Crítica do filme Tenet | Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos

Aviso: se você está aqui em busca de uma conclusão simplificada para "Tenet", é provável que você saia da página do mesmo jeito que entrou. Esta não é apenas uma crítica sobre a nova obra de Christopher Nolan, mas uma análise do que entendemos como cinema e o porquê da dificuldade na aceitação de obras que fogem do padrão de Hollywood.

Eu já escrevi centenas de críticas. Muitas são produzidas mentalmente antes mesmo de eu sair do cinema. Outras levam um período de tempo razoável para serem finalizadas. Algumas são publicadas e, mesmo devidamente polidas, não conseguem abranger toda a minha interpretação de uma obra.

Minhas análises das produções de Christopher Nolan certamente se encaixam nesta última categoria. Não que o conteúdo fique inacabado, sabe? Contudo, abordar temas complexos que nem foram decifrados pela ciência ou que tentam simular grandes paradigmas é algo de tamanho complexidade que pode resultar em textos presos em loops temporais.

O ponto é: como sintetizar tantas ideias elaboradas de uma trama tão complexa, a qual não pode ser definida  numa sinopse? E mais: como criticar um emaranhado de conceitos sem chegar ao ápice da epopeia? Impossível. Tanto que eu nem sequer vou tentar entrar nos desdobramentos da trama. Definitivamente não.

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A verdade é que após tantos filmes aclamados e com uma reputação marcada apenas por infindáveis elogios, Christopher Nolan parece ter chegado num ponto de sua carreira sem volta. Para o cineasta, não basta mais levar medalha de ouro. Ele quer seu lugar no Olimpo hollywoodiano. E isso é o que o público espera dele: genialidade sem precedentes.

Uma carreira agora orientada pela perseguição dos temas mais inusitados e jamais concebidos por qualquer outra mente. Isso exige do cineasta uma revolução em roteiro e em direção. Ele definitivamente entrega algo de um nível surpreendente em "Tenet", talvez para agradar os cinéfilos mais exigentes, mas até que ponto vale a viagem pelo inexplorado mundo de ideias?

Será que os infinitos desdobramentos de "mindblowing" (que eu traduzo livremente aqui como doideira) levam a alguma posição privilegiada? Afinal, seria o cinema uma forma de entretenimento ou de exploração do inimaginável? Vale a pena divagar tanto a ponto de cansar o espectador pelos diálogos intrincados e os conceitos mais difíceis de sumarizar?

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Eu acho que não há respostas definitivas para nenhuma dessas perguntas. E se tem alguém que não precisa se preocupar com nada disso é Christopher Nolan. Todavia, é inegável que seus filmes cada vez mais viajados devem ter duas consequências inevitáveis: mais fãs pedindo criações que demandam muito mais do intelecto, mais críticas - sejam especializadas ou do público em geral - argumentando a complexidade desnecessária que acaba dificultando o entretenimento.

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Quando pensamos em filmes enquanto obras de arte, podemos encontrar diferentes propósitos, inclusive é claro retratos de ideias abstratas que podem ter como única finalidade a reflexão sobre o que concebemos como uma realidade. Em casos extremos como o de "Tenet", o roteiro pode se concretizar como genial, mas talvez a duras penas, uma vez que ele priva o espectador do entretenimento clássico em detrimento de uma abordagem aprofundada.

A verdade é que quando há um questionamento de temas impossíveis de serem decifrados, sejam eles sonhos, viagens através de buracos negros ou a exploração de uma inversão no tempo, não há limites para conjecturações. Todavia, scripts desse garbo inevitavelmente soam de forma mais restritiva do que inclusiva.

Às vezes, fazer o espectador pensar pode ser genial, já que o cinema tem esse poder de questionamento e reflexão, mas isso pode ser uma faca de dois gumes. "Tenet" é o tipo de obra que não permite à plateia divagar ou tecer comentários, pois uma frase perdida resulta na perda da linha de raciocínio e aí é frustração na certa.

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Importante frisar que o novo filme de Christopher Nolan marca a volta de grandes estreias aos cinemas do mundo afora. Como todas as obras do cineasta, seu mais recente projeto também foi feito para apreciação na telona, onde há uma imersão completa neste mundo de situações impossíveis, em que a ação e a viagem temporal são mais impactantes.

Eu já ouvi muitas pessoas falarem como os filmes prévios do Nolan exigiram mais do que uma sessão para absorsão total dos conceitos. Assim, não tenha dúvidas de que "Tenet" pode requisitar uma segunda ida ao cinema ou a espera do lançamento nos streamings para uma segunda interpretação, mais cautelosa e já pautada nas teorias introduzidas na primeira experiência.

