Crítica do filme Polar | Se o trabalho não te matar, a aposentadoria vai!

A webcomic/graphic novel Polar chamou a atenção dos fãs de quadrinhos com seus visuais estilizados e narrativa peculiar — que na publicação original não possuía caixas de diálogo e portava apenas três cores (branco, vermelho e laranja). A mistura criativa de uma trama neo-noir, violência exagerada e um protagonista forte logo colocou o nome da produção entre os favoritos para receber uma adaptação para os cinemas.

Sem perder tempo, a Dark Horse Comics anunciou que Polar: Came From the Cold seria adaptado para os cinemas, produzido como uma colaboração entre a divisão de entretenimento da editora (a mesma de O Máscara, Hellboy e 30 dias de Noite) e a Constantin Film. Três anos na gaveta depois, os produtores confirmaram que Mads Mikkelsen estrelaria o thriller de ação, com Jonas Åkerlund (Lords of Chaos) na direção e roteiro de Jayson Rothwell.

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Pouco tempo depois a Netflix entrou como distribuidora e logo foi confirmada a presença de Vanessa Hudgens, Katheryn Winnick e Matt Lucas no elenco. Além disso, também foram adicionados Johnny Knoxville e o veterano Richard Dreyfuss, sem contar que o filme teria uma trilha sonora original produzida pelo DJ canadense Deadmau5.

Parecia que estava tudo bem encaminhado para um lançamento de peso, mas parece que todo o sexo, violência e gracejos visuais não foram suficientes para derreter os corações dos espectadores. Polar não é nada ruim, mas nunca alcança todo seu potencial. Com uma direção dinâmica, mas pouco inspirada e uma trama um tanto batida, fica o destaque apenas para fãs de quadrinhos em busca de algo diferente no catálogo da Netflix.

“Quando eu pensei que estava fora… eles me puxam para dentro”

Duncan Vizla (o excepcional Mads Mikkelsen), também conhecido como Kaiser Negro, é um habilidoso e implacável assassino profissional que está contando os dias para seu aniversário de 50 anos, data que marca o início da sua aposentadoria. Com um plano de aposentadoria generoso provido pelo seu empregador o enojante Sr. Blut (Matt Lucas), Vizla se encontra em um misto de inquietação e conformidade com o seu futuro. 

Entretanto, parece que o Sr. Blut tem uma estratégia financeira diferente e parece que Duncan nunca chegará a sacar a sua polposa pensão. Com uma legião de assassinos extravagantes em sua folha de pagamento, Blut simplesmente prefere despachar seus antigos funcionários, poupando assim eventuais gastos com as aposentadorias.

Assim, não demora muito para que o Kaiser Negro seja forçado de volta a ativa. Escondido na tranquila Triple Oak, Montana, Duncan espera pelo ataque enquanto se aproxima da sua enigmática vizinha, a jovem Camille (Vanessa Hudgens). A trama de Jayson Rothwell não tem o mesmo impacto que o material original, os quadrinhos de Víctor Santos. Mesmo com algumas reviravoltas interessantes, a narrativa depende demais da estilização exagerada dos personagens, algo que funciona nas graphic novel, mas se traduz como "bobo" no filme.

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Ele veio do frio

Saído do universo dos videoclipes musicais, o diretor Jonas Åkerlund mostra muito dinamismo no comando câmera e construção das cenas, no entanto, tudo parece um tanto raso e sem grande impacto. Apesar de contar com muito estilo, principalmente na retratação dos assassinos — alinhado com a extravagância dos quadrinhos — o diretor não consegue imprimir personalidade na sua direção, e no final fica a impressão de estarmos acompanhando uma peça publicitaria ou um videoclipe altamente estilizado.

A trama funciona muito bem nos quadrinhos, e as escolhas narrativa de Víctor Santos são perfeitamente condizentes com a mídia. No entanto, a saga do assassino veterano em busca de vingança já parece um tanto batida e são raras as histórias nesse molde que realmente trazem algo inovador, seja na narrativa ou na ação em si — nem todo mundo acerta como John Wick.

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Mas se há algo que Polar acerta, bem no centro do alvo por sinal, é na escolha de Mads Mikkelsen. O ator fetiche de 9 entre 10 nerds, está primoroso na pele do assassino veterano Duncan Vizla. O estoicismo o próprio das atuações do dinamarquês se ajustam perfeitamente a persona espartana do Kaiser Negro.

