50 Cent - Café com Filme

Crítica do filme Café Society | Saboroso, mas um tanto morno

Se o novo filme de Woody Allen fosse um café, talvez ele pudesse ser avaliado como um grão proveniente de um bom produtor, com uma boa torra, de sabor encorpado e com notas de intensidade, porém nem de longe a melhor saca desta safra. Prepare seu cafezinho e vem comigo pra saber porque achamos isso!

Café Society” foi bastante esperado pelos românticos de plantão e pelos fãs incondicionais deste diretor que já se tornou um dos ~clássicos contemporâneos.

Com um casting bastante inovador para um romance do cineasta, o longa-metragem se passa na década de 30 e faz referência à época de ouro de Hollywood e da indústria cinematográfica, durante um tempo em que os círculos sociais das celebridades famosas pelos filmes eram celebradíssimos. Nessa época, a alta sociedade que se formou a partir disso e os novos ricos que se reuniam para beber e curtir ficou conhecia como Café Society.

Três cubos de açúcar

A trama do longa-metragem gira em torno do jovem nova-iorquino do Bronx Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg), que vive em uma família de trabalhadores e se muda para Hollywood, em Los Angeles, para buscar novos rumos e crescimento pessoal.

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Na cidade das estrelas, ele é orientado a procurar pelo tio, Phil Stern (Steve Carrel), um conhecido agente de grandes celebridades locais. Acontece que Phil é extremamente ocupado e não dá muita atenção ao sobrinho e pede que uma secretária acompanhe o novo californiano a conhecer os encantos de Los Angeles.

Certamente, o ingênuo Bobby se encanta com muito mais do que com a cidade. O que chama a sua atenção é Veronica (Vonnie), papel de Kristen Stewart. Inteligente, decidida e livre das alienações típicas das meninas de Hollywood, ela vira a cabeça de Bobby de cabeça pra baixo, dando início a uma série de encontros e desencontros que trazem a clara assinatura de Woody Allen – que, além da direção, é responsável pelo roteiro.

Qualquer café é melhor com um bom papo

O plot de “Café Society” não tem nada de grandioso ou mirabolante, mas é certeiro e vai direto ao ponto, como vários outros longas do diretor. Com o pretexto de contar a história de Bobby, Vonnie e Phil, o filme na verdade retrata toda uma época e todo um contexto em que a alta sociedade passa a se organizar em torno do cinema.

É um verdadeiro retrato do universo das fofocas e maracutaias hollywoodianas. 

Assim, é no talento para transformar o plano de fundo e no questionamento da superficialidade de toda uma geração que se concentra Woody Allen neste filme. E o grande tempero para isso são os diálogos, nos quais o diretor e roteirista é um grande mestre.

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Sem incríveis reviravoltas – já que o narrador conduz o público, que é onisciente e sabe o tempo todo o que está acontecendo, diferente dos protagonistas –, o filme consegue nos manter curiosos, intrigados e interessados durante todo o tempo, com diálogos extremamente divertidos e com aquela pitada de humor ácido clássica do diretor.

Encorpado e bem apresentado

Mas nem só de texto se faz “Café Society”. Além de um bom roteiro e dos diálogos bem-feitos, os personagens são, na sua maioria, bem construídos e consistentes. E não apenas os protagonistas. A produção traz atores coadjuvantes muito bons em personagens interessantes, com suas próprias histórias paralelas, mas sempre relacionadas ao centro da narrativa.

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Assim, o filme é muito bem dirigido, com todo o esmero típico de um diretor consagrado como Woody Allen. Para tanto, alguns fatores contribuem demais com o andamento da trama. A narração, marca registrada do diretor, está presente em “Café Society”, assim como uma primorosa e certeira trilha sonora.

Assinadas majoritariamente por Vince Giordano – que já marcou presença em produções aclamadas como o longa Carol e as séries Boardwalk Empire e Mildred Pierce, todas histórias da mesma época – as canções dão o tom da trajetória percorrida pelos protagonistas e ajuda a marcar a linha do tempo do filme.

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Destaque também para a caracterização dos personagens e para o figurino. Além dos cenários montados com cuidado, das locações belíssimas e da fotografia superbonita, os trajes são adequados e lindos, com toda a atenção necessária a detalhes como os acessórios.