Nolan, o Maestro do Palíndromo

Na trama, acompanhamos a viagem do protagonista (interpretado por John David Washington - e já respondendo sua questão: não, o protagonista não tem nome) por um mundo obscuro de espionagem internacional, armado com apenas uma palavra – Tenet — e lutando pela sobrevivência de todo o mundo em uma missão que se desdobra em algo além do tempo real. Nas palavras oficiais da sinopse: Não é viagem no tempo. Inversão.

Essa frase em destaque marca uma distinção importante a ser notada antes de ver o filme, pois há diferenças entre viagem no tempo e inversão. A meu ver, a viagem no tempo implica no deslocamento de um sujeito através da linha do tempo, seja para o passado ou futuro. Já a inversão consiste na dúvida: e se fosse possível rebobinar a linha do tempo, como um deslocamento no sentido contrário, e não só de pessoas, mas de objetos e situações?

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Uma passada rápida no trailer impressiona e, se você é do tipo que fica imaginando os tipos de técnicas empregadas para as cenas, é fácil cogitar o uso de meros truques com cenas em modo reverso, brincadeiras simples que qualquer um pode fazer em poucos cliques num software de edição. Obviamente, não há nada de simples em "Tenet", afinal se há alguém empenhado em fazer diferente e impressionar visualmente, esse alguém é Christopher Nolan.

É algo de dar nó a forma como Nolan pensou a direção e também a composição na pós-produção. Mesmo que algumas cenas possam ser coreografadas em reverso, isso exige um grande talento por parte dos atores. No entanto, há momentos que definitivamente exigem muito mais do que embromações. E aí é que entra a genialidade da parada. Mesmo que a história não te convença, ou que você fique perdido, o simples fato de ver esses efeitos já vale cada segundo de projeção.

Aliás, observação pertinente: assim como em outros projetos, Christopher Nolan parece ter alguns desafios próprios em seus filmes, truques de grandezas inusitadas, como tombar um caminhão numa rotação quase impossível (como ele fez em "Batman - O Cavaleiro das Trevas"), explodir um avião no ar ou coisas do tipo. Então, se você gosta de ver coisas absurdamente impossíveis, certamente "Tenet" tem muito a oferecer em termos de cenas impressionantes.

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Em questão de elenco, Nolan ainda resiste em figuras carimbadas como Michael Caine (sem reclamações, apenas um apontamento mesmo), mas o que vale são os novos protagonistas, principalmente com John David Washington no comando do personagem principal. Washington é simplesmente magistral em sua performance, de uma pompa que chega quase a ser um James Bond nas maluquices temporais. Ótimo de diálogos, coreografias e feições. Certamente, o ponto alto do filme!

Essa renovação do protagonista existe em muitos filmes do cineasta e não tenha dúvidas que sua equipe acertou em cheio ao escalar a estrela de "Infiltrado na Klan" junto com Robert Pattinson, que amadureceu muito em sua carreira e entrega uma atuação poderosa. Outros nomes como Aaron Taylor Johnson, Kenneth Branaghm, Elizabeth Debicki e Clémence Poésy também contribuem de forma generosa para o bom andamento dos diálogos, parte fundamental para entender as nuances da história.

Outro aspecto de suma importância como em todos os filmes de Nolan é a trilha sonora muito bem orquestrada. E não digo por ser conduzida por uma orquestra, mas por ser um ponto de apoio para o andamento da trama mesmo. Os sons impactantes, com muitas freadas e aceleradas, com variações abruptas, distorções, sintetizadores de profundidade e uma pegada muito eletrônica destoam muito do que já vimos nas trilhas de Hans Zimmer, isso porque esse é um dos raros projetos em que não temos Zimmer como compositor.

O nome por trás da brilhante trilha sonora de "Tenet" é Ludwig Goransson, artista que já emplacou outros grandes projetos como a musicalidade de "Pantera Negra" e "Creed 2". Aqui, ele foge totalmente do lugar comum e realmente faz um trabalho que impressiona pela ousadia. Toda música tem uma tonalidade que dá a impressão de que o tempo vai acabar. Um casamento perfeito entre imagem e som. Para quem gosta de ouvir trilhas sonoras, vale conferir o álbum no Spotify. 

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A pergunta que ninguém fez, mas não quer calar: é o melhor filme do Nolan? Como toda pergunta desse tipo, a resposta reside somente na opinião de quem está responendo e, particularmente, eu não acho que "Tenet" seja o projeto mais completo do cineasta. Talvez, ele seja o mais ambicioso, mas as dificuldades que o filme tem em vender seus conceitos acabam atrapalhando seu sucesso. Um ótimo filme no todo, mas talvez um pouco exagerado no conceito da doideira e até previsível!

Crítica do filme Verão de 84 | Pode acontecer na sua vizinhança

É curioso como desde o lançamento de “Stranger Things”, todo filme ambientado na década de 1980 com personagens adolescentes faz as pessoas comentarem coisas do tipo: “Nossa, esse filme é muito Stranger Things, né?”.