Sin City

Polar é um bom filme de ação, com uma trama neo-noir nada inovadora, mesmo que ainda reserve algumas surpresas para o final. O elenco é muito bom com destaque todo especial para as atuações de Mads Mikkelsen e Vanessa Hudgens que tentam trazer mais personalidade para o show visual de Jonas Åkerlund.

Por sinal, Åkerlund faz um trabalho descente em apresentar uma visão estilizada de ação, sexo e violência. O problema é que o diretor falha em fazer isso de uma maneira original, capaz de caracterizar o seu trabalho e não apenas compilar clipes elaborados.

Polar é limitado e perde mais apelo quando comparado a outros títulos; como as caracterizações de Sin City ou a ação de John Wick

No final, Polar não ousa o suficiente para ser lembrado, especialmente com tantas adaptações de quadrinhos análogas com desenvolvimentos muito superiores. Dentro do catálogo de produções da Netflix, Polar ainda mantêm alguma relevância, mas não passa de uma escolha secundária para quem busca algo na mesma linha do ótimo John Wick.

Crítica do filme Cemitério Maldito | Às vezes, morto é melhor

Incrivelmente superior a adaptação original — aquela de baixo orçamento, cujo único elemento relevante é a icônica música dos Ramones —, a refilmagem de Cemitério Maldito (baseado na obra O Cemitério, do mestre Stephen King) acerta o tom, mesmo que descuide de alguns elementos. Fãs da obra literária certamente apontaram as “liberdades criativas” do roteiro que devem incomodar um pouco os mais puristas.

A direção não é inovadora, mas a dupla Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, consegue imprimir um ritmo coerente e apresentar uma versão muito mais inteligente do que a pobre rendição lançada em 1989. Quando a direção e o roteiro falham, o elenco — em ótima forma, com destaque especial para o veterano John Lithgow — se supera e ajuda a construir as cenas com emoção e empatia.

O novo Cemitério Maldito é uma boa pedida para os fãs do gênero, e especialmente para os fãs de Stephen King. Mesmo com algumas licenças poéticas na história, o filme marca seu lugar dentro do universo fantástico aterrorizante do autor, fazendo inclusive referências a outras obras do mestre do terror, como o cachorro São Bernardo (Cujo), ou a cidade maldita de Derry (It – A Coisa).

“Simitério de animais”

A trama é basicamente a mesma do livro e da versão original de Cemitério Maldito. O médico Louis Creed se muda com a mulher e dois filhos pequenos para a cidadezinha de Ludlow, Maine. Apesar de aparentemente tranquilo, o novo lar dos Creed fica em frente a uma rodovia movimentada e o extenso quintal abriga uma floresta com um enigmático cemitério de animais.

Creed acaba descobrindo por meio de um vizinho, o simpático velho Crandall, que além do cemitério de animais fica um antigo território indígena com poderes sobrenaturais muito além da sua compreensão. Quando uma tragédia acontece, Creed é obrigado a rever todos seus conceitos sobre vida e morte, ciência e religião, e encarar o poder que emana do local.

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Não vou entrar em detalhes, mas basta dizer que existem sim algumas mudanças na história, seja em relação ao livro ou ao filme de 1989. Na verdade, nenhuma dessas mudanças realmente afeta a narrativa em si e, de certa forma, ainda ajudam a trazer alguma surpresa a uma história já familiar.

O Cemitério é uma das maiores obras de Stephen King e muito desse sucesso reside justamente na forma como o autor trabalha temas tão intensos quanto o luto, loucura e medo. Em todas as adaptações de Cemitério Maldito muito se perde nessa tradução e mesmo quando o próprio Stephen King trabalhou no roteiro, como no caso da versão original de 1989, a sensação ainda é muito aquém daquela experimentada por leitores aflitos que temem todas viradas de página.

Os diretores fazem um esforço para passar toda a claustrofobia da casa dos Creed, cuja loucura cresce conforme são confrontados com a morte e o sobrenatural. O destaque fica por conta da fotografia que utiliza uma paleta de cores que vai "acinzentando" gradualmente até o final.

