Crítica do filme Star Wars - A Ascenção Skywalker | A derradeira conclusão da saga épica!

É difícil analisar qualquer filme Star Wars sem considerar todo o universo expandido, isso sem falar das inúmeras obras transmídia como quadrinhos, livros e jogos. A franquia tornou-se tão grandiosa que dificilmente você vai encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar sobre a Força.

Acredito que esse seja o fator principal de tanta controvérsia a respeito de cada episódio novo. É impossível agradar todo mundo, e considerando que grande parte do planeta vai assistir esperando ter suas expectativas satisfeitas, pelo menos metade vai detestar.

É claro que “Só um Sith lida em absolutos”, mas tentando agradar a todos, o diretor J.J Abrams desagradou muita gente. Já deixo claro que eu não fui uma delas, saí extasiado do cinema e por mais que concorde que muitas escolhas não foram acertadas, a conclusão da saga de nove filmes episódicos foi bastante satisfatória.

Desde George Lucas, os temas abordados são descomplicados para criar um laço emocional direto com o público. O Bem contra o Mal, amor, redenção, amizade, esperança. Muitos podem considerar os filmes uma novela espacial e é disso que se trata mesmo.

Enfrentar o medo é o destino do Jedi

Contextualizações a parte, esse texto terá spoilers e por isso é recomendado assistir o filme antes de ler. “A Ascensão Skywalker” é o nono filme de uma saga de 40 anos e os Skywalkers são o elo condutor de toda essa bagunça cósmica, e carregar o fardo de concluir essa longa jornada estelar não é uma tarefa simples. 

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Pautada fortemente na nostalgia, o roteiro de Chris Terrio e J.J Abrams escolhe se opor a nova visão proposta por Rian Johnson em “Os Últimos Jedi” e continuar o que foi iniciado em “O Despertar da Força”. Esses dois filmes são os melhores exemplos sobre as expectativas e a base de fãs. “Os Últimos Jedi” quebra totalmente as expectativas e ousa abandonar muitas ideias antigas para focar numa base de fãs nova, mas em uma franquia com fãs tão chatos quanto exigentes, as expectativas precisam ser satisfeitas ou eles vão xingar muito na internet.

É para esse público que “Ascensão Skywalker” foi feito, surpreendendo em nada, entregando exatamente o que todo mundo já esperava e mesmo assim desagradando muitos. Particularmente eu gosto das duas visões, ainda que prefira coisas novas e não recicladas, se eu sou fã eu quero serviço.

Abrams renega quase que totalmente as escolhas de Johnson, mantendo apenas alguns elementos, como a conexão entre Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver), ampliando e muito seus poderes e os possíveis usos da Força. Essa necessidade de “corrigir” seu antecessor faz com que o filme seja insuficiente para o curto período de 2 horas e 20 minutos com explicações apressadas e soluções simplistas como “A Força nos uniu”, com muitos personagens e cenas apressados.

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Vale destacar a lamentável subutilização de Rose Tico (Kelly Marie Tran) que aparece por pouco mais de um minuto. A justificativa de que ela originalmente deveria interagir com a General Leia (Carrie Fisher) e isso demandaria cenas complexas em computação gráfica é totalmente insatisfatória, já que todas as cenas foram pensadas a partir de filmagens não utilizadas e complementadas com computação gráfica. Apesar de tudo, a morte da atriz foi contornada com muita sensibilidade, com cenas tristes mas respeitosas.

Por outro lado, adicionar duas atrizes para “complementar” Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac) e resumir suas histórias em “um passado distante algo aconteceu” é bastante simplista e sem graça. Jannah (Naomi Ackie) aparece apenas como uma manobra de combate boba e como easter egg de ser a filha de Lando Calrissian (Billy Dee Williams).

Já Zorii Bliss (Keri Russell) é apenas uma personagem com um design interessante e sem muita participação efetiva, muito semelhante ao “lendário” Boba Fett, mas ainda menos expressiva. Tudo isso é fácil de relevar, já que o foco da trama são os protagonistas Jedi/Sith e o equilíbrio entre o lado da luz e o sombrio.

