Omar Sy - Café com Filme

Paro quando quero | Trailer legendado e sinopse

Um grupo de investigadores universitários desempregados decide produzir e comercializar a melhor smart drug do mercado, transformando-se na gangue traficante mais improvável da cidade.
Pietro recruta no seu grupo todos os seus amigos desempregados: excelentes acadêmicos, latinistas, antropólogos etc. O objetivo é fazer dinheiro e restituir a cada um deles um mínimo de dignidade. Mas as coisas começam a tomar um outro rumo

Crítica do filme Quando as Luzes se Apagam | Roteiro inseguro se perde no escuro

Quando David F. Sandberg exibiu o curta-metragem “Lights Out” lá no começo de 2014, muita gente ficou surpresa com as boas ideias apresentadas e a direção criativa do cineasta.

Graças ao enorme sucesso, o projeto de Sandberg acabou despertando o interesse de ninguém menos que James Wan (que você deve conhecer de “Invocação do Mal”).

Foi assim que a Warner resolveu tocar o projeto “Quando as Luzes se Apagam” em frente, levando a ideia do curta-metragem para a telona. Na versão estendida da história, acompanhamos uma família que enfrenta adversidades com uma criatura que habita na escuridão.

O pequeno Martin (Gabriel Bateman) está com dificuldades para dormir e apresenta problemas para se concentrar na escola. O problema parece ser sua mãe, Sophie (Maria Bello), que está um tanto fora do normal. Ela conversa sozinha e deixa a casa toda no escuro. Logo, o garotinho começa a ver uma silhueta sinistra nas sombras e fica apavorado.

Devido aos relapsos da mãe, a irmã de Martin, Rebecca (Teresa Palmer), resolve acolher o garoto, enquanto tenta se reconciliar com a mãe. Contudo, pode ser que os perigos da escuridão não sejam apenas coisas da cabeça de Martin ou de Sophie, mas sim uma assombração misteriosa do passado que vai colocar a família toda em risco.

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Sem entrar em detalhes, dá para adiantar que o resultado não é genial. A versão alongada do curta tem boa vontade e tenta levar a plateia para tomar sustos no escuro, mas os argumentos da história não dão muito certo e falta substância para entregar inovação na parte de terror. Filme meia-boca e que não consegue nem ser metade do que promete nos trailers.

Produção competente

Não é todo filme de terror que consegue alcançar o nível de qualidade de “Invocação do Mal”, “O Exorcista” ou de outros clássicos do gênero. No caso de “Quando as Luzes se Apagam”, a produção acerta em vários pontos, apesar de não surpreender o público mais exigente.

Primeiramente, temos boas ideias na questão dos cenários. Por se tratar de uma história que necessita de ambientes com muita penumbra, a escolha de ambientes menores e que possibilitem a atuação da criatura sobrenatural foi um fator importante para entregar boas experiências de susto.

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O uso de luzes e sombra é o que mais impressiona, uma vez que o diretor David F. Sandberg dá o direcionamento correto para as câmeras e encurrala a plateia constantemente em locais onde não há como fugir do escuro. É simples, as luzes se apagam e não sobra um corajoso para enfrentar a criatura que habita nas trevas..

A trilha sonora de Benjamin Wallfisch também vem a calhar, uma vez que, como muitos filmes congêneres, “Quando as Luzes se Apagam” abusa de jump scares (aquelas cenas clichês que apelam para mudança súbita de câmera e o barulhos em volume bem alto). É claro que, depois de algumas repetições, tudo fica manjado, mas a sonoridade amplia a tensão.

É simples, as luzes se apagam e não sobra um corajoso para enfrentar a criatura que habita nas trevas..

Apesar de contar com alguns nomes mais conhecidos, como Teresa Palmer e Maria Bello, o elenco nem sempre é o responsável por guiar a trama. Os diálogos são fracos e, salvo algumas cenas com Maria Bello, o trabalho da equipe se mostra bastante medíocre. Não que a culpa seja dos atores, já que o roteiro pode levar a culpa por boa parte do fracasso do filme.

O filme também depende um tanto de efeitos especiais. Nesse quesito, o trabalho é até bem convincente, com algumas cenas que deixam a plateia bem instigada. A criatura que habita no escuro está ali para ser protagonista e, nesse ponto, não dá para botar defeito. Ela se esgueira da luz, rasteja pela escuridão e se locomove sempre em direção à câmera.