A maquiagem é precisa — entre o gore e o realismo — criando imagens chocantes, mas nada apelativas. O design do "simitério de animais" é suficientemente sinistro para despertar o medo no espectador, mas infelizmente o mesmo não vale para o verdadeiro cemitério maldito, cuja construção em computação gráfica fica bem abaixo do esperado.  

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Luto emocional

Nessa nova leitura da trama, Matt Greenberg e Jeff Buhler apresentam um texto muito mais inteligente para o cinema. Sem pesar muito a mão em diálogos expositivos, ou grandes monólogos catárticos, o roteiro aposta no equilíbrio de talentos para que as falhas sejam sempre compensadas por outros elementos. Assim, mesmo sem entregar um filme fantástico, os diretores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer compõem uma película sólida que não apresenta grandes falhas, o que já é um grande feito por si só.

Mesmo sem se apoiar em sustos ou sanguinolência, Cemitério Maldito é um filme tenso e assustador

Cemitério Maldito é um bom filme que acompanha de perto a história original e ainda apresenta algumas cenas impactantes; especialmente no final que mesmo divergindo do original, ainda se assemelha mais a proposta perturbadora do livro. Com um elenco bem afinado e uma direção cingida, a nova versão de Cemitério Maldito agrada, mas não supera outras produções recentes inspiradas em obras de Stephen King — notadamente It – A Coisa e Jogo Perigoso.

Critica do filme A Menina e o Leão | Coragem, o leão covarde

Apesar de ser uma prática comum na África do Sul, e totalmente legalizada, a controversa “caça enlatada” vem chamando a atenção de grupos defensores dos direitos dos animais e dos legisladores sul-africanos. Fazendas criam animais selvagem apenas para serem abatidos por caçadores no que é um dos negócios mais lucrativos da África do Sul.

Recentemente, o Congresso Mundial de Conservação — que reúne representantes de governos, ativistas, cientistas e empresários — pediu que atividade seja banida. Por outro lado, os donos das reservas afirmam que suas fazendas são uma alternativa à caça ilegal de animais selvagens e ainda auxiliam na manutenção da espécie com reproduções em cativeiro.

Em 2013 um documento apontava que restaram apenas 645 leões em estado selvagem na África Ocidental e Central. Afirmando ainda que a espécie já estava extinta em 25 nações africanas, correndo o risco de extinção em outras dez, os números não melhoraram muito desde então, e a ONU declara que os leões africanos tiveram uma redução de 40% em apenas 20 anos.

Nesse contexto, é fácil entender como A Menina e o Leão consegue comover sem fazer muito esforço. O diretor Gilles de Maistre tenta conscientizar e entreter, mas parece não se esforçar o suficiente para elevar a produção, entregando assim um filme mediano que apesar de abordar temas interessantes não faz muito barulho.

O pequeno Kimba

Mia Owen é uma garota de dez anos de idade que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando sua família deixa Londres para administrar uma fazenda de leões na África do Sul. Sem amigos e isolada do mundo, Mia está cada vez mais rebelde, até que um lindo leão branco, Charlie, nasce na fazenda.

Mia reencontra a felicidade e desenvolve um vínculo especial com o filhote, no entanto, quando Charlie chega aos três anos, a vida de Mia é abalada mais uma vez quando ela descobre um segredo perturbador. Perturbada pelo pensamento de que Charlie poderia estar em perigo e sem saber em quem confiar, Mia decide guiar o animal até uma reserva, na qual ele poderá viver livre.

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 Menina e o Leão pode ter problemas (mais técnicos do que em termos do trabalho do elenco), mas aos poucos vai se tornando um filme completamente capaz de entregar emoção e reflexão através da jovem Mia (Daniah De Villiers) e do leão branco Charlie. Boa parte da execução crível desta amizade se dá por conta da produção ter sido realizada ao longo de três anos, tempo suficiente para um elo entre a atriz e o animal selvagem ser criado.

A trama não é nada inovadora e é executada de uma maneira ineficaz. O espectador é jogado no meio da história, que tem pressa em apresentar todos seus personagens, mas não se preocupa criar contexto para tudo e quem mais sofre com essa pressa é justamente o relacionamento de Charlie e Mia.

