50 Cent - Café com Filme

"O Lado Bom da Vida" e "12 Anos de Escravidão": as novidades Netflix para Agosto

Dois vencedores de estatuetas Oscar estão entre as estreias de Agosto na Netflix. "12 Anos de Escravidão" e "O Lado Bom da Vida" fazem parte do catálogo do site de streaming desde o primeiro dia desse mês e outros grandes títulos vêm por aí.

Vencedor de três Oscars em 2014 (Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante para Lupita Nyong'o e Melhor Roteiro Adaptado), "12 anos de escravidão" apresenta Solomon Northup, um escravo liberto que é sequestrado em 1841 e forçado por um proprietário de escravos a trabalhar em uma plantação na região de Louisiana, nos Estados Unidos. Leia a crítica do filme aqui.

Já "O Lado Bom da Vida", que deu o Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence, traz o conturbado e confuso encontro entre Tiffany (Lawrence) e Pat Solatano (Bradley Cooper), duas pessoas peculiares e problemáticas que precisam reconstruir suas vidas. 

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"O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos" é outra estreia do mês, acompanhado por "Elysium" e "Sete dias com Marilyn". 

Além destes títulos, também estão disponíveis desde já "Vizinhos", "Afonso Padilha- Isso tem que dar certo", "Need for Speed: O Filme" e "Funny or Die Presents: Donald Trump's The Art of the Deal: The Movie"

Mais produções originais

Depois do sucesso de "Beasts of no Nation", a Netflix decidiu apostar mesmo em produções originais. Estão aí "Rebirth", "The Fundamentals of Caring" e "Tallulah" para provar que a produção de filmes originais vai ser em ritmo rápido.

No dia 20 de agosto, estreia o documentário "I'll Sleep When I'm Dead", que conta a história do DJ Steve Aoki, um dos grandes nomes da música eletrônica, e as influências que sofreu em sua carreira.

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Mas, além dos filmes que já estão disponíveis, a gigante do streaming já se consagrou pelas séries, embora agora aposte em novos formatos. Estreia também em agosto, por exemplo, a série de animação "Beat Bugs", que homenageia os Beatles e conta a história de cinco amigos insetos que vivem em um quintal e são embalados pelos ritmos atuais e clássicos do rock.

Outra produção que já vem causando um burburinho e que estará disponível no próximo dia 14 é "The Get Down", que conta a hsitória de um grupo de adolescentes norteamericanos que vivenciam a transformação cultural da Nova York dos anos 70 por meio da música.

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Isso sem falar que já foi anunciada a produção de novos episódios da maravilhosa "Black Mirror" -  não está fácil segurar a ansiedade!

Fique de olho aqui no Café com Filme e acompanhe as novidades do Netflix!

Crítica do filme Chocolate | Alegria no palco, tristeza no camarim

O circo é uma verdadeira fábrica de risos. A arte circense surgiu há milhares de anos e veio se moldando ao público com diferentes atrações. Entre tantas figuras, o palhaço sempre foi a mais icônica, incorporando a essência do circo tanto em sua aparência quanto em seu jeito de interagir com a plateia.

Tirando os apaixonados pelo mundo do circo, poucas pessoas sabem os nomes de palhaços famosos, mas há alguns personagens que marcaram época. É o caso de Chocolate, um artista que conquistou a simpatia dos franceses lá no final do século XIX, ao realizar apresentações em dupla com o palhaço Foottit.

Nascido em Cuba, por volta de 1868, Rafael Padilha foi vendido quando ainda era criança. Quando ficou adulto, sua única chance de ter uma vida melhor foi trabalhar em circos, interpretando geralmente selvagens ou criaturas que colocassem medo na plateia. Nesta época, os circos dos horrores ainda eram famosos e necessitavam de bizarrices.