Aliás, o grande desafio da nova trilogia foi criar novos personagens tão bons quanto os antigos e gerar a conexão emocional que os originais carregam. Em “A Ascensão Skywalker” esse objetivo se concretiza em parte, não por serem personagens icônicos mas por terem espaço em cena para finalmente demonstrar suas próprias características, intercalando os personagens da antiga e nova geração e dando o tom de aventura tão próprio de Star Wars. 

Eu tenho um mau pressentimento sobre isso

O retorno do Imperador Palpatine é bastante forçado e possivelmente a única escolha sem sentido, além da sua nunca antes mencionada família. Toda a aura de mistério em torno da origem de Rey foi fracamente construída e a conclusão foi ainda menos aceitável. Pessoalmente eu preferia a ideia de que ela não era filha de ninguém importante, apenas alguém que tem uma conexão com a Força, potencialmente qualquer ser do universo podendo ser um grande Jedi.

Mas sabemos que Star Wars é sempre sobre os Skywalker e isso não poderia ser deixado de lado no último filme. Essa tentativa de amarrar todas as pontas é o que desagradou muitos fãs. Apesar de tudo, nenhuma dessas escolhas controvérsias diminuam o entretenimento.

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O desfecho é deduzível, o que não significa que seja insatisfatório. São cenas monumentais e emocionantes carregadas de intensidade com Daisy Ridley e Adam Driver entregando tudo que poderia ser extraído dos papéis maniqueístas impostos a eles. Eu amo muito a Rey e vou protegê-la até o final, além de que o boneco Babu Frik é pura diversão e o desafio é não rir com essa criatura!

Muitas lacunas são preenchidas pela inigualável trilha do genial John Williams e qualquer coisa que eu tente usar para descrever não será o suficiente, então ouça aqui.

Considerando a jornada de anos de formação de um imaginário compartilhado sobre o símbolo Star Wars, a necessidade de concluir uma saga de anos conciliando tudo para agradar a maioria sem fechar as possibilidades para o futuro, foi difícil para “A Ascensão Skywalker” inovar e ser uma obra fechada em si mesma.

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Desde sempre as mesmas falhas podem ser apontadas para qualquer filme da saga. Roteiro esburacado, coincidências FORÇAdas, momentos bregas e fanservice até dizer chega, exatamente tudo que Star Wars é e sempre foi. E nada disso torna a experiência menos grandiosa, ao contrário, continua a despertar grandes emoções em todos os fãs. É o fim de uma era e não da franquia, espero que o futuro traga novas e diferentes aventuras para que Star Wars seja tão plural que não precise de apenas um filme para satisfazer a todos.

Crítica do filme Frozen 2 | Mais beleza, complexidade e amadurecimento

Difícil encontrar uma criança que não conheça “Frozen”. O sucesso, e pesadelo dos pais, de Let it Go/Livre Estou ainda é lembrado depois de anos. Ao reimaginar o conto de fadas de Hans Christian Andersen “A Rainha da Neve”, a Disney conseguiu resgatar o encanto de suas princesas atualizadas para os dias atuais, algo que vem sendo trabalhado aos poucos a cada filme.

Por mais que a história pudesse se encerrar com o primeiro filme, os números da bilheteria demandaram uma sequência e felizmente a oportunidade de amadurecer e tornar a história mais complexa não foi desperdiçada.

Sem perder a magia e tentando agradar tanto as crianças que viveram o primeiro lerigo quanto as que vão conhecer e cantar repetidamente a música “Minha Intuição”, “Frozen 2” deve agradar com facilidade até quem tem preconceito com quem gosta de brincar na neve.

O gelo que não derrete

Após os eventos de “Frozen”, Anna (Erika Menezes/Kristen Bell) e Elsa (Taryn Szpilman/Idina Menzel) estão vivendo felizes em Arendelle, com brincadeiras e jogos em família junto com o namorado de Anna, Kristoff (Raphael Rossatto/Jonathan Groff) e sua fiel rena Sven, assim como o boneco de neves que adora abraços quentinhos Olaf (Fábio Porchat/Josh Gad).