O ponto central da trama é justamente como os dois criam um vínculo que, supostamente, supera até os instintos mais selvagens do animal. No entanto, para o espectador é difícil aceitar que tal relação floresce tão espontaneamente como sugerido pela montagem do filme. Saltos temporais mostram o felino indo de filhote a jovem adulto minando todo o desenvolvimento de Mia e da própria família que desenvolve tramas paralelas importantes.

Sem muita explicação descobrimos que o irmão mais velho de Mia tem problemas psicológicos — lutando contra ansiedade —, enquanto a moral do pai passa a ser questionada por conta de seus parceiros comerciais. Como tudo é apressado, e o foco é quase que exclusivo em Mia e Charlie, nunca desenvolvemos a devida empatia pelos demais personagens.

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A menina e o leão baunilha

Independentemente, há de se louvar o trabalho da jovem Daniah De Villiers (que interpreta Mia), O filme foi rodado ao longo de três anos para que a garota tivesse tempo suficiente para de fato desenvolver uma ligação com o animal. Supervisionada por Kevin Richardson — famoso e controverso sul-africano criador de leões e outros animais selvagens — as interações entre De Villiers e os animais são genuínas e o ponto alto do filme.

Mesmo com um palanque medíocre a mensagem permanece forte!

A Menina e o Leão não possui grandes qualidades técnicas, a fotografia não explora em nada os exuberantes cenários africanos, a trilha sonora é pouco inspirada e até mesmo o elenco — que conta com a excelente Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios) — é subutilizado. Mesmo assim, sem qualquer esforço, ainda temos um filme para toda família que passa uma mensagem forte sobre a situação dos leões e outros animais selvagens em risco de extinção.

Crítica do filme Vingadores: Ultimato | Um espetacular e glorioso fim

Finalmente o aguardado “Vingadores: Ultimato” chegou às telonas, continuação direta de “Guerra Infinita” e o ápice do popular gênero “filmes baseados em quadrinhos”. As expectativas eram altíssimas, exatamente tudo que um fã dos filmes da Marvel poderia sonhar foi entregue.

São três horas de pura adrenalina bombando no coração sem deixar de lado a solução dos mistérios deixados em aberto, as consequências de tudo que já aconteceu, diversas referências às histórias em quadrinhos e a conclusão dos arcos dos heróis mais queridos da atualidade. O único spoiler necessário é: prepare-se para uma montanha russa de emoções.

Difícil falar que um filme é perfeito, principalmente porque é impossível agradar uma legião de bilhões de fãs, então com certeza "Ultimato" não é livre de defeitos. Porém, essas falhas estão sobre camadas de personagens carismáticos e efeitos visuais grandiosos que viabilizam transcender esses pequenos detalhes em um filme titanicamente épico e imensamente satisfatório.

Como lidar com a perda?

“Ultimato” prometia ser a complexa conclusão histórica da última década em que investimos emocionalmente em super-heróis e entrega exatamente o que prometeu. O filme começa relembrando as consequências do estalo que Thanos deu usando a Manopla do Infinito, em uma sequência que poderia ser apenas mais uma “cena pós-crédito”, mas que dá o tom exato para o longa: mostrar como cada personagem lidou com as perdas e como seguir em frente depois de algo tão avassalador. Metade do universo se foi e cabe aos Vingadores resolver o problema.

Diversas teorias foram formuladas pelos fãs, expectativas altas, trailers que mostram apenas os 20 minutos iniciais, e novamente os irmãos Russo conseguiram provar que nada é tão óbvio quanto parece. O cuidado com a narrativa é uma forma de agradecer aos fãs que passaram os últimos 11 anos acompanhando essa história, além de aproveitar para inserir momentos icônicos dos quadrinhos da forma mais inusitada possível. É extremamente emocionante e as lágrimas vão se mostrar diversas vezes, tanto de alegria quanto de tristeza.

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Assim como “Guerra Infinita” e “Guerra Civil”, “Ultimato” é dirigido por Joe e Anthony Russo, com roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely. A trama é bastante intrincada, tornando-se ainda mais complexa ao decorrer do filme. Raros são os momentos em que é óbvio como a situação será resolvida ou se ao menos será resolvida. A sensação de que tudo pode acabar dando errado é constante, suspendendo a crença de que o filme está ali para concluir com um final feliz, pois talvez nem seja tão feliz assim. Porém, é extremamente impressionante e satisfatório.