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Foi num desses circos que seu caminho se cruzou com Foottit, palhaço de origem inglesa e de fama nos espetáculos franceses. O artista europeu então tem a brilhante ideia de fazer dupla com Chocolate, colocando um palhaço branco (sério) e outro augusto (exagerado) num mesmo número. Era o começo de um futuro brilhante para um dos primeiros artistas negros da França.

Espetáculo na telona

Não tem nada melhor do que ver atores que realmente abraçam os papéis. Os palhaços Chocolate e Fottit marcaram época com seus números, então foi de grande valia o esforço de Omar Sy e James Thiérrée para dar esse toque de veracidade para o longa-metragem. É claro que, como protagonista, Sy ganha ainda mais notoriedade, e não é para menos, já que ele esbanja talento em cada frase, sorriso ou representação de sofrimento.

Além das expressões convincentes e das caracterizações que denotam o ótimo trabalho da equipe de maquiagem, os dois atores se mostram dedicados a levar a arte de circo — pelo menos a que fazia naquela época — para o cinema. Eles arrasam no palco com números que envolvem muita desenvoltura, acrobacias e diálogos que parecem improvisados.

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O figurino se mostra fundamental para criar os personagens, sendo uma característica marcante da obra. Frequentemente, os dois palhaços estão trocando de roupas para as apresentações, com roupas muito bem elaboradas que remetem ao lúdico e expressam com clareza a alegria do circo.

O desenvolvimento de “Chocolate” também depende do cenário do circo constantemente, uma vez que estamos falando da história de dois palhaços. O roteiro centraliza vários diálogos nas dependências circenses. A reconstrução minuciosa dos ambientes é algo que chama a atenção, já que estamos tratando de uma época bem antiga. Há cenas que desviam desses locais, mas ainda é notável o esforço da equipe técnica para nos transportar ao passado.

Omar Sy ganha notoriedade ao esbanjar talento em cada frase, sorriso ou representação de sofrimento

A trilha sonora é um deleite à parte, graças ao talento de Gabriel Yared — que você já deve conhecer de filmes como “À Beira Mar” e “O Talentoso Ripley”. O uso de repiques para dar o tom das danças no palco, os sons calmos que embalam os momentos alegres e até a dramatização pesada com o uso recorrente de tons mais graves dão o rumo ideal para a trama.

Há também algumas músicas improvisadas com os palhaços já em suas apresentações, o que é bem interessante, uma vez que o filme não fica só dependente dos sons da edição. A sincronia entre os palhaços e a plateia também conta muito nesse sentido, já que transpassa a alegria do espetáculo para os espectadores no cinema.

A vida de palhaço não é só alegria

O filme “Chocolate” tem um aspecto bastante interessante em sua construção de roteiro, algo que vai se moldando por emoções e tons diferentes de abordagem. O filme começa de forma neutra, com um sujeito que não tem muita perspectiva de vida. Todavia, essa neutralidade é facilmente superada quando as coisas começam a melhorar.

Aos poucos, a alegria e a diversão tomam conta da tela. A carreira do palhaço Chocolate vai muito bem, sendo que ele consegue fazer uma boa grana no maior circo da França. É uma história de superação, de alguém que saiu da lama e foi para o palácio.

Ele consegue renovar seu guarda roupa, ter o privilégio de usar veículos motorizados, beber das melhores bebidas, jogar e ter muitas mulheres. Aonde ele vai, as pessoas o veneram por seu talento e carisma. Ele é sucesso entre as crianças e também muito namoradeiro.

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Acontece que, viver em uma época em que negros são marginalizados pela sociedade — não que isso seja um comportamento extinto hoje — dificulta bastante as coisas. Não demora a que muitas coisas comecem a dar errado. Em parte, o próprio Chocolate é culpado, mas há muitos eventos incontroláveis que mudam drasticamente a vida dele e o tom da película. A diferença de trato, as injustiças e todo o entorno mostram o sofrimento do artista.

Isso inclusive me lembra uma piada.

“Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.