Curiosidade: você sabia que o Woody Allen na verdade se chama Allan Stewart Königsberg?

Por falar em cuidados e preciosismo, vale mencionar o quão bem construída é a estrutura narrativa, que segue um padrão diferente, com entradas de tomadas que quebram a linha do tempo, circulando entre memórias, tempos futuros e cenas que “explicam” detalhes sobre a trama de uma forma descontraída e que descontínua muito interessante, que reserva algumas surpresas.

Quando analisado isoladamente, cada aspecto do filme “Café Society” consegue ser altamente premiável. No conjunto, no entanto, o filme é interessante, distrai e flui bem, mas não traz nada de muito diferente ou extraordinário: é mais uma história de amor ou de amores, com um pano de fundo legal. Mas claro, um prato cheio (ou uma xícara cheia – tu-dum-tssss) se você é um romântico de carteirinha ou se é fã de retratos de época, e também se aprecia um filme bem construído tecnicamente.

Crítica do filme Música, Amigos e Festa | Em busca da batida da vida

Filmes sobre as loucas aventuras da juventude moderna viraram terreno comum nos últimos anos. Com foco em bagunças inusitadas, embaladas por muita música eletrônica, esses títulos conquistaram o público que adora eventos badalados.

Pensando nisso, muitas produtoras e diretores apostam suas fichas em filmes que usam do espaço audiovisual para mostrar que a vida tem roteiros prontos que são recheados de diversão, gente bonita, bebidas e confusões.

O próprio título de "Música, Amigos & Festa" revela a proposta nessa linha. Estrelado por Zac Efron, o longa-metragem fala sobre o que é necessário fazer na vida para encontrar a própria voz, o próprio estilo, um rumo — e de preferência no ramo da música eletrônica.

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No mundo da música eletrônica e da noite de Hollywood, Cole (Efron) é um aspirante a DJ de 23 anos que passa os dias confabulando com os amigos e as noites trabalhando na batida que vai incendiar o mundo. Tudo muda quando ele encontra James (Wes Bentley), um DJ mais experiente, que topa ensinar a Cole o caminho, mas nem tudo vai ser tão simples.

Levando a galera à loucura

Tirando obras que falam especificamente sobre algum artista ou uma determinada vertente da música eletrônica — característica até mais comum em documentários — a abordagem dos sons de sintetizadores como elemento substancial para um roteiro é pouco comum em filmes. A ousadia nesse ponto é fundamental para construir aqui um filme um pouco diferente.

É claro que o bonitão Zac Efron não é um DJ gabaritado e o propósito aqui nem é dar um curso completo sobre música eletrônica, mas alguns conceitos apresentados para nortear a plateia sobre como funciona o desenvolvimento desse tipo de som acaba sendo bem interessante para levar um conteúdo mais interessante ao público.

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Nem tudo que é falado é tão simples e tampouco o filme dá conta de falar sobre os tantos ritmos que preenchem esse vasto mundo chamado música eletrônica. Contudo, a tentativa é válida e o filme consegue ter uma sintonia interessante entre tutoriais básicos, o processo de criação e a hora de agitar a galera.

Uma coisa curiosa é que, diferente de outros filmes sobre zoeiras com a galera, o longa “Música, Amigos e Festa” acaba tendo um propósito mais claro para tanta festança e diversão, uma vez que DJs realmente têm suas vidas cercadas por eventos, gente bonita, bebidas e todo o tipo de clichês que você pode imaginar.

Apesar desses diferenciais bacana, assim como o título no Brasil sugere, a execução de “Música, Amigos e Festa” se apoia sobre trivialidades. O dia a dia do DJ Cole e sua carreira, em fase bem inicial, é o ponto de partida, sendo que seus relacionamentos com os amigos e garotas permeiam o avanço da trama e também do sucesso do cara neste meio.

Nada além do óbvio

Na parte visual, “Música, Amigos e Festa” acerta em todos os pontos, já que é uma obra que aborda apenas pessoas comuns, vestidas com roupas simples e em cenários bem habituais. Tirando algumas cenas em ambientes abertos com muita gente, as cenas são bem básicas, mas bem executada.

O uso de câmeras lentas e efeitos especiais são recorrentes, acentuando a empolgação da galera nas festas, as cenas românticas e também as aulas básicas de música eletrônica do DJ Cole. A edição do filme é caprichada e não deixa a desejar em momento algum.