Terror inconsistente

Se a produção acerta em vários quesitos, o roteiro acaba prejudicando o desenvolvimento da obra. A história básica de “Quando as Luzes se Apagam” não é ruim. Há aqui material suficiente para desenvolver uma boa trama e fazer algumas viradas de perspectiva que poderiam deixar os espectadores realmente intrigados.

O início da história é bem interessante e o roteiro prende a atenção até determinado ponto. Acontece que, talvez por falta de atenção, a história começa a tropeçar em fatos que apresentou no começo da película, o que deixa todo mundo bastante confuso. A falta de coerência entre vários argumentos apresentados só piora e no fim a salada está feita.

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Também é evidente que o roteiro aproveita várias ideias já vista em outros filmes. Isso não é o fim do mundo, já que inovação do começo ao fim é algo raro neste gênero. O problema é que não há muita coisa nova além do ser sobrenatural que habita no escuro. Sem ter ideias consistentes, o roteiro apenas vaga pelas sombras e não consegue jogar uma luz numa história que poderia ser bem interessante.

Infelizmente, o resultado final de “Quando as Luzes se Apagam” deixou muito a desejar. O que vemos na telona é um alongamento da proposta do curta-metragem. A mesma técnica de susto é usada do começo ao fim. Dá certo nas primeiras vezes, mas as surpresas acabam rapidamente. No geral, um filme mediano. Nada de genial para os fãs de terror, mas uma boa pedida para assustar os mais sensíveis.

Especial Dia dos Pais, Mad Max e Maratona Danny Boyle: veja destaques da HBO

A segunda quinzena de agosto vem recheada de novidades nos canais da HBO. E a programação está bem diversificada, com desde estreias esperadas até clássicos na maratona Danny Boyle.

A programação começa já com o Especial Dia dos Pais, nesse domingo, com a exibição de “LEGO DC COMICS SUPER HEROES: Liga da Justiça vs. Liga Bizarro”. O filme, que leva o público ao mundo de Bizarro, um planeta que corre perigo de ser destruído pelo vilão Darkseid, vai ao ar pelo MAX UP no domingo, dia 14, às 08h45. 

Às 13h40, o HBO Family exibe o longa “A Creche do Papai”, e às 18h30, o canal apresenta um clássico de Dia dos Pais, o filme “O Paizão”. Já a comédia “Pixels” vai ao ar às 23h, no canal HBO PLUS. 

Além do Especial Dia dos Pais, a programação da quinzena traz outras estreias e exibições superbacanas. Confira alguns títulos que serão exibidos:

Círculo de Fogo

HBO PLUS | Segunda-feira – 15/08 - 19h45

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Quando legiões de criaturas monstruosas, conhecidas como Kaiju, surgem dos mares, uma guerra que tomará milhões de vidas irá consumir os recursos da humanidade por anos até seu fim. Para combater o gigante Kaiju, um tipo especial de armamento foi desenvolvido: centenas de robôs, chamados Jaegers, que são controlados simultaneamente por dois pilotos cujas mentes estão ligadas por uma ponte neural. O filme “Círculo de Fogo” está disponível também na HBO GO.

Veja a crítica do filme Círculo de Fogo! 

Carta Selvagem

HBO 2 | Segunda-feira – 15/08 – 22h

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O guarda-costas Nick Wild tem habilidades letais, aprendidas com a profissão. Ele sai em busca de vingança após seu amigo ser espancado por um sádico bandido.

A sogra

HBO Plus | Terça-feira – 16/08 – 09h45

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Há anos, Charlotte Cantilini esperava pelo homem de seus sonhos. Isso, até conhecer Kevin Fields. Mas, agora, às vésperas de se casar, descobre o tenebroso lado obscuro de seu príncipe encantado: sua mãe. E o que era para ser uma festa pode virar uma guerra.

“A Sogra” também pode ser visto no HBO GO.

Identidade

HBO Plus | Terça-feira – 16/08 – 22h

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Em meio a uma tormenta, dez estranhos se refugiam num hotel onde misteriosos assassinatos começam a acontecer.

118 Dias

CANAL MAX | Quarta-feira – 17/08 – 17h10

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Calar um jornalista não silencia a verdade. No drama 118 Dias, Gael García Bernal interpreta o jornalista iraniano Maziar Bahari. Baseado em história real, o filme mostra as dificuldades que o jornalista enfrentou ao ser acusado de espionagem e ser torturado por 118 dias. 

