Crítica do filme A Mais Preciosa das Cargas | Um pouco de humanidade no fim do mundo

Dirigido por Michel Hazanavicius e baseado na novela de Jean-Claude Grumberg, o filme “A Mais Preciosa das Cargas” mergulha na Segunda Guerra Mundial com uma estética singular para narrar a improvável história de um casal pobre que encontra uma criança atirada de um trem em movimento. A partir daí começa uma jornada silenciosa sobre sobrevivência, transformação e resistência.

Apesar da curta duração — apenas 81 minutos —, o filme tenta abarcar uma densidade emocional e simbólica considerável. É uma obra que fala sobre o horror, mas também sobre a beleza frágil que resiste mesmo em meio ao caos. Ainda que em certos momentos falte equilíbrio entre forma e conteúdo, “A Mais Preciosa das Cargas” encontra seus momentos de força quando aposta na sutileza em vez da exposição direta, especialmente ao retratar o cotidiano do casal e a crescente ligação com a criança. O filme, assim, caminha entre o bucólico e o brutal, entre o conto e a tragédia histórica.

Em tempos de guerra, quando a compaixão parece extinta e a violência se normaliza, “A Mais Preciosa das Cargas” propõe um olhar sensível sobre o resgate da humanidade por meio de um gesto de amor improvável. Um filme com ritmo lento, mas que conquista pela temática profunda e sempre necessária.

Entre o frio e a esperança

A narrativa se desenvolve a partir de duas histórias que correm em paralelo: a do lenhador e sua esposa, e a de uma família judia separada por um dos trens da morte. Essas tramas se entrelaçam de maneira poética, embora nem sempre com o impacto dramático esperado.

O vínculo que nasce entre a mulher e o bebê encontrado — e, posteriormente, o envolvimento do marido inicialmente relutante — compõem o centro emocional da obra. A transformação do pai, em especial, representa uma das mensagens mais fortes do filme: a possibilidade de amor mesmo em corações aparentemente endurecidos pela fome, pelo medo e pelo ódio.

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Visualmente, a obra adota uma animação desenhada à mão que foge dos padrões modernos e aposta em um estilo mais clássico, quase artesanal. Esse visual evoca tanto delicadeza quanto dureza, acompanhando bem o tom ambíguo do roteiro. No entanto, há momentos em que a paleta escura e os traços densos tornam difícil compreender o que está acontecendo em tela — uma escolha estética que, embora coerente com o clima sombrio, compromete um pouco a clareza narrativa.

A trilha sonora de Alexandre Desplat funciona como um dos pontos altos da obra. Em vez de ser apenas um pano de fundo, ela atua como guia emocional do espectador, preenchendo os silêncios e potencializando os momentos mais íntimos e dolorosos. Ainda assim, há quem possa sentir que, em certos momentos, a música dramatiza em excesso, impondo um sentimento em vez de permitir que ele emerja organicamente da cena.

Fábula sombria e intensa, mas pouco surpreendente

A maior fragilidade do filme está talvez em sua previsibilidade. O trailer entrega grande parte da trama, o que reduz o potencial de surpresa para quem já chega ao filme sabendo o que esperar. O espectador acaba apenas preenchendo lacunas daquilo que já foi antecipado, acompanhando as nuances do relacionamento entre os personagens e os contextos de guerra que os cercam. Isso não chega a esvaziar o impacto emocional da história, mas certamente limita seu alcance dramático.

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Ainda assim, “A Mais Preciosa das Cargas” cumpre um papel importante ao lembrar que, mesmo nas situações mais desesperadoras, o afeto e a solidariedade podem resistir. A fábula criada por Hazanavicius pode não atingir todo o seu potencial artístico ou emocional, mas tem valor ao propor uma reflexão delicada sobre o amor como forma de resistência. É um filme que talvez não surpreenda, mas que emociona nos detalhes — e, no fim, talvez seja justamente essa a sua maior carga preciosa.

