Crítica do filme Link Perdido | Ninguém quer viver sozinho

Indo na contramão dos grandes estúdios de animação e focando no trabalho duro, o estúdio Laika vem desenvolvendo incríveis produções há mais de dez anos, utilizando a consagrada técnica de stopmotion. Apesar de ser bem mais trabalhoso e demorado, é inegável que esteticamente o estilo é inigualável.

Link Perdido” é o quinto título do estúdio, uma comédia com tons de aventura sobre o explorador Sir Lionel Frost (Hugh Jackman), um excelente investigador de mitos e monstros. Porém, nenhum de seus colegas o leva a sério, barrando sua filiação ao clube de caçadores de lendas e desdenhando de seus feitos.

Para finalmente ser aceito, ele decide desafiar o presidente do clube e provar de uma vez por todas que o Elo Perdido entre o homem e o macaco existe, sendo conhecido por muitos nomes em mitologias diversas, entre eles Sasquatch.

Muita paciência e trabalho

Para quem se interessa pelos detalhes técnicos, “Link Perdido” demorou cerca de dois anos para ser produzido, em média apenas um segundo de animação por cada semana de trabalho. Vale a pena conferir o making of para entender como a animação foi desenvolvida e todo o carinho da equipe em criar um experiência única.

Infelizmente, apesar de ser o mais impressionante título do estúdio no sentido técnico, acaba pecando por falta de personalidade e ousadia narrativa, algo bem presente nos filmes anteriores do Laika. Pessoalmente eu não aguento mais filmes sobre abomináveis homens das neves e suas variáveis, então já fico com um Pé atrás quando sei que o filme aborda esse tema. Mas no caso de “Link Perdido”, só a animação já compensa seu tempo.

É visível que tanto o roteiro quanto os personagens foram simplificados para atingir um público mais infantil. Toda a graça do filme recai sobre o famigerado “Sr. Link” (Zach Galifianakis), tornando o protagonista Sir Lionel bem menos interessante do que os seus companheiros, além de ter um desenvolvimento bastante convencional.

Sr Link, é o famoso elo perdido entre os humanos e os primatas ancestrais. É interessante como ele quebra a ideia de “bicho estúpido”, mostrando-se sensível em diversas situações e raramente tomando decisões agressivas, além de entender tudo de forma literal.

A difícil tarefa de entender seu lugar no mundo

Entretanto, o roteiro assinado pelo diretor de animação de longa data do estúdio Laika, Chris Butler, se esforça para apresentar Sir Lionel e Sr. Link como dois lados da mesma moeda. De fato, há uma falsa equivalência no desejo de Sir Lionel de juntar-se ao clube Optimates de Londres, um grupo conservador que simboliza tudo de ruim da cultura Vitoriana, e a busca de Sr. Link por seus parentes distantes, os Yetis que vivem na mística Shangri-La, para que ele não precise permanecer sozinho. Ambos buscam a validação de seus semelhantes e o pertencimento, porém os motivos de cada um são totalmente distintos.

Os personagens secundários não chamam atenção, temos Adelina Fortnight (Zoe Saldana) que serve apenas como apoio emocional de Sir Lionel e gosta de mostrar que sabe se virar sozinha, mas constantemente precisa ser resgatada, nem sempre por sua culpa. Os antagonistas mal aparecem e são totalmente dispensáveis, representando a sociedade Vitoriana e servindo de chacota para o que há de pior nos britânicos.

Ainda assim, não há como negar que Link Perdido pode ser considerado o mais belo trabalho do estúdio Laika até hoje, lembrando que eles são responsáveis pelo magnífico “Kubo e as Cordas Mágicas”. A impressão é que Butler e seu time de animadores tentaram explorar visuais variados para demonstrar tudo que o estúdio pode alcançar. Vemos desde a Inglaterra Vitoriana até viagens tempestuosas pelo oceano e os montes gelados do Himalaia.

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O stop motion do estúdio nunca esteve mais fluído e expressivo, complementado com efeitos especiais de pós-produção, mesmo que haja uma busca pelo realismo ao invés de uma estilização maior nos designs, rostos e formas, com a possível exceção dos animais, que sempre tem uma cara bem engraçada.