Curiosamente, apesar de ser um filme sobre produção musical, o espectador não deve ter nada de original na parte de trilha sonora. A seleção dos sons é muito boa, com faixas que embalam o roteiro de forma competente. Não tem como dizer que não combina as cenas com os sons, porém não há nada de genial aqui, já que é um filme que se apoia nas músicas.

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É claro que toda a construção de um título desse naipe com Zac Efron no papel principal e a bela atriz Emily Ratajkowski como par romântico só poderia ser permeada por um mundo que só existe em Hollywood. O filme é sim uma grande alusão ao suposto mundo dos DJs, o que deixa a trama um tanto quanto superficial, mas não dava para esperar outra coisa.

Por outro lado, a obra não deixa de mostrar as dificuldades na construção de uma carreira, aqui focada na questão da musicalidade, mas poderia ser qualquer outro ramo, já que a mensagem do filme fica bem clara. A amizade também é um ponto muito explorado no filme, o que dá uma pausa para o romance e o trabalho. Enfim, filme bem vodka com açúcar, mas uma pedida perfeita para quem adora música, festas e amigos.

Pânico ao Anoitecer | Trailer oficial e sinopse

Baseado em fatos, "Pânico ao Anoitecer" conta a história de um assassino em série que, em 1946, apavorou a cidade de Texarkana, na divisa entre o Texas e o Arkansas. Os casos de violência chocaram a cidade que temia o pôr do sol. Neste cenário de medo, um Texas Ranger caça o criminoso conhecido apenas como Fantasma, apelido usado por conta do capuz branco que ele usava para aterrorizar os moradores da pequena cidade.

Crítica do filme O Homem nas Trevas | Prenda a respiração ou morra

O Homem nas Trevas” é uma surpresa bem agradável para os fãs de terror. Apesar do título cafona (no original é Don’t Breathe, muito mais condizente com o filme), não espere nada sobrenatural. Somos apresentados a uma realidade pesada e dura, e em determinado ponto do filme, quase pós-apocalíptica.

O responsável por esse thriller de tirar o fôlego é Fede Alvarez, diretor que conquistou o público com o remake brutal "A Morte do Demônio" (Evil Dead, no original). Mas ao contrário desse, a violência se sustenta em um roteiro instigante, e que deixando alguns pequenos furos de lado é bem convincente, mas obviamente tudo é para criar a ambientação necessária para a história ser desenvolvida.

Tentarei não dar nenhum spoiler nessa crítica, pois metade da graça está nos eventos que ocorrem dentro da casa do Homem Cego. Mas adianto que durante o filme a tensão é constante e crescente, sem alívio cômico e repleto de momentos totalmente desesperadores.

Respire fundo

A premissa do filme é bastante simples, mas é visível o cunho social por trás de todos os eventos. Na cidade de Detroit, Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto), levam a vida invadindo casas de pessoas mais afortunadas.

Alex é o responsável por desativar os sistemas de segurança, e essa é uma tarefa fácil pois seu pai trabalha com proteção domiciliar e tem acesso a todas as chaves das casas. Então vemos os três amigos invadindo e pegando objetos de valor para revender, mas como não é muito fácil vender itens roubados de grande valor nas ruas, eles precisam de uma nova estratégia.

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Rocky é uma delinquente adolescente que vive com os pais negligentes, ela promete a sua irmã mais nova que vai se mudar para outra cidade e levá-la junto. Buscando a quantidade certa de dinheiro para fugir, seu namorado, Money, convence-a a invadir a casa de um homem cego, que supostamente tem um cofre no porão, para um último golpe que vai mudar a vida de todos.

Alex é contra roubar dinheiro, mas aceita participar porque é apaixonado por Rocky, e essa é a motivação mais fraca do filme. Logo nos primeiros momentos dentro da casa, eles descobrem que o cego não é tão impotente quanto parece, e a tensão começa e não para até o fim do filme.

Quando as luzes se apagam, somos todos iguais

A casa é bem característica de filmes de terror, com madeira rangendo e cheia de perigos em potencial, além de ser localizada em um bairro abandonado e bem afastado da civilização, dando um aspecto pós-apocaliptico que corrobora com a tensão e as chances de alguém intervir são nulas.