Crítica Às Vezes Quero Sumir | Do Nada ao Lugar Nenhum

Primeiro, vamos esclarecer que esta, assim como toda crítica que trago aqui no site, é uma resenha a partir do meu ponto de vista, trazendo a minha impressão sobre a obra. Logo, se você assistir a “Às Vezes Quero Sumir” e ver genialidade no filme, está tudo bem, pois cada um vai ter sua respectiva opinião. Dito isso, vamos ao que interessa.

Obras de ficção têm papéis poderosos e, eu diria que até, fundamentais na sociedade. No entanto, algumas não parecem ter nada para contar. “Às Vezes Quero Sumir” se encaixa nesse segundo grupo, uma vez que não consegue cativar o espectador e, na verdade, consegue mais entediar do que servir como uma distração ou um material para reflexão.

Para você que não leu a sinopse, segue o texto original: A tímida Fran (Daisy Ridley) vê sua vida transformada com a chegada de um novo colega de trabalho. Uma conexão inesperada surge entre eles, ela terá que se reinventar para, enfim, embarcar na aventura de viver.

asvezesquerosumir01 185c9Fonte: Divulgação/Synapse Distribution - Às Vezes Quero Sumir mostra como um escritório é entediante

A temática é superimportante e a abordagem é válida, uma vez que reflete milhares de histórias comuns e facilita a conexão com o público. Contudo, de nada adianta um bom ponto de partida, um elenco competente e uma produção razoável, pois, como sempre, tudo depende de como uma história é contada e desenvolvida. Se o roteiro não vai progredir, não vai ter uma moral e será apenas um recorte de tristeza, acaba sendo bem superficial. Eis o tombo do filme.

Às Vezes Quero Sumir vale a pena?

Não vale a pena! “Às vezes Quero Sumir” é lento, permeado por diálogos cansativos, transições desconexas e uma trama que não vai a lugar algum. Como comédia, um filme que extrai poucas risadas. Como romance, uma obra que não permite o desenrolar da paixão. Como drama, um título sem superação. Talvez essa fosse a proposta, mostrar o beco sem saída da depressão. Todavia, não é para qualquer um e nem para qualquer momento.

Um assunto complexo

“Às vezes Quero Sumir” é o típico filme que tenta mostrar uma realidade a qual não estamos habituados, o que ele faz com maestria ao deixar o público desconfortável para revelar o dia a dia da personagem Fran, permeado por períodos cansativos de escritório, rotinas entediantes em casa e viagens em pensamentos aleatórios (como descansar na floresta ou fazer uma cabana de madeira na beira da praia). Assim, o longa-metragem parece tentar constantemente mostrar esse lado complexo da depressão e como ela afeta cada aspecto da vida da pessoa.

asvezesquerosumir02 85a4fFonte: Divulgação/Synapse Distribution - Fran (Daisy Ridley) em um mundo de delírios

Nesse sentido, é compreensível usar uma mixagem de som distorcida, em que ouvimos tudo à distância, não conseguimos prestar atenção nos diálogos e ficamos perdidos em meio às aleatoriedades. A obra se alonga muito para apresentar personagens, tudo acontece de forma lenta e com diálogos maçantes.

Tudo bem, a vida tem pessoas mais pacatas e outras mais agitadas, por isso o filme tenta contornar a situação ao equilibrar o ritmo com a chegada de Robert (Dave Merheje), que é animado e traz o tom de humor. De certa forma, o script consegue propor uma boa relação entre eles, mas as coisas são constantemente dificultadas pela depressão.

asvezesquerosumir03 bb5c2Fonte: Divulgação/Synapse Distribution - Dave Merheje contracena com Daisy Ridley numa tentativa de comédia romântica

O problema é que para provar um ponto, diretora e roteiristas fogem tanto do comum, que acaba sendo complicado se manter entretido pela história, que, evidentemente, pode fugir do comum, mas precisa dialogar com o público para entregar entretenimento ou, mesmo que seja, uma reflexão aprofundada.

Às Vezes Queria Não Assistir

A montanha-russa de pequenas alegrias e grandes tristezas de “Às Vezes Quero Sumir” acaba sendo complexa para a plateia que poderá cair no sono (com grandes períodos de silêncio) ou ficar entediada pela história rasa. A sensação que temos é de entrar conhecendo pouco dos personagens e sair como entramos.