Por outro lado, é mais fácil ficar frustrado pelo roteiro sem graça e desenvolvimento fraco dos personagens quando se considera todo o tempo, trabalho pesado e paixão que claramente foram colocados para que o filme fosse produzido, nada que torne a experiência ruim, mas vale salientar que o público alvo são as crianças mesmo.

Considerando todas as coisas, Link Perdido é o perfeito filme robusto reforçado por uma bela animação. Embora padeça da falta de profundidade emocional e temas mais ricos, os fãs certamente apreciarão o comprometimento do Laika em preencher seus filmes com personagens estranhos e igualmente bizarro no humor.

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Aqueles que se interessam são bastante encorajados a conferir na telona do cinema, onde é possível apreciar com detalhes esse universo criado com muito suor e amor. Afinal de contas, se o filme fizer sucesso, talvez mais dez anos de animações maneiras estejam por vir.

Critica do filme A Odisséia dos Tontos | Em União e Liberdade

Baseado no livro de Eduardo Sacheri, La Noche de la Usina, o diretor e roteirista Sebastian Borensztein apresenta em A Odisséia dos Tontos uma divertida história de um grupo de “perdedores” que luta por uma vitória contra o próprio sistema que os subjuga. Em tempos de crise política e econômica em toda a América Latina, a nova produção estrelada por Ricardo Darin — ator xodó do cinema hermano — aposta no poder terapêutico da história, ambientada na crise Argentina de 2001.

A trama simples e bem amarrada é elevada em todos os níveis pela direção inteligente de Borensztein. Explorando ao máximo o excelente elenco do filme, o diretor dá espaço suficiente para que Luis Brandoni, Daniel Aráoz, Carlos Belloso e até mesmo o filho de Darin, Chino — que também assina a produção da película junto com o pai — ditem o ritmo da película.

A Odisséia dos Tontos é mais uma ótima produção argentina e já desponta como pré-indicado ao Oscar 2020. Com um humor bem dosado e uma história incrivelmente atual e pertinente, o filme tem um carisma todo especial valendo cada minuto dos seus 116 minutos.

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Em uma cidadezinha nos cafundós da Argentina, um grupo de humildes moradores, liderados pelo casal Fermín Perlassi (Ricardo Darín) e Lidia (Verónica Llinás), decidem formar uma cooperativa para comprar e administrar um silo abandonado, reestabelecendo a economia local e gerando vários empregos na região. A utopia “anarquista” começa a se estruturar e um a um os moradores vão depositando a sua parte no negócio.

No entanto, mal sabem eles que o sonho está para se tornar em um grande pesadelo. Para facilitar a liberação do seu empréstimo, o grupo acaba depositando todo o dinheiro arrecadado no banco, mal sabiam eles que no dia seguinte o governo neoliberal de Fernando de la Rúa aplicaria o famoso “corralito”, congelando os depósitos dos poupadores e estabelecendo limites para a retirada de fundos — uma versão portenha do Plano Collor 1.

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Em tempo, o bando de perdedores acaba descobrindo que foram induzidos propositalmente a realizar esta operação financeira, para que outra pessoa, ciente do que estava por vir, pudesse tirar todo o dinheiro antes da medida econômica entrar em vigor. Furiosos com o esquema e desesperados para reaver suas economias, a cooperativa vai atrás do que lhes foi tirado, em uma vingança que traz justiça, não apenas para eles, mas para todos que já foram enganados pelo sistema.

É muito fácil se identificar com a trama do filme, não apenas pela proximidade geográfica dos eventos, mas pelo contexto histórico que teima em se repetir por toda a América Latina. Os tontos do filme são “pessoas reais”, aqueles tipos que encontramos em qualquer cidadezinha, ou melhor, qualquer bairro seja da Argentina ou do Brasil.