É interessante notar também que esse é um filme de terror sem uma bússola moral, pois os protagonistas estão longe de serem heróis, apesar de receberem um castigo muito mais cruel do que mereciam. E o vilão não é necessariamente mau, apesar de suas ações parecerem realmente inhumanas.

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Os diálogos são quase inexistentes na maior parte do filme, e quando algo é finalmente dito, serve apenas para te deixar mais aterrorizado, o que é bem interessante. Novamente, vou omitir os detalhes para evitar os spoilers, mas Stephen Lang fez um excelente trabalho como O Homem Cego, assim como Jane Levy, a única que realmente parece ter motivações reais para estar ali.

Os sons, ou a ausência de ruídos, são praticamente um personagem a parte dentro da trama, e o título Don’t Breathe (Não Respire) se justifica em diversos momentos chave. Os momentos de silêncio são tensos e a expectativa por um susto é grande, e mesmo esses elementos óbvios de filmes desse gênero são usados de uma forma bem interessante.

Por fim, “O Homem nas Trevas” é menos sustos e mais suspense, com um subtexto de cunho social e uma analogia bem descarada de justiça cega, uma aposta bem interessante dentro das ondas de remakes e sequências que invadem os cinemas nos últimos tempos.

Crítica do filme A Conexão Francesa | Justiça incisiva num filme realista

A cada obra europeia que chega aqui, temos mais uma oportunidade de admirar um cinema feito com paixão, muito mais real e ligado a grandes histórias. Não é por acaso que, de uns tempos para cá, esses filmes figuram em tantas premiações.

Este é também o caso de “A Conexão Francesa”, filme dirigido por Cédric Jimenez e com Jean Dujardin (ganhador do Oscar por sua interpretação em “O Artista”) no papel principal.

A história de “A Conexão Francesa” é baseada em fatos, os quais acompanham a chegada do juiz Pierre Michel (Dujardin) em Marselha, onde ele foi encarregado de desmembrar uma articulada quadrilha de traficantes.

O grupo de criminosos é comandado por Gartan Zampa (Gilles Lellouche), o qual expandiu os negócios para fora da cidade e faz transações até mesmo com italianos que comandam as vendas nos Estados Unidos. Com tal amplitude de atuação, esse esquema ficou conhecido como a Conexão Francesa, sendo este o principal alvo, pelo qual o juiz Michel ficou obcecado.

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Com forte dose de ação, adrenalina constante e uma trama recheada de reviravoltas, “A Conexão Francesa” não apenas consegue ser fiel à realidade com um roteiro bem complexo, como também nos entrega uma retratação dos fatos com alto nível de qualidade na execução. É um filme que mostra a ousadia do cinema francês e deixa a plateia intrigada.

Tramoia de dar nó na cabeça

A sinopse de “A Conexão Francesa” é bastante inteligível, já que ressalta apenas a importância de dois personagens na história. Todavia, a longa época de violência que serve de base para o roteiro teve uma gangue de grandes criminosos, os quais são transportados juntos para a telona, com o objetivo claro de ressaltar o excelente trabalho do juiz, bem como o poder de Zampa.

Como você deve imaginar, como em qualquer círculo de transgressores, a corja que obedece ao rei do crime não se restringe apenas aos bandidos e foras da lei que trabalham no tráfico. A história aqui aborda a influência no comando da polícia, nos grandes estabelecimentos, nas ruas, na política e por aí vai. O longa retrata justamente essas conversas e relações em todos os âmbitos.

As minúcias exigem uma boa dose de atenção, ainda mais que a trama usa de artimanhas para esconder o jogo 

O espectador é levado a acompanhar a história dos dois lados, observando tanto a investigação de Michel quanto as sujeiras de Zampa. Acontece que são muitos nomes e atividades em paralelo, o que acaba começando a confundir a plateia. A similaridade entre personagens, bem como o uso de apelidos (usados no crime) e nomes (referenciados pela justiça) também deixa o desenrolar um bocadinho complexo.

Veja bem, a história de “A Conexão Frances” não tem falhas, mas as minúcias acabam exigindo uma boa dose de atenção. Felizmente, a trama usa de artimanhas para esconder o jogo, de modo que algumas surpresas sempre ficam no cano do revólver, só esperando para pegar o público de surpresa. O roteiro segue de maneira intensa, com reviravoltas que nos deixam boquiabertos com a violência e o tamanho do círculo criminoso.