Leia a crítica de "118 Dias".

Dorina - Olhar para o Mundo

MAX UP | Quarta-feira – 17/08 – 19h25

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Neste documentário, a diretora Lina Chamie resgata a trajetória de Dorina Nowill, mulher extraordinária que desenvolveu o precursor trabalho de inclusão do deficiente visual no Brasil e no mundo. 

Veja “Dorina – Olhar para o Mundo” também no HBO GO. 

O último poema do rinoceronte

HBO Signature | Quinta-feira – 18/08 – 15h45 

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O cinema iraniano ganha espaço na tarde da quinta-feira do canal HBO Signature. O drama O Último poema do Rinoceronte, dirigido por Bahman Ghobadi, aborda uma união condenada. Após passar 30 anos na prisão, o poeta Sahel deseja reencontrar sua esposa, que pensava que ele estava morto. 

Mad Max – A Estrada da Fúria

HBO 2 | Quinta-feira – 18/08 – 22h

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Uma história apocalíptica que se passa nos confins do planeta, em um deserto onde a humanidade está desmoronando, e todos os humanos estão lutando loucamente pelas necessidades mais básicas da vida. Neste mundo, há dois rebeldes fugitivos que talvez consigam restaurar a ordem.

Max (Tom Hardy), um homem de ação e de poucas palavras, que busca paz para sua mente seguindo a perda de sua mulher e filho no acerto de contas do caos. E Furiosa (Charlize Theron), uma mulher de ação que acredita que seu caminho para a sobrevivência só pode ser trilhado se ela cruzar o deserto e voltar para sua terra natal.

“Mad Max – A Estrada da Fúria” também está disponível no HBO GO. Aproveite e confira nossa crítica do filme!

Terra Fria

HBO Signature | Sexta-feira – 19/08 – 14h10 

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Com o fim de seu casamento, Josey volta para Minnesota e vai trabalhar nas minas. Num ambiente predominantemente masculino, ela faz boas amizades, mas também enfrenta a conduta imprópria de seus colegas. Filme baseado na história real da primeira batalha judicial por assédio sexual dos Estados Unidos. No elenco estão Charlize Theron e Woody Harrelson, entre outros.

“Terra Fria” também está disponível no HBO GO.

Sr. Kaplan

CANAL MAX | Sexta-feira – 19/08 – 22h

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Jacobo Kaplan é judeu e chegou ao Uruguai fugindo da guerra. Agora está com 76 anos e já não encontra nenhum sentido em sua existência, até que se dedica a prender um suposto nazista que vive na praia, com a ajuda de Wilson, seu motorista.

“Sr. Kaplan” está disponível também na HBO GO.

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HBO Family | Sábado – 19/08 – 20h 

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No filme dirigido por David Feiss, o cervo Elliot e seus amigos ajudam o urso Boog a superar seus medos. Juntos tentam resolver o mistério de um lobo desaparecido e proteger a floresta da invasão do caçador Shaw.

Maratona Danny Boyle no Canal MAX

Trainspotting - Sem Limites

CANAL MAX | Sábado – 19/08 – 22h 

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Longa indicado ao Oscar® de Melhor Roteiro Adaptado segue as desventuras de jovens rapazes em Edimburgo tentando encontrar o seu caminho em meio a desemprego, relações sem sentido e vício em drogas. Alguns deles são bem-sucedidos, enquanto outros, não, sem nenhuma esperança. 

Baseado no romance de Irvine Welsh, “Trainspotting – Sem Limites”mistura areia com poesia, resultando em um filme de verdades duras e graça surpreendente. 

Confira a crítica do filme “Trainspotting – Sem Limites”.

Cova Rasa

CANAL MAX | Sábado – 19/08 – 23h30

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O jornalista Alex, a médica Juliet e o contador David moram juntos e resolvem alugar o quarto vago para o calado Hugo. Mas, logo após se mudar, ele morre de overdose e deixa uma mala de cheia de dinheiro. Os três decidem livrar-se do corpo e ficar com a grana. Mas o cadáver é achado e as coisas complicam.

Crítica do filme Negócio das Arábias | Tudo acontece, Babaganuche

O trailer de “Negócio das Arábias” – e também o título do filme – pode ter deixado você um tanto encucado com o rumo que essa história poderia tomar no cinema.