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Porém, Elsa começa a ouvir uma voz vinda do norte, chamando por ela e quando espíritos mágicos arrancam os moradores de Arendelle de suas casas, Anna, Elsa e seus amigos decidem partir em direção a voz para resolver o mistério, chegando até uma floresta encantada cercada por uma névoa mística impenetrável.

Para salvar Arendelle e seu povo, as irmãs terão que reaprender a confiar uma na outra e em si mesmas para entender a verdade a respeito dos poderes de Elsa e a história sombria de Arendelle.

Você ainda quer brincar na neve?

A direção fica por conta de Chris Buck e Jennifer Lee mas o sucesso se deve ao roteiro de Jennifer e Allison Schroeder. “Frozen 2” encontra uma forma equilibrada de continuar a história das irmãs, com Anna focada em proteger Elsa, enquanto ela continua procurando seu lugar no mundo.

Há um esforço em dar a cada um dos personagens um arco de história paralelas que convergem na história geral. É surpreendente que um filme infantil de tanto destaque como “Frozen 2” abordo temas tão complexos e até “sombrios”, algo que é muito bem vindo e que espero que se torne cada vez mais recorrente, pois sabemos que filmes infantis não precisam (e nem devem) ser bobos e rasos e filmes que abordam temas complexos podem servir como um mapa para as crianças aprenderem a lidar com suas emoções e pensamentos.

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É interessante notar que a estrutura tradicional não é seguida, sem nem ao menos haver um vilão na história. Ao invés disso, “Frozen 2” arrisca e busca uma forma mais madura de abordar o enredo, algo que pode incomodar a princípio, mas que encontra maneiras interessantes de manter o público atento.

Tem cantoria?

Quebrar a estrutura tudo bem, mas as músicas não podem ficar de fora, certo? Não há nenhum momento tão catártico quanto “Let it Go”, mas no geral as músicas estão encaixadas na trama para apresentar o sentimento de cada personagem em seu respectivo arco.

Elsa canta “Minha Intuição/ Into the Unknown“ antes do chamado para a aventura de descobrimento e Anna tenta entender qual sua próxima ação em um momento chave com a música  “Fazer O Que É Melhor / The Next Right Thing”. Difícil esquecer o curioso e divertido momento “clipe dos anos 90” de Kristoff e as renas, com “Não Sei Onde Estou/ Lost in the Woods” ao questionar sua importância na relação com Anna.

Desnecessário dizer que a animação está no seu auge, e mesmo as escolhas de estilização dos personagens dão um ar incrivelmente realista em algumas sequências. O nível de detalhes adicionados aos visuais complementam os temas abordados no filme de forma muito sofisticada.

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Apesar de todos os elogios merecidos, a sensação é de que a trama poderia ter sido ainda mais ampliada e que algumas escolhas narrativas poderiam ter sido melhor abordadas, como a origem dos poderes da Elsa. Provavelmente esse sentimento é proposital, deixando aquela vontade de ver mais para que novas sequências aconteçam.

Enfim, “Frozen 2” é um retorno mágico ao mundo de Anna e Elsa, visualmente e sonoramente mais complexos para agradar aos fãs originais. É deslumbrante e divertido para toda a família, embora talvez seja “sombrio” demais para as crianças menores entenderem, mas que pode servir bem para que elas entendam mais sobre elas mesmas. Todos que gostaram de “Frozen” vão achar algo a mais para se encantar nesse filme.

Crítica do filme Playmobil - O Filme | Uma brincadeira sem graça

Se já existem tantos filmes sobre Lego, por que não um de Playmobil? Talvez seja uma animação decepcionante para quem busca a mesma energia que agrada tanto adultos quanto crianças que vemos nos filmes Lego. De qualquer maneira, o público alvo são os pequenos, e ser um filme bem infantil tem seus méritos.

Infelizmente, é difícil não comparar com Lego. Talvez faça parte da própria estrutura dos brinquedos: enquanto Lego não limita a criatividade com as peças e bonecos, Playmobil é mais rígido em suas próprias criações. Essa comparação também serve para as animações.