Curiosamente, há um paralelo disso na trama, o que parece reforçar essa dificuldade das relações em meio à depressão. Só que a obra fica apenas patinando no cotidiano contemplativo da protagonista, que, apesar de fazer um esforço para lidar com situações rotineiras, não sabe lidar com as emoções.

asvezesquerosumir04 f501bFonte: Divulgação/Synapse Distribution - Às Vezes Quero Sumir é lento e dá sono, conforme comprova o ator do filme

No fim do dia, o filme não propõe nada lidar com os problemas e deixa apenas a personagem refletir levemente sobre suas ações. No fundo, uma obra que parece a vida real: estamos perdidos, temos problemas e não tem solução fácil. Lide com isso.

Quem lida bem com isso é o elenco, que acaba parecendo muito natural. Os elogios para Daisy Ridley (lembrada apenas por Star Wars) são válidos, pois a atriz se encaixou muito bem no papel. O problema para sua carreira é que este não é um papel para ser memorável, já que é uma obra que não cairá no gosto popular.

Dave Merheje se destaca muito em meio ao mar de tristeza, o que é perfeitamente natural, já que seu personagem é o engraçadão – o que deve ter exigido quase nada de um cara que já é comediante. Muito bom ver também Brittany O'Grady por aqui, mas apesar de sua fama em outros projetos, a atriz é bem secundária nessa trama.

asvezesquerosumir05 1cb6dFonte: Divulgação/Synapse Distribution - Daisy Ridley reflete sobre a existênia em Às Vezes Quero Sumir

Enfim, me parece um filme que, além de entediante, acaba sendo um desfavor. Não sei dizer se é uma obra adequada para quem está passando por situações depressivas, mas certamente é um filme que deprime aqueles que estão numa fase regular. Se esse era o objetivo, parabéns aos idealizadores, mas não acho que seja uma boa forma de conquistar o público.

Crítica do filme Olhos Famintos: Renascimento | Um Verdadeiro Lixo!

Lançado em 2001, o filme “Olhos Famintos” chegou sem grandes alardes e ninguém imaginava que a ideia original do roteiro poderia levar à criação de uma franquia. Embalado por perseguições em rodovias e com a introdução de um novo vilão (chamado de Creeper), o filme conquistou o público de certa forma.

Todo o mistério por trás do Creeper — que faz uma caçada a cada 23 anos e depois hiberna, bem como seu modus operandi — despertou a atenção de muita gente, afinal é raro ter um filme que traga novidades, ainda mais um novo monstro para mexer com o imaginário dos aficionados por terror.

Tanto é verdade que, em 2003, tivemos “Olhos Famintos 2”, um projeto que dividiu opiniões. Esta era uma continuação direta, ambientada na mesma época e que tentava manter o nível de produção e uma história ao menos coerente. Talvez por já não ser mais uma ideia original, este pareceu menos interessante e intenso, mas não foi de todo ruim.

Pulando 14 anos para o futuro, em 2017, Victor Salva (o mesmo diretor e roteirista dos dois primeiros filmes) tentou reavivar a franquia com o lançamento de “Olhos Famintos 3”, mas o resultado foi desastroso e, com o perdão do trocadilho, ficou claro que nem Salva poderia salvar a franquia. Este deveria ser o fim do Creeper e de Olhos Famintos.

olhosfamintosrenascimento04 16ad1Creeper em fim de carreira! - Fonte: Divulgação/Jeepers Creepers Reborn - ORWO Studios

Contudo, em 2023, tivemos uma surpresa: um trailer de “Olhos Famintos 4”, também conhecido como “Olhos Famintos: Renascimento”, dando a ideia da ressurreição da criatura e da franquia. Já aviso que não se trata do ressurgimento da franquia, mas de seu enterro por definitivo!

Segundo o The Movie Database, este longa-metragem teve orçamento de 5 milhões de dólares e conseguiu faturar pouco mais de 6 milhões. Definitivamente, um fato a ser comemorado, já que “Olhos Famintos: Renascimento” não é ruim, pois pra ficar ruim, ele teria que melhorar muito! Felizmente, eu não contribui para esse montante e esperei para ver na Paramount+ e, sinceramente, de graça, ainda saiu caro.