O médico diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”

O homem se desfaz em lágrimas. E diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

Curiosamente, a piada contada por Rorschach (da graphic novel Watchmen, de Alan Moore) cai como “uma luva” para entender um pouco da vida de Chocolate. O artista está ali para fazer as pessoas rirem, mas sua vida não é só alegria. Como alguém que viu a carreira subir rapidamente, Rafael Padilha queria acabar com o preconceito e conquistar a fama fora do circo.

Com muitos infortúnios em série, a trama muda de alegria para tristeza. As cores e luzes do palco são trocadas por tons apagados e sombras em locais terríveis. Chocolate passa por uma fase terrível, que chega a ser dolorida para o público.

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A discussão sobre preconceito, ódio e desprezo é marcante e agrega muito ao longa-metragem. Apesar de ser somente uma entre as milhares de histórias relevantes sobre a exclusão dos negros, essa é uma história que precisava ser contada e que chega ao espectador de forma muito atraente. Uma produção francesa do mais alto nível.

Chocolate” segue uma linha de construção inteligente enquanto discorre sobre vários aspectos. É um filme alegre, que anima ao mostrar que a sociedade dá passos devagar em direção ao futuro, mas ainda se mostra reflexivo sobre questões pertinentes que foram — e ainda são — verdadeiros atrasos. Recomendamos acompanhar essa história na telona!

Crítica do filme Esquadrão Suicida | Nem sempre é bom ser mau

"Esquadrão Suicida" foi a grande aposta da DC Films para afastar o tom "maduro", controverso e sombrio que dividiu fãs e críticos em "Batman v Superman: A Origem da Justiça".

Mas essa aposta só entrou em jogo quando o filme já estava praticamente finalizado, então o filme precisou passar por refilmagens e mudanças para agradar um público que já estava acostumado com a diversão e humor de filmes como "Guardiões da Galáxia" e "Deadpool". Apesar de pertecerem ao mesmo gênero, comparações entre esses filmes são desnecessárias, então vamos deixá-las de lado.

Segundo o site The Hollywood Reporter, em Maio a Warner exibiu duas versões do filme, uma versão do diretor David Ayer no estilo DC de sempre, mais sombria e séria, e outra mais parecida com os trailers iniciais, com vários personagens sendo introduzidos de uma vez, gráficos de suas habilidades e personalidade e músicas marcantes.

E como a Warner queria MESMO agradar a maior quantidade de expectadores possível, resolveram misturar as duas versões. Essa informação é importante pelo simples motivo que a quebra de estilo é abruta dentro do filme, e isso não passa despercebido e incomoda.

A ideia de formar o "Esquadrão Suicida" vem de Amanda Waller (Viola Davis), uma agente de alto escalão dentro do governo norte americano, envolvida em operações clandestinas. Ela vê a chegada do Superman como um alerta, e o medo de um alienígena superforte arrancar o teto e matar todos os burocratas é a ferramenta que permite ela juntar a chamada "Força Tarefa X", um grupo formado pelos piores criminosos, inclusive alguns metahumanos.

O objetivo é mandá-los em missões "suicidas" contra ameaças difíces demais para o exército dar conta, incluindo outros metahumanos. Em troca, os criminosos recebem uma redução da pena perpétua, o que é obviamente justo.

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A sempre excelente Viola Davis encarna com maestria o papel de Amanda Waller, que deve ser vista como a maior vilã do filme, visto que ela coagiu diversos criminosos a trabalhar para ela praticamente de graça ou morrerem se recusassem a proposta.

Em seguida, somos apresentados aos integrantes: o matador de aluguel Pistoleiro (Will Smith); a violenta, insana e obcecada pelo Coringa, Arlequina (Margot Robbie); uma bruxa com milhares de anos e poderes desconhecidos chamada Magia, que possuiu o corpo da arqueóloga June Moone (Cara Delevingne); um latino com o corpo coberto de tatuagens capaz de gerar fogo com as mãos, chamado El Diablo (Jay Hernandez); um crocodilo humano chamado Killer Croc (Adewale Akinnuoye-Agbaje); e um australiano que é praticamente inútil chamado Capitão Bumerangue (Jai Courtney).