O longa é dirigido por Lino DiSalvo, que já trabalhou em animações de sucesso como “Frozen” e “Enrolados”, mas “Playmobil - O Filme” é sua estreia como diretor. O desafio é conseguir entreter o público durante uma hora e meia sem que pareça apenas um comercial sem fim, mas será que o desafio cumprido?

Comprem meus produtos

Seguindo a fórmula de sucesso de filmes de animação, o longa aposta de cara em uma sequência cheia de cantoria e danças. Marla (Anya Taylor-Joy) acabou de terminar o colegial e está pronta para viajar pelo mundo antes de entrar na vida adulta, com faculdade, trabalho e responsabilidades. Ela vive com seus pais e seu amado irmão Charlie (Gabriel Bateman) e aparenta ter uma vida perfeita nos subúrbios de Nova York.

Após um trágico evento, Marla e Charlie acabam tornando-se ainda mais próximos do que gostariam ou esperavam. Alguns anos no futuro, Charlie foge de casa para se encontrar com um amigo em uma convenção fictícia de brinquedos em Manhattan, Marla se preocupa e vai atrás dele.

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Toda essa introdução é com os atores de fato e só após algum evento cósmico os irmãos são transportados para o universo de Playmobil e a aventura começa. Indo na contramão da maioria das animações, os personagens não tem nada a ver com suas contrapartes humanas.

A seguir, vemos uma sequência frenética de diversos “temas” do universo de Playmobil. Em um segundo os personagens se encontram no Velho Oeste, em seguida estão em uma rodovia cheia de carros que contorna um mundo jurássico com dinossauros e vulcões. A completa falta de coerência dos cenários não é um problema, já que se assemelha a uma criança mostrando todos os brinquedos que possui, mas depois de um tempo essa dinâmica fica cansativa.

Essa forma de apresentar a trama parece acertada, pois sempre alguma coisa diferente está acontecendo na tela, o que pode manter a atenção das crianças, mas acaba parecendo só uma distração até a brincadeira chegar ao ápice e os brinquedos voltarem para a caixa. Não há nenhuma consequência ou senso de urgência, o que torna o filme bem leve para todos os públicos.

Tão aleatório quanto uma caixa de brinquedos

Enquanto Marla é apenas uma personagem genérica no mundo de Playmobil, Charlie se torna um forte guerreiro viking, aclamado como herói. Porém, ele é raptado pelo maníaco imperador romano Maximus (Adam Lambert), que está reunindo os maiores heróis de cada “tema” para lutarem em sua arena.

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Piratas, amazonas, caçadores de recompensa futuristas, homens-das-cavernas e até um agente estilo 007 chamado Rex Dasher (Daniel Radcliffe) fazem parte da aventura e podem demonstrar suas particularidades em breves momentos. Marla precisa encontrar seu irmão e salvar todos, contando apenas com a ajuda de um malandro food-trucker chamado Del (Jim Gaffigan), tudo isso regado a canções não muito melódicas.

Enfim, há apenas uma breve piada sobre a estranheza do formato dos corpos dos Playmobil, para em seguida ser esquecida e o filme se tornar apenas mais uma animação qualquer. É preciso reconhecer toda o esforço de DiSalvo para tornar a animação fluída, mas talvez uma pequena amostra de stopmotion com os brinquedos tornaria tudo mais agradável.

Provavelmente “Playmobil: O Filme” não se destaque dentro do gênero, servindo apenas como uma opção fraca para as crianças que só querem dar umas risadas e se encantar com um mundo mágico colorido, mas para quem tem curiosidade vale a pena conferir.

Lista | Black Friday de cinema com filmes de Ação de Graças

É isso mesmo pessoal! Venham aproveitar as melhores ofertas da Black Friday Café com Filme. São filmes no cinema, streaming, televisão e download. E tudo ao alcance do seu saldo bancário. Infelizmente, não tem nenhuma promoção aqui, mas em compensação preparamos uma bela lista com os melhores filmes desse período maravilhoso.

Como vocês já devem saber, a Black Friday é a linha de partida da temporada de gastança natalina lá na terra das doletas. A turma aproveita que o pessoal tá em casa para o feriadão do Dia de Ação de Graças e solta uma renca de promoções bombásticas que impulsionam as vendas dos presentes produzidos nas fábricas de exploração de trabalho elfico do Sr. Noel.