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Duas vezes Darin

Falar em cinema argentino contemporâneo é falar de Ricardo Darin, o “galancito” que chamou a atenção do mundo em Nove Rainhas, soma sucessos de crítica e público. Ano após ano o ator emplaca filmes sejam comédias, dramas ou policiais como O Segredo de Seus Olhos, Relatos Selvagens e Um Conto Chinês. Em A Odisséia dos Tontos não é diferente, o filme — mesmo em plena crise econômica (mais uma) — já é uma das maiores bilheterias portenhas do ano e pré-candidato argentino para o Oscar 2020. Além disso, o nome de Darin também aparece na produção e no sobrenome de outro coadjuvante da película, seu filho Chino com quem contracena pela primeira vez no cinema.

Mas o cinema argentino e A Odisséia dos Tontos não vive só de Darin, mesmo que sejam dois, o filme também traz um ótimo elenco de apoio com destaque para o trio formado pelo veterano Luis Brandoni na pele do borracheiro “anarquista” Antonio Fontana, o impagável Carlos Belloso e seu “Loco” Medina e Daniel Aráoz como Belaúnde, um peronista convicto.

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“Boludos”

De crise em crise a Argentina vem dançando seu tanto político há um bom tempo. O atual momento, de retorno peronista não poderia contextualizar melhor a obra de Borensztein, que diz muito sem falar alto, com um filme simples que explora o poder do grupo, da cooperativa, e brinca com o espírito Robin Hood do pequeno tirando do grande.

Como no brasão Argentino, em união e liberdade, o grupo de heróis sem grandes atributos se tornam maiores pela união de suas forças. O grupo de “idiotas” como eles próprios se intitulam, são capazes de forjar um plano que devolve a dignidade para todos que já se sentiram explorados pelo sistema.

A Odisséia dos Tontos cativa com seus heróis carismáticos e sua mensagem universal de vingança robin-hoodiana

Munido de uma ingenuidade quase que infantil, o filme de Borensztein equilibra comédia, drama e pitadas de crime no que é um ótimo “filme de assalto” (heist movie) à lá 11 Homens e um Segredo. Com uma história de pequenos contra gigantes, A Odisséia dos Tontos agrada todos os públicos e não ficaria surpreso se em breve Hollywood transportar a saga dos idiotas portenhos para o cenário estadunidense.

Crítica O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio | Diversidade que dá gosto!

Nas últimas décadas, o conceito de franquia cinematográfica ganhou proporções além do que podíamos imaginar – isso sem nem entrar no papo de universo compartilhado. A verdade é que inspirados em casos de sucesso, às vezes até de concorrentes, alguns estúdios tentar transformar algo que incialmente era planejado para uma aventura isolada em algo que possa ter diversos capítulos.

Às vezes, essa ideia não surge de imediato, mas, a cada intervalo de tempo, algumas franquias parecem ressurgir do esgoto para trazer um pouco mais de alegria para o público dinheiro aos produtores. Assim, nascem aberrações como o penúltimo capítulo de “O Exterminador do Futuro” (também conhecido como Gênesis), uma obra que o senhor James Cameron faz questão de não ter qualquer associação com seu nome.

O ponto é que existe uma nítida diferença entre franquias pensadas desde o começo para contar uma história e outras projetadas com base na reação do público. É o caso de “O Exterminador do Futuro”, que obviamente funcionava bem em seus dois primeiros episódios, mas que degringolou com o passar dos anos, devido a tantas reviravoltas não planejadas.

Com o passar dos anos, a adição de novos roteiristas acabou desvirtuando o propósito da franquia. Particularmente, eu não considero o terceiro e quarto título como obras inconcebíveis (e na verdade até simpatizo com a guinada no filme com Christian Bale), porém é claro que fica cada vez mais difícil voltar à essência. E aí é perfeitamente normal que o público tenha um certo receio com o anúncio de um novo capítulo.

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Afinal de contas, o que “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” pode ter de tão genial para valer a ida ao cinema? Bom, se você procura inovação ou genialidade como a dos primeiros filmes da saga, pode segurar seu cavalinho robótico aí, pois é claro que este filme não reinventa a máquina. Repleto de ideias repetidas e permeado por algumas inconsistências, o novo título não é algo único ou imperdível.