Embora o filme inclua muitos personagens “menos relevantes” da Marvel, como Rocket, Homem-Formiga, Máquina de Combate… “Ultimato” foca muito nos Vingadores originais. Além da batalha final contra Thanos, temos Homem de Ferro, Capitão América, Viúva Negra, Thor, Hulk e Gavião Arqueiro em arcos de história pessoais com ricas narrativas, adicionando ainda mais emoção e sentimentalismo para um filme que já seria robusto o suficiente sem isso.

No decorrer do filme, cada um desses personagens passa por uma jornada transformadora, nem todos para melhor. Alguns lidaram bem com os problemas, outros se voltaram para os lados mais sombrios do ser humano, mas após mais de uma década acompanhando esses heróis, é muito gratificante e emocionante ver tudo isso acontecer. Infelizmente não poderei tratar com mais profundidade desse assunto para evitar spoilers, mas basta dizer que vale muito a pena.

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Grande parte desse sucesso deve-se aos atores que encarnaram totalmente seus papéis, e em “Ultimato” eles entregaram a melhor performance de todas. Robert Downey Jr., Chris Evans, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth e Jeremy Renner brilham sem esforço. Vale mencionar também Karen Gillan como Nebulosa, Josh Brolin como Thanos e Paul Rudd como Homem-Formiga, que dão um show a parte. É de se esperar que nem todos os personagens tenham o tempo de tela merecido, mas basta lembrar que a Marvel tem planos para mais séries e filmes com os personagens que aparecem pouco, então nada aqui é feito sem propósito.

Custe o que custar

Se a ambiciosa narrativa de “Ultimato” é o que torna o filme tão impactante, é também responsável por alguns tropeços. Há momentos em que a trama se resolve de forma muito conveniente ou com poucas explicações em comparação com o resto da história, mas tudo é facilmente relevado. “Ultimato” é claramente focado nos fãs, todas as referências e lembranças dos filmes estão ali pelo simples propósito de recompensar quem adora esse tipo de filme. É fácil elencar os momentos mais emocionantes, as aparições de personagens tão queridos e momentos tão marcantes, mas será muito melhor ver do que apenas saber.

Nada disso seria possível sem a maestria técnica que o longa possui. Foi necessário um malabarismo para contar cinco ou seis histórias simultaneamente sem deixar todo mundo confuso, os irmãos Russo juntamente com os editores precisaram porcionar cada momento para sempre ficar aquele sentimento de tensão no final de cada sequência, para culminar num climax de tirar o fôlego e arrancar lágrimas até mesmo dos espectadores mais frios e calculistas.

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A música de Alan Silvestri é parte do espetáculo, não apenas ampliado o caleidoscópio emocional do público, mas prestando respeitável homenagem a todos os outros compositores dos filmes do Universo Marvel. Os efeitos visuais, de transformações físicas até recriações digitais, são incríveis e servem para enaltecer ainda mais a narrativa e a experiência de Ultimato como um todo.

Avante Vingadores!

Após 11 anos e 21 filmes, “Vingadores: Ultimato” é muito mais que apenas um filme. É uma experiência pessoal. Funciona como um filme individual, mas com certeza é o ápice de uma construção cinematográfica colossal, a peça final de um quebra cabeça gigantesco em que todos nós colocamos uma peça.

A tradicional cena pós-crédito não foi incluída, marcando assim um futuro misterioso (se desconsiderarmos o calendário de produções da Marvel), mas pela constante evolução das histórias, as dicas deixadas no filme e o inevitável sentimento de "quero mais", podemos esperar produções diversificadas e cada vez melhores.

Desnecessário dizer que assistir um filme desse porte no cinema é mais do que aconselhável, é praticamente obrigatório. Esse é o final da Fase 3 da Marvel  (ou talvez seja “Homem-Aranha Longe de Casa?”), que agora possui o direito dos personagens da Fox, então patamares ainda maiores nos esperam no futuro desse incrível universo, e estaremos lá!

Crítica do filme Mal Nosso | Ora pro nobis

Considero qualquer cineasta brasileiro que se aventure a realizar um filme de terror na terra da “zorra total” um verdadeiro herói. Longe estão os dias de Zé do Caixão e sua trupe de amaldiçoados que conseguiam fazer o público olhar para os seus filmes mais pelo espetáculo do que pela produção em si.