Spoiler abaixo: leia para poupar seu tempo

Na história, acompanhamos Chase e sua namorada Laine, que estão indo para o evento Horror Hound Festival, que reúne fãs do terror fazendo cosplay. Lá, eles vão obviamente se deparar com o Creeper, que tá ceifando a vida de geral. Ora, que surpresa, hein?! Já deixando o spoiler logo de cara, porque eu realmente estou te fazendo um favor! O roteiro até tenta inventar, mas tudo é realmente desconexo e sem explicação.

olhosfamintosrenascimento01 cd588Fonte: Divulgação/Jeepers Creepers Reborn - ORWO Studios

Olhos Famintos: Renascimento vale a pena?

Não! Se você dá valor para o seu tempo e o seu dinheiro, eu recomendo que você jamais veja “Olhos Famintos: Renascimento”. Trata-se de um filme com direção amadora, roteiro muito raso, atuações terríveis, efeitos especiais de baixa qualidade, trilha sonora repetitiva e a ruína de um vilão conceituado.

olhosfamintosrenascimento03 77258Fonte: Divulgação/Jeepers Creepers Reborn - ORWO Studio

Você ainda está lendo?

Eu poderia fazer uma análise detalhada de Olhos Famintos 4, mas acho que já ficou claro o quanto o filme é ruim. Certamente, é um projeto que não deveria ter existido, um enorme vacilo de quem tem os direitos autorais permitir fazer isso com a franquia. Não é preciso muito pra saber que o filme deu ruim, olha esta incrível foto do elenco:

olhosfamintosrenascimento02 e4f66Fonte: Divulgação/Jeepers Creepers Reborn - ORWO Studios

E é isso, não vou te enrolar mais, vá ver outros filmes de terror, deixo aqui algumas sugestões:

  • Vôo Noturno (filme com criatura misteriosa, baseado na obra do Stephen King)
  • O Nevoeiro (criaturas bizarras aparecem em meio à neblina misteriosa, também baseado na obra de Stephen King)
  • Ninguém vai te Salvar (filme que mistura ficção e terror, praticamente sem falas, mas muito intenso)
  • Piscina Infinita (filme doideira, até complicado explicar, veja o trailer)
  • O Mal que Nos Habita (um homem possuído, acontecimentos estranhos, sinistro)

Crítica do filme Tinnitus | Drama angustiante com zumbido irritante

Tinnitus: zumbido constante no ouvido. Esta é uma definição rasa de uma condição que afeta a audição de milhões de pessoas, mas que, até o momento, não tem uma cura.  Se você nunca ouviu falar em Tinnitus, há grandes chances que você nunca tenha tido o desprazer de sofrer com este tipo de situação incomoda. Sorte a sua!

Contudo, este não é o caso de Marina Lenk, protagonista de “Tinnitus”. Ela é uma experiente atleta de saltos ornamentais e que, num certo dia, despencou da plataforma ao ter uma crise súbita de Tinnitus. Afastada do esporte, ela agora trabalha num aquário e tenta lidar com sua condição no dia a dia, mas será que há uma forma de se amenizar esse zumbido insuportável?

Com a ajuda de seu marido, que trabalha como médico na área, bem como ao participar de um grupo de pessoas com a mesma condição, Marina tenta achar um novo rumo em sua vida, ao mesmo tempo que ressente sua mudança súbita de carreira e amarga uma inimizade com a antiga colega de saltos ornamentais.

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Apesar de tratar de um terror psicológico pessoal, “Tinnitus” não é guiado para este lado do horror. Temos aqui um filme bem dramático, com alguns trechos misteriosos e talvez uma conclusão mais ousada, porém grande parte do filme foca em nos manter na cabeça de Marina, numa experiência angustiante e, por vezes, em um rumo entediante.

Tinnitus vale a pena?

Apesar da proposta bem fundamentada e da qualidade técnica na execução, “Tinnitus” é um filme que tropeça em seu próprio roteiro ao tentar englobar os vários dramas da protagonista. Muitas cenas de reflexão pessoal da personagem impressionam pela mescla entre o abstrato com uma arte criativa e a experiência terrível do zumbido, mas a falta de um fio condutor mais coerente deixa o filme confuso e maçante.