As poucas dicas do vídeo apenas nos informam que Alan Clay (Tom Hanks), um homem de negócios, foi para a Arábia Saudita na tentativa de arrumar sua vida financeira.

Acontece que, ao acompanhar a história mais de perto, percebemos que o roteiro vai muito além dessas questões. Na cidade de Jeddah, longe da realidade dos Estados Unidos, ele realiza várias tentativas para conseguir dinheiro, provar para sua filha que ele é um homem capaz e, talvez, realizar algo surpreendente em sua vida.

Só que o mundo neste mar de areia pode ser mais doido do que Clay imagina para uma viagem de negócios. Ele se depara com pessoas muito diferentes, bem como com ambições e peculiaridades que não imaginava. “Negócio das Arábias” é assim, um filme de pluralidade com roteiro inesperado e diversão pontual que mostra formas distintas de encarar a vida.

Bagunça com bom humor

O roteiro de “Negócio das Arábias” é bastante simples. A ideia vem do livro “Um Holograma para o Rei”, que trata justamente do tal negócio que o protagonista vai fazer com um dos líderes da região lá nas Arábias. A tradução do título para o português faz bastante sentido, uma vez que o nome do livro talvez ficasse um pouco confuso na divulgação do filme.

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Acontece que entre o argumento básico e a execução do longa-metragem há um mar de coisas. Alan Clay vai para o Oriente Médio com um objetivo bem simples. Todavia, conforme você pode ver no trailer, o rei não é uma pessoa muito acessível. A forma como isso é apresentado dá a entender que as coisas funcionam de uma maneira bem alternativa por lá.

Pessoas desinformadas, problemas de comunicação, limitações no ambiente de trabalho, areia, falta de recursos, lugares enormes, vestimentas, mais areia, calor absurdo, proibição de bebidas alcóolicas, costumes, locais públicos para execuções e areia que não acaba mais. Tudo isso contribui para deixar Clay um pouco irritado, cansado e desorientado neste mundão. As piadas, o ritmo do filme e a trilha, por outro lado, mostram que nem tudo é o fim do mundo.

Enfim, com as tantas dificuldades para encontrar o rei, o executivo de vendas resolve aproveitar o tempo vago para explorar o deserto. Ele conta com a ajuda de Yousef (Alexander Black) para fazer esse tour pelas arábias. O ator coadjuvante — ainda um novato em longa-metragens — interpreta um árabe bem engraçado e se mostra bem versátil para contracenar com Tom Hanks. As falas de um completam a do outro, o que garante dinamismo na trama.

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A presença de outros personagens como a doutora Zahra (Sarita Choudhury, que você talvez conheça de “Jogos Vorazes” ou da série “Homeland”) e da colega Hanne (Sidse Babett Knudsen) ajudam a diversificar a trama. O protagonista vai da areia à balada, da balada ao consultório médico, do consultório a um edifício em construção. É uma verdadeira salada-mista, mas as piadas pontuais acabam deixando o passeio pelas Arábias bem divertido.

Dê uma chance para o diferente

Tão importante quanto a trama principal é a construção de uma segunda temática dentro do filme. Apesar de mostrar um protagonista bastante exausto por conta dos problemas da vida pessoal, que não parecem ser facilmente resolvidos com a viagem para as Arábias, o longa faz questão de desenvolver algumas ideias em segundo plano que acabam sendo bem válidas e pouco comuns.

Tom Hanks mostra novamente seu talento, sendo o cara isolado no meio de um universo peculiar, que apresenta temas que podem deixar a plateia relutante

O roteiro aproveita vários cenários para desconstruir a visão que muitos têm do Oriente Médio. Com o foco nas grandezas da região, nos monumentos, nas peculiaridades do povo e em vários costumes que destoam do que acontece no Ocidente, o filme consegue passar uma visão muito otimista, sem deixar de pautar algumas regras e práticas um tanto questionáveis.

Alguns temas latentes centralizam nas limitações impostas às mulheres, que são submissas e sofrem muito diante de leis tão rígidas. São características incabíveis para muitos espectadores, ainda mais em sociedades como a nossa que tentam justamente obter a igualdade de direitos. A história ainda aborda outros problemas que são tapados com a peneira, como a questão da mão de obra filipina.