É claro que já existiam muitos filmes ambientados nesta década, protagonizados por adolescentes e com músicas de suspense, mas algumas características específicas, usadas em conjunto, fizeram a série virar um referencial.

O filme “Verão de 84” é mais um filme que lembra muito a série “Stranger Things”, mas de comum ela só tem essa atmosfera dos anos 80 e a trilha sonora Synthwave que lembra bastante as composições de Jean-Michel Jarre, Vangelis e Giorgio Moroder.

Aliás, é interessante perceber a dificuldade para os cineastas inovarem ou, ao menos, para não dar a impressão de que eles copiaram outras obras, como o próprio “IT – Uma Obra do Medo”, que traz uma “turminha do barulho” de investigadores.

Mas a trama de “Verão de 1984” vai por um caminho completamente diferente, então não espere nada sobre mundo invertido, crianças com superpoderes, aliens do filme “Super 8” ou palhaços assustadores retirados da mente de Stephen King.

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Muito mais pé no chão e com questionamentos interessantes, o roteiro aborda o grupo de adolescentes que desconfia que o vizinho policial é, na verdade, um serial killer. A partir disso, eles decidem passar o verão investigando e juntando provas, mas conforme eles se aproximam de descobrir a verdade as coisas ficam perigosas.

Já adiantando que, se você veio aqui para descobrir se o filme é bom, eu posso dar a resposta rápida: sim, “Verão de 1984” é um filme que diverte na medida e entrega uma boa trama. O desenvolvimento do filme é um tanto lento e mesmo com a trama um tanto óbvia, o final consegue surpreender e vale muito a pena.

Suspense constante

Filmes que entregam o ouro já no trailer acabam não tendo muito para contar, eis talvez o fator mais limitador de “Verão de 84”. Quer dizer, mesmo que haja uma reviravolta surpreendente, você ter um norte específico, impede que o roteiro voe para ideias inusitadas.

Assim, ao dar play no filme, a gente já sabe exatamente o que esperar: uma turminha do barulho tramando planos para investigar seu alvo. Assim, toda a trama do filme é ver os garotos divagando sobre as suspeitas que têm do vizinho e como eles podem provar que ele tem culpa no cartório.

Veja que isso não é um problema, existe muitas opções de investigação e o andar da carruagem depende somente da criatividade do roteiro. Infelizmente, o script não tem uma criatividade de outro mundo, mas, por outro lado, é de se questionar se todo filme precisa ser um Stranger Things com situações de cair o queixo.

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O ponto é que a trama mais se aproxima de “Detetives do Prédio Azul” do que de “Sherlock Holmes”. Totalmente normal para uma turminha que só tem lanternas e walkie-talkies como ferramentas. Contudo, o filme não prende tanto nossa atenção pelos desenrolar dos fatos e tenta compensar de outras formas.

Um dos apoios mais evidentes para o suspense é a trilha. No entanto, a produção exagera no uso das músicas como alavanca de mistério e só parece algo deslocado. Em alguns casos, a trilha com sintetizadores de graves reforçados em loop é inserida em cenas simples, como uma espiada pela janela ou numa simples reunião do grupinho.

Assim, com quase uma hora e cinquenta minutos de duração, o filme dá muitas voltas para chegar à conclusão. Não que seja um problema, pois temos atuações excelentes, boas piadas, ótimos figurinos, excelente ambientação e a trilha sonora competente. Tudo se encaixa, só parece que poderia ser mais curto para chegar ao mesmo ponto.

Pra deixar a gente pensando

Apesar da enrolação evidente no roteiro, o filme “Verão de 84” entrega uma conclusão muito surpreendente, que não só encerra o período das investigações, como foge do clichê e deixa o público pensativo. Aliás, é interessante que eu falei em como o filme “dá voltas” e, talvez, isso seja até proposital.

Uma indagação proposta no início da trama deixa a gente com a pulga atrás da orelha: “você já pensou que até mesmo assassinos em série têm vizinhos”? Encerrar o filme com questões similares mostra que esse é o tipo de coisa que nunca é respondida, pois temos muitos vizinhos e não conhecemos as pessoas de verdade.

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Todavia, o melhor de “Verão de 84” é justamente a fuga do clichê. Mesmo o filme apostando em vários argumentos e técnicas comuns no desenrolar do script, ele faz uma reviravolta muito potente na reta final. Primeiro, com uma redenção importante, depois com um desfecho impagável.