Ruído na trama

A sétima arte dá palco para todo tipo de gênero, ideia e experiência, mas é inevitável que obras mais provocativas tenham um desafio: convencer a plateia de que a ideia proposta é relevante. Este é justamente o caso de “Tinnitus”, um filme com um tema pertinente e pouco explorado, abordado de uma perspectiva já comum: um drama psicológico atravessado por várias frentes.

Nesse sentido, o erro é tentar abraçar o mundo. É compreensível que a construção de uma personagem mais humana com várias questões para lidar em sua vida traga muitos desdobramentos, mas como se já não bastasse os problemas psicológicos, o roteiro forçar as situações de inimizade e com pouco contexto deixa a narrativa bagunçada.

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Apesar da trama divagar, vale os elogios para o elenco extremamente competente que entrega atuações corajosas e coreografias muito realistas. Ouso dizer que o filme só se sustenta realmente por conta das boas interpretações. Curiosamente, o roteiro tenta usar diálogos um pouco artificiais, mas as atrizes conseguem compensar esse desentrosamento.

Uma experiência desconfortável

Todavia, tirando isso, ainda há questões delicadas: como abordar uma condição como Tinnitus? E qual a melhor forma de demonstrar a angústia vivenciada por Marina? Oras, se estamos falando de uma obra audiovisual, o recurso sonoro acaba sendo a via perfeita para sugestionar a experiência terrível de conviver com um zumbido no ouvido o dia todo.

Uma tática excelente para a construção narrativa, mas péssima para o espectador que passa mais de uma hora frente à tela sentindo nos ouvidos um incomodo sem fim. Certamente, é uma proposta ousada, já que os idealizadores do projeto sabiam da dificuldade em abusar desse tipo de recurso. Não deu outra, o filme é cansativo e irritante.

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Assim, se por um lado, há grandes acertos nos delírios decorrentes do Tinnitus, com cenas artísticas realmente impactantes, temos um volume excessivo de cenas reflexivas e embaladas por essa sinfonia de zumbidos incessantes. Mesmo não sendo um filme extremamente longo, o resultado é exaustivo para o espectador.

O clímax nos 45 do segundo tempo é fruto dessa construção narrativa cumulativa, que culmina sim em medidas exacerbantes, mas a que custo? Aqui fica aquela velha dúvida: os fins justificam os meios? Eu realmente tenho minhas dúvidas, pois mesmo sendo um filme poderoso, ele acaba sendo um ponto muito fora da curva e é difícil apreciar algo tão diferente.  Moral da história: se você gosta de um filme provocativo, “Tinnitus” pode ser uma experiência curiosa, mas esteja ciente que pode ser uma sessão longa e pouco conclusiva.

Crítica do filme Elementos | Bonita animação para aquecer o coração

Brinquedos, insetos, monstros, peixes, heróis, carros, ratos, robôs e até o interior do nosso cérebro. Estes são alguns dos temas inusitados que a Pixar já usou para nos contar histórias e nos emocionar. São tantas ideias, que a gente fica pensando: ainda tem como surpreender?

A resposta está em “Elementos”, animação que chega aos cinemas neste dia 22 de junho e nos mostra um mundo onde Fogo, Água, Terra e Ar têm formas humanoides a partir de partículas dos elementos. Eles convivem em uma suposta harmonia na Cidade Elemento, onde cada qual tem seu papel ou, ao menos, tenta encontrar seu lugar nesse mundo doido.

Aqui acompanhamos a história de Faísca (personagem feita de Fogo), uma jovem apaixonada por sua família, que trabalha na Loja do Fogo junto com seu pai. Ela tem um temperamento um pouco explosivo, o qual talvez afete seu destino num momento decisivo: a transição da juventude para a fase adulta.

elementos01 388bcFonte: Divulgação/Walt Disney Studios

Do outro lado da trama, conhecemos Gota (personagem feito de Água), um jovem simpático, empático e extrovertido, que ama fazer tempestade em copo d’água e se emociona com qualquer coisa. Com esse jeito fluido, ele vai provar que água mole em pedra dura tanto bate até que fura e vai mexer com a química de Faísca — provando que os opostos se atraem.