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A veracidade dos fatos também chama a atenção, já que, segundo a reportagem do site Short List, o filme foi todo montado com a ajuda da filha de Zampa, a qual presenciou vários acontecimentos de camarote. A familiaridade do diretor Cédric Jimenez com sua cidade natal também é um fator que ajudou, já que ele cresceu nessas ruas e acompanhou as histórias na televisão.

Bang-bang à la francesa

A produção do filme “A Conexão Francesa” é algo que chama a atenção. O filme é livre de firulas, indo sempre direto ao ponto. A primeira cena já mostra o ritmo, com um tiroteio em plena luz do dia e uma violência retratada de perto, o que incrementa a realidade pretendida e choca a plateia com as ações dos criminosos.

A direção acerta nesse ponto, pois a câmera sempre está ali para mostrar a brutalidade de perto. Outra coisa importante é que não tem nada de quadros estáticos aqui, já que o diretor acompanha os personagens para todo lado. A movimentação ajuda a passar a sensação de tensão e, ao contrário do que vemos em outros títulos de ação, não impede de entender toda a circulação nos campos de combate.

A violência retratada de perto incrementa a realidade e choca a plateia com as ações dos criminosos

Uma característica importante é que o filme não fica de floreios com efeitos especiais, então não espere câmeras lentas ou balas voando perto das lentes. Isso é perfeitamente cabível para um filme datado, já que seria difícil conciliar a modernidade desses recursos com a época da trama. Aliás, falando nisso, a construção de cenários e cenas é caprichada, de modo que somos transportados para o passado com detalhes.

A fotografia colabora ao colocar o espectador no meio da trama. As belas paisagens da França garantem um charme para os confrontos entre a lei e o crime. Já os ambientes internos são adequados tanto para retratar residências da época quanto para enaltecer o luxo de Zampa – em locais que destoam de forma gritante do restante.

O trabalho na trilha, na edição e na mixagem de som se mostra coerente com a proposta, ao colocar  canções francesas da época para embalar as cenas e sons realistas que casam com as imagens. O resultado é excelente, com barulhos de tiros convincentes e uma combinação ótima entre diálogos e música de fundo. Destaque para “This Bitter Earth”, que entrega uma sequência emocionante.

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No meio de tudo isso, temos um elenco competente que entrega ótima performance. Os holofotes ficam, claro, sobre Dujardin, que se mostra eloquente e articulado ao encarar toda a bandidagem, a ponto de colocar sua família em risco, e Lellouche, ator que transpassa medo e respeito para a telona. O restante do elenco complementa bem, em diálogos persuasivos e que agregam à história.

O conjunto da obra é excelente, de modo que somos convencidos dos perigos da época e do heroísmo de um homem que teve a coragem de encarar o rei do crime de Marselha. “A Conexão Francesa” é um filme dramático, intenso e elegante. Uma excelente pedida para conhecer mais uma obra francesa e um pouco de história.

Projeto Cinema no Rio visita 10 cidades e homenageia Guimarães Rosa

Com o sucesso da novela Velho Chico, bombando no horário nobre, o rio da integração nacional ganha evidência e chama a atenção para a cultura, tradições e para o modo de vida do povo ribeirinho. 

É nesse contexto que o projeto Cinema no Rio São Francisco 2016 chega à sua 11ª edição, homenageando um dos escritores mais emblemáticos da literatura em língua portuguesa, Guimarães Rosa, pelos 60 anos da primeira edição do livro Grandes Sertões Veredas. Rosa, a novela e o projeto Cinema no Rio São Francisco têm muito em comum, e isto faz desta versão do projeto de difusão da cultura do Vale e de exibição de filmes, uma das mais especiais já realizadas. 

O Cinema no Rio 2016 já tem data marcada e vai percorrer 10 cidades do trecho mineiro do rio, entre os dias 25 de agosto e 4 de setembro. A exemplo do que ocorreu no ano passado, o trajeto será feito por terra, por conta das atuais limitações de navegabilidade do Velho Chico, no trecho entre as cidades de Manga e Pirapora. 

Ao contrário dos outros anos, a caravana vai subir, ao invés de descer o rio, partindo da fronteira de Minas com a Bahia em direção à sua nascente. Nesta etapa, o Cinema no Rio vai passar pelas localidades de Manga, Matias Cardoso, Itacarambi, Januária, Pedras de Maria da Cruz, São Francisco, São Romão, Ponto Chique, Ibiaí e Pirapora.