É raro ver títulos que apostam em finais tão ousados, pois a gente realmente espera os finais clássicos: o bem vence o mal ou vice-versa. Todavia, há mais opções fora do lugar comum. Uma ótima pedida de nostalgia, com acompanhamento de boa música e piadinhas. Quem já assistiu sabe que a conclusão é impagável. Agora, se você ainda não viu, vale gastar os R$ 4,90* pra alugar na Apple TV, pois é um bom entretenimento!

*Valor pode variar conforme período promocional na loja da Apple TV. 

Crítica do filme O Poço | Angustiante, visceral e incômodamente atual

O novo filme da Netflix tem dado o que falar, principalmente pela sua temática e seu final em aberto. “O Poço” é um filme de terror que assusta por ser uma fábula aplicável a vida real. O confinamento obrigatório por conta da pandemia que está nos assolando a algum tempo nos força a buscar distrações, mas quando elas falham passamos a olhar para nós mesmos e como a estrutura social vigente é falha.

“O Poço” foi pensado originalmente para o teatro, mas ao passar para a película ganhou um peso ainda mais sombrio e visceral que dificilmente seria possível em uma peça teatral.

A Netflix acertou no momento de disponibilizar esse título, já que o distanciamento social e a falha estrutura socioeconômica  pode nos mostrar o pior do ser humano, é assustador o quanto o longa é análogo a nossa realidade.

“Existem três tipos de pessoas. As de cima, as de baixo e as que caem”

O longa se passa inteiramente em um “Centro Vertical de Autogestão”, uma torre que serve de prisão, conhecida como O Poço. Somos apresentados a Goreng (Ivan Massagué) que ao contrário do que se espera decidiu por conta própria ir para lá, pois queria ler “Dom Quixote” e ainda ganharia um certificado no final de sua estadia de 6 meses.

Lá, ele conhece Trimagasi (Zorion Eguileor), um idoso que será seu companheiro de cela naquele mês. Há meses nessa prisão, ele didaticamente explica como funciona a estrutura do local. Não há luz solar e o alimento é enviado para cada andar através de uma plataforma que se move entre os andares todos os dias.

Goreng e Trimagasi estão no nível 48, então precisam esperar os 47 níveis acima se alimentarem até que os restos cheguem ao seu andar. Não demora para ficar claro que os meses ali serão como um pesadelo e que simbolizam a própria condição humana: o medo, a solidão e o desespero que mostra o pior lado de cada um.

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O luxuoso banquete é preparado no nível zero com as comidas favoritas de cada um dos prisioneiros, mas a plataforma permanece por apenas dois minutos em cada nível. Não é permitido estocar a comida, sob a pena de sofrer com calor ou frio extremos até a morte.

Mais tarde, é explicado que o banquete é pensado de forma a alimentar todos os níveis, mas fica claro que a estrutura é falha pois os níveis superiores costumam comer muito mais do que deveriam, sem se importar com quem está abaixo. A cada 30 dias, os presos são remanejados para outros andares, podendo subir ou descer de forma aleatória, o que reforça ainda mais a estrutura falha da prisão, forçando que todos passem por situações extremas até atingir os limites da fome e da sanidade humana.

Em sua estreia como diretor, o espanhol Galder Gaztelu-Urrutia acerta na narrativa com muitos elementos de gore e suspense, explicando muito alguns aspectos da trama para permitir deixar em aberto outras. Fica clara a influência de Platão e de obras neo-platônicas como Dom Quixote, que permeiam o filme para elucidar alguns pensamentos a respeito do Poço, cada detalhe é pensado para levar a uma interpretação maior da obra, principalmente a semelhança entre o protagonista e o “cavaleiro das causas perdidas”.

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“O Poço” escancara e critica a ideia de que as estruturas sociais por si só não são capazes de educar os seres humanos para a verdadeira incorporação da justiça. O modelo socialista e a luta pela justiça social é criticado constantemente ao longo do filme, que levanta um debate importante para a educação da personalidade dos indivíduos através da conquista das virtudes.

Apenas o medo pode educar, ou a própria educação?

Goreng percebe que ninguém é beneficiado na prisão, tentar fazer os níveis acima mudarem ou até mesmo serem ouvidos é uma tarefa impossível. Cada um é incentivado a comer o máximo que puder enquanto puder, sem pensar muito nas consequências.

Em certo nível o protagonista compartilha a cela com Imoguiri (Antonia San Juan), que acredita que “somente uma solidariedade espontânea pode trazer mudanças”. Ao alimentar-se apenas com o que é necessário, haveria comida para todos. Mas como fazer essa mensagem ser notada quando quem tem abundância quer mais, enquanto os níveis inferiores são obrigados a morrer de fome, enlouquecer ou tornar-se canibais?

Tanto a educação quanto o uso da violência não são suficientes para convencer todos os prisioneiros a agirem de forma justa, por isso o livro de Dom Quixote se faz tão importante para compreender o filme. Dom Quixote não simboliza apenas o conhecimento teórico, ele é o personagem literário que encarnou nos seus comportamentos os próprios valores.