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A escolha de Tom Hanks para explorar esse mundo foi um passo na direção certa. O ator mostra novamente sua competência em levar um filme todo nas costas, sendo o cara isolado no meio de um universo bem peculiar. A bagunça para fazer o personagem passar por tantas situações bizarras talvez foi um pouco desnecessária, mas no fim, com o talento de Hanks, o título surpreende.

Apesar de deixar a plateia um tanto relutante sobre a cultura distinta, a obra de Tom Tykwer (“A Viagem” e “Sense 8”) é mais um convite do que uma crítica ao diferente. Com o exemplo de Alan Clay, o longa-metragem “Negócio das Arábias” mostra que é sempre importante correr atrás da felicidade, seja viajando, tentando novamente, aproveitando as pequenas coisas. Isso sim é o verdadeiro negócio, seja nas Arábias ou em qualquer lugar do mundo.

Crítica do filme Chocolate | Alegria no palco, tristeza no camarim

O circo é uma verdadeira fábrica de risos. A arte circense surgiu há milhares de anos e veio se moldando ao público com diferentes atrações. Entre tantas figuras, o palhaço sempre foi a mais icônica, incorporando a essência do circo tanto em sua aparência quanto em seu jeito de interagir com a plateia.

Tirando os apaixonados pelo mundo do circo, poucas pessoas sabem os nomes de palhaços famosos, mas há alguns personagens que marcaram época. É o caso de Chocolate, um artista que conquistou a simpatia dos franceses lá no final do século XIX, ao realizar apresentações em dupla com o palhaço Foottit.

Nascido em Cuba, por volta de 1868, Rafael Padilha foi vendido quando ainda era criança. Quando ficou adulto, sua única chance de ter uma vida melhor foi trabalhar em circos, interpretando geralmente selvagens ou criaturas que colocassem medo na plateia. Nesta época, os circos dos horrores ainda eram famosos e necessitavam de bizarrices.

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Foi num desses circos que seu caminho se cruzou com Foottit, palhaço de origem inglesa e de fama nos espetáculos franceses. O artista europeu então tem a brilhante ideia de fazer dupla com Chocolate, colocando um palhaço branco (sério) e outro augusto (exagerado) num mesmo número. Era o começo de um futuro brilhante para um dos primeiros artistas negros da França.

Espetáculo na telona

Não tem nada melhor do que ver atores que realmente abraçam os papéis. Os palhaços Chocolate e Fottit marcaram época com seus números, então foi de grande valia o esforço de Omar Sy e James Thiérrée para dar esse toque de veracidade para o longa-metragem. É claro que, como protagonista, Sy ganha ainda mais notoriedade, e não é para menos, já que ele esbanja talento em cada frase, sorriso ou representação de sofrimento.

Além das expressões convincentes e das caracterizações que denotam o ótimo trabalho da equipe de maquiagem, os dois atores se mostram dedicados a levar a arte de circo — pelo menos a que fazia naquela época — para o cinema. Eles arrasam no palco com números que envolvem muita desenvoltura, acrobacias e diálogos que parecem improvisados.

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O figurino se mostra fundamental para criar os personagens, sendo uma característica marcante da obra. Frequentemente, os dois palhaços estão trocando de roupas para as apresentações, com roupas muito bem elaboradas que remetem ao lúdico e expressam com clareza a alegria do circo.

O desenvolvimento de “Chocolate” também depende do cenário do circo constantemente, uma vez que estamos falando da história de dois palhaços. O roteiro centraliza vários diálogos nas dependências circenses. A reconstrução minuciosa dos ambientes é algo que chama a atenção, já que estamos tratando de uma época bem antiga. Há cenas que desviam desses locais, mas ainda é notável o esforço da equipe técnica para nos transportar ao passado.

Omar Sy ganha notoriedade ao esbanjar talento em cada frase, sorriso ou representação de sofrimento

A trilha sonora é um deleite à parte, graças ao talento de Gabriel Yared — que você já deve conhecer de filmes como “À Beira Mar” e “O Talentoso Ripley”. O uso de repiques para dar o tom das danças no palco, os sons calmos que embalam os momentos alegres e até a dramatização pesada com o uso recorrente de tons mais graves dão o rumo ideal para a trama.

Há também algumas músicas improvisadas com os palhaços já em suas apresentações, o que é bem interessante, uma vez que o filme não fica só dependente dos sons da edição. A sincronia entre os palhaços e a plateia também conta muito nesse sentido, já que transpassa a alegria do espetáculo para os espectadores no cinema.