Elementos vale a pena?

Elementar, meu caro amigo! “Elementos” é um filme bem-humorado com cenas divertidas e momentos emocionantes que nos fazem refletir sobre nossas personalidades. Como de costume, ele traz uma lição de moral sobre nossas decisões para a vida — e que pode fazer os mais emocionados encherem os olhos de água. Uma boa pedida para crianças e adultos!

Os ventos da mudança

A Pixar teve uma recente onda de marés baixas, com obras que deixaram o público a ver navios, mas são águas passadas, porque “Elementos” diverte até a última gota! Um filme bem construído em história e na parte criativa. Então, pode ter certeza de que onde há fumaça, há fogo! Esta é uma animação para aquecer o coração!

A trama combina as características dos elementos com traços de personalidades humanas, sugerindo que pessoas mais esquentadas são de fogo e outras mais tranquilas são de água. Da mesma forma, o filme lida com a questão das emoções, o que implica na dificuldade de chorar para quem é muito quente.

elementos03 b9287Fonte: Divulgação/Walt Disney Studios

A obra questiona nossos papéis na sociedade, bem como os rumos que tomamos em nossas vidas. Afinal, é difícil seguir as vontades próprias, pois é fácil se sentir como um peixe fora d’água ou, pior, nas situações mais adversas, o fogo pode pegar! E é nessa intersecção química e de personalidade que podemos apreciar uma história talvez até clichê, mas empolgante!

Florescerá uma nova aventura!

Temos aqui um longa-metragem recheado de novas ideias, com gráficos fantásticos (e uma direção de arte caprichada para entregar um mundo que enche os olhos de fascínio) e tudo isso sem deixar de lado questões importantes sobre as leis da física. Pois é, pode parecer bobo falar disso, mas a verdade é que um filme que lida com elementos precisa ter muita coerência!

Afinal, como uma garota que está constantemente em chamas pode passear por aí? Oras, se não fosse uma vestimenta apropriada, Faísca poderia mesmo ser fogo na roupa! No entanto, trata-se de um mundo feito de metal e vidro, em que o fogo até pode interferir quando muito atiçado, mas que em situações corriqueiras não será afetado pelas altas temperaturas.

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Por outro lado, há várias cenas engraçadas que Faísca precisa tomar cuidado com suas labaredas para não incendiar o mundo. E são os detalhes mais básicos como a forma de organização da Cidade Elemento até a interação entre personagens que claramente não podem se relacionar que também contribui para um filme bem divertido.

Toda essa trama cheia de reviravoltas é permeada por uma trilha sonora que manda brasa de verdade! E, claro, a dublagem brasileira está perfeita! Enfim, “Elementos” é uma animação diferente de quase tudo que já se viu no cinema, sendo uma boa pedida para ver na telona na companhia do seu amor ou mesmo junto com a família!

Crítica A Mansão da Meia-Noite | As Lendas do Terror numa história clássica

A Mansão da Meia-Noite” é dirigido por Pete Walker, cineasta talvez pouco conhecido para a maioria do público, mas que teve alguns títulos relevantes no gênero, como: “Casa do Pecado Mortal”, “Demência Sinistra” e “Loucura Sangrenta”. Já o roteiro aqui fica por conta de Michael Armstrong, que talvez tenha tido o ápice de sua carreira justamente nesta obra.

O ponto é que a ideia de “A Mansão da Meia-Noite” não surgiu de nenhum deles, mas dos produtores que queriam um filme com os maiores ícones de terror. Assim, Walker e Armstrong ficaram responsáveis em pensar na história, desde que o resultado fosse bom e atendesse esse quesito de ter um elenco expressivo do gênero.