Essa apresentação possui um ritmo exageradamente frenético. Em segundos você ouvirá vários clássicos que estão sobre o domínio da Warner (como nos trailers, que são todos muito bem montados, ao contrário do filme) e terá que entender quem são todos esses super criminosos altamente perigosos, quase todos inimigos do Batman, como foram parar na prisão e porque serão úteis.

Exatamente por conta desse dinamismo, a montagem do filme foi um desafio imenso, segundo David Ayer. E mesmo com todo esse trabalho, a primeira meia hora é truncada e apressada, chegando a não fazer sentido dentro da continuação em determinados momentos.

Somos apresentados também ao famigerado Coringa (Jared Leto). Ao contrário do que se esperava (e os trailers prometiam) ele não passa de um coadjuvante para a história de origem da Arlequina, e seu estilo gângster/cafetão não convence muito.

Ele aparece em poucas cenas, e todas elas bem dispensáveis. Ele não passa a ideia original do Coringa caótico, é só alguém bem estranho, se fosse no Brasil ele seria facilmente um MC qualquer. Segundo Jared Leto, muitas cenas gravadas acabaram não entrando no corte final, o que de certa forma é bom, visto que o foco são os outros personagens, e ele só está aqui como um chamariz para o filme.

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Felizmente o vilão do filme ficou de fora dos trailers, porque ele é tão fraco que nem vale a pena dar o spoiler. O Esquadrão é chamado para sua primeira missão as pressas, pois um incidente que potencialmente pode levar ao fim do mundo™ acontece.

A missão nunca fica clara para eles ou como vão completá-la, mas eles continuam indo, sobre ameaças de morte e planos de fuga. E como se os personagens que já apareceram não fossem suficientes, mais gente se junta a missão. Pra liderar esse bando de maluco, Amanda conta com Rick Flag (Joel Kinnaman), um soldado totalmente submisso ao governo e ao seu amor, June Moone. Isso mesmo, a moça que tem uma bruxa anciã com poderes inimagináveis no corpo.

Além de ter uma tropa de soldados de elite com armas de fogo gigantes ao seu dispor, ele conta com a ajuda de Katana (Karen Fukuhara), uma pseudo samurai com uma espada que suga as almas de suas vítimas. Não bastando isso tudo, junta-se ao grupo o Amarra (Adam Beach), um criminoso especializado em cordas e escaladas. Pra que precisam deles? Essa é mais uma resposta que você deve encontrar por conta própria.

Enfim, após sequências de ação que não acrescentam muito, nem mesmo uma ameaça aos protagonistas, o plano parece falhar apenas para levar ao grande final dramático, que nem é tão impactante quanto deveria.

Praticamente todos os personagens tem sua história e motivação na família ou relacionamento. Os destaques ficam por conta do Pistoleiro de Will Smith, tanto pela compêtencia do ator quanto pelo tempo em tela que sua história é desenvolvida, e também a Arlequina de Margot Robbie.

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A representação da personagem está decente, incluindo uma homenagem ao uniforme original. Ela também é responsável por uma pequena dose do humor contido no filme, mas nada surpreendente. Sua atitude positiva, apesar de louca, é um elemento interessante dentro do grupo, mas é um pouco incômoda sua relação com o Coringa, sem contar a sequência final que me pareceu absurda.

Eles são retratados realmente como um casal apaixonado, e ainda que a relação seja claramente abusiva, não é nem perto tão deturpada e unilateral como no conceito original. É claro que a personagem evoluiu muito desde sua criação, mas sua presença no filme é mais interessante pela ideia da Arlequina do que por suas ações. Faltou a ousadia e loucura características da personagem.