Mas e o final?

“O Poço” é um filme de terror com muito mais do que alguns sustos e cenas gore. É bastante agonizante e o tempo parece parar em alguns pontos, como se você estivesse preso ali também, aguardando a narrativa chegar ao fim ou aproveitando os momentos mais tranquilos antes que tudo piore de vez. É exatamente sobre o final que eu gostaria de falar. Muitos vão assistir e se decepcionar, mas o final em aberto é o que torna o filme ainda mais relevante.

Ao tentar levar os alimentos até os andares inferiores, Goreng e Baharat (Emilio Buale) finalmente encontram a filha perdida de Miharu (Alexandra Masangkay), escondida no último andar da prisão. Ao invés de enviar a panacota intacta à Administração, como uma mensagem de solidariedade espontânea, Goreng entrega à criança faminta.

Ao compreender que a jovem poderia ser uma mensagem mais eficaz, ele se sacrifica para salvá-la. A prisão representa o que há de mais egoísta dentro do seu humano e ao salvar a filha de Miharu, ele entende que uma vida que está em risco pode ser salva se fizermos uma ação de solidariedade.

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“Nenhuma mudança é espontânea”, diz o protagonista, ou seja, é necessário passar por todos os níveis para criar compaixão para com os mais necessitados. Salvando a criança, Goreng cria uma ponta de esperança para que essa mudança ocorra. Essa é uma visão positiva e ideal, de que há recursos para todos mas os “de cima” precisam abrir mão dos excessos.

Ao chegar no fundo do Poço, ele reencontra Trimagasi, que mesmo depois de morto continua assombrando o protagonista, óbvio. Eles saem caminhando como bons amigos em direção a escuridão enquanto o velho diz que a missão foi cumprida. Diversas interpretações são possíveis.

O personagem pode ter morrido no processo e a última cena mostra o encontro com o amigo no outro mundo ou talvez mesmo salvando a menina O Poço corrompeu tanto Goreng que sair de lá já não era possível. Ou tudo não passou de um delírio após toda a fome e dificuldades enfrentadas enquanto descia, incluindo ferimentos. Talvez Goreng só precisasse esperar no último nível até o fim do mês e o confinamento finalmente acabasse. 

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Pessoalmente, não gosto dessas interpretações. Eu acredito que a chave para interpretar o final está na panacota. A menina que Goreng e Baharat encontram não passa de um delírio, já que não são admitidas crianças na prisão e ela estava saudável e limpa, mesmo estando no último nível da prisão. Ela representaria a esperança, e o fato dela comer a panacota seria a mensagem chegando ao destino. Porém, o que voltou ao nível 0 foi justamente a sobremesa.

Há uma cena anterior que mostra a indignação do chef ao notar a panacota intacta mas com um cabelo em cima. Então a mensagem que chegou foi a de que os prisioneiros não comeram a sobremesa por conta desse descuido. Todo o sacrifício foi em vão, quem está acima não vai entender seus esforços e tudo continua da mesma forma.

De qualquer forma, assim como “O Poço”, o filme possui diversas camadas de interpretação, cabe a cada um decidir até que nível é suportável chegar. É um filme recomendassímo, considerando o quanto é difícil encontrar um título interessante nas plataformas de streaming, vale a pena para quem tem estômago.

Crítica do filme Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica | Pouca magia em uma roadtrip

Difícil encontrar uma animação da Pixar que não emocione adultos e crianças, o estúdio já está tão consagrado que qualquer produção será muito bem recebida pelo público. O título da vez ganhou um título bem descritivo no Brasil, “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” (no original, Onward, algo como “adiante” ou “em frente”.)

Ao abordar temas complexos de uma forma simples e sincera, aliadas as animações incríveis e um estilo único, o estúdio acaba superando seus próprios limites a cada produção. Em “Dois Irmãos”, tudo isso se aplica novamente. O diretor Dan Scanlon, que já havia dirigido outro título da Pixar, “Universidade Monstro”, explora temas como luto, a ausência de uma figura paterna e as jornadas que levam as crianças a serem adultos.

Isso posto, talvez “Dois Irmãos” seja um filme simples demais para uma animação da Pixar, sem grandes surpresas na história, apesar de uma construção de mundo interessante, mas por incrível que parece o que falta é encanto e magia. 

O lúdico pelo mundano

Tudo começa com a apresentação de um mundo encantado com elfos, fadas, centauros, dragões e magos poderosos. Existem feitiços para os mais variados propósitos, muito semelhante ao universo de Harry Potter, e assim como no mundo bruxo a magia é complexa e difícil de ser dominada.