A vida de palhaço não é só alegria

O filme “Chocolate” tem um aspecto bastante interessante em sua construção de roteiro, algo que vai se moldando por emoções e tons diferentes de abordagem. O filme começa de forma neutra, com um sujeito que não tem muita perspectiva de vida. Todavia, essa neutralidade é facilmente superada quando as coisas começam a melhorar.

Aos poucos, a alegria e a diversão tomam conta da tela. A carreira do palhaço Chocolate vai muito bem, sendo que ele consegue fazer uma boa grana no maior circo da França. É uma história de superação, de alguém que saiu da lama e foi para o palácio.

Ele consegue renovar seu guarda roupa, ter o privilégio de usar veículos motorizados, beber das melhores bebidas, jogar e ter muitas mulheres. Aonde ele vai, as pessoas o veneram por seu talento e carisma. Ele é sucesso entre as crianças e também muito namoradeiro.

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Acontece que, viver em uma época em que negros são marginalizados pela sociedade — não que isso seja um comportamento extinto hoje — dificulta bastante as coisas. Não demora a que muitas coisas comecem a dar errado. Em parte, o próprio Chocolate é culpado, mas há muitos eventos incontroláveis que mudam drasticamente a vida dele e o tom da película. A diferença de trato, as injustiças e todo o entorno mostram o sofrimento do artista.

Isso inclusive me lembra uma piada.

“Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.

O médico diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”

O homem se desfaz em lágrimas. E diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

Curiosamente, a piada contada por Rorschach (da graphic novel Watchmen, de Alan Moore) cai como “uma luva” para entender um pouco da vida de Chocolate. O artista está ali para fazer as pessoas rirem, mas sua vida não é só alegria. Como alguém que viu a carreira subir rapidamente, Rafael Padilha queria acabar com o preconceito e conquistar a fama fora do circo.

Com muitos infortúnios em série, a trama muda de alegria para tristeza. As cores e luzes do palco são trocadas por tons apagados e sombras em locais terríveis. Chocolate passa por uma fase terrível, que chega a ser dolorida para o público.

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A discussão sobre preconceito, ódio e desprezo é marcante e agrega muito ao longa-metragem. Apesar de ser somente uma entre as milhares de histórias relevantes sobre a exclusão dos negros, essa é uma história que precisava ser contada e que chega ao espectador de forma muito atraente. Uma produção francesa do mais alto nível.

Chocolate” segue uma linha de construção inteligente enquanto discorre sobre vários aspectos. É um filme alegre, que anima ao mostrar que a sociedade dá passos devagar em direção ao futuro, mas ainda se mostra reflexivo sobre questões pertinentes que foram — e ainda são — verdadeiros atrasos. Recomendamos acompanhar essa história na telona!

Filmografia de Ugo Giorgetti chega às plataformas digitais

Quase toda a filmografia do diretor e roteirista paulistano Ugo Giorgetti agora pode ser acessada pelas plataformas digitais pelo iTunes, Google Play e Vimeo. A novidade acaba de ser anunciada pelo diretor Igor Kupstas, da O2 Play, distribuidora digital e encoding que pertence à produtora O2 Filmes.

“Quebrando a Cara” (1977-1986), “Jogo Duro” (1985), “Festa” (1989), “Sábado” (1994), “Boleiros - Era Uma Vez o Futebol” (1998), “O Príncipe” (2002), “Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos” (2006), “Solo” (2009), “Paredes Nuas” (2009), “Cara ou Coroa” (2012), “A Cidade Imaginária” (2014) e “Uma Noite em Sampa” (2016) são os títulos disponíveis no Video On Demand. 

O projeto é o primeiro de uma série de diretores e talentos do cinema brasileiro que a O2 Play vai recuperar e trazer para o VOD. Em setembro será a vez do cineasta Toni Venturi. “É uma honra e um orgulho dar a oportunidade de toda uma nova geração de cinéfilos conhecer a obra de um artista como o Ugo”, diz Igor Kupstas, diretor da O2 Play. 

Sobre o diretor

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Ugo Giorgett começou como diretor de filmes publicitários para televisão, passando também pelas principais agências do país. Nos anos 1970, dirigiu o único curta-metragem da sua carreira, “Campos Elísios” (1973), sobre o bairro paulistano de mesmo nome. Em seguida dirigiu o média-metragem “Prédio Martineli” (1975). 