No entanto, o roteiro com um mínimo de coerência e a direção tradicional já evita um desgosto inicial. Além disso, a adição de algumas temáticas modernas, a diversidade de protagonistas e a ação na dosagem certa resultam numa obra que ao menos diverte e não agride nossa inteligência. Um filme que remete aos antigos e que ainda garante algumas risadas. Boa opção para curtir com pipoca.

O Exterminador tem uns furos

É natural que após tantos anos de invenções mirabolantes, uma franquia já desgastada tenha dificuldades em fazer sentido. Afinal, como é possível consertar o passado se ele já aconteceu e o mundo todo presenciou tais eventos? Não existe solução fácil, por isso “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” opta por ignorar quase tudo que acontece depois do segundo filme.

A boa notícia é que para quem nunca viu nada deste universo, o resumo inicial dá conta de apresentar personagens e fatos importantes. E aos fãs da saga que não sabem a partir de que ponto a nova história tem seu pontapé inicial, a introdução é a base para o desenvolvimento dos fatos que serão apresentados no decorrer das quase duas horas de projeção.

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Bom, repetição é algo inevitável nos filmes desta série, afinal todos têm o mesmo tipo de situação: humanos fugindo constantemente de um exterminador e pensando em formas de derrotá-lo. Não há como fugir da fórmula, então é normal que você veja diversas familiaridades nesta história. Então, a inovação fica exclusivamente por conta da ambientação proposta, que aqui foi muito bem acertada.

Diferente dos tantos episódios da saga, este novo capítulo aposta em levar a história para outro país: o México. Com isso, temos personagens latinos (mas sem o famoso “Hasta la vista”) e uma série de temas bem recentes. Algumas justificativas são pífias e o desenrolamento tem suas falhas, mas é tudo aceitável quando a gente vê que os caras estão se esforçando para honrar a saga e manter uma boa de entretenimento.

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Contudo, não importa o quanto o filme tente se justificar ou driblar inconsistências, é muito difícil uma obra que mexe com viagem no tempo conseguir criar algo coerente. Assim, o desenvolvimento de “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” tem seu destino sombrio: paradoxos temporais e brechas para novas linhas do tempo. Para quem sempre faz uma mínima reflexão, esse tipo de coisa pode incomodar um tanto.

Ele voltou, mas o futuro é feminino

Além da história genial e de jargões marcantes, o trunfo da franquia sempre foi os personagens caricatos e imponentes. Não é por acaso que até mesmo algumas continuações trouxeram versões alternativas do T-800 até mesmo parecendo um boneco de cera (com um modelo de Arnold Schwarzenegger todo digitalizado).

E parafraseando o filme me que o próprio robô falava “I’ll be back”, agora podemos ter a certeza de que ele não estava mentindo. O retorno deste exterminador clássico é um dos pontos altos do filme, porém ele não é nem de longe tão marcante quanto o trio protagonista. Na verdade, o personagem está aqui mais para fazer uma graça, bem como para dar suporte na história sem deixar tantos buracos.

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Até agora eu sequer tinha falado da história do filme, afinal esta é uma crítica sem spoilers, mas a sinopse não machuca e é importante agora. Em “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” acompanhamos Sarah Connor e Grace (uma nova personagem da história) tentando proteger uma jovem mexicana de um novo tipo de Exterminador.

Eis aí o nosso trio protagonista: Sarah Connor (Linda Hamilton) em toda sua glória de matadora de robôs – e ela está muito empoderada, num visual muito badass –, Grace (Mackenzie Davis), responsável por boa parte da ação frenética do filme, e Dani Ramos (Natalia Reyes), que tem sua importância revelado no decorrer da trama.

É muito legal que quase toda a trama é baseada nas três personagens, sendo que as duas mulheres brancas devem reconhecer a importância da protagonista latina. Isso mostra que um pouco de diversidade não faz mal e pode dar espaço para novos diálogos e abordagens. Talvez, o único problema é que a personagem mexicana fica muito de lado, como alguém frágil, mas isso até tem sua justificativa.

