um pouco sobre Piper, o curta-metragem que acompanha "Procurado Dory". A gente adiantou um pouco sobre ele no Café com Filme, dá uma olhada aqui, mas vale reforçar sobre mais um curta cheio de sentido, inteligente e sensível que a Pixar preparou para acompanhar seu novo filme. Uma lindeza!

Crítica do filme Como Eu Era Antes de Você | Muitas cores, mas poucas surpresas

Só o trailer já é suficiente para perceber que, acima de tudo, “Como Eu Era Antes de Você” é um filme sobre o amor. Mas não é apenas isso. O longa-metragem inspirado no best seller da britânica Jojo Moyes é sobre conformismo e zona de conforto e o que é preciso para nos tirar dela.

Dirigido por Thea Sharrock e roteirizado pela própria autora do livro, em parceria com Scott Neustadter e Michael H. Weber, o longa era um dos títulos mais esperados para 2016 e estreou liderando bilheterias nos cinemas brasileiros. Tanto alvoroço é motivado, claro, por um romance daqueles de fazer o coração acelerar e encher os olhos de lágrimas. 

“Como Eu Era Antes de Você” nos transporta a uma pacata cidadezinha do Reino Unido, onde vive a jovem Louisa “Lou” Clark (Emilia Clarke – sim, ela mesma, a Nascida na Tormenta, a Não Queimada, a Mãe dos Dragões, a Quebradora de Correntes Daenerys Targaryen, de Game of Thrones). Lou tem 26 anos e não sabe muito bem o que vai ser de sua vida, o que na verdade parece não importar muito. O que ela sabe é que precisa trabalhar para ajudar no sustento da família, já que o pai está desempregado. 

Por conta disso, quando perde o emprego em uma simpática e tradicional cafeteria onde trabalhou por seis anos, ela aceita uma vaga para trabalhar no castelo da riquíssima família Traynor. Ali, deve atuar como cuidadora de Will Traynor (Sam Clafin), o herdeiro que perdeu os movimentos do corpo todo após um acidente de trânsito.

Mais do que a mobilidade nos membros e no tronco, o incidente tira todo o prazer de viver de Will, que até então era um jovem aventureiro e desbravador, que amava a vida e aproveitava tudo o que ela tinha a oferecer. 

Roteiro previsível, mas não tão óbvio

O medo de spoilers não é exatamente uma preocupação dos espectadores de “Como Eu Era Antes de Você”, uma vez que grande parte do público busca este filme já tendo lido o livro ou ao menos conhecendo o plot. 

Mesmo quem não leu, o que é o meu caso, já consegue pescar bem rápido do que a história vai tratar e, logo de cara, perceber pontos como quais vão ser os grandes desafios dos dois protagonistas. 

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A estrutura é bastante básica e um acerto em cheio da autora: uma garota cheia de vida e um jovem que está paralisado e perdeu o desejo de viver se conhecem e se apaixonam. Simples, mas um tiro certo. É difícil não se emocionar com a história de Louise e Will.

No entanto, apesar do sofrimento e de ser bastante previsível, a maneira como o longa é conduzido ainda reserva espaço para algumas surpresas no andamento da trama, que tornam a narrativa bem interessante e, no fim das contas, não tão óbvia assim.

Mais riso do que choro

Embora se proponha na fronteira entre drama e romance, “Como Eu Era Antes de Você” desperta bastante o riso do público. Particularmente, fui ao cinema esperando sair de lá com a cara inchada de tanto chorar, mas não achei o longa tão emocionante assim e, mais do que isso, achei que as cenas alegres e divertidas equilibram bastante as tristes.

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E o crédito desse lado engraçado é em boa parte do roteiro, que traz diálogos bem-humorados, algumas piadas quase politicamente incorretas e até mesmo uma pitada de ironia. Mérito também dos protagonistas, que são personagens interessantes e divertidos, cada um com a sua forma de humor: a doçura de Lou e o sarcasmo de Will, ela sempre colorida e com suas roupas no mínimo exóticas, ele com sua amargura e impaciência. Nesse ponto, merece menção também o elenco competente, falaremos dele em seguida.