E quanto aos outros personagens, a maioria está ali só para as cenas de ação. Outro ponto importante, é que para grandes vilões terríveis todos eles são bem heróicos. Tudo bem que matar pessoas por aí não é muito nobre, mas além disso o maior crime que eles cometem é roubar uma bolsa de uma vitrine em uma cidade devastada. Muito se deve a classificação indicativa de 14 anos, então não espere muito sangue e atrocidades por conta dos "caras maus".

É claro que ter a responsabilidade de tirar o universo cinematográfico da DC das trevas não é tarefa fácil, além de ter que apresentar diversos personagens desconhecidos pelo público e ainda fazer a história andar, então é preciso dar um desconto para o filme nesse quesito.

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Enfim, basta se acostumar com a quebra do ritmo no meio do filme e as falhas justificáveis do roteiro para curtir a história. Existe uma cena pós-crédito que serve mais como um lembrete de que outros filmes estão por vir no universo DC, e justifica em partes a criação da "Liga da Justiça".

Crítica do filme Tallulah | Mães são apenas pessoas

“Você só diz isso porque ainda não chegou a hora e porque ainda não tem o seu!”

“Quando acontecer com você, você vai perceber que está preparada!”

“Um dia você vai querer. No fundo, toda mulher quer!”

“O relógio biológico vai tocar, você vai ver!”

Pisque uma vez se você, sendo mulher, já ouviu alguma dessas frases acima. Piscou, né? Conheço poucas acima dos 20 que não foram submetidas, ao menos uma vez, a um irritante questionário sobre quando pretendem ter filhos. Diga que não pretende, não, obrigada, e veja surgir dos bueiros a brigada inquisitorial das tias querendo te convencer que "nossa, nada a ver, você só diz isso porque ainda é jovem". 

Sendo homem, você dificilmente passou por isso. Nós mulheres, no entanto, sofremos essa cobrança perversa desde muito cedo. Parece que nascemos apenas em virtude da nossa capacidade reprodutiva. A sociedade precisa aceitar e começar a perceber que nem toda mulher quer ser mãe, que maternidade não é uma vocação com a qual todas nós fomos "abençoadas".

Algumas pessoas têm talento para a música, algumas para a pintura, outras para a maternidade. E assim como algumas não têm ideia do que fazer se eu soltar um violino na frente delas, outras não saberão o que fazer se você largar um bebê recém-nascido no colo e disser “te vira!”.

É asssim que começa o novo filme da Netflix, o longa-metragem “Tallulah”, roteirizado e dirigido pela americana Sian Heder e estrelado pela talentosa Ellen Page. Tallulah, ou simplesmente “Lu”, é uma jovem independente e aventureira que mora em seu furgão e não deve nada a ninguém. Ainda bem, porque, caso devesse, não teria como pagar. Completamente sem dinheiro, depois de ser abandonada pelo namorado Nico (Evan Jonigkeit), que levou consigo as poucas economias da moça, ela decide procurar pela pseudo sogra, para ver se recupera um pouco do que ele lhe roubou.

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Quando a mãe de Nico, Margo (Allison Janney, das séries The West Wing e Mom, que já tinha feito "Juno" com Ellen Page), nega ajuda, ela sai perambulando pela cidade e se vê frente a um dilema. Seus caminhos se cruzam com os de Carolyn (Tammy Blanchard), uma mãe assustada e um tanto negligente, que confunde Tallulah com a babá que ela havia chamado e pede que a jovem cuide da filha Madison por uma noite. 

Em uma decisão impulsiva ao perceber o quão descuidada e irresponsável é Carolyn, Lu decide ir embora levando a criança. Daí por diante, é óbvio que tudo vira a maior confusão. Quando percebe o sumiço da filha, a socialite entra em pânico, aciona a polícia e Nova Iorque inteira sai em busca da menina. 