Acontece que, lá nos Estados Unidos, a quarta quinta-feira do mês de novembro é o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day), uma data muito especial para agradecer a Deus o extermínio dos povos amerindios que ocupavam o "Novo Mundo" a boa colheita dos primeiros colonos britânicos lá nos idos de 1620. Apesar de ser uma celebração intrinssicamente estadunidense, o presidente Eurico Gaspar Dutra resolveu puxar um apouco o saco dos americanos e, com a ajuda do embaixador Joaquim Nabuco, instituiu o Dia Nacional de Ação de Graças brasileiro em 17 de agosto de 1949.

Se você não entende qual é a pira, nós explicamos. Digamos que se por aqui o tiozão manda a piada do pavê no Natal, lá nos Estados Unidos o show de humor geriatrico se desenrola no Dia de Ação de Graças. É nessa data que a galera se junta na mesa pra comer peru, bater boca com os parente e perguntar sobre xs namoradinhx. Pra entrar de cabeça no clima do Dia de Ação de Graças e quem sabe inspirar a veia consumidora durante o resquício de Black Friday, o Café com Filme preparou uma lista saborosa com alguns filmes festivos.

Crítica do filme A Grande Mentira | Bom demais para ser verdade

Primeiro de tudo, que a verdade seja dita: a indústria cinematográfica carece de bons filmes de suspense. Assim, quando surge um trailer de um filme como “A Grande Mentira”, que sugere uma história minimamente intrigante, ficamos interessados em saber os segredos que um roteiro possivelmente bem construído pode guardar.

Melhor ainda é quando vemos na prévia que estamos diante de uma obra com atores gabaritados como Ian McKellen e Hellen Mirren. Dessa forma, qual é a probabilidade de termos um resultado pouco convincente? É claro que a premissa de um filme e o elenco não garantem uma obra memorável, mas as chances são grandes.

Na trama de “A Grande Mentira”, o golpista Roy Courtnay (McKellen) pensa que tirou a sorte grande quando conheceu a viúva Betty McLeish (Mirren) em uma página de relacionamento. No entanto, aos poucos, Roy percebe que está se afeiçoando a ela, o que pode transformar um golpe brilhante numa corda bamba.

A sinopse não entrega muito, mas o trailer já exibe algumas pistas mais reveladoras. Então, minha primeira dica para quem não foi atrás de muitos detalhes, é parar o texto por aqui e ver o filme antes de ter a experiência prejudicada. Não que o trailer tenha spoilers, mas mínimas informações já podem deixar o enredo menos surpreendente.

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E já respondendo a dúvida daqueles que buscam um parecer que vai direto ao ponto: sim, “A Grande Mentira” é um filme bom. Apesar de tropeçar um tanto em sua própria colcha de retalhes, o roteiro guarda bem os segredos até o último momento. O maior problema talvez seja a enrolação do script e a história pouco crível mesmo.

Acontece nos filmes, não acontece na vida

Há muitas formas de criar um clima de suspense e, seja através de nuances na história ou ao esconder as tramoias de um personagem, o resultado pode ser completamente diferente. No caso de “A Grande Mentira”, a escolha de seguir o viés de um único protagonista nos dá um norte da história, o que tira um pouco da graça.

Mesmo tentando esconder o jogo, o roteiro não consegue disfarçar suas reviravoltas, de forma que a plateia apenas espera o momento de uma surpresa chocante. Isso não seria um problema se estivéssemos falando de um filme curto, porém os devaneios alongam e prejudicam o ritmo do longa-metragem.

Isso quer dizer que a história é ruim? Não, mas a demora em conectar alguns pontos nos leva a acompanhar uma trama diferente da que imaginamos. Ainda é um filme que prende nossa atenção, mas não necessariamente da forma que alguns podem estar esperando numa obra que poderia pender para um suspense mais intenso.

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Tirando esse desvio da proposta, ainda temos a questão dos detalhes que são pouco convincentes. Sim, eu sei que estamos falando de um filme, mas a aproximação com a realidade é um fator que pode ajudar a nos convencer de que não se trata apenas de uma ficção, o que poderia deixar o rumo da trama bem mais coerente.