Além dos filmes já citados, dirigiu também “México - A Última Olimpíada Livre” (2011), “Pizza” (2005), “Variações sobre um quarteto de cordas – A música de Johannes Oelsner” (2004) e “Uma outra cidade: Poesia e vida em São Paulo nos anos 60” (2001), todos exibidos na TV.

Confira as sinopses dos filmes disponíveis:

Quebrando a Cara 

(1977 - 1986, documentário) – Melhor Montagem no Festival de Brasília

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

A saga da família Zumbano-Jofre pelos ringues de São Paulo, cidade que surge através de cada personagem como se ela mesma fosse um deles, além da história de Éder Jofre, duas vezes campeão mundial de boxe, com registros de algumas de suas lutas mais famosas; uma verdadeira análise da vontade de vencer através do esporte e das dificuldades inerentes.

Jogo Duro

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(1985, drama)

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Antonio Fagundes, Cininha de Paula, Paulo Betti, Cleide Yáconis, Eliane Giardini, Humberto Magnani

Pacaembu, um dos bairros mais ricos de São Paulo. Uma mulher e sua filha vivem clandestinamente numa grande e desocupada casa. A posse desta mulher é disputada por dois homens nas mesmas condições sociais dela: um guarda particular e um empregado, que uma firma imobiliária instala na casa. Não demora muito para que eles entrem em conflito.

Festa 

(1985, comédia) - Melhor Filme no Festival de Gramado

Direção e Roteiro: Ugo Giorgetti

Elenco: Antonio Abujamra, Adriano Stuart, Jorge Mautner, Otávio Augusto, Ney Latorraca, Iara Jamra, José Lewgoy, Patrícia Pillar

Um tocador de gaita, um jogador de sinuca e o velho assistente deste são contratados para animar uma festa numa mansão. Eles ficam aguardando um chamado no salão de jogos da casa, sem serem admitidos ao andar superior, onde acontece a festa. Durante a espera eles discutem sua situação e têm contato com garçons e empregados, todos dirigidos por um mordomo autoritário.

Sábado 

(1994, comédia) 

Direção e Roteiro: Ugo Giorgetti

Elenco: Giulia Gam, Otávio Augusto, Mariana Lima, Maria Padilha, Jô Soares, Tom Zé, André Abujamra, Decio Pignatari, Vandi Doriatiotto

Sábado na cidade de São Paulo. Uma equipe de publicidade ocupa o saguão do antigo Edifício das Américas, no centro da cidade, para a gravação de um comercial. Mas um elevador quebrado obriga equipe e moradores a dividirem o mesmo espaço. Desse convívio forçado surgem pequenos incidentes que tornam este sábado diferente de qualquer outro.

Boleiros – Era Uma Vez O Futebol 

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(1998, comédia dramática) 

Direção e Roteiro: Ugo Giorgetti

Elenco: Lima Duarte, Otávio Augusto, Rogério Cardoso, Flavio Migliaccio, Adriano Stuart, Denise Fraga, João Acaiabe

O filme faz um retrato dos chamados ''Boleiros'', veteranos do esporte. Em um bar de São Paulo, como acontece em quase todas as tardes, um grupo de ex-jogadores de futebol se reúne para relembrar antigas glórias e histórias curiosas do tempo em que ainda eram jogadores profissionais.

O Príncipe 

(2002, drama) 

Direção e Roteiro: Ugo Giorgetti

Elenco: Eduardo Tornaghi, Bruna Lombardi, Ricardo Blat, Ewerton de Castro, Nydia Licia, Otávio Augusto, Ligia Cortez, Adriano Stuart

Gustavo é um intelectual de meia idade, que vive em Paris há mais de 20 anos. Ele leva uma vidinha pacata no exílio, feita de conferências, palestras, traduções e artigos para publicações especializadas de pouca tiragem, mas de muito prestígio. Durante todo esse tempo Gustavo não tinha feito nenhuma visita ao Brasil, mas a fragilidade da mãe e a doença de um sobrinho o obrigam a voltar.  Os sentimentos, sensações, acontecimentos e descobertas sobre uma cidade que deixou há mais de vinte anos e que se transforma velozmente, faz com que Gustavo perceba, pouco a pouco, que está revisitando fantasmas, revolvendo ruínas e tentando resgatar um passado que ele sabe ser um sonho impossível.