Nada de especial no front

No que diz respeito aos aspectos técnicos, “Tallulah” não oferece – nem promete – nada de grandioso. É um longa-metragem bastante simples, cujo roteiro não exige grandes efeitos (ainda que o pessoal tenha conseguido ~enfiar uma cena com um efeito um tanto surreal, quem assistir vai saber do que eu estou falando) nem longos esforços em maquiagem, figurino, cenário e a coisa toda. 

Mais um original Netflix, o filme foi gravado em Nova Iorque, com algumas cenas externas nos parques e metrô da cidade, mas se passa em ambientes bem repetidos, principalmente os internos. 

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A trilha sonora também não traz nada de muito novo nem chamativo, com alguns sons originais e uma ou outra coisa comercial, mas não é nada muito envolvente ou genial. 

O elenco tem grande mérito para o produto final. A divertidíssima Allison Janney mostra que também leva jeito para o drama, enquanto a Ellen Page veste novamente a sua inseparável camisa xadrez para encarnar a confusa e um tanto estranha Tallulah. 

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Algumas participações menores são super bem-vindas, como a de Tammy Blanchard, cujo personagem é fundamental para a história, além do Spock Zachary Quinto, David Zayas e Uzo Aduba. Vale menção, claro, a participação das bebês Liliana e Evangeline Ellis, no papel da pequena Maddie, uma fofurinha de personagem. É no roteiro e na profundidade da temática, no entanto, que Tallulah se destaca mais. 

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Embora o plot seja simples, a trama tem sua complexidade e nos faz questionar algumas regras não escritas da sociedade. O quanto aceitamos o roteiro que já é pré-escrito pelo mundo ao nosso redor na hora de fazer planos e construir nossas vidas. O quanto nós mulheres já somos condicionadas desde muito cedo a pensar que é isso que queremos e que não há alternativa. Serei mãe, serei esposa e tenho que ser boa nisso, porque “toda mulher é assim”.

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Embora o trailer nos faça pensar que este filme é sobre Tallulah e sua impulsividade de resgatar/sequestrar uma criança, a verdadeira protagonista do longa-metragem é a maternidade e a perversão que é a imposição desta sobre as mulheres. 

Tallulah, Margo e Carolyn são três personagens com perfis completamente diferentes, com variados níveis de instrução educacional e social, mas que são impactadas pela maternidade, de uma forma ou de outra. E que são ou foram afetadas pela imposição de ser mãe sobre alguém. 

Sorrateiramente, o longa-metragem nos ensina sobre feminismo e sobre pontos centrais da sociedade patriarcal, questionando justamente essa obrigação. Pena que, para levantar a questão sobre a forma como as sociedades ocidentais estruturam e organizam as relações familiares, “Tallulah” tenha recorrido a retratar uma mãe que não queria ser mãe como puramente uma louca, irresponsável e inconsequente. 

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Carolyn poderia ser qualquer mulher que acabou engravidando por pura pressão social e se viu despreparada. Nem toda mulher que não quer ser mãe sai largando os filhos por aí, isso se chama irresponsabilidade. E quando é um homem que toma a mesma atitude, a cobrança não chega nem perto, admitam. 

Esse é um assunto que vai longe, e que – espero! –, a gente ainda vai ver em muitas produções nos próximos anos. Por ora, basta encerrar dizendo que, embora não seja o filme mais genial que você vai ver esse ano, “Tallulah” está aí pra nos fazer pensar que precisamos parar de exigir que toda mulher seja mãe e que o seja com perfeição. Todas nós, assim como os homens, somos apenas pessoas. 

Lei Maria da Penha completa 10 anos e “Vidas Partidas" aborda o tema nos cinemas

Pausa no entretenimento para falar de coisa séria. O filme "Vidas Partidas" está chegando aos cinemas do Brasil neste dia 04/08, sendo uma obra dramática que pretende mostrar a triste realidade de muitas mulheres do nosso país.