Sobre as atuações, temos um elenco competente, principalmente quando falamos desse trio e do novo Exterminador, que é interpretado por Gabriel Luna, outro ator latino que fica muito coerente na trama e tem expressões bem robóticas. A jovem Natalia Reyes se desenvolve bem, porém é perceptível as limitações da personagem, o que acaba dando a impressão de que a atriz não se sobressai como deveria.

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Em questões técnicas, “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” faz bonito, seja pela direção de Tim Miller (que a gente conhece de “Deadpool”), pelos efeitos visuais caprichados ou mesmo pela direção de arte que remete aos predecessores, mas que tem sua dose de inovação. Talvez a única crítica fique por conta dos trechos futuristas muito breves e pouco ousados.

Tudo se completa com a trilha que aposta no óbvio, então a dose de nostalgia é garantida. Novamente, longe de ser fantástico, mas também longe de ser um fracasso, o novo Exterminador é um filme que traz os ingredientes certos da franquia, que ousa pela temática do roteiro e que deve divertir em boa parte. Não espere muito, mas curta a ação e aproveite a pipoca!

Lista | Os filmes mais subversivos de Outubro

Ó grande Outubro da classe operária!
Erguem-se enfim os que viveram tanto tempo
Vergados ao jugo! Ó soldados, que haveis
Finalmente apontado as armas para o alvo certo!
Os que cultivaram a terra na Primavera
Não o faziam para si próprios. O Verão
Mais os vergou. A colheita ainda
Foi para os celeiros dos senhores. Mas o Outubro
Viu já o pão nas mãos certas!

Antes de ser rosa, o Outubro era VERMELHO. Apesar de ter começado em Fevereiro de 1917, foi em Outubro do mesmo ano que a A Grande Revolução Socialista Soviética pos fim ao domínio do tsar na Rússia, quebrando a hierarquia social exploradora vigente. Operários, soldados e camponeses, guiados pelos bolcheviques, tomaram o poder e deram início ao Estado dos Sovietes.

A Revolução de Outubro de fato abriu as portas para o período de recuperação graças a estrutura democrática garantida por  Vladimir Lenin. Entretanto a morte do líder bolchevique levou muito dos ideais revolucionários para a mesma cova e apesar de roper um ciclo histórico de abuso, tentando introduzir um processo mais igualitário, o Outubro Vermelho de 1917 não conseguiu concretizer o sonho utópico comunista, sendo que no final, quanto mais as coisas mudaram, mais elas continuaram iguais, apenas com novos chefes, iguais aos chefes antigos...

Para relembrar os subversivos da primeira revolução comunista marxista do século XX preparamos uma breve lista com alguns filmes vermelhos para corromper a mente da nossa juventude.

Crítica do filme Zumbilândia: Atire Duas Vezes | Morreu, mas passa bem

Retornando dos mortos tal qual os zumbis do título, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” é a continuação que ninguém esperava mas que é muito bem vinda. Desnecessário dizer que o filme é excelente, já que seu elenco conta com a cativante vencedora do Oscar Emma Stone ❤.

Zumbilândia” estreou em 2009, uma década em que zumbis ocupavam um espaço considerável na cultura pop. Então, depois de dez anos certamente os cadáveres já puderam se decompor e finalmente descansar, certo? Claro que não!

Quem assistiu o primeiro filme deve lembrar que Bill Murray era o único personagem que interpretava ele mesmo. Em “Atire Duas Vezes”, a justificativa do querido ator sobre a razão dos estúdios continuarem fazendo sequências de filmes antigos é muito simples: drogas custam dinheiro.

Regra #32: Aproveite as pequenas coisas da vida

Um dos maiores charmes de Zumbilândia é a utilização da metalinguagem e a ousadia em fazer piadas nas horas mais inapropriadas. Não por acaso, o diretor Ruben Fleischer assinou a direção do controverso “Venom”, e os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick foram os responsáveis pelo roteiro de “Deadpool”. Certamente eles trabalham com o que gostam, mas a eficiência de todos esses filmes pode ser resumida em pontos como baixo orçamento e quebra de expectativas.