Por essa razão, com o progresso da civilização e os avanços tecnológicos sendo desenvolvidos, as criaturas deixam de lado a magia e passam a contar apenas com as comodidades da modernidade. Afinal de contas, é mais fácil apertar um botão e ter luz instantaneamente do que precisar contar com um feitiço complexo para atingir o mesmo propósito.

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É nesse contexto que vive Ian Lightfoot (Tom Holland), um jovem elfo tímido prestes a completar 16 anos, que sente a ausência do pai que nunca conheceu. Barley (Chris Pratt), seu irmão mais velho, compartilha o mesmo sentimento, mas se recusa a desanimar e deixar seu irmão sentir-se triste ou sozinho. Ele é fascinado pela magia do passado e os monumentos históricos, e é a partir de um presente deixado pelo pai que Ian e Barley embarcam numa viagem mágica.

Para complementar a jornada há ainda uma intimidante Mantícora (Octavia Spencer), que havia esquecido sua bravura para adaptar-se aos tempos modernos e a mãe dos jovens elfos  (Julia Louis-Dreyfus), que apesar de ser uma mãe solo bem comum, sabe que é muito forte, no sentido mais amplo da palavra.

Já jogou RPG?

O filme conta com um conhecimento prévio do público a cerca de criaturas místicas e fantasia medieval, sem perder tempo em apresentar as raças ou aprofundar-se em detalhes, mas nada que atrapalhe o entendimento da trama. Preocupa-se sim, e muito, em apresentar características que serão exploradas durante o desenrolar da narrativa, como por exemplo Ian com medo de dirigir em rodovias movimentadas.

As piadas são todas pautadas no conflito entre o mundano e o fantástico, como unicórnios agindo como guaxinins revirando o lixo e fadas em gangues de moto bastante agressivas. Fica claro que os roteiristas Jason Headley e Keith Bunin juntamente com Dan Scanlon se divertiram reimaginando os mitos para um mundo tecnológico.

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Houve ainda um cuidado em inserir despretensiosamente uma personagem LGBTQ+ em uma cena, tudo de forma bastante natural exatamente como deveria ser. Porém, o peso dos temas mais sérios acaba se sobressaindo ao humor, deixando a impressão que é tudo muito simples. Há um momento em que um dos personagens enfatiza que o melhor caminho nem sempre é o mais óbvio, o que é irônico considerando que o filme segue por uma linha extremamente segura, sem desvios ou surpresas. Faltou aquelas cenas que marcam a memória e encantam que os outros filmes Pixar sempre fizeram questão de carimbar.

Enfim, “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” promete entreter todas as idades, mas que talvez apenas confunda os mais novinhos que provavelmente vão preferir animações mais focadas na comédia. De qualquer forma, é inegável que a qualidade Pixar está registrada no longa, mas fica a esperança de que o estúdio encontre novamente o caminho da magia nas futuras produções.

Crítica do filme Bloodshot | Ação nanorobótica

Parece quase indispensável encontrar distrações nessa época tão sombria que estamos vivendo, seja por conta do distanciamento social ou seres completamente ineptos no poder. Com a impossibilidade do povo ir ao cinemas, as distribuidoras encontram estratégias alternativas para não perder totalmente o lucro das produções.

Por essa razão a Sony Pictures (entre diversas outras empresas) resolveu adiantar o lançamento digital de alguns filmes, e no caso de "Bloodshot", disponibilizou no canal oficial os 8 primeiros minutos do longa, para instigar todo mundo a assistir.

Parece quase indispensável encontrar distrações nessa época tão sombria que estamos vivendo, seja por conta do distanciamento social ou seres completamente ineptos no poder. Com a impossibilidade do povo ir ao cinemas, as distribuidoras encontram estratégias alternativas para não perder totalmente o lucro das produções.

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Para quem gosta de filmes de ação e do astro Vin Diesel, “Bloodshot” promete agradar. Porém, ninguém mais aguenta histórias de origem de super heróis, ainda mais um tão obscuro quanto esse. Por isso o diretor David S. F. Wilson teve a complicada tarefa de entregar um filme com potencial para iniciar uma franquia longe das enormes Marvel e DC Comics.

“Bloodshot” quase consegue renovar o gênero com muita ação e uma pitada de diversão, mas falha por conta do ator principal ser excelente com lutas e carros e péssimo quando a atuação exige mais do que três palavras.

Uma nova franquia de heróis?

Raymond Garrison, codinome Bloodshot, é um personagem criado em 1992 por Kevin VanHook, Bob Layton e Don Perlin. Foi publicado pelo selo Valiant Comics, que contava com diversos heróis alternativos, mas foi apenas em 2012, depois de contratar diversos membros da Marvel Comics, que a editora Valiant relançou seu universo de super heróis, dando um reboot total da história e atualizando todos os personagens. O resultado foi excelente, revitalizando os personagens para um público novo sem desagradar o público antigo e hoje em dia a Valiant possui o terceiro maior universo compartilhado dos quadrinhos.