Assim, é importante já alertar que o roteiro aqui não é algo original. Para poupar tempo, eles compraram os direitos da peça teatral “Seven Keys to Baldpate” (lá de 1913), podendo assim usar a história de base e adaptar da forma que achassem melhor. O roteiro então pega elementos-chave de um conto clássico, mas inova de diversas formas.

amansaodameianoite01 319ecFonte: Divulgação/MGM

Em “A Mansão da Meia-Noite”, acompanhamos Kenneth Magee (Desi Arnaz Jr.) em uma aposta: escrever um livro em apenas 24 horas valendo o prêmio de 20 mil dólares. Para tanto, ele vai para a mansão Bllyddpaetwr, local abandonado há 40 anos e ideal para a inspiração. No entanto, a noite que era para ser tranquila pode ser turbulenta com visitas inesperadas.

A Mansão da Meia-Noite vale a pena?

Se você gosta de um bom filme de terror, com aquele ar de antiguidade, cenas que abusam dos jogos de luz e sombras, personagens mais caricatos, trilha sonora caprichada, história cheia de reviravoltas e uma pitada de comédia, devo dizer que “A Mansão da Meia-Noite” é um filme que você não pode perder a chance de adicionar à sua biblioteca de filmes já assistidos.

Verdadeiros ícones do Terror

Importante ressaltar que cada geração é marcada por grandes ícones do cinema, alguns ficam conhecidos por suas performances extraordinárias em determinados gêneros. Este é o caso de Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine, que, por sinal, compõem o mega elenco de “A Mansão da Meia-Noite”.

Curiosamente, nenhum dos astros deste quarteto lendário é o protagonista desta obra. Quer dizer, eles podem até não ter papéis de longa duração em cena, mas o personagem principal do filme simplesmente fica apagado cada vez que um deles se pronuncia. Não que o roteiro não dê voz para Arnaz, porém é fato que sua atuação é pífia perante os demais gênios. A simples aparição de Vincent Price com um tom sombrio já deixa qualquer um arrepiado.

amansaodameianoite02 56129Fonte: Divulgação/London-Cannon Films

Pode ser que um pouco dessa impressão que temos do quarteto seja justamente pela longa carreira e suas presenças reforçadas propositalmente no roteiro, mas é inegável que eles são marcantes e sabem muito bem contracenar. É até engraçado, porque eles realmente parecem estar num encontro de amigos (aliás, reunião essa única na história do cinema).

Vale pontuar que “A Mansão da Meia-Noite” é um filme que teve distribuição limitada no Brasil. Assim, é normal que ele seja desconhecido, já que apenas alguns poucos privilegiados que viveram os tempos de Intercine na Rede Globo — e ligavam no 0800 para votar nos filmes favoritos — ou que conseguiram uma cópia em DVD puderam apreciar esta pérola com as lendas do terror.

Mistérios da Meia-Noite

Por mais despretensioso que seja o roteiro de “A Mansão da Meia-Noite”, ele consegue dar reviravoltas e deixar espaço para à imaginação. São poucos personagens, cenários limitados e diálogos bem pontuais, mas nada disso limita o potencial da história. Mesmo com uma história já conhecida de base, é inegável que Armstrong traz novidades ao desenrolar dos fatos.

Curiosamente, mesmo sendo uma trama pautada no suspense constante e com boas cenas de terror montadas minuciosamente, o script flerta com um tom engraçadinho, algo que se dá tanto pelas conversas propostas quanto pela presença de Desi Arnaz Jr., que pode não ser um expoente do terror ou da comédia, mas que serve bem para o humor da película.

amansaodameianoite03 c1db4Fonte: Divulgação/MGM

Dessa forma, “A Mansão da Meia-Noite” não é um filme pesado no terror, mas sim uma obra de mistério com um pouco de cada coisa. O horror está muito mais nas nuances das visitas e nas penumbras do casarão que dá nome à película. Contudo, mesmo sendo uma colcha de retalhos, o filme funciona muito bem, divertindo e deixando o público curioso.

Fato é: esse é um daqueles filmes no estilo detetive, em que tentamos descobrir quais são os mistérios, mas que pode acabar com questões em aberto. Aliás, vale apontar: o famoso “Os 7 Suspeitos” (obra inspirada no jogo Clue) saiu depois de “A Mansão da Meia-Noite”. De qualquer forma, no cinema, muita coisa é adaptada, então a inventividade está nos detalhes.