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“Zumbilândia”, de 2009, era pautado nas regras de como sobreviver em um apocalipse zumbi. Desenvolvidas pelo protagonista e narrador Columbus (Jesse Einsenberg), as regras exemplificam as cenas que viriam a acontecer, tudo com um tom bastante descontraído.  A princípio, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” segue o mesmo caminho, mantendo-se bastante fiel ao original apenas para quebrar as próprias regras.

A desajustada família composta por Columbus (Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) decidem se estabelecer em um novo lar, então começam a morar na Casa Branca. Por um breve período, a vida doméstica e pacata parece satisfazê-los, mas a tentativa de encaixar as mulheres em papéis tradicionais, a filha que precisa de proteção constante e a leal esposa, faz com que elas fujam do ninho.

Para expandir um pouco o universo da terra de zumbis, temos algumas adições peculiares. Desde o princípio os personagens são claramente estereotipados, mas em “Atire Duas Vezes” fica explícito. O melhor exemplo é Madison (Zoey Deutch), uma garota que parece ser retirada das comédias escrachadas do começo do século, com piadas recorrentes que envolvem a sua inteligência limitada.

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Regra é coisa pra frouxo

Há algumas surpresas a respeito dos zumbis, que agora são classificados em tipos: alguns muito lentos e burros, outros inexplicavelmente inteligentes e também alguns vorazes e praticamente indestrutíveis. É preciso notar também que boa parte do enredo se baseia na história e cultura estadunidense, o que pode parecer meio sem graça para quem não conhece ou não se importa com esse tipo de coisa.

Tallahassee, sendo um grande fã de Elvis Presley, tenta transmitir essa paixão à Little Rock. Ambos sonham em conhecer Graceland, a famosa mansão em que Elvis morou, e lá os nossos heróis conhecem Nevada (Rosario Dawson), tão apaixonada pelo Rei do Rock que decidiu cuidar pessoalmente do museu. Basicamente apenas um par romântico para Tallahassee, ela faz drinks, dá tiros e sabe dirigir loucamente enquanto atropela zumbis.

Outra adição hilária são os personagens espelhados em Tallahassee e Columbus, Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch), respectivamente. É curioso que quase todos os outros sobreviventes do apocalipse são absurdamente burros e despreparados, quebrando propositalmente os conceitos do primeiro filme apenas pela diversão. O roteiro é repleto de falhas, mas isso não importa nem um pouco, é tudo pelo bem dos fãs e gostosas risadas.

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“Atire Duas Vezes” tem uma duração ideal, uma boa direção, um elenco competente e piadas com o timing certo. Os efeitos de gore estão incríveis, apostando mais nos efeitos práticos e usando o digital como complemento. Certamente uma década de Walking Dead colaborou muito para essa evolução.

Por não se levar a sério e deixar isso claro desde os primeiros minutos, a experiência descontraída para quem ainda é fã de zumbis (Walking Dead ainda existe?) e quer um entretenimento leve é garantida. Por mais que seja uma sequência totalmente desnecessária, vale a pena contribuir para os produtores comprarem mais drogas. Não saia do cinema antes dos créditos finais, pois as gargalhadas são garantidas.

Crítica do filme A Luz no Fim do Mundo | Um Apocalipse para Refletir

Não é preciso ser um gênio para perceber que a cada dia que passa chegamos mais próximos do fim da humanidade como conhecemos e vivemos hoje. Em tempos em que a ganância de grandes corporações e a ignorância das pessoas têm combatido a ciência, podemos ter noção de como nossas ações podem resultar, eventualmente, em catástrofes globais ou em pandemias que podem dizimar toda uma população.

Esses são temas já comuns na indústria de Hollywood, mas muitos buscam exaltar mais o lado dos desastres, principalmente com incríveis efeitos visuais para impressionar a plateia com as tantas hipóteses de um eventual apocalipse. Todavia, vez ou outra, temos a chances de ver algumas ideias que saem do lugar-comum, sendo que “A Luz no Fim do Mundo” se encaixa justamente nessa categoria.