Fazer terror no Brasil é muito fácil, pena que o mesmo não se aplica no cinema, e não faço aqui nenhuma critica as produções nacionais do gênero — que vem ganhando cada vez mais qualidade —, me refiro aqui ao mercado, e mais especificamente ao espectador, que parece não comprar a ideia. Mal Nosso, do diretor Samuel Galli, é um bom exemplo do bom cinema de terror brasileiro. Com uma proposta inteligente e uma mistura de subgêneros, o filme é sólido e bem amarrado, e que mesmo arrancando elogios da crítica especializada dificilmente chegará ao grande público.

Galli, que estreia na direção, apresenta uma visão inventiva para o bom e velho terror sobrenatural. Com a benção do “George Romero” brasileiro, Rodrigo Aragão — os miolos por trás de Mangue Negro, Mar Negro e As Fábulas Negras —, Mal Nosso é inteligente e uma escolha certa para os fãs do gênero.

Mensageiro

Arthur (Ademir Esteves) contrata um matador para executar um serviço. Sem poder recorrer às páginas amarelas, o homem se aventura pelos becos escuros da internet até encontrar Charles (Ricardo Casella) um serial killer empreendedor — afinal se ele vai matar porque não faturar uma grana também.

A história que já se desenrola com elementos intrigantes ganha um novo elemento quando descobrimos que o serviço contratado apresenta um componente sobrenatural. Aparentemente, Arthur é uma espécie de médium e sua ligação com o mundo espíritos lhe trouxe uma revelação sobre a chegada de um demônio ao plano terrestre.

É interessante descobrir como o filme navega entre o suspense psicológico, o suspense policial — com algumas pitadas de slasher — e culmina em um terror sobrenatural de marca maior. A estrutura diferente confere ainda mais estranheza ao filme — apesar de atrapalhar um pouco o fluxo da narrativa. A divisão pouco usual dos arcos cria uma ruptura muito grande entre as histórias, fato que prejudica o ritmo, mas que não compromete o enredo.

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Pega do escudo e levanta-te em minha ajuda

O grande problema de Mal Nosso são suas limitações “técnico-orçamentáis”. Fazer cinema no Brasil já é difícil, quando falamos de cinema independente as coisas ficam ainda mais laboriosas, mas se o assunto é cinema nacional independente de terror…

Samuel Galli faz uma bela estreia na direção. Apostando em um roteiro que mistura narrativas, quebra a linearidade e atravessa diferentes subgêneros do terror e suspense, Galli entrega um filme que realmente prende a atenção. 

A mudança de gêneros afeta o tom do filme, o que é interessante, mas mal executado. Nada que afete o filme como um todo, mas é algo que evidencia o fato deste ser o primeiro filme de Galli, que parece ter ainda muito mais talento para nos mostrar.

Crítica do filme Cópias - De Volta à Vida | John Wick perde a família e a moral!

Você já parou pra pensar que se não fosse a ciência a humanidade estaria fadada a uma expectativa de vida ridiculamente baixa? Sem os avanços da medicina talvez muita gente não chegaria nem aos 20 anos, afinal estaríamos a mercê de qualquer ameaça ao nosso frágil organismo. Assim, podemos dizer que o ser humano sempre deu o clássico “jeitinho” de trapacear a morte e prolongar seus dias na Terra.

Todavia, em nome de um código moral aleatório que segue os preceitos da bíblia (???), muitos avanços recentes foram freados para evitar que o ser humano pudesse “brincar de deus”. É o caso das pesquisas com células-tronco e das experiências com clonagem, que são alvo de críticas, mesmo que essas ideias pudessem salvar incontáveis vidas através de curas para doenças incuráveis.

É claro que as notícias que chegam até a gente podem não revelar toda a verdade e sempre pode ter algo acontecendo por debaixo dos panos, mas via de regra muita coisa leva décadas para acontecer de fato. Felizmente, nos filmes a coisa é bem diferente, sendo que podemos ter ficções que mostram as possibilidades de um mundo com esse tipo de avanço.