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A adaptação para as telonas precisou “achatar” bastante a história para caber no formato proposto, mas o essencial está todo ali. Ray Garrison é um militar dedicado e excelente em seu trabalho, mas sua vida sofre uma reviravolta quando ele e sua esposa são sequestrados e mortos. Ray consegue ser ressuscitado pelo Dr. Emil Harting (Guy Pearce), que conseguiu essa façanha substituindo todo o sangue por nanitas, que são nanorobôs que agem em uma células sanguínea, só que nesse caso de uma forma muito criativa e exagerada.

Muito semelhante ao Wolverine, Ray não consegue se lembrar de nada do seu passado e  adquire a capacidade de se regenerar por completo, não importando o quando ele fique ferido, além de ter suas capacidades físicas ampliadas. Ele também ganha acesso a redes de computador, incluindo a internet, sem precisar de nenhum dispositivo além de seu cérebro,
o tipo de herói que todo adolescente quer ser.

Há ainda um grupo de super soldados: KT (Eiza González), Jimmy Dalton (Sam Heughan) e Tibbs (Alex Hernandez), cada um com uma história trágica e um membro robótico, que estão ali apenas para desempenhar um papel genérico e não se desenvolvem na trama. Tudo muito legal, até Ray lembrar-se que foi assassinado e viu sua esposa ser morta friamente. Ele decide vingar-se a qualquer custo, mas nem tudo é o que aparenta.

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Potencialmente tudo isso seria perfeito para um filme de ação desenfreada e muita computação gráfica, que são entregues até certo ponto. Pessoalmente, eu parei de considerar Bloodshot como um filme e comecei a ver como se fosse um videogame, pois a proposta seria perfeita para um jogo, se não fossem todos os aspectos genéricos da trama que qualquer pessoa que já assistiu filmes de ação ou de super-heróis reconhece sem esforço. Isso não é necessariamente ruim, o longa é até divertido, mas o que decepciona é o potencial desperdiçado.

Sem entrar em detalhes para não estragar a trama, o filme é repleto de clichês e uma mistura de diversas outras obras, o que não seria um problema se fosse bem utilizado. São poucas cenas de ação que se destacam, não existe desenvolvimento do personagem e a inexpressividade do astro Vin Diesel não ajuda a criar empatia com o personagem. Existe ainda uma tentativa de subtexto sobre liberdade e sobre cada um ter a escolha de quem quer ser, mas é preciso um esforço enorme para enxergar algo além dos nanitas espalhando-se e voltando em câmera lenta, que é o charme do filme (fica aqui meu parabéns à nanotecnologia). 

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A história coescrita por Jeff Wadlow e Eric Heisserer busca uma fórmula desnecessária. É quase como se eles soubessem que a franquia não tem futuro e só entregassem o básico, com medo de errar. Quando o longa encosta timidamente na comédia, subitamente volta a ser “séria”, por medo de ser mal interpretada. Nesse sentido, o grande destaque fica por conta de uma adição surpreendente de Wilfred Wigans (Lamorne Morris), que com pouquíssimo tempo  de tela, é um personagem lunático e genial, com falas malucas que fazem rir sem esforço.

Enfim, “Bloodshot” é um filme mediano quando poderia ser excelente. O final é totalmente anti climático e é até ironizado por um dos personagens, com pouca expectativa para o futuro. Se o universo Valiant continuar nos cinemas, será preciso um esforço bem maior (e talvez um ator no papel principal que seja mais expressivo) para decolar.

Crítica do filme Maria e João: O Conto das Bruxas | O Terror toma conta da Fantasia

Há muitas formas de contar uma mesma história e nem sempre os fatos serão os mesmos – ainda mais quando há uma subjetividade conforme a narrativa e o protagonismo. No caso de contos clássicos como “João e Maria”, você já conhece a versão tradicional, que é contado a todas as crianças, mas, quando a gente fala em audiovisual, sempre há espaço para uma pitada de inovação.

Agora, se a ideia é levar um conto desses a sério, temos de combinar que uma simples história de duas crianças perdidas na floresta não tem muita substância. Assim, para focar num público mais adulto, é preciso mais do que contar com ideias rasas e a inocência da plateia. Então, em vez de continuar com velhas ideias (ou apenas dar armas aos protagonistas), esta nova pegada visa um lado mais sombrio.

Primeiro, temos uma mudança drástica no tom, que deixa de lado a fantasia e passa a ser um retrato mais realista. Além disso, essa nova adaptação (se é que pode ser chamada assim, já que ela foge bastante do trivial) altera muito a sequência da história ao mudar o protagonismo. Aqui, Maria é a irmã mais velha e toma as decisões, de modo que isso justifica também a alteração no título do filme.