Aproveitando que a Lei Maria da Penha - Lei 11.340 (que tornou crime agressões físicas e psicológicas contra a mulher em sete de agosto de 2006) completa 10 anos neste mês, a produtora do filme viu nesta data uma ocasião apropriada para abordar o tema e levar a reflexão ao público, já que há milhares de mulheres nessas condições trágicas.

Para você ter uma ideia, os dados recentes do Mapa da Violência 2015 - Homicídios de Mulheres mostram que a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil. O país é o quinto mais violento para elas em um ranking de 83 nações que usa dados da Organização Mundial de Saúde.

Segundo a OMS, em uma década - entre 2003 a 2013 - em média, 11 delas foram assassinadas no Brasil todos os dias. De 83 países comparados, o Brasil só está atrás de Rússia (4º), Guatemala (3º), Colômbia (2º) e El Salvador (1º); sendo que 55% dos crimes de violência de gênero no Brasil foram cometidos no ambiente doméstico, onde 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

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Protagonizado por Domingos Montagner e Naura Schneider, o longa-metragem “Vidas Partidas", que tem como tema a violência doméstica, aborda de forma realista esse problema latente em nossa sociedade. Com direção de Marcos Schechtman, o filme é uma coprodução da Globo Filmes e Paramount Pictures com distribuição da Europa Filmes.

Para a produtora e protagonista Naura Schneider, “Vidas Partidas” é uma sequência e uma consequência de vários projetos sobre o tema. “Há um tempo eu fiz outro longa-metragem de temática feminina. E, além disso, há cinco anos, filmei um documentário sobre a lei Maria da Penha, para o qual colhi vários depoimentos. A partir daí, eu senti muita necessidade de contar uma história que pudesse discutir essa questão tão importante.”

Na história de "Vidas Partidas", Graça, interpretada por Naura Schneider, é uma mulher bem-sucedida e apaixonada que, depois de alguns anos casada, é vítima de um crime de violência doméstica no Brasil dos anos 80. Domingos Montagner é o marido, Raul, um homem sedutor que, por ciúme, transforma-se em algoz. A relação ardente e passional entre o casal começa a desmoronar quando Raul fica desempregado e Graça avança em sua carreira.

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Para não desequilibrar o relacionamento, ela pede um favor ao ex-marido, que secretamente indica Raul a uma vaga de professor na Universidade. Ao igualar-se financeiramente a Graça, Raul gradativamente torna-se agressivo, as cenas de ciúmes são frequentes e começam as agressões físicas e psicológicas.

Fique ligado aqui no Café com Filme, pois em breve teremos a crítica desta produção nacional.

Crítica O Bom Gigante Amigo | Risadices numa aventura para a criançada

Quando a Walt Disney anunciou, lá em meados de 2014, que levaria mais uma das obras de Roald Dahl para as telonas, muita gente ficou ansiosa para saber o que a produtora pensava em aprontar para nos transportar para um novo mundo de magia.

Mais de dois anos se passaram, mas a adaptação do livro “O Bom Gigante Amigo”, que mistura o estilo live-action com computação gráfica, sob a responsabilidade de Steven Spielberg deixou de ser apenas uma promessa e finalmente chega aos cinemas.

É verdade que muitas histórias do escritor britânico Roald Dahl já foram adaptadas para o cinema, incluindo aí grandes títulos como “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “Matilda” e “James e o Pêssego Gigante”.

O que pouca gente sabe é que até mesmo “O Bom Gigante Amigo” já teve uma versão em longa-metragem, lá no início da década de 1990, em forma de desenho animado. Agora, no entanto, a Disney e Spielberg resolveram levar esta bonita história para uma nova geração e com essa pegada mais realista.

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No roteiro, somos apresentados à pequena Sophie (Ruby Barnhill), uma garotinha órfã que, certo dia, encontra um gigante. Apesar da aparência intimidadora, a criatura acaba se mostrando de muito bom coração. Não bastasse a aventura de conhecer uma criatura gigante, Sophie é levada para um novo mundo, onde os gigantes dominam tudo.