Esta é a base de “Cópias - De Volta à Vida”: um mundo com ciência avançada o suficiente para termos a possibilidade de transferir a consciência humana para robôs e também para testar uma biomedicina que desafia as leis da natureza. No centro da história, acompanhamos o neurocientista William (Keanu Reeves), que busca usar a tecnologia de sua companhia para recuperar sua família que morreu num acidente.

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A ideia não é nova, mas roteiros desse tipo costumam ter potencial. Ocorre que os resultados são desastrosos como experimentos com cobaias em um laboratório de baixo orçamento. O script preguiçoso não dá argumentos sólidos, o que abre espaço para inúmeros furos. Além disso, há diversas questões técnicas e de atuação que fazem o filme apresentar vários bugs.

Seria Keanu Reeves o novo Nicolas Cage?

Quem acompanha a carreira de Keanu Reeves sabe que o ator já teve altos e baixos, sendo que sua ficha tem títulos bem questionáveis, incluindo aí “Bata Antes de Entrar”, “47 Ronins” e “O Dia em que a Terra parou” (e isso só pra citar alguns), mas há também filmes marcantes como o icônico “Matrix”, “A Casa do Lago” e o recente “De Volta ao Jogo” (mais conhecido como John Wick para os íntimos).

Assim, com esses marcos, principalmente o mais recente “John Wick: Um Novo Dia para Matar” (e já temos o terceiro episódio, “Parabellum” quase saindo do forno), os fãs de Neo ficam ansioso a cada nova aventura do ator. Daí o porquê de haver algum burburinho para “Cópias - De Volta à Vida”, porém eu já deixo o alerta para baixar as expectativas se você é fã do gênero, porque não temos nada no nível de “Eu, Robô”.

Bom, realmente temos Keanu Reeves no filme, mas o ponto é que ele não é um ator incrível para filmes emocionantes e convenhamos que só pela sinopse já dá pra ver que não é algo fácil perder a família, já que isso realmente causa uma carga emocional. Todavia, assim como John Wick não ficou triste pela perda do cachorro (vamos dizer que ele ficou bem puto), ele também parece não ter emoções ao perder a família.

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Reeves mostra que é incrível em ser um robô, um ser tão superior que quase não consegue cair em prantos após uma tragédia. Talvez o objetivo do cara é competir com Nicolas Cage no jogo do sério... O roteiro mostra talvez uma única cena de choro e o cara fica de cabeça baixa porque ele deve ter vindo mesmo da Matrix, aí não sabe como expressar suas emoções. E é importante bater nessa tecla, pois ele leva o filme quase que sozinho, então é difícil não ficar incomodado com essa indiferença.

História inusitada que vira piada

Apesar da atuação fraca do protagonista, o filme “Cópias - De Volta à Vida” (aliás, esse subtítulo dá a impressão de uma continuação de “De Volta ao Jogo”, não?), talvez o maior problema aqui é justamente a sucessão de decisões inconsequentes do roteiro. É tanta coisa simplesmente jogada no script, que é perfeitamente normal a plateia começar a se questionar como alguém aprovou a verba pra fazer o filme.

E você pode estar achando que eu sou chato ou extou exagerando, mas eu não consigo aceitar o fato de os roteiristas empurrarem por goela abaixo uma indústria bilionária que não tem a mínima segurança para detectar roubos de equipamentos milionários (e isso só pra citar um único fato que joga os argumentos frágeis pelo ralo). Ok, o fator ficção tem lá seu valor, mas é tudo tão fácil que também fica difícil aceitar numa boa.

Aliado a esses fatos temos uma direção bem meia boca, que não faz questão nem de nos convencer nos principais atos. Ela funciona para uma ou outra cena mais básica, mas a gente espera algo bem mais grandioso para uma ficção que quer lidar com robótica e um futuro incrível.

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Fecha com chave de ouro os efeitos lá dos anos 2000, com robôs rudimentares e interfaces virtuais que já vimos similares em filmes como “Minority Report”. De novo, não é terrível, mas a somatória das mancadas deixa o resultado aquém do esperado, que é melhor esperar pra ver na Tela Quente ou na Netflix.

Talvez a única parte legal do filme é a abertura para o diálogo sobre essas tecnologias e os avanços da ciência. Enfim, eu queria dizer que “Cópias - De Volta à Vida” está entre os melhores, mas hoje é um grande não!