Serão exibidos nove filmes, sem contar os documentários produzidos em cada uma das cidades por onde passa o projeto. Na 11ª edição do Cinema no Rio, estão em cartaz:

A Luneta do Tempo” (Alceu Valença)

“O Bem Amado” (Guel Arraes)

“O Ultimo Cine Drive-In (Ibere Carvalho)

“5 X Chico” (Gustavo Spolidoro, Ana Rieper, Camilo Cavalcante e Eduardo Goldstein)

“A mulher que mentia para vender santos” (Produzido pelos alunos do projeto Semiárido em Tela, Luiz Hernandes Azevedo, Maria Clara Vasconcelos, Miriam Cristina, Nara Riana Dantas, Nock Allan Lima e Antônio Eliel Santos)

“Canto de Misericórdia” (Marcela Bertelli, Inácio Neves e Henrique Mourão)

“Disque quilombola” (David Reeks)

“Meninos e reis” (Gabriela Romeu)

“Calango Lengo” (Fernando Miller)

O projeto entrou definitivamente na rotina das populações ribeirinhas do Alto São Francisco e já é parte integrante e aguardada do calendário de cultura e entretenimento das comunidades por onde passa anualmente. 

Grandes sertões

O Cinema no Rio São Francisco e o livro de Guimarães Rosa têm muito mais afinidades do que se possa supor: ambos são ambientados na região do alto São Francisco, embora em outras edições o projeto de exibição e realização de cinema tenha percorrido também o médio e o baixo São Francisco, chegando até a sua foz. 

Outro ponto em comum entre o Cinema no Rio e Grande Sertão Veredas é a forte presença da cultura regional, valorizada por meio da linguagem e formas de expressão, ou através dos personagens locais, retratados tanto no livro quanto nos documentários que são produzidos em cada localidade por onde passa o Cinema no Rio.

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Mas o objetivo primordial do projeto sempre foi levar o encanto do cinema para a população ribeirinha do Velho Chico. “Pela segunda vez, somos obrigados a fazer todo o trajeto por terra, em uma adaptação forçada à grande seca do rio que, de tão baixo, não permitia a navegação. Agora, voltamos a percorrer o trajeto por terra, torcendo pela recuperação do Velho Chico e pela sua normalização”, adiantou o idealizador e coordenador geral do Cinema no Rio São Francisco, Inácio Ribeiro Neves. 

“A proposta do projeto é a democratização do acesso à cultura por meio da exibição de curtas e longas-metragens nacionais em comunidades que vivem a beira do rio da integração nacional”, define Inácio Neves. Desde 2004, mais de 300 mil pessoas assistiram às sessões de cinema ao ar livre, que reúnem crianças, jovens e adultos, incluindo muitos moradores que nunca haviam visto um filme na telona. 

“A proposta do projeto é a democratização do acesso à cultura por meio da exibição de curtas e longas-metragens nacionais em comunidades que vivem a beira do rio da integração nacional”

“Já realizamos 10 edições e vamos iniciar agora a décima primeira. Isto é um feito raro, só possível pela confiança dos parceiros e patrocinadores. Tenho orgulho de contar em todos esses anos, com o imprescindível patrocínio da Oi e Petrobras, que demonstram assim sua sensibilidade em relação à valorização da cultura ribeirinha e à sua inserção fora do Vale do São Francisco”, reconhece Inácio Neves.

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O projeto também busca denunciar a situação do Vale do São Francisco a partir dos documentários que produz e das atividades que realiza. O Cinema no Rio também busca valorizar as belezas locais e fazer com que mais pessoas se encantem pelo rio, chamando a atenção para a urgência da preservação do rio e de seus afluentes.

Além da exibição em praça pública de filmes em longa e curta metragem, com direito à tradicional pipoca, o projeto também produz e exibe um documentário em cada comunidade por onde passa, além de realizar oficinas de fotografia que buscam despertar um novo olhar sobre o ambiente e o cotidiano das crianças e adolescentes das escolas públicas, quem sabe, despertando futuras vocações. 

Confira as cidades participantes e a programação completa do Festival Cinema no Rio no site oficial do evento.