Antes de ver “O Bom Gigante Amigo” nos cinemas, eu tinha a impressão de que este seria um “História Sem Fim” para as crianças de hoje. O resultado talvez não seja bem o que eu esperava, mas é preciso considerar que adultos não enxergam as coisas com os mesmos olhos. Assim, eu tenho certeza de que a mensagem aqui é muito interessante para os pequeninos e a aventura é cheia de coisas boas. Vamos falar mais sobre este filme gigante e amigável.

O segredo está nos pequenos detalhes

O roteiro de “O Bom Gigante Amigo” não tem nada de extraordinário, uma vez que se trata de uma fantasia para crianças. Todavia, é essa simplicidade que garante a condução da trama de forma bem agradável. O roteiro de Melissa Mathison (que maravilhou o mundo com sua escrita em “E.T. – O Extraterrestre”) foca nas pequenas coisas. Diálogos descomplicados e cenas de fácil compreensão são pensados justamente no público-alvo.

Não por acaso, o filme é dominado pela estrela-mirim Ruby Barnhill. A garotinha de apenas 12 anos conquista a atenção do público com seu carisma e sua inocência. Ela é uma criança típica, que tem curiosidade para descobrir o mundo. Essa vontade de querer descobrir o novo e toda a coragem incutida na personagem são muito bem-vindas aqui, uma vez que Sophie é o fio-condutor da história e dá a mão para a plateia, que é convidada a embarcar em sua jornada.

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É claro que Mark Rylance também tem participação importantíssima para dar vida à obra de Dahl, mas a transformação em computação gráfica acaba causando um estranhamento. Dá para perceber que é o ator ali dando vida e voz para o BGA, porém ainda temos a sensação de que há algo diferente, já que não somos facilmente enganados pelos efeitos especiais.

Uma coisa que garante a proximidade entre o espectador e o personagem é a construção do gigante — falando aqui da forma como ele se move e se expressa. Ele é desajeitado, inocente, curioso e engraçado. Cada palavra diferente que ele fala é motivo para dar risadas e querer ter um amigo grandão. No fim, a gente entende que tamanho ou aparência não deve assustar ninguém, já que o importante é o caráter. É uma lição simples, mas ainda essencial.

A fantasia toma conta

A computação gráfica para criação de cenários foi fundamental nesta obra e a Walt Disney apostou pesado nessa característica. Boa parte do mundo de “O Bom Gigante Amigo” vem do trabalho da equipe de arte, que criou a parte fantasiosa. A casa do BGA (este é o nome mesmo do personagem grandalhão) é muito convidativa e seu mundo é recheado de surpresas.

A fotografia é de qualidade ímpar, que deixa o público maravilhado tanto com o mundo real quanto com a terra dos gigantes. O trabalho magnífico é de responsabilidade de Janusz Kaminsk, o mesmo cara que vem trabalhando com Spielberg desde Jurassic Park. Mesclando com perfeição a computação gráfica e elementos de verdade, Kaminsk consegue criar uma pintura em movimento.

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Da mesma forma como o filme acerta na arte visual, a parte sonora é um verdadeiro afago aos ouvidos. É claro que temos aqui as notas irretocáveis de John Williams, que a gente já conhece de “Star Wars”, “Indiana Jones” e “Superman” — só para citar alguns da extensa lista de trilhas memoráveis. As músicas agregam muito na parte de suspense, mas também empolgam a plateia a cada novidade que pinta na tela. É uma trilha de proporções gigantes para um mundo brilhante.

O Bom Gigante Amigo” pode não ser bem o filme que muitos adultos estavam esperando, mas talvez seja bem o que a criançada precise para ver o mundo com outros olhos. É importante fazer novas descobertas, explorar o mundo e dar asas à imaginação. E o novo filme de Spielberg pode ser justamente o convite perfeito para levar a família toda em uma jornada de aventura e fantasia.