A distinção que o orçamento permite

Bem, antes de tudo é preciso lembrar que estamos tratando aqui da adaptação de um best seller. Dito isso, fica bastante claro que o orçamento para produção o longa não deve ter sido baixo, certo? E não foi. Com o investimento de 20 milhões de dólares, o mínimo que a gente espera de um longa-metragem é um elenco recheado de gente boa, uma fotografia impecável, figurino digno e trilha sonora original. E o filme britânico de fato entrega tudo isso. 

A começar pelo casting, que arrasou na escolha de Emilia Clarke e Sam Clafin. Ambos estão super bem nos papeis centrais, especialmente a moça. Quem está acostumado a vê-la na pele da inexpressiva Rainha dos Dragões até se surpreende com a profundidade dos movimentos, das falas, da agitação e da linguagem corporal de Louise. 

“Como Eu Era Antes de Você” também nos brinda com alguns nomes celebrados como o também Game of Thrones Charles Dance, Brendan Coyle (o Mr. Bates de Downton Abbey), Jenna Coleman (Dr. Who), Janet McTeer (Damages e a franquia Divergente) e Matthew Lewis (o queridíssimo Neville Longbottom de Harry Potter).

De encher os olhos

Além do elenco, destaque para a fotografia maravilhosa do filme. As cores não estão somente no figurino da protagonista – que merecia uma crítica inteira só pra ele, de tão alegre, vivo, colorido e sensacional –, mas nos detalhes dos ambientes e nos cenários pensados em cada detalhe. 

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E que cenários, hein? A locação escolhida para o filme é linda e charmosa, os espaços naturais são todos paradisíacos, a representação dos ambientes internos também é fiel e muito bonita Mesmo os espaços que não são milionários, como o quarto de Louise, é retratado de uma forma aconchegante e nos faz sentir à vontade, como se fizéssemos parte da cena. 

A trilha sonora assinada por Craig Armstrong nos leva pelos diferentes momentos da trama com bastante competência, com algumas composições originais e muito som comercial, incluindo músicas de Ed Sheeran e Imagine Dragons, por exemplo, mas sempre muito propícias a cada uma das emoções que o filme quer despertar no público.

Boas reflexões, mas dentro do lugar comum

Como blockbuster, “Como Eu Era Antes de Você” não deixa nada a desejar. É um belo conjunto de questões técnicas e elenco, boa produção e boa direção. Embora a história fuja pouco do lugar comum, ela consegue despertar a reflexão: até que ponto vivemos nossa vida no modo automático, resolvendo questões práticas do dia a dia e esquecendo de, de fato, viver cada momento.

Como eu disse lá no comecinho, é claro que esta é uma história de amor, mas não apenas aquele amor que só quer que os mocinhos fiquem juntos no final. O filme nos mostra como é possível amor com desapego e sem egoísmo e como o amor pode nos tirar da nossa zona de conforto e nos mostrar novos horizontes e nossas possibilidades. 

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Certo, é fácil fazer isso com todo o dinheiro dos Traynor disponível na conta, então vamos problematizar um pouquinho essa parte também? Apesar de ser um filme sobre justamente fugir da zona de conforto, “Como Eu Era Antes de Você” permanece naquele círculo convencional dos romances de Hollywood. 

Todo mundo dentro dos padrões de beleza consolidados, nenhum personagem negro ou de qualquer outra minoria e nota bem baixa no Teste de Bechdel (lembra dele?), ou seja, embora a protagonista seja mulher, todos os seus diálogos envolvem um homem, mesmo aqueles em quem há apenas mulheres. Pelo menos a questão da construção pessoal da personagem também é focada, o que dá um bom crédito neste sentido.

Resumindo, se você está atrás de uma história que fuja dos padrões, este não é o seu filme. Mas também tem grandes méritos, é um filme bonito e emocionante, bem feito e divertido. É uma boa experiência especialmente para os românticos de carteirinha.