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O enredo segue uma premissa similar, mas há uma contextualização mais elaborada. Durante um período de escassez, Maria (Sophia Lillis) e seu irmão mais novo, João (Sammy Leakey), saem de casa para buscar comida e abrigo. No caminho, eles encontram cenas e situações inusitadas, inclusive se deparam com uma casa que pode ser sua salvação ou sua perdição.

E se você quer saber se o filme é bom, mas não quer spoilers ou detalhes da produção, o que posso dizer é que “Maria e João: O Conto das Bruxas” consegue manter um clima de tensão intenso, ao mesmo tempo em que impressiona visualmente. Não se trata de um filme muito assustador, então não espere demônios saltando na tela, porém ele é bem misterioso e leva a gente numa jornada perigosa pela imaginação.

Os mistérios da floresta

No todo, a história de “Maria e João” é muito distinta da habitual, mas há vários elementos que obviamente vão fazer alguma conexão com o imaginário do público que já tem uma noção de cenário e possíveis situações de apuros que os protagonistas enfrentarão nesta jornada na busca pela sobrevivência.

Poderíamos nos perguntar como a diferença de abordagem no roteiro poderia criar um impacto tão distinto, mas no fundo não se trata de uma história totalmente assustadora. O ponto é que essa nova adaptação abusa de detalhes simples, mas que são muito funcionais num projeto que visa passar uma sensação amedrontadora.

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Em vez de simplesmente “jogar” criaturas bizarras na tela, o script Rob Hayes opta por uma construção lenta, que usa muitos recursos de suspense para ampliar o medo infligido aos personagens, que, naturalmente, é repassado à plateia. Um barulho no meio da noite, um vulto entre as árvores, uma oportunidade fácil que cria dúvidas.

A cada instante, o roteiro do filme brinca com diferentes perigos deste mundo perigosos e assustador, ainda mais para dois protagonistas tão jovens. E, aos poucos, o filme vai construindo a sensação de perigo e transformando um ambiente que poderia ser alegre em algo insano e sem muito direcionamento. Tudo pode acontecer, ainda mais quando a sanidade está em jogo.

Uma floresta encantadoramente terrível

Para dar essa amplitude do terror inusitado, o filme dirigido por Oz Perkins (que já fez o filme de terror “O Último Capítulo” na Netflix) abusa de algumas cenas astutas. As câmeras posicionadas estrategicamente para deixar o ambiente mais imersivo, a fotografia pensada para usar silhuetas como gatilhos ao imaginário e os cenários amplamente hostis são convidativos para esse clima de tensão.

E para quem gosta de filmes do gênero, “Maria e João: O Conto das Bruxas” se revela um projeto muito charmoso, pois ele aposta na ambiguidade, ao mesmo tempo em que se mostra muito honesto em sua proposta. Às vezes, uma coisa que parece algo não é necessariamente o que você pensa, porém, o filme não faz muitas afirmações, deixando o público imaginar os possíveis – e terríveis – desdobramentos da história.

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Curiosamente, mesmo sendo mais voltada ao suspense e terror, esta é uma obra que não aposta no trivial, de modo que temos algumas cenas claramente criadas para deixar o filme mais bonito. Luzes impossíveis no meio da floresta, um colorido que cria um ambiente mais confortável para as trevas, efeitos competentes e uma trilha sonora eletrônica caprichada (que mais parece sair de Blade Runner) criam uma dualidade.

E é nesse mundo incrivelmente polido, que acompanhamos a história principal, que nem sempre é a prioridade. O roteiro trabalha muito com a atmosfera, mas não faz questão de dar muitos detalhes sobre o universo dessa nova versão do conto. Isso é obviamente um deslize e pode decepcionar os fãs mais fervorosos que tenham expectativas de ver um filme inusitado. Então, mantenha a calma.

A parte boa é que temos duas ótimas atrizes no jogo de gato e rato: Sophia Lillis e Alice Krige. Ótimas atuações, maquiagem e figurino de acordo com a ambientação, e diálogos que vão dando liberdade para as duas estrelas brilharem neste jogo perverso. Particularmente, eu achei muito bom o rumo proposto pelo roteirista, mas eu sei que nem todo o público enxergará a graça em meio à neblina de dúvidas.

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O que dá para concluir é que “Maria e João: O Conto das Bruxas” bebe da fonte de alguns filmes de terror recentes (como “A Bruxa”), não que ele tente plagiar, mas há uma inspiração evidente, bem como tenta criar sua identidade ao trazer referências artísticas de outras obras distintas (como “Mandy”). Um projeto audacioso, que talvez não seja o mais incrível que poderíamos imaginar, mas que agrada no todo e abre as portas para grandes sonhos de terror.