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Boleiros 2 – Vencedores E Vencidos

(2006, comédia dramática)

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Lima Duarte, Otávio Augusto, Paulo Miklos, Cassio Gabus Mendes, Denise Fraga, Flavio Migliaccio, Petrônio Gontijo, Adriano Stuart

O bar do Aurélio, reduto de boleiros famosos, está prestes a ser reinaugurado e acaba de ganhar um novo sócio, o herói do penta Marquinhos. O futebol é o tema central das conversas, que são resumidas em três histórias: a do falso argentino Rafael Benitez; do misterioso Nestor, que retornou recentemente do México e quer convencer a todos que foi um grande jogador; e do assistente-técnico Barbosa, que tinha várias ideias na cabeça mas jamais conseguiu colocá-las em prática numa partida de futebol.

Solo 

(2009, drama)

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Antonio Abujamra

Um homem fala de um mundo que não mais lhe pertence e que não mais entende. É alguém que caminha da solidão para as trevas. Embora com humor, sarcasmo e permanente ironia,  ele fala de perplexidade e desespero. É o testemunho de um homem na última meia idade, de boa família, de um bairro nobre e uma reflexão sobre morar em São Paulo, cidade que frequentemente é vista como um pesadelo.

Paredes Nuas 

(2009, drama) 

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Andrea Tedesco, Angelo Brandini,  Domingos Montagner, Juliana Galdino e Luiz Damasceno

Um rico patrono das artes, homem de grande sucesso social e econômico é preso numa dessas ações desencadeadas de vez em quando pela Polícia Federal. As acusações são as de sempre: gerência temerária, evasão fiscal, formação de quadrilha, etc,etc. Na sala de sua casa, quatro personagens - o motorista, a governanta, o advogado e a esposa - discutem o desdobramento da prisão do empresário e, por meio desse fato, procuram entender suas próprias vidas.

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Cara ou Coroa 

(2012, drama) 

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Emílio de Mello, Geraldo Rodrigues, Julia Ianina, Walmor Chagas, Otávio Augusto, Juliana Galdino, Andrea Tedesco

São Paulo, inverno de 1971. João Pedro é um diretor de teatro que está bastante atarefado com uma nova peça. Nas folgas do trabalho e durante os ensaios, ele recebe ocasionalmente a visita de um integrante do Partido Comunista, que não compreende as opções estéticas e políticas da peça, parcialmente financiada pelo partido. Paralelamente, seu irmão Getúlio e a namorada Lilian, ambos idealistas, decidem colaborar com a resistência à ditadura militar, abrigando dois fugitivos. Eles decidem escondê-los na casa do avô de Lilian, um militar da reserva.

A Cidade Imaginária 

(2014, drama)

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Helio Cícero, Suzana Alves, Duda Mamberti, Ligia Cortez, Luti Angelelli, Cris Rocha, Marcos de Andrade, Naomi Scholling, Flavio Tolezani, Gabriela Westphal, Andrea Tedesco

Um retrato dos imigrantes italianos que desembarcaram em São Paulo nas últimas décadas do século 19. Dúvidas, indagações, hesitações, medos e angústias geradas pelo desconhecido que os aguarda ao alvorecer do dia. Pessoas que saíram de suas terras com pouco ou nenhum esclarecimento do que iam encontrar no novo país, de camponeses iletrados aos primeiros anarquistas, aventureiros, cantoras de ópera à procura de novas oportunidades. Quem eram essas pessoas que chegavam ao Brasil, e o que sabiam ou pensavam da terra na qual seu futuro iria se desenvolver?

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Uma Noite Em Sampa 

(2016, comédia) 

Roteiro e Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Flavia Garrafa, Roney Facchini, Otávio Augusto, André Correa, Flávio Tolezane, Cris Couto, Agnes Zuliani, Fernanda Viacava, Andrea TedescoCarol Portes, Suzana Alves, Thaia Perez, Cris Rocha, Stella Tobar, Thiago Amaral, Siomara Schröder , Francisco Bretas, Sergio Mastropasqua, Angelo Brandini, Lutti Angelelli.

A tragicômica situação pela qual um grupo passa após a sessão de teatro ficará marcada pra sempre em suas mentes. O ônibus que os levaria de volta para suas casas está trancado e sem o motorista. O que fazer? Perdidos na noite de São Paulo, desorganizados, paralisados e dependentes dos seus próprios medos, os passageiros se limitam a ficar à espera de alguma coisa, algum desconhecido milagre que os liberte daquela situação.