A mentira tem pernas cansadas

Felizmente, acompanhar essa odisseia de mentiras é um deleite com protagonistas que parecem estar bem confortáveis. Estamos falando de estrelas com décadas de experiência, então tudo soa de forma natural. Claro que devido à idade dos personagens, a história chama a atenção para detalhes que são pouco abordados em tramas similares. 

Assim, aproveitando tanto essas características dos personagens quanto os atores, o filme consegue sair de uma pegada que seria mais suspense para dar espaço a alguns traços de comédia e até ação. Para falar a verdade, eu fiquei bastante surpreso com a versatilidade de Ian McKellen, que no auge de seus 80 anos mostra uma energia surreal.

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A química com Hellen Mirren é algo excelente também, algo que muita gente sequer imaginava ver, mas que felizmente aconteceu. A atriz com seus quase 75 anos também não faz por menos e, apesar de aparecer menos na trama, garante momentos muito impactantes, principalmente por conseguir disfarçar os traços de sua personagem.

Em termos de produção como um todo, “A Grande Mentira” não é exatamente um filme inovador e prefere jogar seguro, porém temos algumas cenas mais complicadas, principalmente algumas em meio a grandes áreas urbanas. O que chama a atenção mesmo é a reconstrução de alguns cenários, que enriquecem muito a história.

Enfim, se você não é uma pessoa muito exigente, provavelmente o rumo desta obra vai ser suficiente para sair satisfeito da sala de cinema e recomendando o título aos amigos que gostam de suspense. E acho que no fim é isso que vale, pois mesmo com alguns deslizes, o filme prende nossa atenção e se mostra uma grande mentira.

Listas | A República é velha, mas o cinema é atemporal

É pessoal, quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam as mesmas. Em 15 de novembro de 1889 a turma maçônica do quartel resolveu tirar o barbudão que já não aguentava mais tocar o "império". Enquanto "Os Soberanos do Mundo" estavam de boas, lembrando como foi massa o bailão da Ilha Fiscal, Manuel Deodoro da Fonseca juntou uma trupe e partiu de mansinho pra um role em uma praça no centro do Rio.

Como o gole tava curto a turma resolveu fazer calor e quando perceberam tinham iniciado um golpe de Estado político-militar e instaurado a republica presidencialista brasileira. Ao destituir o chefe, o imperador D. Pedro II, a galera do Deodoro assumiu o poder no país, instituindo um governo provisório republicano, que se tornaria a Primeira República Brasileira. Pedrão tava largado demais, o Deodoro mandou a real e disse para ele "pedir pra sair" e se mandar pro exílio, e o barba tava tão na dele que só disse:

 "Se assim é, será minha aposentadoria. Trabalhei demais e estou cansado. Agora vou descansar"

Com os coroa e a coroa fora, a República começou a tocar os Estados Unidos do Brasil, que desde aquela época pagava pau para gringo. O problema é que mudou tudo e tudo ficou igual e ninguem gosta de levar chibatada, não importa se quem segura o chicote é rei, presidente ou marechal.

Nessa época rolou muito pancadaria pra ver se era melhor apanhar da polícia ou dos bandido. O pior é que a turma do Deodoro tinha zero paciencia e se você reclamasse da desigualdade social, dos aumentos nos impostos, do racismo, da zoeira na política e outras coisas que já não afligem mais a nossa grande nação era só questão de tempo até a matadeira assobiar. Por conta de tudo isso é difícil enteder bem a República Velha, e olha que nem estamos falando de Star Wars, siths e jedis

Para ajudar vocês a entenderem um pouco mais do tumulto que foi essa parada, que só foi terminar quando deram outro golpe lá em 1930, a gente preparou uma listinha de filmes que retratam um pouco do clima e dos conflitos que rolaram durante toda a República Velha. Daquele pessoal antivacina e os corre que o Oswaldo Cruz teve que dar, até os massacres de Canudos e do Contestado com seus Inri Cristo da depressão, ou ainda a Revolução Federalista que literalmente deixou muita gente degolada pelos pampas.