Em vez de partir de explicações sobre o passado ou tentar reproduzir o fim do mundo, o filme escrito, dirigido e protagonizado por Casey Affleck larga mão do tradicional para ir no lado mais reflexivo de situações extremas. Nesta história, acompanhamos um pai (Casei Affleck) e sua filha adolescente, Rag (Anna Pniowsky) buscando formas de sobreviver em um mundo devastado por uma pandemia.

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E este poderia ser apenas um filme de ação com toques de sentimentalismo, mas o que vemos são indagações mais profundas, numa obra que acaba pendendo muito mais para um drama com pitadas de suspense. Assim, em vez de entregar absolutamente todas as respostas, “A Luz no Fim do Mundo” visa propor mais questões sobre como nos portaríamos quando temos que lutar pela sobrevivência de um filho.

Sem pressa no fim do mundo

O que fazer para passar o tempo quando o mundo está à beira de um colapso? Como manter a sanidade em um ambiente hostil? Quais sentimentos afloram para quem não tem nada a perder? E quais habilidades desenvolvemos quando temos tudo a perder? Essas podem parecer questões aleatórias, mas que são pertinentes se fossemos imaginar um cenário similar ao proposto nesta trama.

Ao que parece, Casey Affleck quis justamente colocar esses pequenos detalhes como o fundamento para o desenvolvimento do filme, algo que pode afastar o público mais tradicional já na primeira cena. O pontapé inicial é tudo que o espectador precisa para entender o cerne do filme, então se você não gosta de diálogos longos, pausados e sem trilha sonora, talvez você já pode ter noção que este não é o filme mais apropriado para você.

E esta poderia ser apenas uma cena perdida para dar suporte ao filme, porém, dado todos os argumentos introduzidos na trama e as situações de extrema cautela, o que temos é uma ampliação desse desenvolvimento pausado. O que é muito legal nessa abordagem é que a obra não entrega tudo de mão beijada, sendo que vamos compreendendo os detalhes do passado em pequenos detalhes e flashbacks.

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Apesar do começo vagaroso e do ritmo lento (que parece ser ainda mais arrastado dado a duração total de duas horas de projeção), é válido ressaltar que isso não elimina o clímax do filme, tampouco impede a colocação de cenas mais tensas no meio da película. Muito pelo contrário, se você realmente prestar atenção aos detalhes, o filme consegue te captar pelas nuances do inesperado, afinal ficamos observando tudo nos cenários.

Apreciando o declínio da humanidade

Longe de ser um apocalipse devastador, o caos proposto em “A Luz no Fim do Mundo” é muito mais “pé no chão”, o que ainda garante que o público fique curioso para entender os detalhes do que aconteceu, mas que evita que o filme tenha que inventar situações mirabolantes. Assim, o que temos são paisagens tomadas pelos efeitos do tempo e da natureza, que toma de volta o espaço.

A produção é caprichada nesse sentido, já que a composição visual e a fotografia são elementos cruciais para criar um ambiente mais convincente. Interessante também que com a história proposta, o filme consegue abordar diferentes cenários do fim do mundo, o que deixa a gente mais vislumbrado, bem como permite rumos inusitados na trama.

Falando nisso, crucial para o andamento da história são as atuações de Casey Affleck, que aqui continua sendo ele mesmo — numa pegada bem calma à la “Manchester à Beira Mar” — e da pequena Anna Pniowsky, que nos encanta a cada instante com sua personalidade fantástica. É claro que essa dinâmica entre os dois seria importantíssima, então o filme acerta em cheio ao ter dois artistas tão talentosos.

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É claro que apesar de ter seu brilhantismo, os cinéfilos de plantão talvez associem muito do que há em “A Luz no Fim do Mundo” com o universo de “A Estrada”. Todavia, ao que me parece, as únicas coincidências são o fim do mundo e a relação paternal, pois do contrário são histórias e rumos bem distintos — cada um na sua pegada e com seus respectivos méritos.

No fim do dia, “A Luz no Fim do Mundo” é um ótimo filme para quem gosta de apreciar nosso lado mais humano, mas talvez não a melhor opção para os fanáticos por ficções sobre apocalipses. De qualquer forma, não duvido nada que o longa tenha algumas indicações nas principais premiações, pois é muito bem executado.